Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Cientistas Portugueses
Cientistas Portugueses
Cientistas Portugueses
E-book112 páginas1 hora

Cientistas Portugueses

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Em Portugal, a ciência desenvolveu-se de forma rápida e inédita nas últimas décadas. Temos hoje mais investigadores científicos do que nunca (e cerca de metade são mulheres), cujo trabalho tem muito mais impacto do que antes. Mas o seu estatuto profissional diminuiu. Só uma ínfima minoria dos doutorados consegue entrar para os quadros de uma universidade. Para os outros, a vida é semelhante à de um futebolista: têm de estar no clube certo em cada momento, poucos atingem um elevado grau de reconhecimento e a sua carreira pode estar acabada antes dos 40. Este livro traça um retrato vívido de quem faz investigação científica por cá. O que os motiva a ficar no país ou a partir? Como conjugam a paixão pela ciência com a vida pessoal? Eis do que falamos quando nos referimos aos cientistas portugueses._x000B_
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de fev. de 2019
ISBN9789898943552
Cientistas Portugueses
Autor

David Marçal

Doutorado em Bioquímica pela Universidade Nova de Lisboa. Redactor científico na Ciência Viva e coordenador da rede GPS (Global Portuguese Scientists). Autor de centenas de artigos na comunicação social, de espectáculos, de programas de rádio e de televisão sobre ciência e de livros de divulgação científica, nomeadamente o ensaio “Pseudociência”, editado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos.

Relacionado a Cientistas Portugueses

Ebooks relacionados

Artigos relacionados

Avaliações de Cientistas Portugueses

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Cientistas Portugueses - David Marçal

    Cientistas portugueses

    Em Portugal, a ciência desenvolveu-se de forma rápida e inédita nas últimas décadas. Temos hoje mais investigadores científicos do que nunca (e cerca de metade são mulheres), cujo trabalho tem muito mais impacto do que antes. Mas o seu estatuto profissional diminuiu. Só uma ínfima minoria dos doutorados consegue entrar para os quadros de uma universidade. Para os outros, a vida é semelhante à de um futebolista: têm de estar no clube certo em cada momento, poucos atingem um elevado grau de reconhecimento e a sua carreira pode estar acabada antes dos 40. Este livro traça um retrato vívido de quem faz investigação científica por cá. O que os motiva a ficar no país ou a partir? Como conjugam a paixão pela ciência com a vida pessoal? Eis do que falamos quando nos referimos aos cientistas portugueses.

    David Marçal

    Doutorado em Bioquímica pela Universidade Nova de Lisboa. Redactor científico na Ciência Viva e coordenador da rede GPS (Global Portuguese Scientists). Autor de centenas de artigos na comunicação social, de espectáculos, de programas de rádio e de televisão sobre ciência e de livros de divulgação científica, nomeadamente o ensaio Pseudociência, editado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos.

    Retratos*

    * A colecção Retratos da Fundação traz aos leitores um olhar próximo sobre a realidade do país. Portugal contado e vivido, narrado por quem viu – e vê – de perto.

    Cientistas portugueses

    David Marçal

    logo.jpglogo.jpg

    Largo Monterroio Mascarenhas, n.º 1, 7.º piso

    1099-081 Lisboa,

    Portugal

    Correio electrónico: ffms@ffms.pt

    Telefone: 210 015 800

    Título: Cientistas portugueses

    Autor: David Marçal

    Director de publicações: António Araújo

    Revisão de texto: Rita Cabral

    Design: Inês Sena

    Paginação: Guidesign

    © Fundação Francisco Manuel dos Santos e David Marçal, Fevereiro de 2019

    O autor desta publicação não adoptou o novo Acordo Ortográfico.

    As opiniões expressas nesta edição são da exclusiva responsabilidade do autor e não vinculam a Fundação Francisco Manuel dos Santos.

    A autorização para reprodução total ou parcial dos conteúdos desta obra deve ser solicitada ao autor e ao editor.

    Edição eBook: Guidesign

    ISBN 978-989-8943-55-2

    Conheça todos os projectos da Fundação em www.ffms.pt

    Glossário
    O sonho
    Os milhões
    A bolsa ou a vida
    A paixão pela ciência
    GPS — Global Portuguese Scientists
    O oásis
    O salto
    Os bêbados conhecidos
    Os não-canónicos
    A meio caminho
    Agradecimentos

    Glossário

    Bolsa — Forma ultra-precária de contratação de investigadores científicos. Não dá direito a subsídio de desemprego ou ao regime geral de Segurança Social. Nem sequer é legalmente considerada trabalho.

    Bolsa ERC — Não é uma bolsa de investigação científica. Tradução do inglês grant, é o financiamento atribuído para um projecto de investigação concedido pelo European Research Council, habitualmente no valor de alguns milhões de euros.

    Bolseiro — Beneficiário/vítima de uma ou várias bolsas sucessivas de investigação científica.

    Doutor — No contexto científico é um indivíduo que tem um doutoramento. No contexto médico é alguém com bata branca e estetoscópio. Se tiver um problema de saúde deve preferir obviamente os do segundo tipo.

    Doutoramento — Trabalho de investigação conducente à obtenção do grau de doutor por extenso (em vez de simplesmente «Dr.»). Habitualmente dura quatro anos em Portugal e termina com a defesa de uma tese perante um júri, vestido como se estivessem todos num filme do Harry Potter.

    ERC — European Research Council. É uma espécie de Liga dos Campeões da ciência. Permite aos investigadores ir buscar milhões para projectos de investigação. Mas só está ao alcance de muito poucos.

    Estímulo ao Emprego Científico — Um conjunto de medidas que visam a contratação de doutorados através de contratos de trabalho, em vez de bolsas. Os primeiros concursos abriram em 2018.

    FCT — Fundação para a Ciência e Tecnologia. É de onde vem o dinheiro para a ciência em Portugal. Por infelicidade acronímia há também três «Faculdades de Ciência e Tecnologia», pertencentes às universidades do Algarve, de Coimbra e Nova de Lisboa. Neste livro, FCT significa sempre a Fundação.

    GPS — Global Portuguese Scientists. A rede de investigadores portugueses espalhados pelo mundo. Se precisar de um cientista, pode encontrar nessa rede muitos e bons.

    IF — Investigador FCT. Um programa lançado em 2012 para contratar investigadores doutorados por cinco anos, através de concursos nacionais, abertos anualmente. Acabou em 2015.

    PREVPAP — Programa de regularização extraordinária dos vínculos precários na administração pública. A sua aplicação às carreiras de investigação e docência no ensino superior é controversa.

    Pós-doc — Investigador doutorado, contratado com uma bolsa de investigação, para fazer um trabalho científico, dito de pós-doutoramento. É o inverso do vinho: quanto mais anos passam, pior é.

    Pós-doutoramento — Período de investigação após o doutoramento e antes de o investigador ter um emprego a sério. Sabe-se sempre quando começa, o problema é que às vezes não se sabe mais nada.

    Posições Ciência — Um programa de contratação de investigadores doutorados, financiado pela FCT, com concursos locais, abertos em cada instituição. Era giro porque se podia ganhar mais do que um e depois escolher. O chato é que só existiu em 2007 e 2008. Quem nasceu em anos incompatíveis com a candidatura teve azar.

    O sonho

    Manhã chuvosa no final de Maio, encontramo-nos de manga curta no estaleiro naval de Belém. O Nuno queria mostrar-me o barco dele, que estava assente em duas grandes poleias para trabalhos de manutenção. Diz-me que o patilhão por cima das nossas cabeças pesa mais de uma tonelada:

    «Isto baixa muito o centro de gravidade, dá mais estabilidade, não é como aqueles ali que abanam muito.»

    Sorridente, mas ligeiramente aborrecido, tinha acabado de saber que o arranjo do motor iria demorar mais duas semanas, por causa de duas peças que tinham de vir do Japão. Lamenta-se, sem desmanchar o sorriso orgulhoso:

    «Isto é um veleiro e o que dá mais despesa… é o motor!»

    O casco estava impecável, pintado de novo, branco até à linha de água e vermelho acima. A limpeza do fundo tem que se fazer uma vez por ano.

    «Tinha muitas algas?», pergunto.

    «Algas…», ri-se à gargalhada.

    «Tinha uma caldeirada!»

    Mostra-me no iPhone a fotografia de uma colónia de mexilhões confortavelmente instalada na porta do leme, sem qualquer consideração pela hidrodinâmica. Já tinham sido desalojados.

    «Para o ano limpo eu isto», diz-me, «peço a máquina de pressão emprestada ao meu sogro.»

    Mais tarde irá confidenciar-me que o barco nem sequer é a sua maior extravagância. São as viagens que faz com a família várias vezes por ano. Gasta nisso mais do que no barco. Sublinha bem-disposto:

    «Também não vamos de mochila às costas.»

    Salta à vista que está de bem com a vida. O Nuno tem um doutoramento em bioquímica, tal como eu. E acha piada saber que ganha mais do que um reitor. Se trabalha muito? Diz-me olhos nos olhos:

    «Bem, é segunda-feira e estamos aqui… e isto não é trabalho.»

    Mas, no passo seguinte, diz que trabalha mais do que desejaria. Não como as outras pessoas, das nove às cinco. O Nuno é o bioquímico que eu conheço que mais dinheiro ganha com o seu trabalho. Na sua página de Facebook está constantemente a instar outros a perseguirem os seus sonhos, enquanto partilha fotografias das suas viagens e relatos de aventuras oceânicas à vela. Jantares de gala, cruzeiros, folclore de culturas distantes, praias paradisíacas e até uma fotografia da sua

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1