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Minhas Memórias
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E-book895 páginas8 horas

Minhas Memórias

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Sobre este e-book

Escrevendo para sua filha Beatriz, o autor discorre sobre a singela jornada de sua vida. Nesta obra completa ele apresenta algumas histórias curiosas de sua infância, adolescência, juventude e maturidade. Ele descreve o seu relacionamento familiar, fala das ilusões e desilusões que acompanharam a sua infância e adolescência. Mostra como entrou no caminho da ciência e tornou-se um cientista. Também discorre sobre os seus sucessos e fracassos. Fala do seu casamento, da sua filha e dos seus amados cachorros. Também apresenta um resumo de suas produções científicas, teológicas e literárias. Também revela como ocorreu a sua conversão ao cristianismo. O autor espera de coração que esta obra autobiográfica possa cair no gosto dos leitores.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento20 de mai. de 2015
Minhas Memórias

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    Minhas Memórias - Leandro Bertoldo

    SUMÁRIO

    Prefácio

    1. Meu Nascimento

    2. Carreira Paterna

    3. Fuga Cinematográfica

    4. Tempos Difíceis

    5. Morando Em Ibiá

    6. Algumas Curiosidades

    7. Mogi das Cruzes

    8. Aventuras e Desventuras

    9. Minhas Distrações

    10. Decepções e Adversidades

    11. Uma Nova Residência

    12. Sempre Crescendo

    13. Os Meus Papagaios

    14. Estórias de Minha Mãe

    15. Primeiro Ano Escolar

    16. Contratempos

    17. Primeira e Segunda Série

    18. Terceira e Quarta Série

    19. Maria Antonieta

    20. Anos do Ginásio

    21. Terceiro e Quarto Ano

    22. Relacionamento Paternal

    23. Minhas Cadernetas

    24. Meu Emprego

    25. Período Colegial

    26. A Universidade

    27. Meus Cadernos

    28. Cartas do Meu Pai

    29. Primeiras Pesquisas

    30. Algumas Teses

    31. Minha Namorada

    32. Meu Casamento

    33. Meu Neném

    34. A Criança

    35. Desentendimentos

    36. Lances da Vida

    37. Meus Sofrimentos

    38. Despertando

    39. Minha Caminhada

    40. Minha Conversão

    41. Meu Batismo

    42. Oposição

    43. Um Novo Amor

    44. Meu Casamento

    45. Minha Filha Noemi

    46. Alguns Episódios

    47. Cartas Para Anita

    48. Minha Fofa

    49. Minha Pitucha

    50. Minha Calma

    51. Meu Mimo

    52. Dom de Ensinar

    53. Trabalhos Missionários

    54. Classe Pós-Batismal

    Apêndice I – Bilhetes da Minha Filha

    Apêndice II – Bilhetes da Minha Namorada

    Apêndice III – Bilhetes da Minha Esposa

    Meu Legado

    PREFÁCIO

    Minha querida... minha queridíssima filha Beatriz, quando alguns homens de bem chegam a certa idade, eles procuram olhar e inventariar o seu passado com a finalidade de encontrar algo digno de louvor que, porventura, tenham realizado no decorrer de sua breve existência.

    Esse tipo especial de homem busca por algum fruto que possa mostrar-lhe que sua vida não foi vã ou sem propósito. Ele procura a satisfação de ter realizado algo grandioso em benefício de outros. Busca por algum feito virtuoso que poderá ficar registrado como um memorial para sua família e pelas gerações vindouras.

    Confesso que comigo acontece o mesmo fenômeno. Desde a minha mais tenra infância sempre desejei que a minha vida fosse especial, que tivesse algum significado importante para as pessoas ao meu redor e para o mundo. Já faz algum tempo que estou vasculhando o meu passado, buscando um sentido para minha temporada neste mundo. Estou procurando recordar-me dos fatos mais dignos e marcantes que tenham ocorridos em minha jornada pela vida.

    Tendo refletido bastante sobre as minhas principais realizações, reconheço que as coisas que vejo são do meu inteiro agrado. Apesar disso, sinto-me frustrado porque, como todos os seres humanos, tinha grandes sonhos e altas expectativas para a minha vida. Sempre acreditei que pudesse fazer uma grande diferença no mundo, tornando-o mais esclarecido e melhor. Houve um tempo em que olhei para a ciência e sonhei com as suas honras e glórias eternas. Durante décadas dediquei a minha juventude e os meus melhores esforços na tentativa de alcançar o sucesso. Hoje, parece-me que esses sonhos de superação e grandeza estão sendo destruídos e massacrados pela implacável desilusão do tempo.

    Desde o início de minha adolescência tenho sido um verdadeiro megalomaníaco. Sempre desejei ardentemente subir aos picos dos mais altos montes e ser semelhante aos grandes homens da Terra. Durante décadas, desde a minha adolescência, o meu maior ídolo foi Isaac Newton (1642-1727). Porém, a grande verdade é que ambicionei muito, e alcancei apenas um pouco do que almejava. Bem, creio que esse tipo de reminiscência é aquilo que os estudiosos costumam chamar de crise da meia idade. Apesar disso, vou procurar descrever alguns acontecimentos curiosos sobre o meu passado e os pontos altos das minhas principais realizações no campo emotivo, intelectual e profissional.

    Evidentemente, nesta obra, serão apresentadas as minhas impressões pessoais. Penso que talvez alguns juízos de valores aqui forjados possam fazer injustiça a algumas pessoas com quem convivi durante anos. Digo isto porque é próprio da natureza humana lembrar-se mais vividamente do mal que sofreram do que do bem que receberam. Ser equilibrado em tais questões é atributo extremamente raro entre os seres humanos, especialmente porque estão envolvidos vários fatores emocionais conscientes e inconscientes. Por essa razão peço encarecidamente indulgência por tais falhas de julgamento. Mas, como única justificativa de tais juízos de valores, tenho a dizer que era assim que me sentia quando ocorreram os fatos naquela época; e são essas impressões que formaram a minha personalidade e perspectiva de mundo.

    Como é do teu conhecimento sempre fui um homem muito dedicado e interessado no mundo das letras, da ciência, da fé e do conhecimento em geral. Porém, o que você não sabe é que de longa data sempre tive grande curiosidade em conhecer a história dos meus antepassados. Por essa razão julguei que também seria muito prazeroso para você apreciar algumas das circunstâncias que vivenciei no decorrer dos anos de minha humilde existência. A verdade é que muitas coisas lhe são totalmente desconhecidas, sobretudo aquelas que envolvem meus ancestrais, minha infância e adolescência, razão pela qual procurarei pormenorizá-las nestas poucas páginas.

    Outra razão que me leva dar o meu modesto testemunho é que, tendo nascido e criado à margem da pobreza e em circunstâncias muito adversas, consegui, com o passar dos anos, galgar alguns degraus em minha singela posição social, bem como lograr certo grau de prestígio em minha comunidade. Além disso, durante boa parte da minha existência, passei por muitas tribulações, tristezas e perdas irreparáveis, mas todas elas serviram para transformar-me no homem que hoje sou. Realmente, durante a minha existência sofri vários reveses, porém reconheço que muitos foram os meus triunfos. Também conjecturo que os meus pósteros possam agradar-se de conhecer as mais variadas nuances que envolveram a vida pessoal de um de seus antepassados.

    Para produzir o presente testemunho, realizei exaustivamente uma série de pesquisas junto aos meus manuscritos pessoais mais antigos, que tive o privilégio de registrar metodicamente a partir de 1974, quando era apenas um adolescente, e contava somente quinze anos de idade.

    Confesso que a releitura desses antigos manuscritos deixou-me profundamente impressionado, especialmente pelo fato de que, decorridos apenas trinta e nove anos de sua produção, eu havia me esquecido completamente de alguns importantes detalhes da minha própria infância e adolescência. Destarte, tais escritos foram muitos valiosos e úteis na produção desta obra que você tem em mãos.

    Percebo que o ato de refletir sobre o meu passado, especialmente depois de decorrido tantos anos, tem servido como uma verdadeira terapia. Esse elixir tem curando muitas das minhas feridas emocionais esquecidas na poeira do tempo. Reconheço que reviver as minhas velhas e antigas emoções tem sido algo muito prazeroso e agradável.

    As narrativas apontadas nesta memória mostram um garoto inseguro, tímido e medroso procurando superar as suas frustrações, limitações financeiras, sociais e intelectuais, apesar das grandes adversidades. Há o relato de um adolescente sonhador entrando pelos caminhos da ciência, um estudante aplicado, um pesquisador visionário e a história de um homem que encontrou o seu caminho.

    Como você sabe, sou um escritor independente e vanguardista. Minha formação em ciências exatas leva-me a escrever sem rodeios, de maneira que todos os meus escritos são claro, objetivo e direto. Prezo demais pela didática porque desejo comunicar-me claramente com todos meus leitores. Por essa razão o presente livro foi dividido em capítulos, que por sua vez foram divididos em subtítulos, que compreendem os principais episódios históricos da minha vida, relatados na primeira pessoa do singular, por meio de textos curtos e específicos.

    Na elaboração destas memórias procurei ser o mais fiel possível aos fatos que marcaram profundamente a minha existência, e isto tanto quanto possa permitir a minha memória e minha capacidade de raciocínio, que já não possuem mais aquela vigorosa vitalidade da minha juventude. Nesta memória não há muita densidade psicológica ou confrontos verbais. Penso que esta obra seria mais interessante para você se ela apresentasse um enfoque crítico mais intenso e com muito mais nuances.

    Portanto, não espere encontrar grandes emoções, ou elaboradas dramatizações nesta narrativa, mesmo porque não se trata de uma obra de ficção – produto da liberdade de expressão da imaginação – mas trata-se de uma singela coleção de fatos atados aos grilhões da realidade, de onde foram extraídas algumas curiosidades verídicas sobre a minha singular vida pessoal. Tais fatos foram reunidos nesta obra por assunto, numa certa ordem cronológica, com o simples objetivo de registrar os principais eventos históricos de minha vida e obra. Boa leitura e muito sucesso!

    Mogi das Cruzes, em 20 de outubro de 2013.

    leandrobertoldo@ig.com.br

    1. MEU NASCIMENTO

    O Cartório do Registro Civil do 10º Subdistrito, em Belenzinho, Distrito de São Paulo, Comarca da Capital, Brasil, expediu uma certidão de nascimento extraída do livro 153 às folhas 33 vº sob o número 123.326, com o seguinte teor:

    Certifico que, no livro nº 153, de registro de nascimento, está registrado José Leandro Bertoldo, do sexo masculino, nascido no dia três de Março de mil novecentos e cinquenta e nove às 23 horas e 15 minutos, em este Subdistrito. Filho de José Bertoldo Sobrinho e de dona Anita Leandro Bezerra. São avôs paternos Francisco Bertoldo do Amorim e dona Aguida Augusta do Amorim e maternos Olavo Leandro Bezerra e dona Rita Augusta Bezerra. Observações: Registro feito hoje foi declarante o pai. O referido é verdade e dou fé. São Paulo, 05 de Março de 1959.

    2. O Recém-Nascido

    Sou o primeiro filho do casal José Bertoldo Sobrinho e de Anita Leandro Bezerra. Nasci pesando 3 quilos e 600 gramas numa terça-feira do dia 03 de março de 1959, na cidade de São Paulo, Estado de São Paulo, região Sudeste do Brasil.

    Meus pais contam que desejavam e esperavam a chegada de uma menina para fazer companhia para minha mãe. Tinham tanta certeza disso que compraram umas poucas peças do enxoval do bebê cor-de-rosa.

    Por ocasião do meu nascimento o Brasil era governado desde 1956 por Juscelino Kubitschek, enquanto que o Estado de São Paulo era governado por Carvalho Pinto (1959-1963).

    No dia do meu nascimento, a minha mãe contava dezoito anos de idade e o meu pai tinha trinta e dois anos. Foi nesse dia que os Estados Unidos lançaram o primeiro satélite artificial que conseguiu escapar da força da gravidade terrestre, o Pioneer 4, que passou a 60.000 km da Lua.

    3. A Nossa Residência

    Por ocasião do meu nascimento, os meus pais residiam num pequeno e tosco casebre de dois cômodos, com telhado baixo e piso de terra batida, localizado no bairro do Belenzinho em São Paulo – SP.

    Quando estava com dois anos de idade, numa fresca manhã, levantei-me da cama. Meu pai havia saído de madrugada para o trabalho e eu havia sido colocado na cama de casal ao lado de minha mãe. Ao levantar-me caminhei por aquele cômodo. Logo notei que havia no piso do quarto um grande número de formigas construindo um formigueiro bem no meio daquele cômodo de terra batida. Inadvertidamente resolvi urinar em cima do formigueiro. Mas ao fazer tal arte, muitas das formigas grudaram em minhas pernas e começaram a me picar. Então gritei, e, imediatamente, a minha mãe acordou, e agarrando, levou-me para cima da cama tirando as formigas que haviam ficado grudadas nas minhas pernas.

    4. Situação Financeira

    Por ocasião do meu nascimento, a situação financeira de meus pais era bastante precária. Meu pai recebia mensalmente menos de um salário mínimo e meio. Eles não tinham recursos financeiros nem mesmo para comprar um berço. Eu era colocado para dormir sobre a tampa de uma velha mala de couro, que trouxeram do Ceará.

    Com o passar dos meses formou-se um pequeno buraco de três por cinco centímetros na tampa de couro daquela mala, como resultado da corrosão provocada pelo meu xixi. Aquela mala nos acompanhou até a minha adolescência, quando então ela se deteriorou pelas intempéries da natureza.

    A minha mãe amamentou-me no peito até os meus dois anos e meio de idade. Em geral, os meus pais eram de pouco assunto e conversa. Durante boa parte da minha infância fui criado sem nenhum contato social, o que me tornou uma criança extremamente introvertida, inexperiente e pouco comunicativa, mas em compensação, muito sonhadora, pensativa e reflexiva.

    5. As Duas Fotografias

    As duas únicas fotografias de minha tenra infância foram produzidas no dia 24 de setembro de 1961, exatamente um mês antes do nascimento do meu irmão.

    Naquela ocasião eu estava com dois anos e meio de idade. Fui fotografado no dia do meu batismo infantil, realizado na cidade de Guarulhos pelo padre Geraldo Penteado de Queiroz.

    As fotos mostram uma criança robusta, aparentemente distraída, com um olhar perdido na distância, como se estivesse refletindo no significado de tudo aquilo.

    Na primeira fotografia estou usando um par de sapatos pretos e meias. Estou vestido com um simples macacão largo e escuro. Os meus cabelos castanho-escuros eram compridos e caiam em cachos sobre os meus ombros, emoldurando um rosto rechonchudo. A minha fisionomia apresenta uma severidade incomum para uma criança de minha idade e os meus grandes olhos firmam uma expressão de seriedade.

    A segunda fotografia foi produzida poucas horas depois da primeira. Nela estou sem a minha farta cabeleireira encaracolada. Estou usando uma linda gravata borboleta e vestido com um macacão bem justo acompanhado por uma camisa branca de manga comprida. Estou usando sapatos pretos e meias. Todo este belo conjunto está acompanhado por um elegante boné branco. Foi a família Macedo, minha madrinha e padrinho de batismo, quem me presentearam com este lindo conjunto, com o qual fui batizado. Mais uma vez observa-se o meu olhar perdido na distância.

    6. O Nascimento do Meu Irmão

    Algum tempo depois do meu nascimento, os meus pais mudaram-se para a cidade de Guarulhos – SP. Muitos parentes do meu pai residiam nessa localidade, que também foi o local onde fui batizado.

    Estávamos na estação do ano conhecida como Primavera. Na segunda-feira do dia 23 de outubro de 1961, o meu irmão Francisco Leandro Bertoldo nasceu.

    Ele veio ao mundo na Casa Maternal e da Infância Leonor Mendes de Barros, da então Legião Brasileira de Assistência. Ele nasceu exatamente às 12h25, pesando 3 quilos e medindo 0,48 centímetros de comprimento.

    Meu irmão nasceu de parto Fórceps, apresentação cefálica. A médica pediatra que estava presente na sala de parto e que examinou o recém-nascido era a Doutora Cruz.

    7. O Meu Pai

    No bairro do Mogilar, na cidade de Mogi das Cruzes - SP, onde passei a maior parte da minha infância e adolescência, não tínhamos energia elétrica, iluminação pública ou água encanada, a casa onde morávamos era muito afastada das demais e a mata nos cercava por quarteirões.

    Durante toda a minha infância, até ao início da minha adolescência, o meu pai foi o meu herói. Eu gostava muito quando ele chegava do trabalho antes do pôr-do-sol porque me sentia mais seguro e sem medo da escuridão da noite.

    Quando se aproximava a hora da chegava do meu pai, eu ficava aguardando-o no portão de casa. Quando ele despontava na esquina o nosso cachorro Titiu, o meu irmão e eu saíamos numa desabalada carreira para encontrá-lo. Era uma alegria. Ele nos abraçada, beijava e perguntava como foi o nosso dia.

    Durante toda sua vida, minha mãe sempre foi apaixonada pelo meu pai. Ele foi o único homem de sua vida. Para ela o meu pai era o seu Senhor e o seu Deus.

    Ela se iluminava quando meu pai estava em casa. Sua fisionomia se transformava quando estava com ele. Ela irradiava alegria e contentamento, parecia ser outra pessoa. Sua atitude contagiava a todos ao seu redor. Na minha infância observei várias vezes que os meus pais se tratavam pelo apelido carinhoso de filho e filha.

    Quando meu pai estava em casa tínhamos carne como mistura. Aos domingos pela manhã ele dava dinheiro para minha mãe comprar coxinhas de batatas fabricadas pela japonesa da esquina, atrás do nosso quarteirão. Também era aos domingos que tínhamos macarronada e frango cozido ao molho de tomate. Quando eu e meu irmão estávamos com mais idade, o meu pai nos levava numa pastelaria, localizada em frente da estação de trem de Mogi das Cruzes, para comermos salgadinhos com guaraná.

    8. Perfil Paterno

    Meu pai era perspicaz, inteligente e muito viajado. Conhecia várias regiões do Brasil. Todo seu comportamento cultural e moral eram típicos dos cearenses de sua classe social.

    Ele fazia amigos com grande facilidade. Tinha um exército de admiradores. Alguns de seus amigos eram-lhe mais próximos, como o caminhoneiro Manoel Antônio de Castro, o senhorio Antônio Batista Gomes, o alfaiate Lázaro, o oficial do 3º Tabelião Edgard Gomes de Oliveira e muitos outros.

    Meu pai nunca tomou café da manhã, nunca bebeu refrigerante e não gostava de doces. Durante a maior parte de sua vida jamais jantou. Ele apenas almoçava entre o horário do meio-dia às treze horas.

    Meu pai gostava de comer farinha de mandioca, arroz, feijão, salada de verduras e carnes gordurosas. Aos domingos comia macarronada e frango cozido ao molho. Três coisas não faltavam sua refeição: farinha de mandioca, verduras e carnes.

    Ele apreciava músicas de sanfona, especialmente o forró. Gostava de relógios dourados e na maior parte de sua vida, adorava vestir-se elegantemente. Nunca torceu por nenhum time de futebol, mas era apaixonado por mulheres e chegado numa bebida alcoólica. Quando moramos no Estado de Minas Gerais, ele adquiriu duas sanfonas, mas nunca soube como tocá-las. Alguns poucos amigos, quando o visitava, tocava as sanfonas para ele.

    9. Os Apelidos

    Meu pai era conhecido por todos com os apelidos de Ceará e braço torto. Era chamado de braço torto porque quanto jovem caiu de uma árvore e quebrou o braço. Como não foi medicado o braço calcificou-se e ficou torto. Esse braço torto tornou-se a marca registrada do meu pai.

    Depois de aposentado ele sofreu uma queda e quebrou o braço. Levei-o ao Hospital Santana, em Mogi das Cruzes. O ortopedista colocou o braço no lugar e mandou engessar. Disse-lhe que agora o braço ficaria em sua posição correta. No dia seguinte o meu pai arrancou o gesso e o braço tornou a calcificar-se em sua antiga posição.

    Paralelamente, ao seu contrato empregatício com empreiteiras, o meu pai exercia algumas atividades autônomas, com a ajuda de sócios. Por exemplo, em Minas Gerais ele dedicou-se à venda de joias de segunda linha. Depois, adquiriu um caminhão e passou a transportar cargas com o seu sócio Manoel de Castro. Em Mogi das Cruzes, abriu uma empresa de instalações elétricas em zonas rurais, depois adquiriu um bar. Porém, a bebida, as mulheres e a falta de dedicação integral aos seus projetos levaram-se à falência.

    10. Ascendência Paterna

    Meu pai nasceu numa quinta-feira do dia 16 de setembro de 1926 em São Vicente – Icó, no Estado do Ceará.

    Após uma longa vida produtiva e cheia de atividades veio a falecer num domingo do dia 05 de junho de 2004, em Mogi das Cruzes, Estado de São Paulo.

    Ele era filho do primeiro casamento de um agricultor chamado Francisco Bertoldo de Amorim com Águida Augusta de Amorim, que tiveram mais dois filhos do sexo feminino: Maria Graciola Bertoldo e Odete Bertoldo.

    Com o falecimento de minha avó paterna Águida Augusta de Amorim, o meu avô Francisco Bertoldo de Amorim casou segunda vez com Francisca das Chagas, com quem teve mais quatro filhos: Geraldo Bertoldo (Isidorio), Áurea Bertoldo, Águida Bertoldo e Antônio Bertoldo.

    À procura de melhores oportunidades financeiras, no fim da década de quarenta, o meu pai migrou para o Estado de São Paulo, onde fixou residência na cidade de Guarulhos, onde a princípio começou trabalhando como ajudante de pedreiro. Logo em seguida passou a trabalhar como pedreiro autônomo.

    11. A Minha Mãe

    Em geral, a minha mãe foi a melhor mãe do mundo. Não há outra igual a ela. Ela era exageradamente exigente e cuidadosa com os seus dois filhos. Sua principal preocupação com os seus filhos era a sua formação moral.

    Minha mãe era muito bonita. Ela tinha estatura baixa, media um metro e meio de altura, e calçava sapatos número vinte e sete. Quando jovem, era extremamente esbelta. Porém, com o avançar da idade ficou mais fofinha. Também era muito inteligente, esperta e perspicaz, embora se achasse boba.

    Na minha infância percebi que a minha mãe era uma mulher de oração. Muitas vezes a observei rezando. Foi ela quem me colocou no caminho da fé, ensinando-me a rezar.

    Quando eu tinha apenas seis anos de idade, o meu pai, que era dado ao vício da bebida alcoólica e muito mulherengo, ameaçou abandonar-nos e voltar para o Estado do Ceará. Foi então que a minha mãe me pediu para orar pelo nosso lar. Segundo ela, Deus ouve as orações das crianças e até onde sei meu pai nunca nos abandonou.

    Curiosamente, a partir deste momento em diante passei a ter um interesse sempre crescente pelas coisas divinas. Desde então, nunca mais deixei de orar e jamais abandonei o meu temor e a minha convicção na existência de Deus. Muitas vezes a minha fé confortou-me na minha infância, diante de situações fora do meu controle.

    12. Alfabetização

    Embora não possuísse nenhuma instrução ou educação formal, a minha mãe era muito inteligente e talentosa. Em minha adolescência pude perceber que ela tinha uma enorme vontade de aprender a ler e a escrever.

    Quando alcancei doze anos de idade e a minha mãe trinta e um, resolvi alfabetizá-la. Após seis meses de intenso esforço e dedicação de ambos os lados, obtive êxito em minha empreitada.

    A minha mãe aprendeu a ler e a escrever com perfeição. Inclusive aprendeu a somar e a subtrair. Isso me deixou muito feliz. Até aos dias de hoje tenho uma enorme satisfação por ter ensinado a minha mãe a ler e a escrever. Ela costumava ler alguns livretos e a Bíblia Sagrada. Copiava orações e vários textos bíblicos. Fazia a lista de compras, escrevia as suas enfermidades etc.

    13. Ascendência Materna

    Minha mãe, cujo apelido de infância era Lil, pertencia a uma bem-sucedida família de latifundiário, que vivia na pacata cidade de Icó, no interior do Estado do Ceará.

    Ela nasceu numa segunda-feira do dia 20 de janeiro de 1941 e faleceu numa segunda-feira do dia 29 de agosto de 2010, em Mogi das Cruzes, Estado de São Paulo.

    Era filha de Olavo Leandro Bezerra e de Rita Augusta Bezerra. Seus avôs maternos eram Pedro da Cunha de Oliveira e Rita da Cunha de Oliveira. Ela teve seis irmãos, a saber: Filomena Leandro Bezerra, Francisco Leandro Bezerra, Luzia Leandro Bezerra, Marieta Leandro Bezerra, Moreira Leandro Bezerra e Posa Leandro Bezerra.

    A minha mãe foi o penúltimo dos filhos do casal Olavo e Rita. Sendo que o último foi o Francisco Leandro Bezerra, a quem a minha mãe sempre se referia com grande afeição. De todos os seus irmãos, o único que a minha mãe se referia com certo desafeto era o Moreira Leandro Bezerra, a quem identificava como seu Moreira. Ela se lembrava dele apenas pelas coisas ruins e desagradáveis que costumava praticar em sua juventude.

    Exceto a minha mãe, todos os seus irmãos permaneceram morando em Icó - CE. Após a morte do meu avô Olavo, ocorrida na década de setenta, o seu latifúndio foi dividido entre cinco herdeiros e transformado em pequenos sítios. A minha mãe era tida em sua família como a mais bonita e formosa entre todas as suas irmãs.

    14. Ditos Maternos

    Minha mãe jamais deixou de nortear sua vida e conduta por tudo o que era bom, honesto, justo e correto. Ela não gostava de nada que fosse errado, torto ou imoral. Ela jamais gostou de estender no varal roupas viradas de ponta cabeça. Não dobrava panos pelo lado do avesso. Não deixava sapatos emborcados etc.

    Ela sempre me instruía em bons princípios morais com as seguintes palavras:

    – Nunca pegue nada de ninguém, nem mesmo um palito de fósforo queimado.

    Ela também dizia:

    – Quem não quer emprestar não divulga o que tem.

    Outro ditado que a minha mãe incutiu em minha mente foi o seguinte:

    – Nunca deixe os chinelos emborcados porque isso atrasa a vida.

    Com receio de ter a vida atrasada por algum revés, jamais deixei os meus chinelos ficarem emborcados. Hoje em dia creio que a minha mãe queria apenas ver os chinelos arrumados no seu devido lugar. Mas, mesmo assim, não suporto ver um chinelo emborcado porque sinto uma enorme compulsão para desemborcá-lo.

    Minha mãe tinha outra superstição que ficou encucada em minha mente. Ela nos ensinou que a cabeceira da cama em nossos quartos deve ficar sempre em oposição à rua que dá entrada à casa. Ou seja, os pés da pessoa deitada não devem ficar na direção da entrada principal da casa. Ela dizia que isso representava um mau agouro. Era chamar a morte para os membros da família. Ela justificava suas crenças dizendo que os defuntos eram enterrados com os pés no sentido da entrada do cemitério.

    Minha mãe também costumava dizer:

    – Quem tem as suas coisas, cuida!

    Por causa desse ensinamento sempre procurei cuidar pessoalmente de minhas próprias coisas. Até hoje não deixo ninguém colocar as mãos em minhas coisas particulares. Em casa, cada um sempre teve as suas próprias coisas para que ninguém precisasse meter as suas mãos nas coisas dos outros. Ela também aconselhava:

    – Nunca troque o seu juízo com o de uma criança.

    Com tal ensino ela queria dizer-me que não deveria ficar brigando ou discutindo com crianças mais novas, porque sendo mais velho eu tinha melhor juízo e discernimento.

    Outro ditado que a minha mãe sempre repetia era o seguinte:

    – Quem guarda sempre tem!

    Tal ensino tornou-me um homem comedido em questões financeiras.

    15. Perfil Materno

    Minha mãe era uma pessoa bastante perspicaz, impulsiva, desconfiada e extremamente cautelosa. Ela sempre foi dedicada ao lar e muito severa na educação de seus dois filhos, a quem amava com zelo sem medida.

    Na minha infância ouvi a minha mãe cantar apenas uma vez enquanto ela limpava a sala de casa, e nunca mais esqueci aquela melodia, que hoje sei que era uma música intitulada Filme Triste, cantada pelo Trio Esperança, um grande sucesso na década de sessenta.

    Durante toda sua longa vida, a minha mãe enfrentou várias adversidades e dificuldades. Ela tinha problemas de relacionamento com o meu pai, dificuldades com a falta de dinheiro, preocupações com a frágil saúde do meu irmão e inquietações quanto a sua própria saúde mental.

    Apesar de passar por muitas dificuldades e aborrecimentos, a minha mãe sempre procurava me agradar de um jeito ou de outro. De vez em quando ela me presenteava com um doce ou alguma revista em quadrinhos. Na feira da cidade ela comprou dois revolveres de espoleta. O meu era de ferro e o do meu irmão de alumínio. Toda vez que fazia compras nas feiras livres, ela costumava trazer-me algum suco ou salgadinho.

    Praticamente, durante toda a minha infância e adolescência, a minha mãe foi única pessoa com quem mais me aproximei de uma convivência emocional.

    Meu pai nos amava e demonstrava a sua afeição presenteando-nos com alguma coisa. Porém, ele não convivia emocionalmente conosco. Quase sempre estava viajando. Ele ficava vários meses fora de casa. Quando estava em casa, ele embebedava-se e quando sóbrio era muito sisudo. Ele não era de expor suas emoções ou seus sentimentos e não participava da intimidade da nossa vida emocional. Eu sentia muita falta desse vínculo paterno.

    2. CARREIRA PATERNA

    Meu pai sempre foi um homem trabalhador, muito esforçado e competente em suas atividades profissionais. No decorrer dos anos, com muito esforço pessoal e dedicação, aperfeiçoou-se em seu ramo de trabalho, galgando diversos cargos profissionais.

    Entre os anos de 1938/1947 meu pai foi Agricultor. Entre 1948/1952 foi Ajudante de Pedreiro. Entre 11 de maio de 1953 a 30 de junho de 1958 foi pedreiro autônomo.

    A vida profissional do meu pai sofreu uma grande guinada quando passou a trabalhar para grandes empresas. Em 02 de julho de 1958 foi contratado para o cargo de Pedreiro. Entre 03 de fevereiro de 1959 a 13 de setembro de 1961 ocupou o cargo de Encarregado de Pedreiros. Entre 27 de setembro de 1961 a 01 de agosto de 1966 ocupou o cargo de Mestre Concreto. Em 23 de fevereiro de 1967 assumiu o cargo de Mestre Pedreiro e em 22 de agosto de 1967 assumiu o cargo de Encarregado de Construção. Em 09 de agosto de 1968 ocupou o cargo de Mestre Pedreiro. Entre 01 de maio de 1970 a 01 de maio de 1972 ocupou o cargo de Mestre Concreto. Entre 01 de janeiro de 1973 a 01 de maio de 1975 ocupou o cargo de Mestre de Obras. A partir de 13 de novembro de 1975 ocupou o cargo de Mestre Geral de Obras. Ele aposentou-se nesta última função no dia 10 de maio de 1977.

    2. Algumas Vantagens Profissionais

    O primeiro emprego registrado de meu pai ocorreu em 02 de julho de 1958 com a empresa Hedeager Bosworth do Brasil S.A., no cargo de Pedreiro. Em seguida foi incorporado na empresa Hoffmann Bosworth do Brasil S.A., onde trabalhou durante o período de 02 de julho de 1960 a 01 de setembro de 1966, sendo sua última função de Mestre de Concreto.

    Quando a obra na Nestlé-Araçatuba foi terminada, o meu pai era Encarregado de Concreto. Em 15 de março de 1963 ele recebeu uma Gratificação Especial no valor de Cr$ 25.000,00 (vinte e cinco mil cruzeiros). Nessa ocasião o salário mínimo era Cr$ 21.000,00.

    Quando a obra na Nestlé-Ibiá foi terminada, o meu pai era Mestre Concreto. Em 12 de abril de 1965 ele recebeu uma Gratificação Especial no valor de Cr$ 100.000,00 (cem mil cruzeiros). Nessa ocasião o salário mínimo era Cr$ 66.000,00.

    Quando a obra na empresa Aços Anhanguera foi terminada, o meu pai era Mestre Concreto. Em 31 de dezembro de 1965 recebeu uma Gratificação Especial no valor de Cr$ 400.000,00 (quatrocentos mil cruzeiros). Nessa ocasião o salário mínimo era Cr$ 66.000,00.

    No princípio de sua carreira profissional como pedreiro, meu pai recebia mensalmente pouco menos que um salário mínimo e meio. Porém, na época de sua aposentadoria estava ganhando dezoito salários mínimos mensais, mais ajuda de custo.

    3. As Empresas

    Durante a maior parte de sua vida profissional, meu pai sempre trabalhou para grandes empreiteiras.

    1ª. Durante um ano trabalhou na Hedeager – Bosworth do Brasil S.A. (1958-1960).

    2ª. Trabalhou na Hoffmann Bosworth do Brasil S.A. durante seis anos (1960-1966).

    3ª. Durante três meses trabalhou na Engenal – Engenharia e Comércio Ltda. por três meses (23/02/1967-22/05/1967).

    4ª. Trabalhou na Christiani-Nielsen por um ano (1967-1968).

    5ª. Voltou a trabalhar para a Hoffmann Bosworth do Brasil S.A. durante sete anos (1968-1975).

    6ª. Durante dois anos trabalhou na Transpavi – Codrasa S.A. (1975-1977).

    Depois de aposentado, tornou-se um profissional autônomo bastante solicitado pela comunidade mogiana. Dificilmente ficava um dia sem trabalho.

    4. Um Profissional Muito Requisitado

    Como resultado de sua qualificação profissional, meu pai era muito requisitado pelas empreiteiras, razão pela qual viajava constantemente por todo território brasileiro participando na construção de várias obras de engenharia e arquitetura de grandes portes.

    Muitos de seus empregadores pagavam-lhe até mesmo passagens de avião para estar presente nos canteiros das obras, como foi o caso da empresa Christiani-Nielsen.

    Por exemplo, no Estado de São Paulo, ele trabalhou nas cidades de Guarulhos (1958), São Paulo (1960), Araçatuba (1962), Mogi das Cruzes (1965) e Serrana (1971). No Estado de Minas Gerais, veio a trabalhar nas cidades de Ibiá (1962), Belo Horizonte (?) e Poços de Caldas (1968). No Estado do Paraná, trabalhou em Porecatu (1974). No Estado da Bahia, trabalhou em Mataripe (1976). A qualificação profissional de meu pai era tão elevada que jamais ficou sem ocupação.

    5. Algumas Declarações Patronais

    O meu pai sempre recebeu excelentes declarações de seus empregadores. A título de exemplo, seguem duas:

    A Hoffmann Bosworth do Brasil S.A. em 24 de janeiro de 1967 emitiu a seguinte declaração:

    A quem possa interessar. Declaramos para os devidos fins que o Sr. José Bertoldo Sobrinho, foi nosso empregado durante o período de 2 de julho de 1960 a 01 de setembro de 1966, sendo sua última função de Mestre de Concreto. Durante o período acima referido nada consta em nossos arquivos em seu desabono.

    A Engenal Engenharia e Comércio Ltda. emitiu a seguinte declaração:

    São Paulo, 29 de maio de 1967. Prezado Senhor: Pelo presente aceitamos seu pedido de demissão verbal, declarando, outrossim, a quem interessar que durante o tempo de V.S.ª trabalhou como mestre de obras nessa firma mostrou-se elemento trabalhador, honesto, desempenhando todas as funções satisfatoriamente. Sendo o que se nos apresenta para o momento, subscrevemo-nos, mui atenciosamente.

    6. Primeira Carteira de Trabalho

    Em 11 de maio de 1953 meu pai solicitou a sua primeira Carteira Profissional, que recebeu o número 90890 – Série A. Nela, ele declarou sua profissão como Pedreiro e dependentes econômicos Luzia Maria de Lima, com que era casado desde 19 de maio de 1945, e os seus dois filhos Valmir e Maria.

    Seu primeiro contrato de trabalho foi firmado em 02 de julho de 1958 no cargo de Pedreiro, com a empresa Hedeager Bosworth do Brasil S.A., que mais tarde recebeu a razão social Hoffmann Bosworth do Brasil S.A.

    A partir de 02 de julho de 1960 o meu pai passou a ser empregado da firma Hoffmann Bosworth do Brasil S.A. (Nova Razão Social) com todos os direitos garantidos concedidos anteriormente pela Hedeager Bosworth do Brasil S.A. Seu contrato foi rescindido em 01 de setembro de 1966.

    Seu segundo contrato de trabalho foi firmado em 23 de fevereiro de 1967 no cargo de Mestre, com a empresa Engenal Engenharia e Comércio Ltda. A pedido do meu pai o seu contrato foi rescindido em 22 de maio de 1967.

    Seu terceiro contrato de trabalho com prazo determinando foi firmado em 22 de agosto de 1967 no cargo de Encarregado de Concreto com a empresa Christiani-Nielsen – Engenheiros e Construtores S/A, e encerrado em 06 de setembro de 1968.

    7. Segunda Carteira de Trabalho

    Em 23 de dezembro de 1969 meu pai recebeu a sua segunda Carteira Profissional que recebeu o número 71526 – Série 239.

    Seu quarto contrato de trabalho foi firmado em 09 de setembro de 1968 no Cargo de Mestre-Pedreiro com a sua antiga empresa Hoffmann Bosworth do Brasil S.A. e foi rescindido em 19 de dezembro de 1973.

    Seu quinto contrato de trabalho foi firmado em 14 de maio de 1974 no cargo de Mestre de Obras com a empresa Hoffmann Bosworth do Brasil S.A. e foi rescindido em 31 de outubro de 1975.

    Seu sexto e ultimo contrato de trabalho foi firmado em 13 de novembro de 1975 no cargo de Mestre Geral de Obras com a empresa Transpavi-Codrasa S.A. – Terraplenagem, Construções e Dragagens, e foi rescindido em 09 de janeiro de 1977.

    Consta registrado em sua Carteira Profissional que em 31 de janeiro de 1974 teve indeferido o seu pedido de benefício auxílio-doença/aposentadoria por invalidez.

    Em 18 de fevereiro de 1977 teve novamente indeferido o seu pedido de benefício auxílio-doença/aposentadoria por invalidez.

    Em 10 de maio de 1977 teve deferido o seu pedido de aposentadoria por invalidez. Nessa ocasião, ele estava com 50 anos de idade.

    A última anotação em sua Carteira de Trabalho data de 07 de dezembro de 1987 quando declarou como dependente sua companheira Anita Bezerra para fins de benefícios e serviços.

    8. Evolução Salarial

    Em 30 de julho de 1958, na empresa Hedeager – Bosworth do Brasil S.A., como Pedreiro, o meu pai recebia o salário hora de Cr$ 25,00, quando o salário mínimo era de Cr$ 3.700,00.

    Em 03 de fevereiro de 1959, na função de Encarregado de Pedreiros passou a receber o salário hora de Cr$ 40,00, quando o salário mínimo era de Cr$ 5.900,00.

    Em 01 de maio de 1960 estava recebendo o salário de Cr$ 54,00 por hora, quando o salário mínimo era de Cr$ 5.900,00.

    Em 26 de outubro de 1961, na empresa Hoffmann Bosworth do Brasil S.A. e na função de Mestre Concreto, recebia o salário hora de Cr$ 114,40, mais 25% de ajuda de custo, quando o salário mínimo era de Cr$ 13.216,00.

    Em 16 de novembro de 1962, na empresa Hoffmann Bosworth do Brasil S.A. passou a receber o salário mensal de Cr$ 48.000,00 mais 25% de ajuda de custo, quando o salário mínimo era de Cr$ 13.216,00, quando o salário mínimo era de Cr$ 13.216,00.

    Em 01 de outubro de 1963, na empresa Hoffmann Bosworth do Brasil S.A. estava recebendo o salário mensal de Cr$ 86.000,00 mais 25% de ajuda de custo, quando o salário mínimo era de Cr$ 21.000,00.

    Em 01 de dezembro de 1964, na empresa Hoffmann Bosworth do Brasil S.A. estava recebendo o salário mensal de Cr$ 156.000,00, mais 25% de ajuda de custo, quando o salário mínimo era de Cr$ 42.000,00.

    Em 01 de dezembro de 1965, na empresa Hoffmann Bosworth do Brasil S.A. estava recebendo o salário mensal de Cr$ 248.000,00, mais 25% de ajuda de custo, quando o salário mínimo era de Cr$ 66.000,00.

    Em 01 de agosto de 1966, na empresa Hoffmann Bosworth do Brasil S.A. estava recebendo o salário mensal de Cr$ 319.000,00, quando o salário mínimo era de Cr$ 84.000,00.

    Em 22 de agosto de 1967, na empresa Christiani-Nielsen estava recebendo o salário hora de NCr$ 1,20, quando o salário mínimo era de NCr$ 105,00.

    Em 03 de dezembro de 1968, na empresa Hoffmann Bosworth do Brasil S.A. estava recebendo o salário mensal de NCr$ 749,00, mais ajuda fixa mensal de NCr$ 200,00, mais 25% de ajuda de custo, quando o salário mínimo era de NCr$ 129,60.

    Em 01 de maio de 1969, na empresa Hoffmann Bosworth do Brasil S.A. estava recebendo o salário mensal de NCr$ 856,00, mais ajuda fixa mensal de NCr$ 200,00, mais 25% de ajuda de custo, quando o salário mínimo era de NCr$ 156,00.

    Em 01 de maio de 1970, na empresa Hoffmann Bosworth do Brasil S.A. estava recebendo o salário mensal de NCr$ 1.041,62, mais ajuda fixa mensal de NCr$ 250,00, mais 25% de ajuda de custo, quando o salário mínimo era de NCr$ 187,00.

    Em 01 de novembro de 1971, na empresa Hoffmann Bosworth do Brasil S.A. estava recebendo o salário mensal de Cr$ 1.600,00, mais ajuda fixa mensal de Cr$ 250,00, mais 25% de ajuda de custo, quando o salário mínimo era de Cr$ 225,60.

    Em 01 de maio de 1972, na empresa Hoffmann Bosworth do Brasil S.A. estava recebendo o salário mensal de Cr$ 1.804,00, mais ajuda fixa mensal de Cr$ 250,00, mais 25% de ajuda de custo, quando o salário mínimo era de Cr$ 268,80.

    Em 01 de junho de 1973, na empresa Hoffmann Bosworth do Brasil S.A. estava recebendo o salário mensal de Cr$ 2.450,00, mais ajuda fixa mensal de Cr$ 250,00, mais 25% de ajuda de custo, quando o salário mínimo era de Cr$ 312,00.

    Em 01 de agosto de 1974, na empresa Hoffmann Bosworth do Brasil S.A. estava recebendo o salário mensal de Cr$ 4.000,00, mais ajuda fixa mensal de Cr$ 250,00, mais 25% de ajuda de custo, quando o salário mínimo era de Cr$ 376,80.

    Em 01 de maio de 1975, na empresa Hoffmann Bosworth do Brasil S.A. estava recebendo o salário mensal de Cr$ 6.000,00, mais ajuda fixa mensal de Cr$ 250,00, mais 25% de ajuda de custo, quando o salário mínimo era de Cr$ 532,80.

    Em 13 de novembro de 1975, na empresa Transpavi-Codrasa S.A. – Terraplenagem, Construções e Dragagens, estava recebendo o salário mensal de Cr$ 10.000,00, na função de Mestre Geral de Obras, quando o salário mínimo era de Cr$ 532,80.

    Em 01 de novembro de 1976, na empresa Transpavi-Codrasa S.A. – Terraplenagem, Construções e Dragagens estava recebendo o salário mensal de Cr$ 13.800,00, na função de Mestre Geral de Obras, quando o salário mínimo era de Cr$ 768,00.

    Em 01 de outubro de 1979, com sua aposentadoria, passou a receber do INPS a renda mensal inicial de Cr$ 17.874,00, quando o salário mínimo era de Cr$ 2.268,00.

    3. FUGA CINEMATOGRÁFICA

    Bem antes de ter qualquer relacionamento com a minha mãe, o meu pai era casado desde 19 de maio de 1945, com uma jovem cearense chamada Luzia Maria de Lima.

    Por ocasião do seu casamento, o meu pai era agricultor e tinha dezoito anos de idade, enquanto que a sua jovem esposa era doméstica e contava dezessete anos de idade.

    Com sua esposa Luzia, meu pai teve cinco filhos, sendo duas meninas e três meninos.

    Seus dois primeiros filhos nasceram no Estado do Ceará. O primeiro recebeu o nome de Valmir Bertoldo de Lima e o segundo de Maria Bertoldo de Lima, que se tornou uma exímia professora.

    Depois do nascimento de sua filha, o casal mudou-se para a cidade de Guarulhos, no Estado de São Paulo.

    2. Certidão de Casamento

    O Registro Civil C.P. 94165/129, Estado do Ceará, Município de Icó expediu a seguinte certidão de casamento sob o número 16, com o seguinte teor:

    Certifico que, às fls. 38, do livro nº B-11, de Registro de Casamento foi feito hoje o assento do matrimonio de José Bertoldo Sobrinho e Luzia Maria de Lima, contraído perante o Juiz de Direito Dr. Júlio Maciel e as testemunhas Maria Graciola Bertoldo e Manoel Beserra de Sousa. Ele nascido no sítio São Vicente, Icó, Ceará aos 16 de setembro de 1926, profissão agricultor, residente e domiciliado no sítio São Vicente, Icó, Ceará, filho de Francisco Bertoldo de Amorim e dona Aguida Augusta de Amorim. Ela nascida no sítio Brum, Icó, Ceará aos 18 de fevereiro de 1928, profissão doméstica, residente e domiciliara no sítio São Vicente, Icó, Ceará, filha de José Raimundo Paz e Maria São Miguel de Lima, a qual passou a assinar o mesmo nome. Foram apresentados os documentos a que se refere o art. 180 do Código Civil. OBSERVAÇÃO: O ato foi celebrado em Cartório às 9 horas. O referido é verdade e dou fé (a) 19 de maio de 1945.

    3. A Separação

    Em 1957, doze anos depois de seu casamento, o meu pai separou-se de sua esposa Luzia Maria de Lima. A separação ocorreu por uma simples desinteligência. O motivo banal da separação foi o seguinte: contrariando a decisão do meu pai, a sua esposa Luzia resolveu viajar sozinha para o Estado do Ceará com o objetivo de visitar os seus parentes. Ela ficou em sua terra natal por dois longos meses. Porém, quando retornou para Guarulhos – SP, amargou grandes perdas, que fizeram com que ela se arrependesse amargamente de sua impensada decisão pelo resto de sua vida.

    Para o meu pai, a sua esposa havia cometido um terrível pecado mortal, o qual jamais teria seu perdão. Por essa razão ele separou-se de sua esposa, abandonou o lar conjugal e as suas duas propriedades em Guarulhos.

    Como na época o divórcio ainda não era institucionalizado no Brasil, ele separou-se apenas de fato, e não legalmente. É bem verdade que posteriormente o casal realizou várias tentativas de reconciliação, mas todas elas fracassaram porque a afronta de sua esposa e a desconfiança havia se instalado no coração do meu pai.

    Os três últimos filhos de meu pai com a Luzia nasceram em Guarulhos - SP. Eles receberam o nome de José Bertoldo de Lima, nascido em 1956 e apelidado de Zezito, Juarez Bertoldo de Lima, nascido em 31 de outubro de 1959 e Maria Aparecida Bertoldo, nascida em 25 de setembro de 1962.

    4. Meu Avô Materno

    O nome do meu avô era Olavo Leandro Bezerra. Ele era um abastado latifundiário do interior do Estado do Ceará, que guardava o seu dinheiro e os seus documentos em latas ou em potes de barro enterrados pelo interior do casarão em que residia. Era conhecido na região em que morava como Coronel Olavo. Ele tinha o costume de raspar o seu cabelo louro, exceto por uma pequena mecha na parte frontal da cabeça.

    O homem era muito respeitado e causava verdadeiro temor no populacho da região. Quando queria encerrar uma conversa desagradável, colocava-se de costa para o cidadão, que constrangido se retirava do recinto.

    Meu avô era extremamente rigoroso e severo para com todos, inclusive para com os membros de sua própria família.

    Em certa ocasião, o coronel Olavo, havia proibido terminantemente qualquer tipo de namoro de seus filhos. O simples fato de minha mãe ter comentado, em tom de brincadeira, que namoraria um rapaz que apareceu por aquelas bandas, levou o meu avô a dar-lhe uma violenta surra, da qual ela jamais se esqueceu. Mesmo depois de idosa, a minha mãe ainda comentava sobre essa surra.

    5. A Viagem de Meu Pai

    Em sua juventude, o meu pai foi agricultor por profissão.

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