Ética, violência e a garantia do direito à saúde
De Raimunda Hermelinda Maia Macena, Kelvia Maria Oliveira Borges, Thiago Brasileiro de Vasconcelos e Gisele Maria Melo Soares Arruda
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Sobre este e-book
De fato, aspira-se por respostas a situações que o prisma majoritariamente científico não soluciona. Carece-se de valores, de princípios, de sensibilidade social que rastreie o desiderato comum a qualquer humanismo: a busca da felicidade e da paz social.
Neste cenário, em boa hora o grupo de autores de "Ética, violência e a garantia de Direito à saúde" se debruçou sobre temas que percorrem situações tão corriqueiras quanto caras a vida hodierna - notadamente na seara das Ciências da Saúde em face da escalada de conflitos e intimidações sociais, além dos normativos deontológicos aplicáveis em diversas conjunturas.
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Ética, violência e a garantia do direito à saúde - Raimunda Hermelinda Maia Macena
Ética, violência e a garantia do direito à saúde
Organizadores:
Raimunda Hermelinda Maia Macena
Kelvia Maria Oliveira Borges
Thiago Brasileiro de Vasconcelos
Gisele Maria Melo Soares Arruda
Sumário
Capa
Folha de rosto
Ao modo de prefácio…
Lista de autores
PARTE I - VIOLÊNCIA E O ESTADO
Mortes por causas externas entre jovens: qual o papel da violência?
Violência por parceiro íntimo: revisitando conceitos e fatores associados
Respostas e marcos regulatórios brasileiros no combate à violência
Diretrizes internacionais e nacionais sobre garantias de direitos e saúde no sistema prisional
Fatores de personalidade associados a múltiplas tentativas de suicídio praticadas por profissionais de segurança pública do estado do ceará, 2010 a 2014
PARTE II - GARANTIA DE DIREITOS E BIOÉTICA
Respostas mundiais à violência
Preceitos da bioética e a prática assistencial no cuidado ao recém-nascido pré-termo
Respeito à pessoa e tomada de decisão: a ética do cuidado do diabetes mellitus
Ética e competitividade entre os profissionais de saúde: um ensaio teórico reflexivo
Interdisicplinaridade e direitos da pessoa idosa no brasil: campo interdisciplinar teórico ou de práticas?
Créditos
Landmarks
Capa
Sumário
Ao modo de prefácio…
Não é recente a preocupação da sociedade frente aos temas próprios da bioética e respectivas normas jurídicas que neles incidem. Vivemos tempos que, a mais e mais, percebe-se o auxílio irrecusável que o binômio Biodireito/Bioética promove como eixo norteador, na tentativa de solucionar dilemas que a vida em sociedade apresenta. Assim, a despeito do nível de formação técnica ou prosperidade econômica de cada grupo social, resta explícito que não basta, que não é suficiente, o cientificismo que parece perquirir o cidadão moderno, este Cristo da tecnologia.
De fato, aspira-se por respostas a situações que o prisma majoritariamente científico não soluciona. Carece-se de valores, de princípios, de sensibilidade social que rastreie o desiderato comum a qualquer humanismo: a busca da felicidade e da paz social.
Neste cenário, em boa hora o grupo de autores de Ética, violência e a garantia de Direito à saúde
se debruçou sobre temas que percorrem situações tão corriqueiras quanto caras a vida hodierna - notadamente na seara das Ciências da Saúde em face da escalada de conflitos e intimidações sociais, além dos normativos deontológicos aplicáveis em diversas conjunturas.
À exemplo de toda produção desta envergadura, as inquietações devem permear, trilhar e conduzir a melhor conduta ou moralidade aplicável na situação-concreta, sempre com lastro no bem comum.
A obra se biparte, oportunamente, na abordagem que se propõe:
I) A inicial cuida do papel do Estado, esta criação jurídica nascida para tutelar - em especial, os hipossuficientes – nas circunstâncias de violência em múltiplos contextos sociais, a saber:
morte de jovens: mácula ao por vir
de qualquer sociedade?
violência por parceiro íntimo: dormindo com o inimigo?
respostas estatais: qual a efetividade dos instrumentos de controle social?
normativas no sistema prisional: o Biodireito, nacional ou alienígena, como garantidor do Direito mínimo do encarcerado.
II) A segunda metade da obra se debruça sobre variados acontecimentos aos quais são conduzidos os operadores do sistema de saúde:
terminalidade da vida: a despeito de ser a única certeza, como nos chega?
recém-nato prematuro: destino ou descuido?
Diabetes mellitus: vida adocicada pelos princípios bioéticos?
pessoa idosa: aspiração ou receio?
França, notável do Biodireito e da Bioética, adverte que nada é mais lamentável que se induzir na mentalidade dos jovens estudantes, notadamente os da área de saúde, a falsa concepção de que lhes basta só o conhecimento das ciências físicas e naturais, e que a cultura humanística é uma atividade secundária ou mesmo desnecessária. Não poderia haver entendimento mais pobre e mesquinho.
Neste diapasão, somos convidados a enfrentar, ou melhor, vivenciar aspectos tão relevantes quanto ainda pouco discutidos na formação dos profissionais da saúde, na tessitura jurídica e ética.
Eis a obra. Boa leitura.
Renato Evando Moreira Filho
Médico e Advogado
Docente da Universidade Federal do Ceará
Organizadores
Raimunda Hermelinda Maia Macena: http://lattes.cnpq.br/6728123164375829
Kelvia Maria Oliveira Borges: http://lattes.cnpq.br/8918848793709566
Thiago Brasileiro de Vasconcelos: http://lattes.cnpq.br/7104482690714575
Gisele Maria Melo Soares Arruda: http://lattes.cnpq.br/2616590650822019
Lista de autores
Ana Jéssica dos Santos Sousa: http://lattes.cnpq.br/1636532373212316
Andressa Soares de Azevedo: http://lattes.cnpq.br/9825528585406146
Athila Wesley Lima Lacerda: http://lattes.cnpq.br/8912630241003137
Camylla Bandeira Miranda: http://lattes.cnpq.br/4938747000432210
Carla Siebra de Alencar: http://lattes.cnpq.br/2208618700913670
Cecilia Regina Sousa do Vale: http://lattes.cnpq.br/0628945123490577
DanieLle Teixeira Queiroz: http://lattes.cnpq.br/2245643968859010
Deborah Gurgel Freire: [http://lattes.cnpq.br/9507552698969004]
Edyla Maria Porto de Freitas Camelo: http://lattes.cnpq.br/1401050375273204
Elyane Rocha Lima Sá: http://lattes.cnpq.br/6203390749588813
Evna América de Aquino Leitão Paixão: http://lattes.cnpq.br/3091075265796480
Flávia de Andrade Oliveira: http://lattes.cnpq.br/4539995722595765
Francisco Adailre Alves da Silva: http://lattes.cnpq.br/3945210797372173
Gabrielle Almeida Silva Linhares: http://lattes.cnpq.br/4804357191639349
Gemiliana Sombra de Oliveira Carvalho: http://lattes.cnpq.br/8511509651920264
Gisele Maria Melo Soares Arruda http://lattes.cnpq.br/2616590650822019
Henrique Lobo Saraiva Barros: http://lattes.cnpq.br/2030222893588624
Hortência Diniz Teixeira: http://lattes.cnpq.br/7337480509937067
Jade Maria Gordiano da Silva: http://lattes.cnpq.br/9053875942684206
Jarlideire Soares Freitas: http://lattes.cnpq.br/3474499591157514
Jéssica Bezerra da Costa: http://lattes.cnpq.br/8172388162734912
José Edir Paixão de Sousa: http://lattes.cnpq.br/4783420437778695
José Gomes Bezerra Filho: http://lattes.cnpq.br/7241757299239195
Keithyanne Marinho Saboia: http://lattes.cnpq.br/6286338760104684
Kelvia Maria Oliveira Borges: http://lattes.cnpq.br/8918848793709566
Luana Matos de Souza: http://lattes.cnpq.br/6555155159658538
Luciana Senarga Martins: http://lattes.cnpq.br/8745853784829228
Marcos Silva dos Santos: http://lattes.cnpq.br/1207934992751597
Maria Aldeísa Gadelha: http://lattes.cnpq.br/6604406946003983
Maria Aridenise Macena Fontenelle: http://lattes.cnpq.br/1135208524808276
Maria Bruna Madeiro da Silva: http://lattes.cnpq.br/0380864881104928
Maria Ivoneide Verissimo de Oliveira: http://lattes.cnpq.br/1083570869612060
Maria Josiane da Silva Santos: http://lattes.cnpq.br/4219394578817196
Maria Rafaela Martins de Oliveira: http://lattes.cnpq.br/5267361169718556
Maria Williany Silva Ventura: http://lattes.cnpq.br/8036898210546682
Mariana da Silva Diógenes: http://lattes.cnpq.br/1559207337573490
Mônica de Oliveira Maia: http://lattes.cnpq.br/7636078854837163
Natalha Nayane de Oliveira Pinheiro: http://lattes.cnpq.br/6898838101636243
Natalia Jacinto de Almeida Leal: http://lattes.cnpq.br/4108492206308841
Rafaela Marrocos Bezerra: http://lattes.cnpq.br/2762573165250483
Rafaella Roque Chagas: http://lattes.cnpq.br/2863001534079574
Raimunda Hermelinda Maia Macena: http://lattes.cnpq.br/6728123164375829
Renato Evando Moreira Filho: http://lattes.cnpq.br/8529555875110355
Rosa Maria Salani Mota: http://lattes.cnpq.br/1356235229892935
Sandna Larissa Freitas dos Santos: http://lattes.cnpq.br/7135170516978521
Sealtiel Duarte de Oliveira: http://lattes.cnpq.br/0461156612726887
Thaís Aquino Carneiro: http://lattes.cnpq.br/8566250327506403
Thiago Brasileiro de Vasconcelos: http://lattes.cnpq.br/7104482690714575
Ulisséa de Oliveira Duarte: http://lattes.cnpq.br/9038359078998303
Valéria Freire Gonçalves: http://lattes.cnpq.br/0234286209104038
Vasco Pinheiro Diógenes Bastos: http://lattes.cnpq.br/8167696246054596
Yasmim Neri Pinheiro: http://lattes.cnpq.br/0208520586922355
PARTE I
VIOLÊNCIA E O ESTADO
MORTES POR CAUSAS EXTERNAS ENTRE JOVENS: QUAL O PAPEL DA VIOLÊNCIA?
Cecilia Regina Sousa do Vale
Kelvia Maria Oliveira Borges
Gisele Maria Melo Soares Arruda
Maria Aldeísa Gadelha
Sealtiel Duarte de Oliveira
Vasco Pinheiro Diógenes Bastos
Francisco Adailre Alves da Silva
Introdução
O conceito de adolescência não integra apenas transformações físicas, mas todo um desenvolvimento de mudanças relacionadas aos aspectos psíquicos, laços sociais e o núcleo familiar (PREDEBON; GIONGO, 2015). A Organização Mundial da Saúde (OMS) define adolescência como uma fase que se inicia dos dez aos 20 anos incompletos, já para o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) inicia-se dos 12 aos 18 anos, nesse sentido não há um consenso relacionado à faixa etária exata que determina um grau de desenvolvimento completo para o desempenho das atividades referentes à infância e adolescência (FONSECA et al., 2013; PREDEBON; GIONGO, 2015).
O adolescente vive a experiência do desejo por autonomia e liberdade de maneira intensa, ultrapassando assim os limites sociais, dessa forma colocando-se em risco, tendo como consequência em determinados momentos, os transtornos de conduta como resposta a violência perpetrada pelo adolescente, está por sua vez está enraizada pela violência encontrada no convívio familiar, e consequentemente, a família também está vulnerável à violência na sociedade (Waiselfisz, 2011; ZANELLA et al., 2013).
A violência tornou-se um dos principais focos de preocupações, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo. De acordo com o Relatório Mundial sobre Violência em Saúde da OMS, ocorreu mais de 1,6 milhão de mortes por violência no ano 2000, e, aproximadamente metades dessas mortes são referentes aos suicídios, um terço por homicídios e os demais por conflitos armados. No Brasil, a maioria dos óbitos relacionados à violência foram ocasionados por acidentes de transporte e homicídios (Mansanoet al., 2013), sendo que 8 em cada 10 brasileiros tem medo de morrer assassinado e 7 em cada 10 tem medo de ser assaltado com arma em punho.
O Brasil é o segundo maior produtor de armas leves no Ocidente e, consequentemente, possui um dos maiores índices de homicídios por armas de fogo do mundo, perdendo apenas para a Venezuela. Duas em cada três pessoas mortas nos países das Américas são assassinadas com armas de fogo, e no Brasil o índice é de 70% das mortes. Segundo estudo Global sobre o Homicídio 2013, divulgado pelo Escritório sobre Drogas e Crime das Nações Unidas (UNODC), as armas de fogo foram utilizadas em 41% dos 437 mil homicídios no mundo em 2012 e a facilidade de acesso de armas de fogo no país destacam o Brasil nessa tendência demarcando a violência homicida (JUNIOR; SOUTO, 2016).
A violência entre adolescentes tem sido bastante discutida. O impacto causado pelas diferentes manifestações de violência é percebido de maneira alarmante pelo crescimento dos homicídios no país, principalmente na população de 15 a 24 anos. De acordo com o Ministério da Saúde (SIM/DATASUS) ocorreu aumento de homicídios como a primeira causa de morte entre os jovens já na década de 1990, ou seja, não só ocupam a primeira posição dentre as causas externas, mas ultrapassam todos os outros grupos de causas (RUOTTI; MASSA; PERES, 2016).
Em 2010, o Brasil foi o nono país com maior número de homicídios por projéteis de armas de fogo (PAF), sendo sua população jovem a mais atingida (MORAIS et al., 2016). Estudo sobre a mortalidade por armas de fogo observou que, no período 1980 - 2010, houve um aumento de homicídios de 502,8% na população total, e de 591,5% entre os mais jovens de 15 a 29 anos (COSTA, TRINDADE; SANTOS, 2014 ).
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), grande parte dos óbitos por causas externas no mundo corresponde a suicídios ou a conflitos civis, já no Brasil, a elevada mortalidade em relação à violência, está atrelada a homicídios em contextos urbanos, em que homens jovens predominam como agressores e vítimas, e as desigualdades sociais são os principais fatores determinantes para a consequência dos atos violentos (NEVES; GARCIA, 2015).
O impacto da violência entre adolescentes causa uma complexidade de transtornos biológicos, emocionais e físicos; o sofrimento provocado por essa experiência, assim como o significado da morte e o valor dado à vida. As preocupações atuais estão relacionadas ao cenário de violência, e consistem na evidência de jovens que estão cada vez mais envolvidos nesse processo, sejam como vítimas ou autores da violência (SILVA, 2009).
Materiais e Métodos
Trata-se de estudo de abordagem qualitativa através da revisão integrativa da literatura, a cerca do papel da violência em mortes por causas externas entre jovens. A estratégia de identificação e seleção dos estudos foi a busca de publicações indexadas na base de dados Google Acadêmico e LILACS durante o período de janeiro a março de 2017.
Foram adotados os seguintes critérios para seleção dos artigos: todas as categorias de artigo (original, revisão de literatura, reflexão, atualização, relato de experiência etc.); artigos com resumos e textos completos disponíveis para análise; aqueles publicados nos idiomas português, inglês ou espanhol, e artigos que contivessem em seus títulos e/ou resumos os seguintes descritores em ciências da saúde (DeCS): Adolescentes, Violência, Homicídio, Armas de Fogo.
O DeCS utilizado na pesquisa foi a expressão violência e morbidade por causas externas entre jovens
, associada aos descritores específicos. O critério de exclusão para oos artigos foram: estudos que não atendessem os critérios de inclusão mencionados. Do material obtido, 59 artigos/documentos, procedeu-se à leitura minuciosa de cada resumo/artigo/documento, destacando aqueles que responderam ao objetivo proposto por este estudo, a fim de organizar os dados.
Os estudos selecionados para análise foram referenciados no presente texto. Procedeu-se à análise para caracterização dos estudos selecionados, e os quais foram extraídos os conceitos abordados em cada artigo de interesse das pesquisadoras.
Violência e Juventude
A violência e o problema das armas de fogo (uso, posse e distribuição no Brasil), e as crescentes taxas de morbimortalidade por violência colocam a sociedade exposta a constantes riscos à saúde, tornando assim, essa temática uma demanda prioritária de saúde pública (TRINDADE, COSTA, CAMINITI, SANTOS, 2015).
A violência no campo da saúde pública tem sido estudada em consonância com a abordagem de risco, pois dentro desta perspectiva é possível evidenciar as tendências populacionais de morbimortalidade, identificando também os fatores de risco relacionados na rede de causalidades, entretanto, embora sejam importantes como fontes de informação e hipóteses, essas análises não são capazes de dar conta da complexidade envolvida no fenômeno (RUOTTI; MASSA;PERES, 2011).
A luta pelos diretos das crianças e dos adolescentes potencializou-se de maneira expressiva a partir de 1980,