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Famosas últimas palavras
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E-book68 páginas20 minutos

Famosas últimas palavras

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Sobre este e-book

O poema sem o corte do verso. Este é o melhor modo de apresentar a poesia de Luís Filipe Cristóvão. O autor português, de escrita prolífica, tem 38 anos de palavras acumuladas na cabeça, já publicou mais de sete livros e obriga o leitor a investigar a sua própria identidade, sua noção de pertencimento, como também a identidade do poema. Luís Filipe mexe com nossa antecipação leitora, rompe com nosso ritmo, obriga-nos a pensar. Em 'Famosas últimas palavras', depois de um grande hiato desde 2009, Luís Filipe volta a escrever com um sabor próprio de despedida, com o cheiro característico da maresia a envolver suas palavras. Como revela Cristóvão em sua poesia, ‘Onde quer que esteja a realidade, não está nas páginas dos livros’.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento31 de mar. de 2022
ISBN9788556620835
Famosas últimas palavras
Autor

Luís Filipe Cristóvão

Luís Filipe Cristóvão nasceu em 1979. Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, frequentou os programas de Mestrado em Teoria da Literatura e em Treino Desportivo, e o Curso de Especialização em Edição e Novas Tecnologias. Tem trabalho disperso por revistas e antologias em português, castelhano, francês, inglês, alemão e lituano. Desde 2005 publicou os livros de poesia Registo de nascimento, Pequena antologia para o corpo, E como ficou chato ser moderno, Santa Cruz e A cabeça de Fernando Pessoa. Também escreveu dois livros infantis: Afonso e o livro, aconselhado pelo Plano Nacional de Leitura português, e Pedro gosta, publicado no Brasil pela Oficina Raquel. Depois de ter sido livreiro, editor, dirigente associativo e gestor de conteúdos online, trabalha, atualmente, como jornalista desportivo.

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    Famosas últimas palavras - Luís Filipe Cristóvão

    Fala de artesão

    canto

    Permite aos mortos o descanso.

    Deixa que na noite sosseguem os fantasmas,

    abandona a cabeceira da consonância,

    resiste, como puderes,

    ao chamamento da parecença.

    Vem, vem cantar.

    Desliza o teu corpo pela terra,

    repousa a enxada com que feres o cultivo,

    esquece a memória dos passados,

    resiste, como puderes,

    ao triste destino que te havias prometido.

    Desliza o teu corpo pelo espaço,

    vem cantar.

    transmontana

    Deitam-se as árvores

    sobre a terra

    transmontana,

    ao fim da tarde,

    já a sopa está ao lume.

    As velhas rezam,

    renovam as flores

    e logo se escapam,

    encostadas às paredes

    do largo da Igreja.

    Deitam-se as árvores

    e então pedras

    crescem e engolem

    toda a plantação.

    O tempo é lento,

    o lugar silencioso,

    ao fim da tarde,

    quando os homens

    regressam.

    Toca o sino

    todas as meias horas

    pela mão de Dona Inácia.

    Toca o sino,

    limpa-se o altar,

    segue deus satisfeito

    nesta terra

    onde as casas

    contam histórias

    sem voz.

    Toca o sino

    e a vida leva-se,

    carregando feno

    para os animais,

    olhando o burro

    que adormece,

    chamando o preguiçoso

    cão que se oferece

    ao visitante.

    De pedra a ponte,

    de pedra o monte.

    De pedra os homens

    que resistem.

    De pedra a memória

    de pedra a fuga.

    De pedra as camas

    daqueles que já não dormem.

    Alguns pássaros ainda,

    à procura das sementes,

    vão caindo à beira-rio.

    Um homem,

    como colado à ponte,

    observa-os.

    A seu lado um gato,

    curioso e atrevido,

    vai medindo os pássaros

    mais os seus gestos.

    Sonha o gato

    com a caça,

    imagina a distração

    do pássaro

    ou a demora,

    o seu salto

    e as unhas,

    prendendo-o,

    certeiras no desejo.

    Sonha o gato.

    O homem, não.

    Baixou o Rio

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