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Famosas últimas palavras
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E-book67 páginas20 minutos

Famosas últimas palavras

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Sobre este e-book

O poema sem o corte do verso. Este é o melhor modo de apresentar a poesia de Luís Filipe Cristóvão. O poeta de escrita prolífica tem 38 anos de palavras acumuladas na cabeça, já publicou mais de sete livros em Portugal e no Brasil, e obriga o leitor a investigar a sua própria identidade, sua noção de pertencimento, como também a identidade do poema. Luís Filipe mexe com nossa antecipação leitora, rompe com nosso ritmo, obriga-nos a pensar. Em "Famosas últimas palavras", depois de uma grande pausa desde 2009, Luís Filipe volta a escrever com um sabor próprio de despedida, com o cheiro característico da maresia a envolver suas palavras.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento19 de fev. de 2019
ISBN9789898938121
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    Famosas últimas palavras - Luís Filipe Cristóvão

    casa

    Fala de artesão

    canto

    Permite aos mortos o descanso.

    Deixa que na noite sosseguem os fantasmas,

    abandona a cabeceira da consonância,

    resiste, como puderes,

    ao chamamento da parecença.

    Vem, vem cantar.

    Desliza o teu corpo pela terra,

    repousa a enxada com que feres o cultivo,

    esquece a memória dos passados,

    resiste, como puderes,

    ao triste destino que te havias prometido.

    Desliza o teu corpo pelo espaço,

    vem cantar.

    transmontana

    Deitam-se as árvores

    sobre a terra

    transmontana,

    ao fim da tarde,

    já a sopa está ao lume.

    As velhas rezam,

    renovam as flores

    e logo se escapam,

    encostadas às paredes

    do largo da Igreja.

    Deitam-se as árvores

    e então pedras

    crescem e engolem

    toda a plantação.

    O tempo é lento,

    o lugar silencioso,

    ao fim da tarde,

    quando os homens

    regressam.

    Toca o sino

    todas as meias horas

    pela mão de Dona Inácia.

    Toca o sino,

    limpa-se o altar,

    segue deus satisfeito

    nesta terra

    onde as casas

    contam histórias

    sem voz.

    Toca o sino

    e a vida leva-se,

    carregando feno

    para os animais,

    olhando o burro

    que adormece,

    chamando o preguiçoso

    cão que se oferece

    ao visitante.

    De pedra a ponte,

    de pedra o monte.

    De pedra os homens

    que resistem.

    De pedra a memória

    de pedra a fuga.

    De pedra as camas

    daqueles que já não dormem.

    Alguns pássaros ainda,

    à procura das sementes,

    vão caindo à beira-rio.

    Um homem,

    como colado à ponte,

    observa-os.

    A seu lado um gato,

    curioso e atrevido,

    vai medindo os pássaros

    mais os seus gestos.

    Sonha o gato

    com a caça,

    imagina a distracção

    do pássaro

    ou a demora,

    o seu salto

    e as unhas,

    prendendo-o,

    certeiras no desejo.

    Sonha o gato.

    O homem, não.

    Baixou o Rio

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