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QUESTÕES E PRÁTICAS EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA
QUESTÕES E PRÁTICAS EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA
QUESTÕES E PRÁTICAS EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA
E-book427 páginas4 horas

QUESTÕES E PRÁTICAS EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA

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Sobre este e-book

Mais do que revelar invisibilidades, mazelas e complexidades sociais nunca antes manifestadas, a pandemia do SARS-CoV-2 trouxe à tona a imensa fragilidade daquilo que chamamos de civilização. Não obstante, os desdobramentos arrasadores provocados pelo avanço da doença esgarçaram as estruturas vivenciais, às quais estávamos historicamente atados, e revelaram, de forma concreta, as inexoráveis relações de interdependência que regem o tecido social, indo de encontro com a atitude egoística e individualista que tem despontado mais e mais na sociedade contemporânea.
A nosso juízo, de um lado, a pandemia criou as condições objetivas para acentuar a desigualdade social e, do outro, criou as condições para o avanço do capitalismo predatório. A cada dia, pode-se observar que os ricos estão mais ricos e que a elite política concentra cada vez mais o poder em suas mãos, desconstruindo a política de direitos humanos e o próprio tecido social do campo democrático.
Numa leitura dialética da pandemia, observamos como a classe dominante e os detentores do poder se utilizam da situação para benefícios próprios. No Brasil, as políticas de perspectiva genocida e de exploração desvelaram como certos grupos se apropriaram dos recursos públicos destinados aos pobres. Os jornais, publicações e compartilhamentos nas redes sociais desse período são ricos de exemplos nos campos da saúde, da educação e da assistência.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento29 de dez. de 2021
ISBN9786586882513
QUESTÕES E PRÁTICAS EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA

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    QUESTÕES E PRÁTICAS EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA - Agnaldo Aparecido Geremias

    capa do livro

    Sumário

    Capa

    APRESENTAÇÃO

    TRILHANDO NOVOS CAMINHOS NA EDUCAÇÃO: ESCUTA, PARTILHA E NEGOCIAÇÃO NO DIÁLOGO ENTRE O CURSO DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA DA UFRGS E A ESCOLA MUNICIPAL PORTO ALEGRE (EPA)

    Denise Wildner Theves

    Daniela Cardoso

    Élida Pasini Tonetto

    ESCOLA ABERTA OU ESCOLA FECHADA? A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA EM QUESTÃO DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19

    Fernanda Ana da Silva

    Orlando Coelho Barbosa

    Maria Candida Varone de Morais Capecchi

    O ENSINO REMOTO NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA: DESAFIOS E LIÇÕES SOB A PERSPECTIVA DAS FAMÍLIAS

    Cleide Rita Silvério de Almeida

    Fabiana Amorim Siqueira de Souza

    Valquiria Bertuzzi Veronesi

    MULHERES DESEMPREGADAS NO PERÍODO PANDÊMICO DA COVID-19: OS REBATIMENTOS VIVIDOS EM FAMÍLIA

    Selma Vieira de Alvarenga

    AS MINI-HISTÓRIAS: UMA FORMA DE REGISTRO DAS VIVÊNCIAS PEDAGÓGICAS EM TEMPOS DE PANDEMIA

    Leandro Alves Lopes

    Sandra Regina Mesquita de Menezes

    Silvia Dias Serrão

    AS LIÇÕES RELATADAS POR PROFESSORES NA PANDEMIA

    Cleide Rita Silvério de Almeida

    Cristiane Ryu Jordão Tanabe

    Gilmar Alves Almeida Santos

    Taynan Filipini Bonini

    EDUCAÇÃO COMO PROPOSTA PARA O PENSAR E O REPENSAR: PAULO FREIRE E OS DIÁLOGOS NECESSÁRIOS ENTRE SUJEITOS E SOCIEDADE NA REFLEXÃO DO CENÁRIO PANDÊMICO

    Vanessa Zinderski Guirado

    Gabriel Renan Neves Barros

    ESCOLAS E ORGANIZAÇÕES SOCIAIS, QUAIS AS RELAÇÕES NECESSÁRIAS EM TEMPOS DE E PÓS-PANDEMIA?

    Maria Aparecida Perez

    Leandro Alves Lopes

    Miriam Marcolino dos Santos

    Fatima Aparecida Antonio

    PÓS-GRADUAR: CAMADAS POPULARES E ACESSO À PÓS-GRADUAÇÃO

    Lídia Pancev Daniel Pereira

    Maria Fernanda Degan Bocafoli

    Eliane Alves da Silva

    O ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES E A PANDEMIA: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA

    Agnaldo Aparecido Geremias

    A EDUCAÇÃO NOS GRUPOS DE JOVENS DA ARTICULAÇÃO DA JUVENTUDE SALESIANA NO PERÍODO DA PANDEMIA DE COVID-19: OS AFETOS, O DISTANCIAMENTO SOCIAL E AS ANGÚSTIAS COM AS EXIGÊNCIAS GERADAS PELO ATENDIMENTO REMOTO

    Sebastião Jacinto dos Santos

    João Clemente de Souza Neto

    ÍNDICE REMISSIVO

    Organizadores:

    Agnaldo Aparecido Geremias

    Gabriel Renan Neves Barros

    João Clemente de Souza Neto

    Leandro Alves Lopes

    QUESTÕES E PRÁTICAS EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA

    GEPEPS – Grupo de Estudo e Pesquisa em Pedagogia Social

    Universidade Presbiteriana Mackenzie

    São Paulo | Brasil | Dezembro 2021

    1ª Edição Epub

    Big Time Editora Ltda.

    Rua Planta da Sorte, 68 – Itaquera

    São Paulo – SP – CEP 08235-010

    Fones: (11) 11-2079-3460 | (11) 96573-6476

    Email: editorial@bigtimeeditora.com.br

    Site: bigtimeeditora.com.br

    Blog: bigtimeeditora.blogspot.com

    Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, especialmente por sistemas gráficos, microfílmicos, fotográficos, reprográficos, fonográficos, videográficos. Vedada a memorização e/ou a recuperação total ou parcial, bem como a inclusão de qualquer parte desta obra em qualquer sistema de processamento de dados. Essas proibições aplicam-se também às características gráficas da obra e à sua editoração. A violação dos direitos autorais é punível como crime (art. 184 e parágrafos do Código Penal), com pena de prisão e multa, busca e apreensão e indenizações diversas (arts. 101 a 110 da Lei 9.610, de 19.02.1998, Lei dos Direitos Autorais).

    CONSELHO EDITORIAL BIG TIME EDITORA/BT ACADÊMICA

    PROF. ANTONIO MARCOS CAVALHEIRO – (Editor)

    Graduado em Letras pela Universidade Nove de Julho – Uninove. Editor de livros Acadêmicos e Literários. Escritor.

    PRESIDENTE

    PROF. DR. JOSÉ EUSTÁQUIO ROMÃO Graduado em História, pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em 1970 e Doutor em Educação, pela Universidade de São Paulo (USP), em 1996. Diretor Fundador do Instituto Paulo Freire do Brasil. Secretário Geral do Conselho Mundial dos Institutos Paulo Freire.

    MEMBROS

    PROF. DR. AFONSO CELSO SCOCUGLIA – Professor Titular da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Pós-Doutorado em Ciências da Educação (Université de Lyon, França, 2009) e Pós-Doutorado em História e Filosofia da Educação (Unicamp, 2010).

    PROF. DR. CASEMIRO MEDEIROS DE CAMPOS Graduado em Pedagogia pela Universidade Federal do Ceará (1989), mestrado em Educação pela Universidade Federal do Ceará (1996) e doutorado em Educação pela Universidade Federal do Ceará (2013).

    PROF. DR. CÉLIO DA CUNHA – Doutor em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (1987). Pós-doutoramento na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia(Lisboa).

    PROF. DR. DANTE CASTILLO – Chileno, sociólogo. Académico de la Facultad de humanidades de la Univesidad de Santiago de Chile. Investigador de la Unidad de Recherche de I’École Doctorale (ICAR-UMR5191) de la Université Lumière II, Francia.

    PROF. DR. JASON FERREIRA MAFRA – Doutor (2007) e mestre (2001) em Educação pela Universidade de São Paulo (USP). Graduado e licenciado em História pela Unisal.

    PROFA. DRA. MARTHA APARECIDA SANTANA MARCONDES – Doutora em Educação pela Universidade do Minho/Portugal (2004), validado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

    PROF. DR. MAURÍCIO PEDRO DA SILVA – Doutor em Letras Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo (2001). Pós-Doutorado em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo (2005).

    PROF. DR. REMI CASTIONI – Graduado (Bacharelado) em Ciências Econômicas pela Universidade de Caxias do Sul (1991) e doutor em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (2002).

    MAGALI SERAVALLI ROMBOLI – ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL – Graduação em Comunicação Social, com Habilitação em Jornalismo, pela Faculdade Cásper Líbero (1986).

    Ficha Catalográfica

    Ficha Técnica

    Projeto gráfico: Big Time Editora | Diagramação: Marcello Mendonça Cavalheiro | Capa: Agnaldo Aparecido Geremias | Revisão: Autores

    Nota: Dado o caráter interdisciplinar da coletânea, os textos publicados respeitam as normas e técnicas bibliográficas utilizadas por cada autor.

    APRESENTAÇÃO

    Mais do que revelar invisibilidades, mazelas e complexidades sociais nunca antes manifestadas, a pandemia do SARS-CoV-2 trouxe à tona a imensa fragilidade daquilo que chamamos de civilização. Não obstante, os desdobramentos arrasadores provocados pelo avanço da doença esgarçaram as estruturas vivenciais, às quais estávamos historicamente atados, e revelaram, de forma concreta, as inexoráveis relações de interdependência que regem o tecido social, indo de encontro com a atitude egoística e individualista que tem despontado mais e mais na sociedade contemporânea.

    A nosso juízo, de um lado, a pandemia criou as condições objetivas para acentuar a desigualdade social e, do outro, criou as condições para o avanço do capitalismo predatório. A cada dia, pode-se observar que os ricos estão mais ricos e que a elite política concentra cada vez mais o poder em suas mãos, desconstruindo a política de direitos humanos e o próprio tecido social do campo democrático.

    Numa leitura dialética da pandemia, observamos como a classe dominante e os detentores do poder se utilizam da situação para benefícios próprios. No Brasil, as políticas de perspectiva genocida e de exploração desvelaram como certos grupos se apropriaram dos recursos públicos destinados aos pobres. Os jornais, publicações e compartilhamentos nas redes sociais desse período são ricos de exemplos nos campos da saúde, da educação e da assistência.

    O coronavírus parece ter posto à luz a verdade latente em nossa forma de vida neoliberal: é preciso acelerar sempre, é impossível parar, quem está contra o mercado é comunista, queremos o Estado mínimo – e a opção final: vida ou economia? [...] Como se lida com uma peste à moda neoliberal? Comprando cargueiros com máscaras destinadas ao Terceiro Mundo, simplesmente porque se você pode fazê-lo, você deve fazê-lo? (DUNKER apud ŽIŽEK, 2020).

    A partir deste olhar, à pergunta de Žižek podemos acrescentar outras, como, por exemplo: De que forma o poder público se utilizou das políticas públicas para escamotear as práticas de reprodução da desigualdade social e perpetuar algumas formas de exploração? Como o poder público utilizou deste cenário para omitir e para acobertar a negação dos direitos da infância? Qual o papel da ciência e do conhecimento no sentido de defender a vida de todas as espécies?

    Numa perspectiva local, o que o contexto pandêmico anunciou foi a emergência da solidariedade, do cuidado, do respeito, aspectos imprescindíveis de uma vivência coletiva. De outro lado, numa perspectiva global, a destruidora onda viral permitiu-nos perceber que vivemos cada vez mais numa comunidade de destinos, a partir da qual faz-se mister repensar conceitos acerca dos Estados-Nação, seus mercados de consumo e de commodities e, principalmente, suas graníticas e inexpugnáveis fronteiras, assim como o conceito e práticas de políticas públicas.

    Imersa nesse contexto e em suas consequentes angústias, a educação, em todas as suas manifestações e nuances, necessitou se predispor primeiramente à apreensão das situações, como forma de aprender a lidar com o novo normal. Destarte, precisou retroceder alguns passos na espiral do desenvolvimento de suas ações costumeiras para reinventar-se pessoal e profissionalmente. Só então se lhes tornou possível reinventar estratégias e didáticas. Por fim, foi preciso que as instituições educativas e, sobretudo, educadores e educadoras se transformassem e, assim, a partir de uma verdadeira metamorfose, pudessem se sentir novamente capazes de ocupar o lugar de agentes de transformação.

    Nesta trilha, com a intenção de registrar e evidenciar essas angustiantes, porém construtivas e ricas vivências, a partir da iniciativa do Grupo de Estudo e Pesquisa em Pedagogia Social (GEPEPS), da Universidade Presbiteriana Mackenzie, apresentamos esta coletânea de textos. Nela, além da participação de pesquisadores e pesquisadoras da própria Universidade Mackenzie, contamos com ilustres amigos e convidados da Universidade Nove de Julho (UNINOVE), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade Federal do Grande ABC (UFABC).

    Em que pese a Pedagogia Social como uma seara do conhecimento que revela natureza essencialmente interdisciplinar, os textos aqui apresentados não se limitam exclusivamente às discussões pertinentes ao campo da chamada educação não escolar. Pelo contrário, por meio das investigações, percepções, anseios e reflexões daqueles e daquelas que compartilham a autoria desta obra, a ideia foi a de contemplar uma aprazível diversidade de educações e práticas.

    Ainda que os textos apresentem uma diversidade de eixos temáticos, não intencionamos que eles sejam compreendidos de forma fragmentada, mas sim como componentes complementares de um constructo analítico e reflexivo acerca das experiências (socio)educativas vividas neste particular e complexo contexto.

    Ressaltamos que a pandemia é também um contexto de múltiplas interrogações para a humanidade nas relações sujeito-sujeito, sujeito-mercado, sujeito-sociedade, sujeito-natureza. Acreditamos, todavia, que estas interrogações podem nos ajudar a acolher e a compreender melhor aquilo que Morin chamou de reforma do pensamento. Cada situação nova cria as condições para o descongelamento da ciência e da política, no sentido de buscar respostas às necessidades e às questões humanas, numa perspectiva de solidariedade.

    Solidariedade e responsabilidade são necessidades fundamentais de uma sociedade, cujos integrantes são livres: quanto mais crescem as liberdades, mais diminuem as coações que impõem a ordem, mais crescem as desordens indissociáveis das liberdades, mais cresce a complexidade social. Mas a desordem extrema torna-se destruidora, e a complexidade desanda em desintegração. A única coisa que pode proteger a liberdade, tanto da ordem que impõe quanto da desordem que desintegra, é a presença constante, na mente de seus integrantes, do pertencimento solidário a uma comunidade e do sentimento de responsabilidade em relação a essa comunidade. Assim, portanto, a ética pessoal de responsabilidade/solidariedade dos indivíduos é também uma ética social que sustenta e desenvolve uma sociedade de liberdade. Essa ética (e as fontes de toda a ética são a solidariedade e responsabilidade) contribuiria para a reumanização da sociedade e para regeneração do civismo, que é indissociável da regeneração democrática. (MORIN, 2020).

    A pandemia nos questiona e nos interroga a construir uma nova forma de convivência humana e de relação com a natureza. Acreditamos que desses questionamentos poderemos produzir perspectivas de uma ética do cuidar. De um jeito ou de outro, os capítulos e pesquisas narradas neste livro nos ajudam a explicitar estas novidades que a pandemia, como um raio, fez emergir.

    Finalizando, gostaríamos de reforçar a importância freiriana para um projeto de sociedade dialógico, numa linha daquilo que Freire chamou de profecia. Para ele, todo ato pedagógico deve ser de denúncia, de anúncio e de fortalecimento do esperançar.

    Com essas perspectivas, o desafio que se nos apresenta é apreender e aprender a apreender; apreender e aprender a dialogar; apreender e aprender a conviver; apreender e aprender a abraçar; apreender e aprender a ser; aprender e aprender a amar; apreender e aprender a se reinventar; apreender e aprender a se transformar. Considerando este olhar, segue a ordem e a síntese de cada capítulo.

    O primeiro capítulo, Trilhando novos caminhos na educação: escuta, partilha e negociação no diálogo entre o curso de Licenciatura em Geografia da UFRGS e a Escola Municipal Porto Alegre (EPA), de autoria de Denise Wildner Theves, Daniela Cardoso e Élida Pasini Tonetto, relata a parceria entre a Licenciatura em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e a Escola Municipal Porto Alegre (EPA), uma escola localizada no município de Porto Alegre que atende estudantes em vulnerabilidade social, na sua maioria, moradores em situação de rua. O texto apresenta a necessária escuta e negociação entre universidade-escola, num processo de partilha e compromisso com a formação de educadores, diante de espaços educativos plurais, um desafio potencializado pela pandemia.

    Por meio da metodologia da análise de conteúdo, Fernanda Ana da Silva, Orlando Coelho Barbosa e Maria Candida Varone de Morais Capecchi, apresentam, no segundo capítulo – Escola aberta x escola fechada: a dicotomia na mídia impressa sobre a função social da escola durante a pandemia da Covid-19 –, uma investigação acerca de como a função social da escola foi abordada na mídia impressa e digital ao longo do ano de 2020 e da primeira metade de 2021. A opção procedimental dos pesquisadores compreendeu processos de mapear, identificar e analisar a forma por meio da qual se deu a cobertura jornalística do jornal Folha de São Paulo sobre a questão específica de se manter ou não as escolas abertas durante a pandemia, bem como as justificativas apresentadas. A partir de categorias que emergiram da pesquisa, como professores, família, saúde mental, alimentação e judicialização, os autores constataram diferenças significativas acerca das interpretações da função social da escola pela mídia.

    No terceiro capítulo, O ensino remoto na Educação Inclusiva: desafios e lições sob a perspectiva das famílias, Cleide Rita Silvério de Almeida, Fabiana Amorim Siqueira de Souza e Valquiria Bertuzzi Veronesi tratam da percepção de duas famílias em relação ao processo de ensino e aprendizagem de suas crianças, durante os desafios vivenciados e lições apreendidas no período pandêmico, devido ao Covid-19. Discorre, também, acerca das mudanças no papel das famílias, dos professores, da relação entre eles e da prática pedagógica. As autoras concluem, a partir deste processo de investigação, que os desafios, apesar de gerarem movimentos desestabilizadores, em contrapartida, também ensinam.

    Com Mulheres desempregadas no período pandêmico da covid-19: os rebatimentos vividos em família, Selma Vieira de Alvarenga nos apresenta, no quarto capítulo, os resultados de uma pesquisa empírica qualitativa, realizada com doze mulheres desempregadas ou afastadas do trabalho em consequência da pandemia. A partir da indagação de quais seriam as ressonâncias resultantes do desemprego feminino no interior das famílias, durante o período mais angustiante da pandemia de Covid-19, a pesquisa conclui pela necessidade da criação de políticas afirmativas, de apoio e incentivo às novas atividades que as mulheres desempregadas vêm desenvolvendo no recanto de seus lares por força dos efeitos da pandemia.

    Como educar e cuidar de bebês e crianças em período de pandemia? Qual o papel da educação infantil neste contexto e para além dele? Que propostas são passíveis de se desenvolver junto as famílias? Estes e outros questionamentos povoaram as mentes dos educadores de forma recorrente durante o período mais complexo da pandemia. Por ser um contexto nunca vivido, a pandemia trouxe consigo uma miríade de sentimentos e dúvidas, exigindo habilidades e criatividade, a fim de que esse pudesse garantir o vínculo e o desenvolvimento de bebês e crianças. O quinto capítulo, apresentado por Leandro Alves Lopes, Sandra Regina Mesquita de Menezes e Silvia Dias Serrão, cujo título é As mini histórias: uma forma de registro das vivências pedagógicas em tempos de pandemia, visa compartilhar as experiências pedagógicas registradas através de pequenos relatos acerca das atividades desenvolvidas pelas educadoras com bebês, crianças e suas famílias da Creche Nossa Senhora da Providência. O texto traz um registro sensível e atento para o desenvolvimento das infâncias, particularmente durante a pandemia; o envolvimento das famílias no compartilhamento de suas experiências cotidianas; a necessidade de acolher as situações e demandas dos bebês, crianças e famílias; e o educador como um pesquisador que estuda, observa e escuta as necessidades das crianças e famílias. 

    Por meio dos relatos de quinze professores acerca do trabalho desenvolvido durante o primeiro ano da pandemia do coronavírus, fundamentando-se em fontes bibliográficas, documentais e de pesquisa de campo, no sexto capítulo, As lições relatadas por professores na pandemia, os pesquisadores Cleide Rita Silvério de Almeida, Cristiane Ryu Jordão Tanabe, Gilmar Alves Almeida Santos e Taynan Filipini Bonini revelam, nas ações desenvolvidas por esses docentes, lições passíveis de serem aprendidas. A partir das contribuições de autores que refletiram sobre o tema em publicações recentes e que apresentaram pontos em comum em suas abordagens – ênfase na gravidade da situação e urgência de uma mudança de via – aliados aos relatos dos professores, apreendeu-se elementos relacionados às limitações, sentimentos, reinvenção, práticas e políticas públicas.

    Vanessa Zinderski Guirado e Gabriel Renan Neves Barros, no sétimo capítulo, Educação como proposta para o pensar e o repensar: Paulo Freire e os diálogos necessários entre sujeitos e sociedade na reflexão do cenário pandêmico, promovem uma discussão acerca da educação emancipadora, por meio das propostas educacionais apresentadas nas obras de Paulo Freire. Os autores sugerem um movimento de pensar a lógica capitalista e individualista na qual os sujeitos e sociedades se encontram inseridos, com o objetivo de repensar os rumos sociais e econômicos, destacadamente diante do aprofundamento dos problemas escancarados durante a pandemia. A partir dos constructos teóricos de Paulo Freire, o texto apresenta questões sobre a opressão, a qual só pode ser superada com a conscientização daqueles que se encontram envolvidos no processo. Neste sentido, a educação, ao realizar a sua função social, ao promover o pensamento investigativo e crítico-reflexivo, incentiva o desenvolvimento da autonomia. Quando o sujeito se percebe no mundo, identifica o que o cerca, questiona aquilo que não funciona e propõe soluções.

    O oitavo capítulo, Escolas e organizações sociais, quais as relações necessárias em tempos de pós-pandemia?, desenvolvido por Maria Aparecida Perez, Leandro Alves Lopes, Miriam Marcolino dos Santos e Fatima Aparecida Antonio, parte de dois questionamentos centrais: Qual a função da escola neste contexto e para além dele? Caberá somente à escola dar respostas aos desafios impostos pela pandemia para o ensino-aprendizagem? Considerando estas questões, os pesquisadores problematizam a função social da escola e refletem sobre a importância de políticas públicas e sociais que valorizem outros espaços formativos presentes na cidade, com foco nas organizações sociais. Valendo-se da abordagem qualitativa, o texto explora relatos de experiências ocorridas na relação da escola com outros espaços e tempos de formação, utilizando-se das contribuições de autores como Miguel Arroyo e Paulo Freire, os quais sinalizam para a defesa e desenvolvimento da vida em uma perspectiva de cidade educadora.

    O grupo de pesquisadores da Universidade Federal do ABC, formado por Lídia Pancev Daniel Pereira, Maria Fernanda Degan Bocafoli e Eliane Alves da Silva, apresenta, no nono capítulo, intitulado Pós-graduar: camadas populares e acesso à pós-graduação, o relato de experiência da Pós-Graduar, projeto de extensão universitária que iniciou suas atividades em 2020, confrontado com os desafios impostos pela pandemia de Covid-19. A Pós-Graduar tem por objetivo a preparação de segmentos sociais, tradicionalmente excluídos do ensino superior, para o acesso à pós-graduação. O relato dessa experiência, orientado pela literatura sobre pedagogia social, extensão e universidade do século XXI, permite discutir o potencial transformador dos métodos pedagógicos socialmente orientados, que se sustentam na solidariedade social, na universidade implicada e no entendimento da educação como um direito.

    No décimo capítulo, O acolhimento institucional de crianças e adolescentes e a pandemia: relato de uma experiência, Agnaldo Aparecido Geremias promove uma reflexão sobre os desafios enfrentados no serviço de acolhimento institucional de crianças e adolescentes durante a chamada Primeira Onda da pandemia do vírus SARS-CoV-2. A metodologia utilizada é a apresentação do relato de uma experiência na coordenação do Serviço de Acolhimento Institucional da Fundação Criança de São Bernardo do Campo, no ano de 2020. O texto revela aspectos presentes na práxis socioeducativa e de gestão, implementadas nesse complexo contexto, capazes de contribuir para o enfrentamento de situações-limite nos serviços de acolhimento institucional.

    No décimo primeiro capítulo, A educação nos grupos de jovens da Articulação da Juventude Salesiana no período da pandemia de Covid-19: os afetos, o distanciamento social e as angústias com as exigências geradas pelo atendimento remoto, Sebastião Jacinto dos Santos e João Clemente de Souza Neto abordam a participação da juventude nordestina nos espaços de formação religiosa e como os jovens podem ampliar os afetos a partir das necessidades pessoais de estabelecerem distanciamento. Os autores defendem que o distanciamento em relação à prática da religiosidade se dá principalmente com as novas exigências de compromisso nas atividades trabalhistas, mas que, com a pandemia da Covid-19, formou-se uma nova plataforma de relações. Neste sentido, as relações de afeto e de religiosidade podem ser fortalecidas ou diluídas a partir do distanciamento e da necessidade de deslocamento social, e têm se reconfigurado neste período de pandemia.

    As contribuições dos pesquisadores sobre as múltiplas interfaces com a pandemia nos permitem sugerir a necessidade de se fortalecer uma epistemologia decolonial, ter um olhar especial para os povos originários e tradicionais, como eles lidam com a natureza, e produzir uma pedagogia humanizadora-libertadora comprometida com os povos do Sul, que foram os que mais sofreram com a pandemia, tanto do ponto de vista social como econômico e de saúde.

    Agradecemos a cada pesquisador e a cada pesquisadora pelos artigos. Desejamos uma boa leitura a todos e que esta conversa possa continuar produzindo novas pesquisas, para capturarmos as contradições do sistema econômico e político, diante de situações como a pandemia.

    Agnaldo Aparecido Geremias e João Clemente de Souza Neto

    (pelos organizadores)

    REFERÊNCIAS

    MORIN, Edgar. É hora de mudarmos de via: as lições do coronavírus. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2020.

    ŽIŽEK, Slavoj. Pandemia: covid-19 e a reinvenção do comunismo. São Paulo: Boitempo, 2020.

    TRILHANDO NOVOS CAMINHOS NA EDUCAÇÃO: ESCUTA, PARTILHA E NEGOCIAÇÃO NO DIÁLOGO ENTRE O CURSO DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA DA UFRGS E A ESCOLA MUNICIPAL PORTO ALEGRE (EPA)

    Denise Wildner Theves

    Daniela Cardoso

    Élida Pasini Tonetto

    Este texto é fruto dos diálogos estabelecidos entre universidade-escola-comunidade, por meio da parceria estabelecida entre a Licenciatura em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a Escola Municipal Porto Alegre (EPA), para a realização do Estágio Supervisionado em Geografia II. Salientamos que a EPA é uma escola localizada no Centro Histórico de Porto Alegre (RS) e atende estudantes em vulnerabilidade social (na sua maioria, moradores de rua); e o Estágio Supervisionado em Geografia II propõe a aproximação dos/as licenciandos/as da realidade de outros espaços escolares e não escolares, que incluam atividades diferenciadas e não convencionais de ensino e aprendizagem. Além dos desafios já postos, com formatos de ensino-aprendizagem, relacionados às demandas da EPA, também tivemos os limites impostos pelo momento em que nos encontramos, em virtude da pandemia causada pelo SARS-CoV-2.

    Nós, professoras-orientadoras do estágio, juntamente com a coordenadora pedagógica da EPA, adotamos uma postura observadora-participante, a fim de narrar reflexivamente nossas ações/relações, que estão em movimento constante, pois se trata de uma parceria em curso e comprometida com as demandas vivenciadas cotidianamente por estagiários, professores e estudantes da escola, reconhecendo a coexistência simultânea de diferentes outros e que, por isso, exige constantes negociações (MASSEY, 2017).

    Entendemos que o estágio docente é um dos momentos possíveis e desejáveis de diálogo entre a universidade e a escola. Neste sentido, na parceria em questão, coproduzimos propostas de interação-atuação pesquisadoras, que, ao serem constituídas coletivamente, buscam compreender e interagir com

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