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Os últimos marinheiros
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Os últimos marinheiros
E-book76 páginas1 hora

Os últimos marinheiros

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Sobre este e-book

«O que o leitor tem nas mãos é uma tentativa de retrato do universo de alguns portugueses cuja principal fonte de sustento ainda é a navegação no mar. Para a maioria, a ligação à marinha mercante é uma herança familiar, vinda das duas gerações anteriores ou de tempos imemoriais. Na dura solidão dos dóris bacalhoeiros ou no relativo conforto de modelos mais ou menos recentes de navios de pesca ou de carga, o respeito pelo mar perpetua as suas regras. Apesar de toda a maquinaria, a profissão de marinheiro mantém algo de intrépido e aventureiro.» Portugal possui 2.830 quilómetros de linha de costa e constitui a 3ª maior Zona Económica Exclusiva europeia, 11ª a nível mundial. Mesmo assim, não existe um único boletim meteorológico radiofónico que indique o estado do mar. A bordo de um navio de carga comercial e de um navio de pesca por arrastão, Filipa Melo foi conhecer os nossos últimos marinheiros. Homens e mulheres que todos os dias enfrentam o mar e fazem justiça ao nosso passado mais mítico, contra todos os ventos e marés.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de mar. de 2016
ISBN9789898838094
Os últimos marinheiros
Autor

Filipa Melo

Filipa Melo nasceu em 1972 e licenciou-se em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa. Desde 1990, trabalhou como marionetista (Rua Sésamo), tradutora, revisora tipográfica, repórter (Visão, Expresso, O Independente, Grande Reportagem, Ler), editora (Livros de Portugal, Mil Folhas/Público, Oriente/Sic Notícias, Magazine e Magazine Livros/RTP2), crítica e comentadora (Acontece e Jornal2), consultora (Câmara Clara), autora e apresentadora (Nós e os Clássicos/Sic Notícias). O seu primeiro romance, Este É o Meu Corpo, foi publicado em 2001 e traduzido em sete línguas. Os seus contos encontram-se editados em diversas antologias nacionais e internacionais. Durante oito anos, orientou uma comunidade de leitores dedicada à literatura portuguesa contemporânea, por onde passaram mais de 200 obras e 60 autores. Atualmente, dirige a revista EPICUR, assina crítica literária no jornal Sol e na revista Ler, dá aulas de escrita criativa (a partir da história da literatura) e, ocasionalmente, orienta ciclos de divulgação da literatura e de participação ativa do cidadão.

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    Os últimos marinheiros - Filipa Melo

    Introdução

    «Não olhes, que o mar chama», dizia-me o meu pai. Em criança, eu gostava de me inclinar com o corpo apoiado em prancha no bordo do barco. Fazer correr os dedos abertos entre a espuma. Adivinhar a profundidade pela tonalidade verde da água. Dilatar o peito com a brisa limpa, o sal a picar nas narinas. Observar, aqui e ali, os retalhos do céu espelhados na linha polida da água, unindo-se numa faixa de miragens. Extasiava-me o alonga-encurta das minhocas, umas sobre as outras no balde do isco, ou o desespero prateado dos peixes a saltar no tabuado do barco. Sentia no estômago o bater do casco após o vácuo da vaga, sustinha a respiração a cada elevação maior da proa. À noite, quando fechava os olhos, o sono tinha essa embriaguez de onda e ainda cheirava a iodo.

    O mar chamou-me desde que me lembro. Mas sei que não lhe pertenço. O mar tanto oferece, tanto ruge, segundo leis desconhecidas. Despreza mitificações e romantismos, faz pagar caro os despiques, exige submissão absoluta. Se ele é a religião da Natureza, a poucos homens é concedida a verdadeira graça do culto. Chamam-se os homens do mar. Trabalham nele, são dele. Pertencem-lhe. São uma raça à parte.

    Em Portugal, os homens do mar estão em vias de extinção, ou quase. Os dados referentes aos últimos vinte anos são esclarecedores. O número de pescadores nacionais caiu de 30 mil em 1995 para menos de 19 mil em 2011¹ e para cerca de 16 mil e setecentos em 2013². Em contraciclo com o crescimento das frotas europeias e mundiais nas últimas cinco décadas, a frota de navios de comércio de bandeira portuguesa e com registo convencional português, controlados por armadores nacionais decresceu de 94 navios em 1980 para: 58, em 1990; 28, em 2000; 17, em 2005; 13, em 2010; por fim, 10, em 2015³. Entre os países costeiros da Europa Ocidental, somos dos que registam menos barcos de recreio por habitante e dos que geram menos emprego no sector das atividades marítimas (restringindo-se a maioria dos postos de trabalho ao turismo costeiro). De acordo com o Censos 2011, apenas cerca de 1% da população residente empregada exerce a sua profissão em atividades diretamente relacionadas com o mar, sendo que esta percentagem representa uma população bastante envelhecida para a média geral. Para o ensino superior (universitário e politécnico), no ano letivo 2013-2014, apenas 400 das 52 mil vagas disponíveis apresentavam designações especificamente ligadas às atividades

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