De salto alto
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Sobre este e-book
O desfecho de cada conto pode ser irrelevante, ainda que a autora sempre busque ao final causar algum sentimento dilacerante no público (como preconizava Edgar Allan Poe) – pois o tema proposto em cada breve história, em si mesmo, já é o ticket de viagem para o leitor acessar o seu "eu" mais profundo.
A autora propõe uma leitura fluída, tendo cada palavra sido escolhida a dedo. Não há excessos, não há prolixidade. Há apenas a verdade nua e crua da vida e de nosso encontro íntimo, tudo com elegância e sensibilidade, de Salto Alto.
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De salto alto - Renata Barrozo Baglioli
Prefácio
Contos como portas para o humano
O conto é a arte da brevidade
: esta frase é incessantemente repetida em qualquer oficina de criação literária, em todo curso de escrita criativa, a tal ponto que se torna um clichê, e deixamos de pensar na responsabilidade das palavras que a constituem. Construir um conto exige tanto um domínio artístico quanto a necessidade de desdobrá-lo em uma forma breve, concisa. O conto consiste em converter o efêmero em eterno, transformando a força bruta das emoções em algo que tenha uma curta dimensão e que, apesar disto, seja capaz de se tornar inesquecível, inscrevendo-se a fogo na memória do leitor.
Se já é difícil fazer isso em quatro, cinco ou dez páginas, o que podemos dizer sobre uma escritora capaz de escrever contos de uma ou duas páginas e, mesmo diante de um limite tão estreito, captar verdadeiros flagras do espírito humano, capturar o instantâneo no infinito
, na definição de Cortázar?
Renata Barrozo Baglioli consegue tamanho feito, e é algo que merece admiração. São poucos os autores e autoras que resistem à tentação egoica de colocar suas digitais nas narrativas, estender-se um pouco além do estritamente necessário, mostrar que estão ali. No caso do livro que o leitor tem agora em mãos, os contos estão limitados às cenas; os adjetivos ilustram aspectos das personagens, não são extensão da vaidade do narrador; o estilo é límpido, como se a autora desejasse desaparecer e deixar a história falar por si. Tecer narrativas é algo tão sedutor quanto o canto de uma sereia, mas a Renata, assim como Odisseu, prende-se ao mastro da sua técnica e não cede diante do fascínio. Para ela, a narrativa importa mais do que o indivíduo responsável por contá-la, e é assim que se faz boa literatura.
O fato de ser um livro de contos curtos – resisto à nomenclatura técnica, minicontos
, pois passa uma ideia de diminuição da dificílima arte de sintetizar uma história em um espaço pequeno – pode fazer com que um leitor distraído pense que esta é uma leitura simples. Não cometa tamanho equívoco. as histórias são curtas, mas os sentimentos e reflexões por trás delas são verdadeiros abismos que podem repercutir por muito tempo na nossa memória. Este é o segundo livro que leio da Renata – o primeiro foi A Última Camada –, e ainda recordo que, assim como da outra vez, após ler alguns contos, precisei fechar o livro para digerir a história que tinha acabado de ler e todas as implicações que ela me causava. A forma curta é enganosa o suficiente para nos induzir ao erro de pensar que é um conto rápido; na verdade, Renata consegue transformar cada narrativa em um trampolim para os segredos e mistérios que carregamos no nosso interior. Assim como um trampolim à beira de uma piscina, podemos escolher andar para trás e fugir da queda na água, lendo o conto como uma história distante, mas também podemos usar o trampolim para atravessarmos a superfície inquieta da água, deliciando-nos com o seu sabor e temperatura (será fria ou quente?), mergulhando fundo naquilo que nos torna mais humanos: nossos medos e dores.
Destaco um último elemento na arte narrativa da Renata: o seu apurado senso de observação das relações humanas. Todos os seus contos são