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Maria, a menina do mar, volume 1 : Na praia: Maria, a menina do mar (trilogia), #1
Maria, a menina do mar, volume 1 : Na praia: Maria, a menina do mar (trilogia), #1
Maria, a menina do mar, volume 1 : Na praia: Maria, a menina do mar (trilogia), #1
E-book384 páginas4 horas

Maria, a menina do mar, volume 1 : Na praia: Maria, a menina do mar (trilogia), #1

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Sobre este e-book

Uma trilogia, um BEST-SELLER com mais de 17000 exemplares vendidos.

Um romance erótico onde a sensualidade a flor da pele mantem o leitor em suspense a cada página.

Cap-des-Rosiers, 1899. Num pequeno vilarejo católico, Maria, uma jovem mulher livre e selvagem, descobre os prazeres do amor com o belo Antoine, que está em férias em Cap.

Mas a moral e a religião não lhe permitem viver suas paixões, mesmo sendo um amor de verão. E Antoine deve partir...

A carência e a expectativa irão chegar ao limite de seu coração devastado?

Segregada pelos aldeões, ela vive quase reclusa, quando Charles, seu amigo de infância, lhe confessa seu amor.

Maria está dividida entre seu amor por Antoine e sua paixão por Charles, de quem se torna amante.

Charles renunciará ao seu casamento para assumir a rameira do vilarejo?

Antoine voltará um dia à Cap para reencontrar sua bela Maria?

A indomável e sensual Maria não põe fim ao falatório...

Mas ninguém no vilarejo conhece realmente Maria, que conversa com o mar do alto de uma falésia...

Deixe-se seduzir por esse romance histórico onde as cenas eróticas te farão enrubescer.

A veia poética da autora vai tocar seu coração e sua sensibilidade te fará arrepiar.

Você vai passar do riso às lágrimas ao descobrir esta história de amor épico.

Neste último verão do século, você vai ser transportado para dentro da intimidade de uma jovem mulher que se abre para a vida e para o amor, sem medo e sem remorsos. Embora sendo de outra época, Maria não é diferente das mulheres de hoje: ela quer ser amada. Determinada e apaixonada, ela vai até o limite de seus desejos, não dando ouvidos aos falatórios dos aldeões, invejosos de sua juventude e de sua liberdade.

Esse primeiro volume dá início à história de amor de Antoine e Maria. Uma história que te fará mergulhar no turbilhão de suas paixões para, ao final do terceiro volume, emergir num desfecho de plena felicidade. Mas seus caminhos estarão cheios de obstáculos, provas que vão forjar ao longo dos anos um casamento indestrutível que sobreviverá ao tempo.

Deixe-se transportar para dentro do mundo sensual e poético de “Maria, a menina do mar”. Deixe-se transportar para dentro desse romance que te mergulhará num oceano de emoções de onde não poderá sair.

Quero correr mais rápido, mas uma força me impede. Bruscamente, ele me agarra e me joga no chão. No momento em que me viro de costas para ver o seu rosto, uma nuvem cobre a lua e somos mergulhados na escuridão. Sinto as folhas e a terra úmida sob meus braços nus.

Ele se inclina sobre mim e coloca suas mãos sobre os meus quadris. Seus dedos se serram e ele me puxa lentamente ao seu encontro. Ele desfaz o cordão de meu colete e descobre lentamente meus seios. Sinto seu hálito quente sobre meu peito. Sinto sua mão acariciar meu ventre. Ele desliza sua outra mão sobre os meus cabelos e arranca o laço que os prendia.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento5 de dez. de 2018
ISBN9781547560479
Maria, a menina do mar, volume 1 : Na praia: Maria, a menina do mar (trilogia), #1

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    Maria, a menina do mar, volume 1 - Annie Lavigne

    Da mesma autora

    Maria, a menina do mar, volume 2, No Castelo

    Maria, a menina do mar, volume 3, Sob a Lua

    Jovem Romance, volume 1, Eu, Você e Ele

    Jovem Romance, volume 2, O que você está esperando para me beijar?

    Jovem Romance, volume 3, Jogo de sedução

    Avana, volume 1, A profecia do Druida

    Avana, volume 2. A busca dos Magos

    Avana, volume 3, O despertar do Dragão vermelho

    A Confraria da Serpente, volume 1, A invasão

    A Confraria da Serpente, volume 2, A rebelião

    I

    Maria a doce

    Capítulo 1

    Eu sou Maria. Não aquela que deu à luz ao Messias, mas a pequena Maria da Gaspésie. Maria a doce.

    Era o último verão do século e o sol estava mais quente do que de costume, como se quisesse que as colheitas fossem as mais abundantes, como se quisesse que as flores se enfeitassem com as cores mais belas e que as cigarras cantassem um hino para o verão desse século que terminava. Como se quisesse que nossos corações se aquecessem antes do longo inverno que estava por vir.

    Todas as grandes línguas do país diziam: este inverno vai ser o mais longo e o mais glacial dos últimos cem anos, de Montreal até Gaspé. E aqui em casa seria ainda pior que em qualquer outro lugar porque eu moro no fim do país, sobre o último pedaço de terra existente, antes do mar.

    Mas os meses de inverno estavam ainda distantes. Junho tinha acabado de chegar com flores do campo com perfumes estonteantes, árvores majestosas a florescer, corvos-marinhos sobrevoando o mar e pousando sobre cada mourão de madeira da cerca que ia de nossa casa até a borda da falésia. A primavera dava agora lugar ao verão. A terra, agora descongelada, acolhia as ervas que voltavam a crescer me fazendo cócegas nos dedos dos pés.

    Todos os dias o sol se esforçava para fazer o mar brilhar um pouco mais. Este mar que me carregou e me deixou na praia de Cap-Des-Rosiers, último vilarejo da península de Gaspésie. O mar que me embalou quando ainda a turbulência me tocava o coração e Carol não achava palavras para me consolar.

    Carol não podia se locomover. Estava inválido já há alguns anos, mas era o melhor pai que uma filha podia ter, mesmo deitado sobre seu colchão de palha, dia após dia, a olhar pela janela os pássaros que sobrevoavam o mar. De seu leito, Carol tinha conhecido todas as nuvens que haviam atravessado o céu, com suas formas muitas vezes familiares: um cavalo, um cachimbo, uma borboleta, um sapato, um castelo...

    De seu leito, criava histórias entre nuvens. Durante o dia, eu não tinha geralmente tempo para me ocupar dele, então, a cada fim de tarde, eu me estendia ao seu lado pegando sua mão enrugada entre as minhas e com olhar atento me colocava a escutar suas histórias.

    Carol só tinha suas histórias para se agarrar à vida. Ele era uma imensa biblioteca viva, repleta de histórias fantásticas, doces e reconfortantes como sua voz e também histórias verdadeiras para não olvidar o passado. Histórias de quando Carol era jovem e procurava uma terra onde se instalar. Histórias de quando este país era quase inabitado e só havia árvores. Árvores gigantescas, orgulhosas e fortes, grandes e lindas gigantes que povoavam as terras. Árvores a perder de vista.

    Um país inabitado tem muito charme. É puro como a água que flui de um manancial. Tudo suave e doce, dado que os homens ainda não se apropriaram dele. Eles não desenraizaram as árvores, nem ergueram as pedras. Não lavraram, não inocularam a terra. Eles não penetraram esta terra virgem com suas grossas mãos. Eles ainda não a recobriram com suas casas e seus caminhos. Um país inabitado está nu, pronto para ser acariciado. Um país colonizado é uma terra que se faz sua quando a fertiliza.

    Eu sou Maria a doce, e sou fértil como a terra.

    Depois do acidente de Carol e da morte de Madeleine, não fui mais para a escola e me pus a cultivar. Eu cultivava a terra sem a ajuda de Carol ou de qualquer outro homem. Carol era pescador. O melhor de todos os pescadores, mas depois de ter perdido suas pernas, não pode mais voltar para o mar. Então, tive que aprender a cultivar a terra.

    Eu fazia brotar batatas, cenouras, beterrabas, cebolas, nabos e ervilhas que vendia ou trocava no mercado. Carol dizia que eu estava pronta para me casar. Era também o que diziam os aldeões quando descia ao Vilarejo para vender meus legumes ou tratar dos meus assuntos. O vento me trazia os seus cochichos que eu fingia não escutar.

    Eles diziam que Maria, a doce, aquela que tinha chegado pelo mar, uma menina que o velho Carol e sua esposa tinham recolhido porque o bom Deus não os tinha ainda dado um filho, estava pronta para se casar. Eles diziam também que se ela continuasse a sair durante a noite para passear ao longo das falésias, nenhum rapaz do vilarejo iria querê-la, porque isso não era bem visto. Uma moça sair durante a noite, sobretudo uma moça que ainda não tinha um marido. Eles repetiam isso e ainda outras maledicências sobre mim. Eu não era como eles. Eu deixava que seus sussurros fossem levados ao longe pelo vento.

    Era tempo de semear. O inverno já ia longe. O sol havia voltado com vigor e a terra estava de novo pronta para acolher minhas preciosas sementes. Rosalie Boileau, minha terna amiga de infância, veio me ajudar a semear. Em sua casa, eles eram muitos para trabalhar nos campos, então ela se ofereceu para me ajudar no cultivo de minha horta, horta que eu tinha decidido que iria aumentar para tentar ganhar uns trocados a mais.

    Eu não via mais Rosalie com tanta frequência como antes, como quando estávamos no colegial. Nós havíamos crescido e não partilhávamos mais nossas brincadeiras. O trabalho era nosso quotidiano, mas mesmo assim conseguíamos nos divertir...

    Eu enterrava cada semente de cenoura na terra fresca dizendo algumas palavras de encorajamento para que ela tivesse força para brotar e crescer. Conversar com meus legumes os fazia crescer. Às vezes eu conversava também com meu espantalho para que ele vigiasse bem minhas sementes e evitasse que elas fossem parar na lua.

    Rosalie me escutava cochichar com a cabeça junto à terra solta. Ela se acabava de rir, parava seu trabalho e se aproximava de mim. Eu lhe dizia sorrindo para tomar cuidado para não avexar minhas sementes, pois se elas se sentissem ofendidas, era arriscado elas prejudicarem a colheita.

    -Imagine só, Maria, se meus irmãos te vissem conversando com as sementes? Eles iriam fazer troça de você durante todo o verão!

    -Mesmo que eles façam troça de mim, não vão me impedir de fazer brotar os maiores legumes do vilarejo.

    -Nisso você tem razão.

    Uma vez que minhas sementes de cenouras e de beterrabas estavam plantadas, plantei os brotos de batata que tinham começado a germinar. Com o sol a pino, gotas de suor escorriam pelo meu rosto. Minhas bochechas estavam vermelhas de calor e meu corpete coberto de suor.

    Parei por um momento para ir buscar água na fonte. Enquanto Rosalie se concentrava em enterrar os brotos de batata na terra, eu reguei suas costas. Ela se voltou rindo como uma criança.

    Ela pegou o pote e me molhou salpicando água em mim com suas mãos.

    Logo o pote estava vazio e nós encharcadas. Como era agradável sentir a água fresca sobre meu corpo quente... Eu estava tão contente por estar ali sozinha com a Rosalie, porque com os garotos em volta, nós não teríamos nos divertido assim. A água fez meu vestido ficar colado junto ao meu corpo e revelar minhas formas, mas com Rosalie, não sentia nenhuma vergonha. Éramos amigas desde a mais tenra idade. Ela já havia me visto nua.

    Retomamos nosso trabalho desejando que ninguém passasse por ali antes que o sol tivesse secado nossos vestidos. Mas tinha pouca possibilidade disso acontecer. Eu morava sobre o último pedaço de terra. As pessoas vinham ali para me ver. Elas não passavam por ali por acaso.

    -Minha mãe te convidou para jantar, me disse Rosalie uma vez quando já havíamos terminado o trabalho e caminhávamos de volta para casa.

    -Com prazer, disse eu. Eu vou me refrescar e te encontro dentro de uma hora, está bem?

    -Perfeito! Disse minha amiga se afastando.

    Eu me lavei, troquei de roupa e fiz uma omelete e um toucinho grelhado para Carol, que estava bem feliz por terem me convidado para jantar.

    -Isso vai te fazer bem. Ver o mundo. Você que não sai com frequência, disse ele preocupado comigo.

    -Um pai normalmente fica preocupado quando sua filha sai em demasia, não quando ela, sabiamente, fica em casa, disse a ele.

    -Mas eu não quero que você seja sábia, Maria. Eu quero...

    -Que eu encontre um marido, eu sei.

    -Não... Bem, sim... Eu quero que você seja feliz, respondeu ele colocando a mão sobre o peito.

    Pobre Carol! Ele sentia que era um fardo para mim pelo fato de eu cuidar dele como se ele fosse uma criança. Ele dizia que por causa dele, eu vivia confinada em casa. Pior, que quando ele não pudesse mais se deitar, quando estivesse imóvel em sua grande cama de carvalho, ele deveria partir ao encontro de Madeleine. Eu, todas as noites, antes de dormir, agradecia ao bom Deus por ter me deixado meu pai.

    Capítulo 2

    Quando entrei na casa dos Boileau, todos os semblantes se iluminaram. Tinha apenas transposto o portal da porta e Camille, Fernand e Armand vieram me abraçar, seguidos de Catherine, de Paul, de Pierre, e depois do pequeno caçula Hector. Então compreendi porque a senhora Boileau tinha me convidado: Charles tinha voltado!

    Eu não via o primogênito dos Boileau desde o verão anterior. Meu belo Charles que nos acompanhava quando íamos brincar na floresta. Ele foi sempre o mais gentil dos filhos dos Boileau. Ele sabia me consolar quando seus irmãos riam de mim e sempre nos defendeu, a mim e a Rosalie, quando os garotos não queriam mais brincar conosco.

    Tinha agora vinte e quatro anos e chegava de Quebec onde tinha ido estudar para se tornar doutor. Todos os membros da família tinham trabalhado arduamente para pagar seus estudos. Graças ao trabalho deles, o senhor Boileau pode juntar o dinheiro necessário para fazer de seu Charles um doutor. O pai estava tão orgulhoso dele quanto de sua terra.

    -Olá Maria! Sempre tão bonita! Disse Charles antes de me abraçar.

    -E você, você já é um homem! Disse eu brincando.

    Estava a brincar, mas estava claro aos meus olhos que ele tinha se tornado um homem, o pequeno Charles Boileau. Nós todos tínhamos crescido. Estávamos já crescidos agora. E foi olhando dentro dos olhos desse homem que eu me dei conta de que tínhamos crescido bem depressa. Nós que, alguns anos atrás, brincávamos ainda com bolas de gude e cavalos de pau.

    -Quase... Acrescentou Charles com um brilho no olhar. Um brilho que queria dizer que o garoto ainda morava ali.

    -Você voltou para ficar?

    -Com certeza. Tenho a intensão de substituir o velho doutor Leblanc que vai me deixar sua casa para ir viver com sua filha.

    -Você vai ser o novo doutor, é verdade?! Estou muito feliz por você!

    Um novo médico em Cap-des-Rosiers se fazia absolutamente necessário. Aparentemente, de um ou dois anos pra cá, o doutor Leblanc vinha se enganando várias vezes nos diagnósticos e nas suas prescrições. Pobre doutor Leblanc! Ia ser difícil para ele abandonar seus pacientes, mas a velhice o obrigava. Doutor Leblanc era como um segundo pai para mim. Ele era sempre tão generoso se recusando a receber pelos medicamentos de Carol.

    Depois de não estar mais na companhia de suas filhas, ele adorava quando eu ia lhe fazer uma visita para conversarmos. Sempre lhe levava uma prenda: uma marinada ou uma geleia que eu mesma preparava com amor. Senhor Leblanc dizia que eu fazia as melhores geleias do vilarejo, quando não de toda a Gaspésie. Ele me disse que eu desperdiçava meu talento fazendo geleias para dois velhos como ele e Carol. Ele tinha até me dado a sugestão de me lançar no mundo dos negócios para que as pessoas da cidade grande pudessem apreciar minhas delícias. Naquele momento, eu dizia pra mim mesma que as pessoas da cidade grande podiam tratar de colocar outra coisa dentro dos pães porque eu tinha muito com que me ocupar, cuidando de Carol.

    Estávamos sentados em volta da grande mesa sobre a qual a senhora Boileau colocou um assado de porco fumegante, batatas assadas, favas e um bom bocado de pão. Nas outras famílias do vilarejo, os garotos se assentavam na mesa antes das meninas que comiam o que seus irmãos haviam deixado para elas, mas aqui não era assim, não na família de Constance Boileau.

    A mamãe Boileau que havia comido comida fria durante toda sua juventude, disse pra si mesma que suas filhas comeriam comida quente. Ela exigiu de seu marido que construísse uma mesa grande o suficiente para acolher todos os filhos. Por causa disso, as pessoas do vilarejo achavam os Boileau uma família diferente das outras, mas eles não se incomodavam, exceto talvez Marcel que tinha que engolir o seu orgulho por ter feito a vontade da esposa. Era por isso que eu adorava os Boileau: eles eram modernos.

    Depois de todos terem sido servidos com generosas porções, os garotos começaram a conversar sobre política com o pai. Eles falavam alto e se contradiziam sem cessar me observando de soslaio. Rosalie me falou ao ouvido, baixinho:

    -Penso que sua presença deixa meus irmãos exaltados. Normalmente eles não pronunciam palavras tão ricas.

    -Você acha mesmo? Perguntei a ela sorrindo.

    Eu os observei durante alguns instantes. Rosalie tinha mesmo razão. Eu causava neles algum efeito. Dizer que há dez anos, eles puxavam os meus cabelos, me chamavam de Maria a ratinha, me provocavam para me fazer chorar. Mas eu nunca chorava. Eu voltava simplesmente para casa e contava para Carol como os garotos eram maldosos. Meu pai me respondia que dentro de alguns anos eu não acharia que os garotos fossem tão maldosos...

    Ele bem que tinha razão, meu pai: eles não eram em nada maldosos. Agora, eles olhavam para mim quase que com intimidade e tentavam me impressionar.

    Os Boileau fizeram parte de minha vida desde o meu nascimento. Constance Boileau e Madeleine já eram boas amigas quando eu e Rosalie éramos apenas bebês. Quando eu nasci, Charles tinha quatro anos e Pierre dois. Rosalie tinha a mesma idade que eu. E das outras seis crianças, eu escutei o primeiro choro. Constance recebia cuidados de Madeleine logo que o bebê se anunciava e mais tarde ia ajudá-la a dar à luz, me levando com ela. Diziam no vilarejo que Madeleine era sábia, uma sábia mulher¹. [1- A autora faz aqui um jogo de palavras visto que parteira em francês é sage-femme que na tradução literal quer dizer sábia mulher. (N.d.T.)]

    Eu fui marcada por pequenas visões de Charles, Pierre e Rosalie escutando os gritos de sua mãe quando ela estava prestes a dar a eles um pequeno irmão ou uma pequena irmã. Suas faces se contraiam a cada um de seus gritos como se eles sentissem por ela. E eles se perguntavam se todos eles a tinham feito sofrer tanto. Durante as semanas que se seguiam após o parto, cada um deles ficava mais amável e prestativo do que de costume se lembrando dos gritos de dor dessa mulher que os tinha colocado no mundo.

    Mas eles esqueciam bem depressa e recomeçavam a abusar de sua paciência com suas sutilezas e seus pequenos dodóis. E ela, ela os amava a todos igualmente. Eram os irmãos e as irmãs que eu nunca tive.

    Após o jantar, passamos para a sala. Era uma sala bem pequena para uma família de nove filhos, mas ninguém nunca reclamou. Eles adoravam estar perto uns dos outros, sentir que formavam uma família unida, um clã que somente a morte poderia separar. Desde pequenos eles aprenderam a gostar dessas noites que passavam conversando à luz de velas nessa sala perfumada pelo cheiro do cachimbo do pai.

    Constance me convidou para me assentar no canapé, mas insisti para me assentar com Rosalie e Camille junto à lareira de pedra. Enquanto enchia seu cachimbo, Marcel pediu Charles para nos contar sobre seu último ano em Quebec. O filho mais velho, em pé no meio da sala, começou a nos contar sua experiência na Universidade Laval. Todos o escutavam com atenção. Ele nos explicou que havia estudado anatomia, ou seja, a forma, a disposição e a estrutura dos órgãos humanos. Os olhos do senhor Boileau brilhavam de alegria. Ele estava tão orgulhoso de seu filho, ele que não conhecia senão a forma, a disposição e a estrutura de sua plantação de trigo.

    Charles era o primeiro garoto de Cap a ir para a universidade. Aqui, no fim da Gaspésie, onde não se sabia o que era uma universidade, não se podia senão imaginar. Então, pedimos ao Charles para descrever os lugares, as pessoas, e nos contar suas aventuras. O que ele fez com prazer, consciente de sua inacreditável sorte.

    Charles era o filho mais velho, o privilegiado, aquele que foi estudar na universidade, mas seus irmãos não sentiam inveja dele. Pierre e Fernand cultivavam as terras da família, a terra que com certeza iriam herdar. Paul sonhava convencer seu pai de que ser pescador poderia ser também compensador. Armand, que tinha apenas onze anos, já sonhava com o sacerdócio. Quanto ao pequeno Hector, ele era ainda muito pequeno para saber o que a vida lhe reservava. Para Camille, Catherine e Rosalie, o destino já estava traçado. Elas se casariam em breve com garotos de Cap, provavelmente, e elas educariam seus descendentes sem reclamar e sem jamais se perguntarem por que elas não tinham a sorte de prosseguir com seus estudos como seus irmãos.

    Charles continuou sua história nos explicando que ele tinha também dissecado um cadáver. Os meninos estavam de queixo caído. Eles queriam conhecer todos os detalhes dessa experiência, enquanto que Constance, suas filhas e eu estávamos mortas de nojo.

    -É por isso que não existe mulher doutora, disse o senhor Boileau fazendo alusão à nossa aversão. As mulheres são muito frágeis para suportar os estudos de medicina.

    Eu não acreditava no que estava ouvindo! As mulheres, frágeis? Então, dar à luz aos doze filhos, costurar suas roupas, os alimentar, enquanto cultiva a terra e cuida de seu marido, isso não demandava força?

    -As mulheres não são frágeis. Elas só não tiveram a oportunidade de estudar, disse eu num tom seco.

    -Estudar é para aprender um ofício complexo. As mulheres não têm necessidade de estudar. Elas já têm um ofício que as aguarda: formar uma família e se ocupar dela.

    Antes que eu tivesse tempo de me contrapor, Constance colocou fim a nossa discussão pedindo a Charles para continuar. A criança prodígio retomou o relato de sua vida de estudante em Quebec e sua mãe não fez senão sorrir. Eu sabia que a senhora Boileau me compreendia. Ela era consciente dessa injustiça para com as mulheres, mas ela sabia também que falar sobre isso com seu marido não ia levar a lugar algum.

    Eu adorava a senhora Boileau. Gostava dela como se fosse minha mãe. Quando Madeleine morreu e Carol perdeu suas pernas, foi ela que cuidou de nós. Eu tinha então deixado a escola e Constance me havia ensinado tudo o que uma mulher devia saber para ser uma boa dona de casa. Eu tinha apenas dez anos e era eu quem devia começar a cultivar nossas terras, pois Carol não poderia nunca mais voltar a pescar.

    Foi tudo uma provação, mas eu nunca reclamei. Carol tão pouco, aliás. Ele dizia que era o bom Deus que nos enviara essa provação para que nos tornássemos pessoas melhores. Era isso que ele dizia, mas, durante a noite, eu o escutava chorar por Madeleine e maldizer os céus. Espero que sua morte tenha realmente nos tornado pessoas melhores porque ela partiu o coração de Carol e me fez envelhecer muito rápido. Com doze anos eu cuidava tão bem da casa que diziam que eu já estava pronta para casar.

    O relógio tocou dez horas. Eu me desculpei por ter que partir. Charles, Rosalie e Paul decidiram me acompanhar até em casa para darem uma volta. Essa noite de meados de junho estava doce e clara. A lua clareava nossos passos. No caminho eu reparei que Paul tentava andar ao meu lado.

    Eu perguntei para ele se tinha a intenção de ir pescar naquele verão. Ele respondeu que seu pai precisava dele no campo, mas que o deixaria pescar três vezes por semana com um velho pescador que lhe ensinou truques da profissão. Ele me propôs em seguida vir no dia seguinte me ajudar a semear meus nabos e ervilhas. Era um trabalho que eu conseguia fazer sozinha, mas aceitei logo sua oferta. Se viesse a faltar trabalho, poderíamos ainda retirar as pedras do pedaço de terra que eu tinha reservado para minhas chalotas.

    Rosalie e Charles prometeram que eles viriam também, se o senhor Boileau lhes desse a permissão. Eu sabia que ele iria lhes dar a permissão porque ele gostava muito de mim, aquele bom homem. Ele achava que pelo fato de eu não ir muito à igreja, eu talvez tivesse ideias inapropriadas, mas ele atribuía isso ao fato de eu não ter tido uma mãe para me ensinar o que uma jovem podia ou não dizer, o que uma jovem devia ou não fazer. Eu, eu sabia que uma melhor educação não me levaria a me submeter às limitações da vida social, nem a me fazer respeitar as boas maneiras. Eu tinha minhas próprias regras e não tinha necessidade de ninguém para me ditar outras.

    Capítulo 3

    Logo que a escuridão tomou conta de Cap, sai de baixo das cobertas. Calcei minhas botinas e cobri meus ombros com o grande xale preto de Madeleine. Abri lentamente a porta, tal como a tampa de um suntuoso cofre ao tesouro. Senti o frescor da noite no meu rosto. Deslizei para fora, dentro da escuridão da noite e fechei a porta devagarinho para não acordar Carol. Meu pai Carol, que sonhava ainda com a bela Madeleine, morta há tanto tempo.

    Eu também, eu teria sonhado com a Madeleine, mas quando eu sonhava, ela não vinha nunca me ver. Quando eu sonhava, tinha sempre homens, e eu me agitava como o mar quando em uma tempestade. Eu despertava de um salto e despertava também Carol, que ficava preocupado. Então, eu dizia: sonhe com a sua Madeleine, meu Carol, e me deixa desaparecer dentro da noite que me chama....

    No caminho de pedra que conduzia à falésia, meus pés avançavam decididos. Eles estavam muito orgulhosos e muito loucos, meus pés. Loucos para me levarem para o alto da falésia enquanto o vento soprava em rajadas, agora que o mar poderia se irritar com a minha imprudência e me levar.

    Não... Minha mãe não faria nunca isso comigo.

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