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Black Heart - II
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E-book323 páginas4 horas

Black Heart - II

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Sobre este e-book


Matthew Cooper é um homem misterioso que esconde uma parte de si muito negra. Anna Hardy apaixona-se pelo seu lado oculto e romântico, e pela sua ideia obsessiva de ter um filho, que ela julga ser o bastante para o impedir de se automutilar.
Os momentos que passaram juntos conduziram-nos numa arrebatadora e apaixonante relação. O efeito de Anna em Matthew é de tal forma intenso que ele se vê dividido e incapaz de lhe dizer quais são os seus reais objetivos.
Quando o passado e o futuro de Matthew são revelados, Anna vê-se confrontada com uma verdade que não pode suportar. Mesmo apaixonada, terá de escolher entre o amor e a dor, entre a vida e a morte. 
Como irá Anna lidar com a possibilidade de tudo ter sido apenas um jogo de interesses? Estarão os dois preparados para as consequências da verdade?
Só um grande amor poderá sarar as feridas profundas de Matthew e dar a Anna a certeza de que há um futuro repleto de vida para ambos.  
IdiomaPortuguês
Data de lançamento4 de ago. de 2022
ISBN9791221382457
Black Heart - II

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    Black Heart - II - Lauren Lewis

    PARTE UM

    UM

    O relógio em cima da cómoda marcava cinco e meia da manhã.

    Dormi superficialmente contaminada de dúvidas e de certezas. Entre o corpo massacrado e o coração cheio, era a minha cabeça que reclamava por ocupação.

    Arrastei-me pelo colchão, evitando qualquer gesto bruto que acordasse o homem bonito que dormia ao meu lado, e fui para a casa de banho. Precisava de elaborar uma lista mental das perguntas que queria fazer ao Matt quando ele acordasse, mas também pretendia organizar alguns materiais didáticos para colocar a turma da Grace a trabalhar, mesmo que ela continuasse com eles. Era minha obrigação, enquanto responsável pela coordenação do ensino elementar, zelar para que aquelas crianças chegassem ao Natal a conhecer pelo menos trinta por cento do abecedário, incluindo todas as vogais e, com sorte, alguns casos de leitura.

    Enchi a banheira de água e despejei os sais mineiras da Maddy. Pareceu-me perfeitamente normal estar às cinco e meia da manhã de uma quarta-feira dentro da banheira, sem sono, atormentada com o que se passava com o Matt.

    Por que razão quer ele tanto ter um filho?

    Repeti a pergunta vezes suficientes para concluir que não sabia, mas que ele queria com toda a pressa do mundo engravidar-me, isso não era novidade nenhuma para mim. Em certas alturas, ele representava um impenetrável labirinto. A frustração de não conseguir entendê-lo tornava-se cada dia mais insuportável.

    A porta abriu-se. Era a Maddy que acabava de chegar do hospital. Não tinha bem a certeza quanto tempo tinha passado. Ela acendeu a luz e ergueu as sobrancelhas com perplexidade.

    – O que é que estás a fazer a esta hora ao escuro dentro da banheira?!

    – Fala baixo que o Matt está a dormir! – pedi de imediato, constrangida por ter sido apanhada. – Estou bem, só precisava de me lavar.

    Ela levou as mãos ao rosto e riu-se de mim. Percebi que tinha entendido tudo mal.

    – Não estivemos até agora a fazer isso!

    – Usaram preservativo? – inquiriu de imediato com uma expressão preocupada. Trejeitei os lábios e desviei o olhar do dela. – Eu nem quero saber, aliás, eu prefiro não ter nada a ver com isso.

    Assisti ao seu desfile na casa de banho. Despiu-se e vestiu o pijama, penteou-se impecavelmente e desmaquilhou-se sob o meu olhar atento.

    – Maddy, eu conheço o Matt há umas semanas e já estou nas lonas. É só o início?

    Um jorro de embaraço corroeu-me assim que ela olhou para mim.

    – Eu nunca fui para a cama com ele, não sei. Queres que experimente? – gracejou, ignorando a minha expressão de choque. – Estava a brincar! Com o James ou com o Ed, não era assim?

    Abanei a cabeça.

    – O Matt é tão diferente. Nem sei explicar, mas ele faz-me sentir sempre parte integrante e não meramente um objeto, entendes?

    Ela assentiu com um sorriso e sentou-se na beira da banheira.

    – Estás apaixonada!

    Deu-me um beijo na testa e acariciou-me a face.

    – Eu vou fazer-lhe uma surpresa, para agradecer a noite de ontem e as flores que ele me tem dado. Ajudas-me?

    – Anna, eu quero que tu tenhas o melhor e se o Matt é o melhor para ti, então, por mim, tudo bem – respondeu docemente. – Agora quanto à ajuda, depende do que tens em mente…

    – Vou vestir um dos fatos que a estilista loira deixou. Quero que me arranjes o cabelo e me maquilhes – murmurei com as faces vermelhas de embaraço, eu nunca lhe tinha pedido que o fizesse em vinte e quatro anos de vida.

    A sua expressão acabava de se iluminar.

    – Foi a melhor coisa que me pediste na vida, rameira! – exclamou visivelmente satisfeita com o meu pedido.

    Mantive-me dentro da banheira com um sorriso manhoso nos lábios devido à ideia de surpreender o Matt. Eu sabia que ele gostava de me ver com as suas roupas extravagantes, com o cabelo arranjado e com o rosto minimamente maquilhado. Se ele se esforçava para me fazer sentir melhor, se me oferecia tudo, eu podia corresponder. Ainda que a ideia do seu controlo abusivo me perturbasse, eu era capaz de contornar isso. Sentia-me capaz de enfrentar as suas alterações de humor, a sua depravação sexual, o seu modo bruto de me falar quando algo não corria como ele desejava. Mas, mais, eu sentia-me pronta para ter uma relação com ele como nunca tinha tido essa certeza, por isso, mesmo que o meu corpo já tivesse sido dele várias vezes, corroía-me uma sensação boa pela alma, a ideia de que, mais do que o meu corpo, podia oferecer-lhe também o que faltava do meu coração.

    Quando me fitei ao espelho, depois da Maddy me maquilhar, não consegui acreditar que era eu. Dentro de mim, uma voz baixinha sussurrava que era eu, uma nova Anna, uma Anna apaixonada.

    – Obrigada, Maddy – abracei-a com força.

    – Eu sou tua irmã, é minha obrigação! – murmurou com os olhos esbugalhados. – Não sejas lamechas, rameira, agora vamos vestir-te antes que o Matt acorde e lá se vá a surpresa.

    As roupas da estilista loira tinham ficado no quarto de hóspedes, dispersas sobre a cama. Vesti um conjunto de roupa interior branco e corei ao vesti-lo, lembrava-me do que tinha acontecido a um parecido, mas não comentei com a Maddy, só o meu inconsciente sabia a razão do meu sorriso nervoso.

    A camisa caiu-me perfeitamente sobre os meus ombros, assim como as calças sobre os collants de vidro que, se Deus quisesse, não haveriam de acabar rasgados.

    Peguei nas botas pretas com um salto grosso, mas a Maddy puxou-mas da mão com a sua falta de educação muito familiar.

    – Não vais calçar essas botas! – disse ela agressivamente. – Vais calçar estes sapatos.

    Esticou-me uns sapatos pretos que não tinha visto ainda, pois estavam dentro de uma caixa. Eram bonitos com um salto grosso super alto, uma fita vermelha e duas letras GG pregadas de lado.

    – São uns Scarpin em couro com onze centímetros de uma das marcas italianas mais caras que eu conheço.

    Assim que me pus diante do espelho, era óbvio: parecia uma mulher nova, não só fisicamente, mas sobretudo emocionalmente, porque tinha decidido que iria usar as roupas extravagantes e caras que o meu namorado tinha enviado por uma estilista conceituada.

    Não eram ainda oito horas, mas sabia que o Matt já tinha acordado, porque já tinha procurado por mim e a Maddy tinha-o mandado para a cozinha.

    Ao chegar à sala, ouvi a voz dele na cozinha a conversar com o Anthony. A Maddy fitou-me com aquele ar de quem iria tramar alguma. De braços cruzados e com o olhar preso em mim, vi-a mover os lábios:

    – Matt, vem aqui à sala se não te importares!

    Oh, céus, é agora…

    Fiquei hirta, ele ainda não me tinha visto e eu estava nervosa.

    – Vem ver a Anna! – concluiu ela, piscando-me o olho.

    Em menos de nada, apareceu o Matt e o Anthony à porta da sala. Corei e sorri com um jorro de embaraço a subir por mim. A Maddy atirava-me um olhar radiante por me estar a tramar e o Matt estava pregado ao chão com um sorriso bonito nos lábios. O Anthony contornou-o e agarrou-se à Maddy, fitando-nos, porque nenhum de nós dizia nada.

    Não sei se ele gosta!

    Forcei um som gutural e desviei os cabelos do rosto, apanhada pelos flashes da fotógrafa do sítio que queria captar o momento.

    – Estou assim tão mal? – perguntei com os olhos presos nele.

      Seriamente abalado, caminhou até mim e eu não consegui deixar de sentir um nervoso miudinho corroer-me as mãos, que estavam suadas. O ar faltou-se-me nos pulmões e a minha tentativa para abafar um suspiro longo foi morder o meu próprio lábio. Não aguentava mais a sensação do desconhecido, aquele formigueiro na ponta dos dedos de quem não sabe o que vai acontecer a seguir.

      Receava que ele dissesse que exagerei, embora a sua expressão fosse cada vez mais iluminada.

    – Eu nem tenho palavras – sussurrou, pegando-me nas mãos. – Vamos tomar o pequeno almoço fora, porque eu quero que os paparazzi que estão lá fora possam apreciar a beleza! Tu és a personificação da beleza.

    Num impulso ternurento, pegou-me ao colo e rodou-me no ar. Eu apoiei-me nos seus ombros e levantei os dois pés como na sua sala.

    Oh, estou a rodar.

    – Posso levar-te a tomar o pequeno-almoço? – perguntou, roçando o seu nariz no meu.

    Amoleci nos seus braços de alma lavada e, naquele momento de desvaneio, só me apetecia dizer-lhe que estava apaixonada, mas contive-me, porque ainda era cedo para expor os meus mais profundos sentimentos por ele. 

    – Leva-me onde quiseres, ainda temos muito tempo até irmos trabalhar.

      – Cinco minutos contigo são uma bênção – disse-me ele num tom triste e perdido, olhos nos olhos, pude ver a amargura escura no fundo da sua alma. – Quantas bênçãos ainda teremos até que eu… até que tudo acabe?

    Oh, meu Deus!

    – Infinitas! – interrompi-o. – Tantas que te vais cansar de mim, disto, desta carência que se instala entre nós quando estamos juntos.

    – Também sinto a tua falta quando estamos separados, por isso é que tenho uma fotografia tua na minha secretária. Penso em ti todos os minutos.

    Aquelas palavras fizeram-me sentir uma porção de emoção que me abalou por dentro. Um raio de esperança rebentou no meu peito.

    – Penso em ti até quando estás comigo – sussurrei numa intimidade só nossa.   

    A campainha tocou e eu sabia quem lá vinha, por isso, tremeliquei por todos os lados e evitei abrir a porta de imediato. O Matt fê-lo por mim e eu fechei os olhos, enquanto o seguia.

    Que mal fiz eu para esta luta de testosterona?

    Uma sensação estranha vagueava por mim e eu levei a mão ao peito, esfregando-o por cima da camisa. Estávamos os três à porta. O Jack trazia o pão, como todos os dias, e não tirou os olhos de mim. Haveria luta ocular na forma como o Matt fitava o Jack que, entretanto, deixava cair a expressão de terror para assumir a de encanto.

    – Bom dia, Jack – disse o Matt com um mau feitio típico de criança.

    – Bom dia, Matt, não esperava ver-te aqui.

    Eh, lá, que vai começar a disputa.

    – Pois, nem eu a ti – refilou o Matt, e eu apertei-lhe a mão com força. – Está tudo bem com o Peter e a Rita?

    O meu coração ficou apertado por o Matt estar preocupado com o meu afilhado.

    – Sim, está tudo bem lá em casa. Já agora, obrigado pelo jantar.

    Esboçou um ténue sorriso na minha direção.

    – Anna, venho trazer-te o pão.

    Lá disse, ao fim de uns eternos segundos, e eu agarrei o pequeno saco das bolinhas com farinha.

    – Obrigada, Jack.

    – Estás muito bonita, vão a alguma festa? – trazia nos lábios aquele sorriso… de sempre.

    Vão pegar-se à pancada aqui mesmo, murmurou o meu inconsciente desbocado e medricas, que não queria ringues de boxe montados na sua casa.

    O Matt puxou-me com força e deixou a sua mão esquerda na minha cintura, apertando-me com uma mistura de desejo, posse e com alguma contenção. Eu não me importava, porque enquanto me torturava a mim, não desfazia a cara do Jack. Se aquilo não era uma marcação de território, era algo muito parecido. Senti-me a ser disputada pelos olhares de ambos e revirei os olhos, acabando por dizer ao Jack que o Matt me tinha oferecido a roupa e eu estava a usá-la por isso. Foi o suficiente para que a tristeza se infiltrasse no seu olhar.

    – Tem um bom dia, Anna – murmurou o Jack.

    O Matt empurrou a porta com tanta força que me assustei. Mais uma atitude adequada para crianças até aos quatro anos, não para um CEO dono de um império de hotéis.

    – Ele quer-te, Anna! Ele quer o que é meu! – resmungou desnecessariamente alto, assim que me soltei dele para agarrar a mala que tinha deixado no sofá.

    Ignorei-o, porque não queria ter de discutir com ele a minha amizade prolongada com o Jack.

    – Ouviste, Anna? Ele quer-te!

    Suspirei fundo e atirei-lhe um dos meus olhares cruéis, que em nada o demoveu. Manteve a postura de miúdo pequeno e mimado.

    – Ele até pode querer, Matt, mas eu é que não o quero. Eu sei o que quero! Somos amigos há anos, eu nunca o quis, não haveria de ser agora. Para de te comportar como meu marido, já te disse que sou tua namorada!

    O ar de satisfação dele fez-me sentir uma pontada no estômago, porque ainda não estava minimamente habituada a ser olhada daquela maneira.

    – Vais comer isso? – perguntou-me ele, preocupado.

    Passei por ele sem lhe responder, queria que ficasse bem claro que havia coisas que não iam mudar, a minha amizade com o Jack era uma delas.

    Caminhei até à cozinha e larguei o saco das bolinhas assopradas ao lado da jarra das flores. Podia ser que o Anthony quisesse pão fresco, mas duvidava que eles acordassem a tempo de almoçarem, quanto mais de tomarem o pequeno almoço.

    O Matt seguia-me atentamente, com os lábios semicerrados, não gostando da ideia de o Jack me trazer o pão. Optei por não lhe dizer que era habitual e que ele o fazia há um ano: estivesse calor ou frio, chuva ou sol, fosse férias, feriados, fins-de-semana ou dias normais. Ele levava-me o pão todas as manhãs, todos os dias!

    Quando saímos de casa, ele agarrou-me na mão. Havia coisas que nunca iam mudar entre nós. E ainda bem.

    Dois

    Mal atingimos a porta do prédio, a expressão do Matt mudou drasticamente. As suas mudanças de humor deixavam-me sempre na penúria, mas mantive o meu sorriso doce, doce como só ele merecia. Os nossos olhos estavam pegados na continuação de cor um do outro.

    – Põe os óculos de sol agora.

    Fiz o que me mandou de imediato.

    – Não me obrigues a correr, por amor de Deus! – pedi docemente, entrelaçando os dedos nos seus. – Ainda por cima, não tenho as minhas galochas floridas.

    Ah… um sorriso divertido nos seus lábios!

    Passei a ponta dos dedos na sua face e percebi que ele tinha ficado afetado pela conversa das minhas galochas.

    – Anna, ouve-me: estão ali fora os fotógrafos. Se sairmos de mãos dadas, vão dizer que eu passei a noite contigo. Isto vai confirmar que temos uma relação séria e que estamos juntos.

    Por momentos, pensei que ele estivesse arrependido, contudo, não estava e tive a certeza disso quando a sua mão apertou a minha com força, como um pedido para não desistir, nem dele nem de nós. Lembrei-me da primeira noite na sua casa, no sábado em que ele me agarrou na mão e me pediu para ficar. Foi do mesmo jeito, com a mesma capacidade de me aflorar os sentidos.

    Encostei-me ao seu peito, feliz e certa do que queria para nós.

    – Eu tenho uma relação contigo, muito séria e consumada!

    – Consumadíssima, Miss Hardy, não podia estar mais consumada – respondeu ele num tom muito guloso.

    – Sou tua namorada e tu és meu namorado, portanto eles que digam o que lhes apetecer. Não temos de dar satisfações a ninguém. As tuas amigas loiras desembaraçadas é que são capazes de ficar um bocadinho tristes com isto… de agora seres meu.

    Um sorriso enorme desenhou-se nos seus lábios.

    – Para com esse ar, Anna, ou rasgo-te a camisa e as calças aqui mesmo! – ameaçou com um timbre muito afetuoso.

    – Controle-se, Mr. Cooper, não há de querer que as pessoas o vejam a ter sexo à porta do meu prédio. O que diriam os seus conselheiros reais sobre o assunto?

    Os seus olhos aclaravam-me a alma e os escuros medos. As ebúrneas incertezas e as estranhas dúvidas que me acompanharam durante toda a madrugada desapareceram.

    Tocou-me no queixo e olhou-me nos olhos. Quando ele olhava para mim, via-me por inteiro.

    – Gosto demasiado de me deitar em cima de ti para permitir que mais alguém para além de mim assista a isso – deixou-me completamente sem fôlego. – Fiz-me entender?

    Acenei com a cabeça, tentando esconder o sorriso de troça. Uma parte de mim adorava quando ele era possessivo, controlador e prepotente. E, de certa maneira, isso assustava-me.

    – Muito bem, Mr. Cooper.

    Sorriu-me e abriu a porta, eu e o meu inconsciente baixávamos os óculos num movimento exato e perfeito.

    Não foi assim tão diferente dos dias anteriores, com os fotógrafos e os barulhos dos flashes, a falta de limite, as perguntas inusitadas e a vontade incessável de ter uma fotografia nossa. Tinham as nossas mãos juntas com os dedos entrelaçados, o que queriam mais?

    Continuava sem entender alguma coisa de fama ou de paparazzi.

    O Roberts tinha a porta da carrinha aberta e o Matt entregou-lhe a pasta com os livros. Agarrou-me na mão para que eu pudesse entrar na carrinha de forma elegante, porque os sapatos eram demasiado altos. Revirei-lhe os olhos, pois percebi que ele estava a ter um segundo ataque de testosterona às oito da manhã e ignorei redondamente a sua atitude controladora. Ele não queria que eu falasse com o seu motorista e, por isso mesmo, não deixei de o provocar, pois o motorista tinha sido visualmente escorraçado para o lugar do condutor, só os seguranças se mantiveram a velar o perímetro.

    – Bom dia, Roberts. Como está? – perguntei diretamente, muito interessada na resposta.

    – Bom dia, minha senhora. Bem, muito obrigado.

    Acenou com a cabeça e eu sorri-lhe, vendo-o pelo espelho refletor.

    Claro que aquilo era dispensável, mas a verdade é que o motorista era realmente impecável comigo, portanto merecia que eu o cumprimentasse.

    A expressão do Matt tornou-se azul escura e eu pensei que se ia desfazer em raiva. Não me apetecia começar o dia a discutir com ele sobre as suas atitudes infantis, mas que as tinha, ai isso tinha… fosse a que horas fosse!

    Alguém está chateado…

    Puxou-me o cinto com um ar de poucos amigos, apertando-me bruscamente a perna. Fiz que não percebi, não queria ter de lhe lembrar que estavam fotógrafos do outro lado da rua a tirar-nos fotografias.

    Depois de me ver sentada, fechou a porta e contornou a carrinha, sentando-se ao meu lado. Tirei os óculos e guardei-os na mala preta nova e dispendiosa. Tudo naquele carro cheirava a novo, incluindo eu própria, que me estava a tornar uma pessoa diferente sem saber.

    Apanhei o espelho da Maddy e o seu batom vermelho escuro e retoquei os lábios, visto que me tinha sido tirada parte da pintura com dois ou três abruptos beijos do senhor todo o poderoso.

    Ele controlava-me como se estivesse no paraíso, divertido da vida por me ver pintar os lábios com tanto cuidado…. Pudera, eu mal sabia pentear o cabelo, como podia pintar os lábios bem? Por sorte, a Maddy tinha feito o contorno com um lápis da mesma cor, o que me facilitava a tarefa.

    Enquanto a carrinha se deslocava em direção à US-101 S, a sua mão tornou a calma num caos quando se infiltrou no meio das minhas pernas.

    Ergui a sobrancelha e ele desviou ligeiramente a mão, pousando-a sobre o meu joelho.

    – Quase que já não pareces a Anna pirosa do bar – murmurou com os dentes brancos como leite. – Continuas pirosa, mas sem aquelas galochas horríveis.

    Revirei-lhe os olhos e guardei o batom na mala.

    – Oiça lá, Mr. Cooper, não tem mais nada que fazer do que implicar com as minhas galochas? Ainda estou chateada, tu não me respondeste às perguntas do email, gritaste comigo e depois apareceste em minha casa com o teu ar de todo o poderoso! Coloquemos chocolate nisso, não é?

    Por dentro, sabia que um frasco de Nutella nunca mais seria apenas um frasco de Nutella.

    – Miss Hardy, podia ter-me expulsado e recusado envolver-se comigo. Podia, mas não o fez, significa que é tão culpada quanto eu – sussurrou ao meu ouvido.

    As suas palavras fizeram o meu corpo tremer de uma ponta à outra.

    – Matt, precisamos de conversar antes de eu ir para a escola – murmurei, encostando-me ao seu peito. – Por que raio não usas preservativo? Tens vergonha de comprar? Eu posso ir à farmácia comprar, sempre é menos embaraçoso do que comprar um teste de gravidez ou a pílula do dia seguinte.

    – Eu já te disse que não tens de te preocupar!  – gritou exasperado e afastou-se de mim. O seu humor tornou-se negro como uma saqueta de chá preto. – E tu disseste que me davas um filho, portanto esquece isso.

    Por amor de Deus!

    Ele tinha razão, eu tinha-lhe dito na noite anterior que teria um filho com ele, porém ainda não tínhamos discutido o assunto. Pensei que talvez pudéssemos adiar a ideia.

    Não ousei falar mais sobre contracetivos, porque a sua expressão era de evidente zanga.

    – Onde me vais levar a tomar chá?

    Franziu a sobrancelha e, longos segundos depois, passou o seu dedo desde a minha testa atá aos meus lábios.

    Momentos depois, estávamos diante de uma pastelaria, a chuva miudinha ameaçava engrossar e esconder por completo os raios solares que abriam fendas nas nuvens.

    Mal entrámos no espaço, uma mulher alta e esguia caminhou em direção a nós com um grande sorriso nos lábios. Teria mais ou menos a idade da minha mãe. No cimo da cabeça, um grande apanhado fazia destacar as ondas grisalhas do seu cabelo brilhante, todavia o que realmente se destacava era o vestido verde grama.

    Todos os meus pensamentos foram esbofeteados pela presença daquela mulher.

    – Bom dia, Matthew – sorriu como quem o conhecia desde sempre.

    – Martha, esta é a minha namorada, Anna Hardy.

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