Algodão
De Heloísa Beck
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Sobre este e-book
Nomes não são importantes. Tive tantos no decorrer de um ano que me parecem agora tão substituíveis quanto os sapatos que uso — repostos na medida em que se caminha, na medida em que se gastam, na medida em que se faz necessário. O Rio de Janeiro e seus arredores são o único palco a ser nomeado: mundo dentro do mundo, terra em si própria tão caricata que preserva o anonimato de todos os personagens.
O tempo também é flexível — líquido. Memória e história confundem-se na terra das ações e das paixões. A rememoração serve tanto na luta contra o esquecimento quanto no processo de superação do trauma: limpa a ferida, que deve ser completamente aberta antes da sutura final. Pois bem, aqui exponho esta ferida: contemplem! Rezo para que as flechadas que lancei em outras criaturas no decorrer desta fábula não tenham sido fatais.
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Algodão - Heloísa Beck
Prólogo
Eu via minha vida esticada à minha frente como um barbante — um barbante de lã crua, de um cordeiro branco fantasma. E por vezes sentia a lã se tensionar tanto ao ponto de estar quase prestes a se romper, com fios soltando de uma ponta à outra, em toda sua extensão. Sentia o tecido arrebentando, emitindo sons que pareciam pequenos sinos de náilon. As fitas, as cordas, as correntes e fios que envolviam os outros também me pareciam de igual fragilidade, pessoas que eu amava e odiava na mesma medida se tensionando e dando nós entre si.
O barbante envolvia meus ossos, meus intestinos, meus nervos. Me mantinha numa forma distinta e humana, e eu tinha certeza de que se — ou quando — ele se desfizesse, meu corpo se desfaria junto, um amontoado de carne e gente se esparramando no concreto, deixando de ser o que tinha sido parido, o que tinha recebido nome, o que tinha falado, pensado e dormido pouco tempo antes. Se tornaria apenas matéria disforme, sem um único indicador do que fora um dia. Estaria lá, todo o material do qual eu era feita, minhas entranhas e funcionamentos internos expostos a quem quisesse ver.
Desde que me lembro de existir, quis escrever. A fragilidade crescente do fio me empurrava a isso, o medo de obliterar minha existência por inteiro sem deixar nenhuma pista me assustava e me atiçava a curiosidade simultaneamente. Um testemunho escrito de pouco vale no grande esquema do tempo, mas qualquer tentativa de deixar uma prova de que já fui gente viva, gente respirante, me parecia não o suficiente, mas a única opção.
Decidi que teria de escrever. Foi uma decisão simples e desprovida de sentimentalismo, como escolher colocar os sapatos antes de sair. De pouco me importava se morresse de atropelamento, eletrocutamento, infecção, tuberculose, atingida por um raio. Mas morrer por ter rompido o barbante era diferente, era um perigo do qual eu já tinha sido advertida, que já tinha previsto. Eu o sentia se aproximar e se afastar da praia, maré alta e baixa, dependendo do clima, deixando sinais luminosos no céu.
Capítulo 1
No tecido da minha família, eu era o fio solto. Me vinham à mente