Redes solidárias: Experiências no campo da economia solidária
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Pré-visualização do livro
Redes solidárias - EDUC – Editora da PUC-SP
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
Reitora: Maria Amalia Pie Abib Andery
Editora da PUC-SP
Direção:
José Luiz Goldfarb (até 28/2/2021)
Thiago Pacheco Ferreira (a partir de 1°/3/2021)
Conselho Editorial
Maria Amalia Pie Abib Andery (Presidente)
Ana Mercês Bahia Bock
Claudia Maria Costin
José Luiz Goldfarb
José Rodolpho Perazzolo
Marcelo Perine
Maria Carmelita Yazbek
Maria Lucia Santaella Braga
Matthias Grenzer
Oswaldo Henrique Duek Marques
Frontispício© 2021 Odair Furtado, et al. Foi feito o depósito legal.
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Reitora Nadir Gouvêa Kfouri / PUC-SP
Redes solidárias : experiências no campo da economia solidária / Odair Furtado... et al. (orgs). - São Paulo: EDUC, 2021.
Bibliografia
1. Recurso on-line: ePub
ISBN 978-65-87387-35-2
Disponível para ler em: todas as mídias eletrônicas.
Acesso restrito: http://pucsp.br/educ
Disponível no formato impresso: Redes solidárias : experiências no campo da economia solidária / Odair Furtado... et al. (orgs). - São Paulo: EDUC, 2021. ISBN. 978-65-87387-64-2
1. Economia solidária. 2. Empreendimentos sociais. 3. Cooperativas. 4. Facebook (Rede social on-line). I. Furtado, Odair. II. UNISOL Brasil - Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários.
CDD 331.11
334
005.754
Bibliotecária: Carmen Prates Valls – CRB 8A./556
Este livro é o resultado de pesquisa realizada a partir de Termo de Colaboração Técnica entre a PUC-SP e a Unisol Brasil e financiado pela Unisol Brasil.
Direção
José Luiz Goldfarb (até 28/2/2021)
Thiago Pacheco Ferreira (a partir de 1°/3/2021)
Produção Editorial
Sonia Montone
Preparação e Revisão
Paulo Alexandre Rocha Teixeira
Editoração Eletrônica
Gabriel Moraes
Waldir Alves
Capa
Gabriel Moraes
Imagem de Capa: Imagem de Gordon Johnson por Pixabay
Administração e Vendas
Ronaldo Decicino
Produção do e-book
Waldir Alves
Revisão técnica do e-book
Gabriel Moraes
Rua Monte Alegre, 984 – sala S16
CEP 05014-901 – São Paulo – SP
Tel./Fax: (11) 3670-8085 e 3670-8558
E-mail: educ@pucsp.br – Site: www.pucsp.br/educ
Presidente: Leonardo Pinho
Central de Cooperativas Unisol Brasil
Rua do Carmo, 56 sala 205
centro de São Paulo - SP 01019-020
A ESTRATÉGIA EM REDE PARA PRODUZIR NOVAS SOCIABILIDADES E UMA NOVA ECONOMIA
A Central de Cooperativas Unisol Brasil, no ano de 2017, em parceria com o Núcleo de Estudo e Pesquisa em Trabalho e Ação Social (Nutas), vinculado ao Programa de Estudos Pós-graduados em Psicologia Social da PUC-SP assinou um termo de colaboração técnica para potencializar, em conjunto, a visibilidade e a reflexão teórica sobre as experiências em redes na economia solidária. O resultado dessa parceria encontra-se agora em suas mãos.
O encontro entre a práxis transformadora das redes solidárias com a universidade produz sinergias e dispositivos que aprofundam reflexões sobre as experiências coletivas da classe trabalhadora para criar novas sociabilidades e uma nova economia.
A Unisol Brasil tem sua história intimamente ligada à consolidação do campo da economia solidária no país. Campo esse que transita, que dialoga entre diversos espaços sociais, nas políticas públicas, na produção legislativa, no sistema de justiça, nos movimentos sociais e sindicais e nas universidades.
Nesse caminho, a economia solidária passou recentemente por diversas fases, desde o tempo do primeiro Fórum Social Mundial quando sonhos e práticas se encontraram em Porto Alegre, provenientes de todas as partes do país, começando a se reconhecer como um novo campo de atuação e de defesa de novas práticas econômicas, era os tempos da resistência ao neoliberalismo. Da resistência, a ampliação da articulação nacional, da estruturação de fóruns e centrais de economia solidária, a economia solidária fez parte das mobilizações contra a retirada dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras e das lutas contra a agenda neoliberal. Com a eleição do primeiro operário como presidente da república a economia solidária passa da resistência para a construção, pela primeira vez nas estruturas do Estado brasileiro, de uma Secretaria Nacional e de uma Conselho Nacional voltado ao fomento da autogestão.
Os tempos de ofensiva, de consolidação de políticas públicas de fomento, da ampla participação dos diversos atores da economia solidária foi interrompido por uma agenda de regressividade dos direitos sociais, ambientais, políticos e econômicos do povo brasileiro. A nossa Secretaria e o nosso Conselho Nacional não existem mais. É nesse cenário de retrocessos e de retorno a tempos de resistência que este livro se lança, faz-se presente, mostrando como a construção de redes e das cooperativas de segundo grau são caminhos para construirmos práticas transformadoras que são sementes na terra.
As redes solidárias aqui refletidas são parte de uma estratégia adotada pela Unisol Brasil para sermos caixa de ressonância de novas práticas econômicas, em que o coletivo se manifesta tanto na dinâmica interna da gestão dos empreendimentos como também em seus impactos sociais e econômicos em novos arranjos produtivos locais.
A disputa por um novo modelo de desenvolvimento, que seja centrado nas experiências locais e regionais da classe que vive do trabalho, que combine desenvolvimentos econômico, social e ambiental, é o objetivo central de articular e potenciar redes, como dispositivos de conexão, para fortalecer nossos vínculos, novas sociabilidades e nossos arranjos produtivos, afirmando no tecido social novas possibilidades econômicas.
A estratégia em Rede e a construção de cooperativas de segundo grau tem como centro potencializar as experiências de autogestão popular e comunitária em novo patamar, quando a coordenação dos empreendimentos econômicos solidários deixa de ser apenas uma experiência singular e torna-se afeto, potência de agir e transformar, de impactar amplos setores sociais. As Redes constituem-se como planos de imanência, em que as diferenças, as singularidades, não são problemas, ou obstáculos, mas, sim, enriquecedoras, de novas sociabilidades e práticas econômicas e sociais. Nossas divergências são fermento para a produção de unidades na diversidade.
A estratégia em Rede, promovida pela Unisol Brasil, apresentada neste livro, também se materializou na criação, em 2014, da Unicopas, fruto de sua articulação com a Unicafes, a Concrab e a Unicatadores. A Unicopas é a síntese da estratégia de produção de unidade na diversidade, congregamos quatro Centrais Cooperativistas, representando 2,5 mil Associações e Cooperativas da economia solidária, agregando mais de 800 mil trabalhadoras e trabalhadores.
Convidamos todos e todas a ler este importante livro, resultado de um encontro entre o Nutas/PUC-SP e a Unisol Brasil, e conhecer a diversidade de experiências de redes solidárias que constroem em seu dia a dia uma nova economia, uma nova sociabilidade, baseada nas experiências de autogestão da classe que vive do trabalho, a economia solidária.
Boa Leitura!
Leonardo Pinho
Presidente da Central de Cooperativas Unisol Brasil e Dirigente Nacional da Unicopas
REDES DE ECONOMIA SOLIDÁRIA: UMA LEITURA TECIDA EM REDE
Odair Furtado
Elisa Zaneratto
Rosa José Agnaldo Gomes
Solange Aparecida de Lima
Este livro relata histórias de coletivos que, unidos em redes, percorrem caminhos pela construção de uma outra economia possível, comprometida com a utopia de um mundo melhor. Uma obra que nasce da identificação de uma potência diante da negação do direito ao trabalho ou da dignidade no trabalho. A Economia Solidária emerge na história como possibilidade de resistência frente aos limites próprios do capitalismo como sistema de produção e às suas inerentes contradições, expressas em processos como a precarização das condições de trabalho para uma grande parcela da população, os crescentes índices de desemprego que caracterizam diferentes momentos e contextos sociais, políticos e econômicos, ou ainda a proliferação do trabalho informal, desprovido de qualquer proteção ao trabalhador, dentre aquelas conquistadas como direito. A Economia Solidária representa historicamente, diante dessa realidade, uma forma de articulação e de organização de parte da população cuja condição reservada pelo sistema capitalista, necessariamente excludente e opressor, é aquela resultante dos limites da exploração: pobreza, miséria, fome, por que não dizer morte. Reúne-se parte da classe trabalhadora na luta pela sobrevivência e pela dignidade, para produzir vida nos contornos de outra economia. Uma economia de posse coletiva dos meios de produção, uma economia baseada na participação e na construção conjunta dos processos de trabalho, uma economia que tem como o horizonte não a acumulação, mas o bem-comum, uma economia solidária.
No Brasil, a trajetória da economia solidária acumula mais de 30 anos entre as primeiras experiências, a constituição de um movimento, o acúmulo de um campo de formulação teórica e a elaboração e implementação de políticas públicas como parte das ações e programas estatais direcionados ao direito ao trabalho. Nessa trajetória, vemos, em nosso país, especificidades da história brasileira acompanharem seus contornos, seus retratos e seus desafios. Afinal, quem são no Brasil os sujeitos destituídos do direito ao trabalho? Sem dúvida, as experiências e movimentos de economia solidária representam em nosso país a organização coletiva daquelas pessoas cujas vidas a sociedade insiste em dizer que pode prescindir. Em terras brasileiras, desde os quilombos, é no coletivo que a vida teima e resiste com maior potência. As pessoas destituídas do direito ao trabalho ou dos direitos trabalhistas no Brasil são negros, são mulheres, são idosos, são pobres, são loucos, são pessoas com deficiência. São esses que fazem da economia solidária mais um movimento pela igualdade e pela justiça social em nosso país, à medida que reinventam formas de trabalho, de produção e de distribuição da riqueza produzida pela humanidade.
Ainda sobre as especificidades do cenário brasileiro, cumpre destacar a posição que o país ocupa mundialmente no sistema capitalista e seus impactos para a agenda de garantia de direitos que acompanhou o período dos últimos 30 anos, reconhecido como período de democratização, que tem em seu início dois marcos contraditórios: a Constituição cidadã de 1988 e a imposição internacional de um pacto neoliberal que obriga o Estado brasileiro a assumir medidas de austeridade nas políticas de garantia de direitos em nome da recuperação do capital. Nesse sentido, podemos dizer que vivemos de forma cruel os efeitos da crise estrutural do capitalismo sob a forma de esgarçamento das possibilidades de continuidade do processo civilizatório. Podemos dizer, também, que isso não se dá sem tensões e independente de disputas travadas.
Assim, vemos no Brasil uma potente organização de Redes de Empreendimentos Econômicos Solidários. São Redes de Economia Solidária, coletivos de geração de trabalho e renda que potencializam sua coletivização, unidos para aprimorar processos de produção, para o apoio na comercialização, para responder às necessidades de territórios específicos, para resistir, para fazer crescer a outra economia possível. Podemos ver as Redes de Economia Solidária como a contradição resultante do acirramento das condições impostas por uma política neoliberal de negação de direitos. Diante da barbárie imposta pelos limites do capitalismo, as redes de solidariedade, e dentre elas falamos especificamente das Redes de Economia Solidária, têm representado o fortalecimento e aprimoramento dos processos de resistência na luta pelo trabalho, pelo trabalho digno e pelo acesso democrático aos produtos e às riquezas resultantes dos processos de trabalho e produção.
Este livro nasce de um projeto que buscou olhar de perto experiências de Redes de Economia Solidária e dar a elas visibilidade. O contexto de emergência desse projeto fala, por si só, das condições de sua origem e motivação. O ano é 2017, quando após 14 anos de um governo que, com todas as limitações de uma conjuntura neoliberal, implementou políticas sociais que, se não superaram as desigualdades sociais, buscaram enfrentar os efeitos dessa condição, com importantes desdobramentos sobre as condições de vida de uma grande parcela da população brasileira, o país vive o primeiro ano do governo que sucedeu o golpe de Estado de 2016. Naquele momento, já se anunciava e se implementava no Brasil uma agenda de acirramento de políticas neoliberais e de reformas que colocavam em risco a classe trabalhadora. Na pauta, a emenda constitucional do congelamento de gastos com políticas sociais de acesso a direitos, a reforma trabalhista, a reforma da previdência, o desmonte de políticas públicas frutos de debate e de construção democrática. No horizonte, um processo eleitoral, que atravessado pelos mecanismos que deram continuidade ao golpe de 2016, levou ao poder, no início de 2019, um presidente e um programa de governo que acirram o desmonte das políticas públicas duramente conquistadas no período de democratização, azeitados pela legitimação da intolerância, do discurso do ódio e de ataque à democracia e pela ausência de respaldo institucional capaz de fazer frente a esse levante, como resultado das cicatrizes das operações necessárias à efetivação do golpe nas instâncias responsáveis pelo resguardo à democracia. Soma-se a isso a emergência, em 2020, da pandemia da COVID-19, levando às últimas consequências os caminhos da política assumida pelo Brasil. Com a recusa do Estado em aderir a uma agenda de garantia de direitos para salvar vidas e com um pacto incondicional às necessidades econômicas para salvar o capital, o Brasil chegou em meados de 2020 a um ponto estável de perda de mil vidas diárias pela COVID-19, sem organizar qualquer política nacional de enfrentamento à pandemia, que veio, sem dúvida, acompanhada de uma crise que assolou a vida da classe trabalhadora, com impactos mais importantes para a população já submetida aos limites do trabalho precário.
Assim, o ano de 2020 foi o de conclusão desta publicação, num cenário que faz dela um produto ainda mais importante. Diante da situação de calamidade imposta a uma imensa parcela da população brasileira, explode no Brasil, sobretudo nas periferias das grandes cidades, a organização de redes de solidariedade como enfrentamento à crise. Dentre elas, as Redes de Economia Solidária são resgatadas como possibilidade ou caminho necessário para enfrentar a situação caótica configurada em territórios diversos. Diante dessa realidade, mostrar as experiências e os trajetos já trilhados pelas Redes de Economia Solidária na nossa história ganha ainda mais importância. A necessidade reconhecida pelo projeto de 2017, mostrou a história, era legítima: as Redes de Economia Solidária significariam uma saída possível e um caminho de resistência, como contradição, diante da guinada do projeto neoliberal no Brasil. Portanto, era importante olhar para essas experiências de Rede tecidas delicadamente, em muitos e singulares encontros, e identificar nelas potências e desafios.
O projeto carregou uma complexidade, que justifica o tempo decorrido de seu início à sua conclusão: ele é um projeto de muito autores, sendo os principais deles, sem dúvida, trabalhadores dos empreendimentos econômicos solidários e lideranças das Redes por eles constituídas, cujos percursos são narrados na primeira parte deste livro. São eles as principais vozes que traduzem as experiências e as análises que nos dedicamos, como Universidade, a sistematizar.
Identificando a premência de um retrato e uma análise das experiências das Redes de Economia Solidária, o Núcleo de Estudo e Pesquisa em Trabalho e Ação Social (Nutas), vinculado ao Programa de Estudos Pós-graduados em Psicologia Social da PUC-SP, firmou em 2017 um termo de colaboração técnica com a Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários do Brasil (Unisol Brasil), que previa intercâmbios de conhecimentos, realização de pesquisas e eventos, análise de métodos e registro de experiências das redes solidárias, sempre com vistas ao seu fortalecimento, assim como dos empreendimentos e do próprio campo da economia solidária. Um dos resultados previstos foi a publicação dessas análises e experiências em um livro.
Com essa cooperação, o Nutas iniciou um trabalho de registro das experiências das Redes Solidárias do estado de São Paulo, organizadas por empreendimentos de mesmo setor econômico, então filiadas à Unisol. Nessa etapa, desenvolvida ao longo do primeiro semestre de 2017, foram realizadas entrevistas com lideranças de onze Redes Solidárias, que tiveram como objetivo produzir um retrato do trabalho de cada Rede, seu processo de constituição, conquistas e desafios enfrentados em sua trajetória. Pesquisadores do Nutas se dedicaram a esse trabalho, construindo conjuntamente um roteiro comum que respondesse aos objetivos dessa produção. Dessas entrevistas, resultam os relatos que compõem a primeira parte deste livro. Eles foram sistematizados e revisados pelos pesquisadores vinculados ao Nutas, cada um identificado na autoria de um capítulo, mas sempre acompanhados dos autores que, como lideranças das redes, ao falarem sobre elas possibilitaram destrinchar questões cruciais ao processo de constituição e fortalecimento de redes de economia solidária.
Assim, conhecemos a Rede Sete Barras, por meio do depoimento de Gilberto Ohta de Oliveira; a Rede União dos Sabores Solidários, pelo depoimento de Eliane Lina Alves Simionato, Elizabeth dos Anjos Conceição e Christovam Cardoso Junior; a Rede de Confecção e Têxtil do ABC, pelo depoimento de Djenane Martins; a Rede Costura Solidária SP, pelo depoimento de Lena Amano; a Rede Reciclamp, pelo depoimento de Valdecir Aparecido Viana; a Rede Ecoturismo Solidário de SP, pelo depoimento de Roberto Carlos da Silva; a Rede Coopcent ABC, pelo depoimento de Patrícia Frazão da Silva Santos; a Rede Pós Balsa SBC, pelo depoimento de Vanderléa Rochumback Dias e Ana Lúcia de Carvalho; a Rede Verde Sustentável, pelo depoimento de Rosa Maria Araújo Santos, com a contribuição de Ionara, Marly, Ilza, Sueli, Luana, Sidney, Alessandra e Ismael, todos de cooperativas que compunham essa rede; a Rede da Federação da Agricultura Familiar do Estado de São Paulo, pelo depoimento de José Justino Desiderio Filho e Elvio Ap. Motta; e a Rede Design Possível, pelo depoimento de Isadora Candian Santos. Registramos nossos agradecimentos a todas essas pessoas, pela disponibilidade e aceitação em participar das entrevistas, das quais resultaram os textos que compõem a primeira parte deste livro. São dessas pessoas as ideias, as formulações e as memórias que aos pesquisadores do Nutas coube registrar nesses textos.
Feito esse retrato do momento das redes em 2017, a segunda parte do livro oferece análises e reflexões por meio de cinco grandes questões que, das entrevistas realizadas, se mostraram como temas centrais, que mereciam um olhar cuidadoso tendo em vista a qualificação e o fortalecimento necessários das Redes de Economia Solidária. Os temas resultaram de compartilhamentos, trocas e discussões feitos entre os pesquisadores envolvidos com o projeto após as entrevistas, de modo a identificar pontos cruciais que deles emanavam e que eram comuns ou transversais às redes. São esses temas: a própria concepção e perspectiva de constituição de Redes de Solidariedade; os princípios orientadores da economia solidária; os processos de organização do trabalho e de formação no campo da economia solidária; as questões de raça, etnia e gênero e sua centralidade nas redes de economia solidária; finalmente, o papel das políticas públicas para as possibilidades de fortalecimento dessas redes.
O caminho escolhido para realizar essa análise trouxe para este livro muitos outros autores. Em parceria, o Nutas, pela PUCSP, e a Unisol realizaram na Universidade, no dia 13 de setembro de 2017, um encontro das Redes de Economia Solidária envolvidas nessa investigação, no qual estiveram presentes 31 pessoas, que compunham os diversos empreendimentos ligados a cada uma das redes, além de 21 pessoas ligadas ao Nutas, na condição de professores e pesquisadores. A proposta desse encontro foi partilharmos diretamente com os participantes das Redes esse projeto de investigação e publicação, construindo análises e reflexões com base em seu protagonismo. Isso implica dizer que cada um desses temas foi debatido em subgrupo, produzindo-se uma reflexão coletiva sobre as questões elencadas para a análise crítica do processo de constituição de Redes de Economia Solidária. Essa metodologia representava, em um só tempo, um processo de investigação e de intervenção. Investigação que se faz pela produção coletiva de ideias e reflexões, em