Arigato, eu
De Luís Brito
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Sobre este e-book
Luís Brito
Luís Brito nasceu em 1986. Já trabalhou como criativo publicitário, tendo publicado o livro de viagens Alcatrão, em 2014, editado pela Abysmo. Já mostrou ao mundo 30 desenhos, na exposição «Teoria da Inspiração», realizada na MONA, em 2015. Também gosta de tocar e de ouvir música. Defende a arte de viajar e acredita que ela salva o mundo.
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Arigato, eu - Luís Brito
Portugal e o Sol Nascente
O Brasil já tinha sido descoberto.
Já havíamos chegado à Índia por mar.
Sabíamos o mapa das costas de África.
A terra já era redonda e muito nossa em 1543, o ano em que três marinheiros lusos chegaram a mais um fim do mundo.
Como terão sido os primeiros encontros entre descobridores e descobertos?
Que coisas terão sido ditas?
É curioso como, quando se conhecem outros países, a primeira coisa a aprender são sempre os «obrigados». Ao declararmos gracias, thank you, doniabat, trimakasi ou merci beaucoup, percebemos como a arte de agradecer se funde na arte de viajar. Tal facto diz muito acerca da interdependência humana, e sobre uma verdade que é simultaneamente a nossa bênção e a nossa maldição: na existência precisamos absolutamente uns dos outros, tanto nos aspectos mais práticos como na vida emocional.
Por muito japoneses ou insulares que nos sintamos, fechados ao exterior e conservados em nós mesmos, ou por muito lusos que nos afirmemos, lançados ao impulso do improviso, do contacto e da descoberta, a vontade de partilhar ou de dar e de receber é intrínseca à condição humana, pois sozinhos não existimos.
Será por isso, por causa da necessidade e da curiosidade, que arigato e obrigado são palavras parecidas? Terão elas a mesma origem e o mesmo destino? Servirão ambas para tentar ser cortês e exprimir gratidão quando alguém mudou um pouco das nossas vidas, sermos notáveis ao contactarmos, assinalarmos a coexistência.
Desde que se inventaram barcos capazes de cruzar os mares, os homens de diferentes cores e culturas espalham raízes uns nos outros. O nosso rectângulo e aquelas ilhas de forma parecida comungam de algumas coisas e sobretudo palavras, essas amigas essenciais à arte de comunicar. Comunicar significa tornar comum e as palavras escondem histórias, conhecimentos, património. As palavras são países e pátrias, casas de família onde os filhos se reencontram e, tão longe como é possível estar-se na terra, literalmente no outro lado do mundo, a kappa deles é a nossa capa, o seu pan é o nosso pão, e as cartas (de jogo) escrevem-se de maneira parecida.
O Japão é daqueles sítios que transformam as pessoas. Posso atestá-lo pela minha experiência pessoal, cumpridos três meses por lá e quase meio milénio após os meus compatriotas ali entrarem, eles que também terão mudado após o acidente de Tanegashima (que adiante conheceremos) e dito «obrigado» por este não os ter matado. Também poderei confirmar que a experiência do Extremo Oriente é marcante quando, nos próximos capítulos, escrever sobre os sete portugueses que aí conheci, abertos e aventureiros como lusos, mornos e simpáticos mas cada vez mais formais, trabalhadores e concentrados como os nipónicos.
Em 1512, durante o reinado de D. Manuel I, chegaram notícias de que existiria um arquipélago ao largo da China. Fora o mercador italiano Marco Polo quem o dissera, acrescentando que esse conjunto de terras rodeadas por mar era chamado «Cipanto» ou «Ji-pangu», em chinês «o local onde o sol nasce».
Na época os japoneses viviam isolados, pois o seu território não tem ligação por terra com nenhum outro e eles só mantinham contacto com a China e com a Coreia, de onde vieram fortes influências culturais, como a escrita, o cultivo do arroz e o budismo.
«Uma ilha grande, de gente branca, de boas maneiras, formosa e de uma riqueza incalculável», escreveu Marco Polo. A descrição deixava o novo local envolto numa névoa de fabulosas riquezas, o mistério que ainda hoje se lhe associa e que atrai portugueses, emigrantes, viajantes e exploradores de todo o mundo.
Já em 1540 as informações sobre o Japão eram mais claras, pois barcos japoneses ancoravam nas pequenas ilhas de Liampo, na costa chinesa, e por aí tinham contacto com mercadores lusitanos. Segundo uma das versões da história, um dos barcos mercadores dirigia-se para lá levando três portugueses quando foi apanhado numa violenta tempestade, indo parar à ilha de Tanegashima, ao sul do Japão, no tal acidente pelo qual podemos dizer muito obrigado ou arigato gosaimasu.
A data desse acontecimento é 23 de Setembro de 1543, de acordo com Teppo-ki («Crónica da espingarda»), escrito na zona de Quioto no início do século XVII. Tanegashima também quer dizer «espingarda», pois fomos nós os primeiros a mostrar aos japoneses as armas de fogo, as engenhocas que faziam a pólvora inventada pelos chineses rasgar os ares em direcção a um