Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Arigato, eu
Arigato, eu
Arigato, eu
E-book85 páginas1 hora

Arigato, eu

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Diz-se que há um português em cada canto do mundo, e os cantos mais longínquos não são excepção. Entre Julho e Setembro de 2015, o autor esteve no Japão, procurando e encontrando compatriotas por lá emigrados. Irmãos de sangue, vizinhos afastados, porém não surpreendentemente próximos. Estes são os relatos dos seus encontros, na primeira pessoa e com um estranho sentido de patriotismo desterrado.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de abr. de 2016
ISBN9789898838537
Arigato, eu
Autor

Luís Brito

Luís Brito nasceu em 1986. Já trabalhou como criativo publicitário, tendo publicado o livro de viagens Alcatrão, em 2014, editado pela Abysmo. Já mostrou ao mundo 30 desenhos, na exposição «Teoria da Inspiração», realizada na MONA, em 2015. Também gosta de tocar e de ouvir música. Defende a arte de viajar e acredita que ela salva o mundo.

Relacionado a Arigato, eu

Ebooks relacionados

Artigos relacionados

Avaliações de Arigato, eu

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Arigato, eu - Luís Brito

    Portugal e o Sol Nascente

    O Brasil já tinha sido descoberto.

    Já havíamos chegado à Índia por mar.

    Sabíamos o mapa das costas de África.

    A terra já era redonda e muito nossa em 1543, o ano em que três marinheiros lusos chegaram a mais um fim do mundo.

    Como terão sido os primeiros encontros entre descobridores e descobertos?

    Que coisas terão sido ditas?

    É curioso como, quando se conhecem outros países, a primeira coisa a aprender são sempre os «obrigados». Ao declararmos gracias, thank you, doniabat, trimakasi ou merci beaucoup, percebemos como a arte de agradecer se funde na arte de viajar. Tal facto diz muito acerca da interdependência humana, e sobre uma verdade que é simultaneamente a nossa bênção e a nossa maldição: na existência precisamos absolutamente uns dos outros, tanto nos aspectos mais práticos como na vida emocional.

    Por muito japoneses ou insulares que nos sintamos, fechados ao exterior e conservados em nós mesmos, ou por muito lusos que nos afirmemos, lançados ao impulso do improviso, do contacto e da descoberta, a vontade de partilhar ou de dar e de receber é intrínseca à condição humana, pois sozinhos não existimos.

    Será por isso, por causa da necessidade e da curiosidade, que arigato e obrigado são palavras parecidas? Terão elas a mesma origem e o mesmo destino? Servirão ambas para tentar ser cortês e exprimir gratidão quando alguém mudou um pouco das nossas vidas, sermos notáveis ao contactarmos, assinalarmos a coexistência.

    Desde que se inventaram barcos capazes de cruzar os mares, os homens de diferentes cores e culturas espalham raízes uns nos outros. O nosso rectângulo e aquelas ilhas de forma parecida comungam de algumas coisas e sobretudo palavras, essas amigas essenciais à arte de comunicar. Comunicar significa tornar comum e as palavras escondem histórias, conhecimentos, património. As palavras são países e pátrias, casas de família onde os filhos se reencontram e, tão longe como é possível estar-se na terra, literalmente no outro lado do mundo, a kappa deles é a nossa capa, o seu pan é o nosso pão, e as cartas (de jogo) escrevem-se de maneira parecida.

    O Japão é daqueles sítios que transformam as pessoas. Posso atestá-lo pela minha experiência pessoal, cumpridos três meses por lá e quase meio milénio após os meus compatriotas ali entrarem, eles que também terão mudado após o acidente de Tanegashima (que adiante conheceremos) e dito «obrigado» por este não os ter matado. Também poderei confirmar que a experiência do Extremo Oriente é marcante quando, nos próximos capítulos, escrever sobre os sete portugueses que aí conheci, abertos e aventureiros como lusos, mornos e simpáticos mas cada vez mais formais, trabalhadores e concentrados como os nipónicos.

    Em 1512, durante o reinado de D. Manuel I, chegaram notícias de que existiria um arquipélago ao largo da China. Fora o mercador italiano Marco Polo quem o dissera, acrescentando que esse conjunto de terras rodeadas por mar era chamado «Cipanto» ou «Ji-pangu», em chinês «o local onde o sol nasce».

    Na época os japoneses viviam isolados, pois o seu território não tem ligação por terra com nenhum outro e eles só mantinham contacto com a China e com a Coreia, de onde vieram fortes influências culturais, como a escrita, o cultivo do arroz e o budismo.

    «Uma ilha grande, de gente branca, de boas maneiras, formosa e de uma riqueza incalculável», escreveu Marco Polo. A descrição deixava o novo local envolto numa névoa de fabulosas riquezas, o mistério que ainda hoje se lhe associa e que atrai portugueses, emigrantes, viajantes e exploradores de todo o mundo.

    Já em 1540 as informações sobre o Japão eram mais claras, pois barcos japoneses ancoravam nas pequenas ilhas de Liampo, na costa chinesa, e por aí tinham contacto com mercadores lusitanos. Segundo uma das versões da história, um dos barcos mercadores dirigia-se para lá levando três portugueses quando foi apanhado numa violenta tempestade, indo parar à ilha de Tanegashima, ao sul do Japão, no tal acidente pelo qual podemos dizer muito obrigado ou arigato gosaimasu.

    A data desse acontecimento é 23 de Setembro de 1543, de acordo com Teppo-ki («Crónica da espingarda»), escrito na zona de Quioto no início do século XVII. Tanegashima também quer dizer «espingarda», pois fomos nós os primeiros a mostrar aos japoneses as armas de fogo, as engenhocas que faziam a pólvora inventada pelos chineses rasgar os ares em direcção a um

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1