Os últimos marinheiros
De Filipa Melo
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Sobre este e-book
Filipa Melo
Filipa Melo nasceu em 1972 e licenciou-se em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa. Desde 1990, trabalhou como marionetista (Rua Sésamo), tradutora, revisora tipográfica, repórter (Visão, Expresso, O Independente, Grande Reportagem, Ler), editora (Livros de Portugal, Mil Folhas/Público, Oriente/Sic Notícias, Magazine e Magazine Livros/RTP2), crítica e comentadora (Acontece e Jornal2), consultora (Câmara Clara), autora e apresentadora (Nós e os Clássicos/Sic Notícias). O seu primeiro romance, Este É o Meu Corpo, foi publicado em 2001 e traduzido em sete línguas. Os seus contos encontram-se editados em diversas antologias nacionais e internacionais. Durante oito anos, orientou uma comunidade de leitores dedicada à literatura portuguesa contemporânea, por onde passaram mais de 200 obras e 60 autores. Atualmente, dirige a revista EPICUR, assina crítica literária no jornal Sol e na revista Ler, dá aulas de escrita criativa (a partir da história da literatura) e, ocasionalmente, orienta ciclos de divulgação da literatura e de participação ativa do cidadão.
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Os últimos marinheiros - Filipa Melo
Introdução
«Não olhes, que o mar chama», dizia-me o meu pai. Em criança, eu gostava de me inclinar com o corpo apoiado em prancha no bordo do barco. Fazer correr os dedos abertos entre a espuma. Adivinhar a profundidade pela tonalidade verde da água. Dilatar o peito com a brisa limpa, o sal a picar nas narinas. Observar, aqui e ali, os retalhos do céu espelhados na linha polida da água, unindo-se numa faixa de miragens. Extasiava-me o alonga-encurta das minhocas, umas sobre as outras no balde do isco, ou o desespero prateado dos peixes a saltar no tabuado do barco. Sentia no estômago o bater do casco após o vácuo da vaga, sustinha a respiração a cada elevação maior da proa. À noite, quando fechava os olhos, o sono tinha essa embriaguez de onda e ainda cheirava a iodo.
O mar chamou-me desde que me lembro. Mas sei que não lhe pertenço. O mar tanto oferece, tanto ruge, segundo leis desconhecidas. Despreza mitificações e romantismos, faz pagar caro os despiques, exige submissão absoluta. Se ele é a religião da Natureza, a poucos homens é concedida a verdadeira graça do culto. Chamam-se os homens do mar. Trabalham nele, são dele. Pertencem-lhe. São uma raça à parte.
Em Portugal, os homens do mar estão em vias de extinção, ou quase. Os dados referentes aos últimos vinte anos são esclarecedores. O número de pescadores nacionais caiu de 30 mil em 1995 para menos de 19 mil em 2011¹ e para cerca de 16 mil e setecentos em 2013². Em contraciclo com o crescimento das frotas europeias e mundiais nas últimas cinco décadas, a frota de navios de comércio de bandeira portuguesa e com registo convencional português, controlados por armadores nacionais decresceu de 94 navios em 1980 para: 58, em 1990; 28, em 2000; 17, em 2005; 13, em 2010; por fim, 10, em 2015³. Entre os países costeiros da Europa Ocidental, somos dos que registam menos barcos de recreio por habitante e dos que geram menos emprego no sector das atividades marítimas (restringindo-se a maioria dos postos de trabalho ao turismo costeiro). De acordo com o Censos 2011, apenas cerca de 1% da população residente empregada exerce a sua profissão em atividades diretamente relacionadas com o mar, sendo que esta percentagem representa uma população bastante envelhecida para a média geral. Para o ensino superior (universitário e politécnico), no ano letivo 2013-2014, apenas 400 das 52 mil vagas disponíveis apresentavam designações especificamente ligadas às atividades