Ecos: Um conto amoral de vingança
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Ecos - Sued Carvalho
Prefácio
Ecos do passado tomam de forma elíptica o corpo da história, repentinamente, unindo-se ao presente e dando a ele sentido. Tais ruídos na estrutura do hoje não são expressões elípticas neste enredo, mas são essenciais para entendermos por que as coisas ocorrem desta forma na história.
Apesar de irromperem, de forma abrupta, no andamento do enredo, os ecos não organizados não são límpidos e claros, mas desorganizados, caóticos e passionais. O presente da história que aqui se apresenta caminha de forma racional, sóbria, mas é atravessado por um passado que, embriagado pela fúria, quer tomar seu lugar, impondo-se.
É essa contradição, no entanto, e esse conflito entre passado e presente que dão sentido a esta história, por isso intitulei-a de Ecos. A protagonista desta história é a personificação dessa contradição, pois ela muda de forma tal qual o passado muda no presente, mas carrega as propriedades de ambos.
Ariane é o passado que irrompe no presente, fez-se, em sua raiva e desejo de vingança, em eco. A protagonista e a estrutura da própria história se confundem, o absoluto deste pequeno Universo impresso tem Ariane como uma forma de apresentação.
Não há aqui qualquer intento de construir uma heroína, ou uma vilã, ou uma anti-heroína. Não se procura heroicizar, tampouco demonizar. As personagens do enredo agem segundo seus princípios e vontades, sejam elas, aos nossos olhos, boas ou más. Ariane não as aceita e tem motivos para isso, assim como Talita e Joseane têm e tiveram motivos para ser como são e fazer o que fizeram.
As condições do presente, misturadas aos ecos do passado, possibilitaram que Ariane se convertesse em um ente tomado pelo desejo de vingança. Ela teria tomado outro caminho se não tivessem surgido as condições ideais, que de tão ideais são sobrenaturais, para se vingar? Talvez sim, talvez não. Mas seu desejo de vingança não é despropositado e o mesmo pode ser dito sobre os sentimentos das outras personagens, a exceção dos homens que aparecem no último capítulo, evidentemente.
Ecos é uma história de vingança, mas sem qualquer moral a ser aprendida. Os personagens vão do ponto A ao ponto B, mas em função desse passado que irrompe personificado por Ariane e por seus misteriosos poderes.
Dito isso, espero que o leitor ou a leitora aproveite essa curta história sobre um desejo de vingança avassalador que destrói o hoje com o peso do ontem.
Sued Carvalho
PARTE I
I
Os cabelos ruivos se esparramam. Abaixo do tão desejado corpo estava o emblema pintado no chão em tinta branca. Está desmaiada, seus voluptuosos lábios estão fechados, assim como seus belos olhos castanhos estão cobertos pelas pálpebras.
Nua, mostrando todos os dotes que incitaram as imaginações de muitas e muitos, a lisa barriga começa a receber pingos de sangue que escorrem pela branca pele macia.
Sumno Rittum
Dax Rittum
Uma mão feminina espalha sangue em seus lábios carnudos, um pó é assoprado em seu rosto, caindo sobre sua face e embranquecendo seus cabelos.
Sumno Rittum
Dax Rittum
A fumaça de incenso toma a sala, está escuro, o ambiente está à luz de velas amareladas, cujo queimar deixa mais forte o cheiro do incenso que impregna os móveis, afastados de maneira a possibilitar o pleno desenho do símbolo de cinco pontas.
Sumno Rittum
Dax Rittum
Foi simples trazê-la, ela tornou-se parte imprescindível do plano. Via-a sempre acompanhada, sua incomum beleza era um incentivo à extroversão, portanto seria impossível pegá-la em público, sequer existia estrutura para isso. A amizade era o meio mais rápido e o mais seguro.
Usou a extroversão dela, conseguiu, aproximou-se e ganhou dela a confiança. Quantas vezes teve de segurar sua ansiedade para não ser precipitada? Quantas vezes teve de se esforçar para evitar que sua empatia se tornasse verdadeira?
Aquela voz suave, aqueles olhos, aqueles lábios, aqueles cabelos, tudo que ela fazia parecia extremamente sensual, era a perfeita femme fatale. Sabia que tinha que ser ela. Com ela seu plano não teria como falhar. Enquanto se aproximava, aprimorava seus estudos, procurava erros. Não poderia haver erros, aquilo precisava funcionar.
Era fácil subornar um balconista de farmácia por uns Diazepans, e mais fácil ainda foi triturar e colocar na bebida dela. Logo após o primeiro gole, aqueles grandes olhos castanhos começaram a pesar e a linda e meiga voz a vacilar, veiculando gemidos, grunhidos e coisas sem sentido.
Phasmatos tribum, Nox Ex Veros
Venes phasmatos Et Sonos.
A moça cai no chão. Inicia o desnudamento, tirando peça por peça, revelando os pequenos,