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Educação física, corpo e tradição: o jogo das comunidades tradicionais
Educação física, corpo e tradição: o jogo das comunidades tradicionais
Educação física, corpo e tradição: o jogo das comunidades tradicionais
E-book281 páginas3 horas

Educação física, corpo e tradição: o jogo das comunidades tradicionais

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Sobre este e-book

A boa leitura denota a mistura de prazer com a capacidade criativa do leitor. Em Educação física, corpo e tradição: o jogo das comunidades tradicionais, a apreciação dos textos permite o controle do fluxo de interação com os estudos publicados, embora os autores façam tematizações e discussões profundas de conceitos e categorias como educação física, cultura, tradição, corpo e comunidades tradicionais. Escritas por autores já conhecidos na esfera da educação física brasileira, as pesquisas aqui apresentadas colaboram no sentido de entender a construção dos saberes de múltiplas temáticas dessa área do conhecimento. Sendo assim, este livro é fundamental para professores da educação física, a qual tentava sair do seu enraizamento biológico há menos de duas décadas e hoje discute propostas de políticas públicas nos âmbitos do lazer, esporte e saúde para comunidades tradicionais, como quilombolas e indígenas. Os autores trazem uma contextualização que permite ao leitor imaginar os cenários de arte nessas culturas, as relações de poder nas organizações dos eventos esportivos tradicionais, os contornos estéticos nos grupos sociais e, enfim, os pluralismos epistemológicos criados na educação física brasileira. O oferecimento desta obra promove a possibilidade de iniciar o jogo de intervenções para os educadores que atuam em comunidades e grupos tradicionais.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de jan. de 2016
ISBN9788547301040
Educação física, corpo e tradição: o jogo das comunidades tradicionais

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    Pré-visualização do livro

    Educação física, corpo e tradição - J. Luiz dos Anjos

    Editora Appris Ltda.

    1ª Edição – Copyright© 2016 dos autores

    Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.

    Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.

    Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.

    Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS

    Apresentação

    Primeiramente, tratando dos objetivos que movem esta iniciativa, procuramos reunir e socializar experiências de todo o país a fim de contribuir com as políticas públicas para o esporte e o lazer, reconhecendo a diversidade étnica e cultural de nosso território e com vistas à promoção da saúde e da educação intercultural. Articulando diversos grupos de pesquisa do país, este livro visa promover e divulgar a produção do conhecimento sobre a cultura corporal em diálogo com a produção nacional, integrar instituições formadoras e elaborar referências que contribuam para a inclusão dos povos indígenas e das comunidades tradicionais, tanto nas políticas públicas de esporte e lazer quanto nas demandas dessas práticas para a educação, potencializando a cooperação acadêmica entre os programas de pós-graduação em educação e educação física, nas perspectivas dos movimentos sociais e da diversidade.

    Quanto à publicação destes estudos, os ensaios estão divididos em quatro partes de forma a dar organização ao livro. Mas isso não impede, evidentemente, que sejam lidos na ordem que cada um escolher – o que, no fim, acontece com a maioria dos livros de ensaios –, pois ao folheá-lo o leitor abrirá no título que melhor lhe aprouver diante do gosto que move a leitura. Essa observação poderia ser dispensada; contudo, é oportuno que mesmo no contexto acadêmico as preferências pessoais estejam em primeiro lugar.

    A primeira parte , Política e organização social nas comunidades e grupos tradicionais, tem as articulações de Larissa M. Lara e José Luiz dos Anjos. Em Comunidades quilombolas e suas tradições inventadas, artigo de Larissa M. Lara, o texto traz apontamentos tomando por base as contribuições de Hobsbawn (1984). A autora elucida a temática a partir dos campos empírico e teórico, instiga a reflexões sobre as comunidades quilombolas como tradições inventadas e, por fim, apresenta enunciados de análise que buscam contribuir com o refinamento do debate acadêmico. O texto seguinte, de José Luiz dos Anjos, intitulado Transformações estéticas e política oficial: urbanidade e cenários de tradições, analisa os grupos de congo do município de Vitória (ES) quanto aos elementos que os estruturam, como: expressões corporais, inserção de novos atores e a relação com o Poder Público. O autor revela que há transformações no processo de expressões corporais advindos da entrada de novos atores nos grupos que introduziram novas estéticas corporais.

    A segunda parte , Educação Física, Cultura e Escola, reúne três trabalhos que se dedicam à análise de temas da educação física desenvolvida pelos professores Adalberto Souza, Evando C. Moreira, José T. Grunnenvaldt, Felipe Quintão de Almeida, Valter Bracht e Filipe Ferreira Ghidetti. O professor Adalberto Souza discute possibilidades de atuação dos professores de educação física. O autor sinaliza para uma nova forma de olhar para o trabalho desenvolvido na disciplina escolar, contrapondo o modelo de reprodução hegemônico que predominou na educação física e apontando as discussões que influenciaram nas mudanças desse modelo. Em seguida, Evando C. Moreira e José T. Grunnenvaldt perguntam pelos principais enfrentamentos da educação física como componente curricular. Quais devem ser as preocupações, tendências ou concepções da área para que se possibilite sua participação na configuração do Projeto Político Pedagógico da escola? Para alcançar respostas ou refletir sobre, os autores discorrem abordando, inicialmente, o movimento da educação física, no qual ela procura se desvencilhar de um modus operandi que a caracterizou historicamente pela sua preocupação com a aptidão física e o treinamento de habilidades esportivas e, num segundo momento, procuram discutir a mobilidade da área de querer se afirmar como componente curricular responsável pela transmissão e reflexão sobre uma parcela da cultura humana, ou seja, a cultura corporal. No caso do artigo de Felipe Quintão de Almeida, Valter Bracht e Filipe Ferreira Ghidetti, eles descrevem e problematizam a presença do referencial fenomenológico no campo da educação física brasileira. Privilegiam, nessa retrospectiva, cinco registros, representado por autores como Silvino Santin, Manuel Sérgio, Wagner Wey Moreira, Elenor Kunz e Terezinha Petrúcia da Nóbrega.

    A terceira parte, Políticas Públicas, Estado e Esporte, abriga os estudos de Eloy A. Mejía dedicados às políticas públicas da educação física, esporte e jogo a partir do cenário venezuelano. Mejía discute o desporto a partir do mecanismo de tornar invisível o jogo latino-americano. O esporte sempre fez parte do processo global de dominação, nos distintos momentos históricos. Particularmente, com a instauração do capitalismo industrial em fins do século XIX e princípios do XX, o desporto irrompe como forma de penetração cultural que, progressivamente, desloca e tende a eliminar as criações lúdicas. Mejía, em suas reflexões, lança crítica às funções sociais do esporte, pois o esporte moderno, na sociedade capitalista e ideológica, produz e reproduz, em sua dinâmica, as ideias de rendimento-produtividade-rentabilidade e de progresso, fundamentos basilares da sociedade capitalista industrial.

    A quarta parte , Povos Indígenas: tradições, modernidade e poder, vemos configurados o estudo Jogos dos Povos Indígenas: figurações, habitus social e poder, de M. Beatriz Rocha Ferreira, Vera Regina C. Toledo e Deoclécio Rocco Gruppi. Os autores têm como objetivo analisar os principais protagonistas na organização dos Jogos dos Povos Indígenas, ou seja, o Comitê Intertribal e Ministério dos Esportes. Para esse alcance, utilizam da teoria figuracional de Norbert Elias para fundamentar os conceitos de habitus social, figurações e poder. O estudo, por um lado, nos mostra a complexidade étnico-esportiva do tema envolvendo um conhecimento ancestral e, por outro, o conhecimento científico e o político governamental. Em seguida, o texto Reflexões sobre corpo, estética e saúde para os povos tradicionais, de Tadeu João R. Baptista, objetiva compreender a relação entre corpo, estética e saúde nas comunidades tradicionais, tendo como recorte o desenvolvimento das políticas públicas e das cartas internacionais da promoção da saúde. O autor promove reflexões discutindo a constituição do corpo pela perspectiva das ciências sociais e da filosofia, e, ao final, aponta que as políticas públicas pensadas no viés da promoção da saúde devem vir acompanhadas de uma perspectiva crítica e ecológica. Completando o debate e reflexões, temos Memória, continuidades e descontinuidades: o movimento das tradições nos jogos dos povos indígenas, de Juliana Saneto e José Luiz dos Anjos. Buscando em G. Balandier (1997) as contextualizações das categorias continuidades, descontinuidades e tradição, Saneto e Anjos discutem os contextos que permeiam os espaços sociais de entrega e recepção de tradições das comunidades indígenas e as configurações advindas na adoção de técnicas e estratégias de treinamento, característica imanente do esporte moderno.

    Há que se pensar que os critérios de avaliação, em cada momento histórico, expressam valores sociais e, portanto, ideológicos. Mas fica claro que tais critérios estabelecem leis de inclusão e de exclusão, que, na maioria dos casos, passam por interesses sociais que não têm muito a ver com a qualidade das obras. E mesmo essa qualidade, uma vez identificada e respeitada, é historicamente variável. O ponto de vista de quem a observa estará sempre sujeito a múltiplos filtros que se relacionam com a inserção social, com as opções éticas, acadêmicas e outros fatores, o que coloca desafios no estabelecimento de critérios universais para legitimação do estudo científico.

    Os autores

    prefácio

    Há certas palavras que só podem ser ditas numa certa época e antes disso não fariam sentido ou seriam sequer inteligíveis. Há certas frases que só podem ser escritas num certo momento e antes seriam incompreensíveis. Há também certos conteúdos que só podem ser pensados em determinado período. O que estou querendo dizer é que o plano das ideias, palavras e escritas é parte de uma construção que faz sentido em épocas e contextos específicos. Os pensamentos, palavras e escritas não existiram do mesmo jeito sempre e seus sentidos são constantemente renovados.

    É o caso de alguns temas e produções teóricas da Educação Física. Talvez os profissionais formados há menos tempo nem se deem conta desse processo, mas os mais antigos, como eu, percebem um intenso movimento na área desde a década de 1980. Se a produção teórica da Educação Física antes desse período era majoritariamente composta por manuais de treinamento e modelos de aula pautados em preceitos tecnicistas com justificativas baseadas nas ciências biológicas, hoje podemos notar grande avanço e amplitude das discussões. São esses avanços que permitem que temas sequer pensados por estudiosos da Educação Física possam hoje ser analisados, debatidos e transmitidos no meio acadêmico e profissional da área.

    Este livro que tenho a honra de prefaciar é um exemplo desse processo. Seria inconcebível há alguns anos, no seio da área de Educação Física, a discussão sobre práticas corporais e políticas públicas no âmbito do esporte, lazer e saúde para comunidades tradicionais, como povos indígenas e grupos quilombolas, por exemplo. Ou a discussão de uma Educação Física que tem a cultura como seu conceito basilar. Porém, esse estranhamento só ocorre para aqueles que não estão acompanhando as incursões da área desde a década de 1980, as quais deixaram uma visão estritamente apoiada nas Ciências Naturais e mergulharam em discussões inerentes às Ciências Humanas e Sociais.

    A obra, portanto, é um grande avanço no âmbito da Educação Física, pois, incorporando discussões a partir de categorias até então restritas ao campo das Ciências Humanas e Sociais, pôde renovar os temas de enfoque da área. Aqui se apresentam discussões como as tradições de grupos quilombolas e transformações estéticas de grupos de congo (primeira parte), uma nova forma de olhar e agir da Educação Física escolar apoiada na dinâmica cultural cotidiana das escolas (segunda parte), o debate sobre esporte, políticas públicas, poder e dominação exemplificados a partir da realidade venezuelana (terceira parte) e a abordagem sobre corpo, estética e saúde em grupos tradicionais, com destaque para a análise das tradições presentes nos jogos dos povos indígenas (quarta parte).

    Ao mesmo tempo em que agradeço o prazer e a honra pela oportunidade de ler e prefaciar este livro, devo cumprimentar os professores José Luiz dos Anjos e Felipe Quintão de Almeida, idealizadores e organizadores desta coletânea, pela iniciativa, e também parabenizar os autores dos capítulos, que nos brindam com contribuições ricas e profundas sobre essas novas formas de se olhar para e a partir da Educação Física, tornando inteligíveis reflexões em outras épocas impossíveis.

    Jocimar Daolio

    Faculdade de Educação Física

    UNICAMP

    Sumário

    PRIMEIRA PARTE

    COMUNIDADES QUILOMBOLAS E SUAS TRADIÇÕES INVENTADAS

    Larissa Michelle Lara

    TRANSFORMAÇÕES ESTÉTICAS E POLÍTICA OFICIAL: URBANIDADE E CENÁRIOS DE TRADIÇÕES

    J. Luiz dos Anjos

    SEGUNDA PARTE

    CONTRA A IDEALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA E A FAVOR DE SUA PRÁTICA SOCIAL: PORQUE O CONCEITO E A IDENTIDADE DA EDUCAÇÃO FÍSICA SÃO CONSTRUÍDOS NA ESCOLA

    Evando Carlos Moreira

    José Tarcísio Grunennvaldt

    EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR, CULTURA E PRÁTICAS ESCOLARES

    Adalberto S. Souza

    A PRESENÇA DA FENOMENOLOGIA NA EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA: IMPLICAÇÕES PARA O ESTUDO DO CORPO E OUTRAS PROBLEMATIZAÇÕES

    Felipe Quintão de Almeida

    Valter Bracht

    Filipe Ferreira Ghidetti

    terceira parte

    GLOBALIZACIÓN, ESTADO, DEPORTE Y JUEGO

    Eloy Altuve Mejía

    POLÍTICA PÚBLICA EN EDUCACIÓN FÍSICA, JUEGO Y DEPORTE

    Eloy Altuve Mejía

    quarta parte

    JOGOS DOS POVOS INDÍGENAS: FIGURAÇÕES, HABITUS SOCIAL E PODER

    Maria Beatriz Rocha Ferreira

    Deoclécio Rocco Gruppi

    Vera R. C. Toledo

    REFLEXÕES SOBRE CORPO, ESTÉTICA E SAÚDE PARA OS POVOS TRADICIONAIS

    Tadeu João Ribeiro Baptista

    MEMÓRIA, CONTINUIDADES E DESCONTINUIDADES: O MOVIMENTO DAS TRADIÇÕES NOS JOGOS DOS POVOS INDÍGENAS

    Juliana Guimarães Saneto

    José Luiz dos Anjos

    Primeira parte

    Política e organização social nas comunidades e grupos tradicionais

    COMUNIDADES QUILOMBOLAS E SUAS

    TRADIÇÕES INVENTADAS¹

    Larissa Michelle Lara²

    Apresentação

    Este estudo traz apontamentos sobre comunidades quilombolas e sua caracterização como tradições inventadas, tomando por base as contribuições de Hobsbawm (1984). Para tanto, elucida a temática a partir dos campos empírico e teórico, instiga a reflexões sobre as comunidades quilombolas como tradições inventadas e, por fim, apresenta enunciados de análise que buscam contribuir com o refinamento do debate acadêmico.

    Introdução

    Fazenda velha, cumeeira arriou

    Levanta, negro cativeiro acabou

    Se negro soubesse o talento que ele tem

    Não aturava desaforo de ninguém.

    (Teresa Cristina)³

    A constituição da sociedade brasileira é marcada por formas desiguais de acesso a condições materiais e simbólicas que garantam a existência humana, o que leva a uma cultura da escassez que dificulta o cotidiano de muitas famílias. Intensificada por um processo de naturalização, essa desigualdade perpetua-se e se fortalece, como se as condições de estratificação social não fossem densamente marcadas por ações político-culturais e históricas daqueles que definem quem é pobre, miserável, marginal, abastado, favorecido, entre outras designações possíveis. Assim, descortinar esse cenário parece-me sempre uma ação necessária que demanda esforços pessoais e acadêmicos na intenção vigilante de perceber as forças que atuam no sentido da dominação e que dificultam formas de resistência.

    No campo da produção de conhecimento da educação física brasileira, observam-se temáticas variadas. Entretanto, ainda falta a essa área a intensificação de uma preocupação social que contribua com parcelas da população marginalizadas e que não têm acesso aos direitos relativos às práticas esportivas e de lazer, ou que as tangenciam de modo bastante limitado. Por vezes, essas populações são contempladas em projetos sociais desenvolvidos por universidades, por Organizações Não Governamentais (ONGs) ou tratadas em pesquisas envolvendo esporte, jogo, capoeira, danças, lazer, manifestações de cultura popular, entre outros, mas nem sempre são consideradas como próprias do campo da educação física e, tampouco, reconhecidas como mecanismos de luta da área. Isso me leva a perceber uma educação física brasileira, por vezes, elitista, demarcada por condições hegemônicas da produção de conhecimento que exclui o diferente, o marginalizado socialmente, e que não enxerga a necessidade de focos de resistência que se dão pela cultura popular, pelo estudo das práticas corporais periféricas, pela consecução de políticas públicas e pela necessidade reivindicatória de expressão de diferentes grupos sociais.

    A experiência de pesquisa teórica e em loco em comunidades quilombolas no Paraná, realizada no período de 2008 a 2011 com vistas à identificação de políticas públicas de esporte e lazer e práticas corporais recorrentes possibilita-me, no momento, olhar para algumas realidades e delas extrair elementos que possam levar ao debate e, quiçá, despertar interesses de estudiosos que venham a se envolver com essa população marginalizada em termos de condição social, conhecimento e etnia.

    Longe de estabelecer generalizações, procuro, nesse estudo, desenvolver um jogo tensional entre dimensões gerais e específicas dos quilombolas que me possibilitem expor enunciados acerca de como, atualmente, percebo as comunidades quilombolas e suas práticas corporais, com base na experiência obtida no contexto paranaense e na reflexão acerca das tradições inventadas, proposta por Hobsbawm (1984). Também não busco consensos que corroborem esses argumentos, até porque os sujeitos partem de campos teóricos próprios que possibilitam percepções analíticas diversas. O intuito é trazer apontamentos acerca das comunidades quilombolas, discutindo-as a partir das tradições inventadas que, no contexto contemporâneo, têm suas singularidades e suas motivações.

    A estruturação desse estudo é focada na tematização do cenário quilombola e sua configuração como tradição inventada, assim como nos apontamentos decorrentes da imersão em campo e na interlocução com a literatura. Com isso, procuro trazer enunciados de análise que incitem novos interlocutores para a temática quilombola e para a tematização de práticas ainda marginais no contexto da educação física.

    Cenário quilombola e tradições inventadas

    As comunidades quilombolas são tradições inventadas. Conceitualmente, surgiram da necessidade de se pensar em políticas para populações marginalizadas por anos de exclusão social e destituição de direitos, no Brasil, a partir da herança afrodescendente e do contexto escravagista. Na prática, essas comunidades já existiam, embora não se reconhecessem como tal. Pelo menos é o que observam inúmeros quilombolas participantes de uma investigação realizada pelo Grupo de Pesquisa Corpo, Cultura e Ludicidade, do Departamento de Educação Física da universidade Estadual de Maringá, sob minha coordenação (LARA, 2012). Teriam sido agentes externos às comunidades que chegaram até elas para informar que eram quilombolas e que assumir essa designação seria algo vantajoso,

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