O ensino superior no Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza: Sujeitos, experiências e currículo (1969-1976)
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O ensino superior no Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza - Marcelo P. Broti
MARCELO P. BROTI
O Ensino Superior no Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza:
Sujeitos, Experiências e Currículo (1969-1976)
O ENSINO SUPERIOR NO CENTRO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA PAULA SOUZA: SUJEITOS, EXPERIÊNCIAS E CURRÍCULO (1969-1976)
Copyright Marcelo P. Broti
Copyright da presente edição
Editora Max Limonad
www.maxlimonad.com.br
ISBN: 978-85-7549-053-2
2014
Agradecimentos
A todos que contribuíram para a realização desse trabalho: Prof. Dr. Mauro Gonçalves Castilho e demais professores do programa de mestrado Educação: História, Política e Sociedade da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, aos profissionais do Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza, em especial a equipe do CGD: Tatiane S. Massucato Arias, Maria Ivete Morales Locatelli, Sandra Aparecida Miquelim, Nair da Silva e Juan B. Paz-Soldan Raad.
Abreviaturas
CGD – Centro de Gestão Documental
CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CAP – Currículo Prescrito
CAPRE – Comissão de Coordenação das Atividades de Processamento Eletrônico
CASES - Coordenação da Administração do Sistema de Ensino Superior
CEE – Conselho Estadual de Educação
CFE – Conselho Federal de Educação
CEET – Centro Estadual de Educação Tecnológica de São Paulo
CEETEPS – Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza
CETEC – Coordenadoria de Ensino Médio e Técnico
COBRASMA – Companhia Brasileira de Materiais Ferroviários S/A
EMBRAER – Empresa Brasileira de Aeronáutica S/A
Etec – Escola Técnica Estadual
FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
Fatec – Faculdade de Tecnologia
MIT - Massachusetts Institute of Technology
SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial
SESI – Serviço Social da Indústria
Siderbrás – Siderúrgica Brasileira Ltda.
UNESP – Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho
UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas
USP - Universidade de São Paulo
Introdução
Este trabalho de pesquisa tem como objetivo estudar a história de uma instituição que, desde o início da década de 1970, ocupa um papel relevante na trajetória do ensino técnico e tecnológico no Estado de São Paulo: o Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza (CEETEPS), tendo como foco as mudanças curriculares dentro de um determinado contexto histórico, a saber: 1969 a 1976. Nesse período foi criado o CEETEPS e seus primeiros cursos.
O complexo conhecido como Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza foi criado em 1969, como autarquia, com a publicação do Decreto-Lei de 6 de outubro. De acordo com o Decreto, seus objetivos eram oferecer cursos de nível médio, técnicos de nível médio e superior. Em 16 de janeiro de 1968, foi publicada no Diário Oficial do Estado de São Paulo a Resolução n. 2001, que constituiu um grupo de trabalho para estudar a viabilidade da implantação gradativa de uma rede de cursos superiores de tecnologia com duração de dois e três anos.
De início, a instituição ganhou a denominação Centro Estadual de Educação Tecnológica de São Paulo (CEET). O CEET, num primeiro momento, oferecia dois cursos de nível superior nas áreas da Construção Civil (nas modalidades Movimento de Terra e Pavimentação) e Mecânica (nas modalidades de Desenhista Projetista e Oficinas). Em 1973, o Decreto-lei 1418, incorporou ao CEET a Faculdade de Tecnologia de Sorocaba e renomeou a instituição com sua atual denominação.
A partir de agosto de 1980, iniciaram-se os contatos entre a Secretaria da Educação, Secretaria da Administração, Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho
(UNESP) e o Centro Paula Souza, visando a integração de seis escolas técnicas conveniadas às Prefeituras, ao Estado e à União. Localizavam-se em São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Campinas, Americana, Jundiaí e Mococa. Em 1989, o Centro cria mais duas Escolas Técnicas Estaduais, uma em São Paulo e a outra em Taquaritinga. No início da década de 1990, durante o governo Fleury Filho, foram transferidas ao Centro, pelo decreto n. 37.735, de 27 de outubro de 1993, oitenta e duas escolas técnicas do estado.
Desde 2006, o CEETEPS está vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo. A autarquia administra mais de duzentas Escolas Técnicas Estaduais (Etecs) e 50 Faculdades de Tecnologia (Fatecs) em 155 municípios paulistas.
Atualmente, além do ensino técnico, o CEETEPS oferece o ensino médio em três modalidades: integrado ao ensino técnico – em três anos e período integral; regular não integrado ao ensino técnico – em três anos e meio período; integrado ao técnico na modalidade de educação de jovens e adultos – Proeja.
Com o Plano de Expansão
, iniciado em 2008, a oferta de vagas do ensino médio e técnico nas escolas do CEETEPS aumentou consideravelmente. Em outubro de 2008, por exemplo, foram criadas cinco novas unidades: Etec de Artur Alvim - Município de São Paulo, Etec de Vila Formosa - Município de São Paulo, Etec de Votorantim - Município de Votorantim, Etec de Suzano - Município de Suzano, Etec de São José dos Campos - Município de São José dos Campos, Etec de Cajamar - Município de Cajamar e Etec de Piracicaba - Município de Piracicaba. No ano seguinte, no segundo semestre, salas ociosas, no período noturno, em algumas escolas da Secretaria de Estado da Educação, passaram a ser ocupadas com cursos ministrados pelo CEETEPS. Essas salas, chamadas de Classes descentralizadas
, foram parte integrante do Plano de Expansão 2
, realizado na forma de convênio com a Secretaria de Estado da Educação e prefeituras locais.
Em sua trajetória institucional, o CEETEPS passou (e ainda passa) por reformulações curriculares. Analisar currículo é entendê-lo como construção social. Para Goodson (1995) é necessário investigar suas fases pré-ativa e interativa. A primeira, envolve momentos de elaboração do currículo; a segunda, o que ocorre em sala de aula.
A fase pré-ativa revela momentos de conflito social e estabelece parâmetros para a fase interativa. Sem levar em consideração a fase pré-ativa, podemos aceitar como pressuposta as versões de um currículo que poderia ser entendido como resultado de um conflito. Logo, nesta categoria de análise, estudar o currículo pressupõe entender como eles são construídos e quem são os atores envolvidos neste processo:
se quiser entender o que acontece com os currículos nas escolas é preciso considerar o currículo na fase pré-ativa, isto é, no momento de sua prescrição (que envolve desde as determinações legais do sistema educacional até os programas de cursos que demarcam aquilo que deve ser ensinado) e também na fase interativa, que compreende aquilo que é realizado na escola, pelo trabalho dos professores e alunos (GOODSON, 1995, p. 67).
Apple (1982) cita que a escola pode ser usada para finalidades hegemônicas, através da transmissão de valores e tendências culturais e econômicas, aparentemente compartilhada
por todos. Logo, se devemos entender por que o conhecimento de apenas alguns foi primeiramente representado nas escolas, precisamos ver os interesses sociais que em geral orientaram a seleção e a organização do currículo
(APPLE, 1982, p. 97). Ainda segundo o autor, o controle social e econômico não ocorre nas escolas somente na forma de áreas de conhecimento que as escolas possuem, mas, o controle é exercido também através das formas de significados que a escola distribui, isto é, o
corpus formal do conhecimento escolar pode se tornar uma forma de controle social e econômico
(APPLE, 1982, p. 98).
Para Moreira e Silva (2002) o currículo não é um elemento inocente e neutro de transmissão de conhecimento. Ao contrário:
O currículo está implicado em relações de poder, o currículo transmite visões sociais e particulares e interessadas, o currículo produz identidades individuais e sociais particulares. O currículo não é um elemento transcendente e atemporal. Ele tem uma história, vinculada às formas específicas e contingentes de organização da sociedade e da educação (MOREIRA e SILVA, 2002, p. 8).
A pesquisa estudou as primeiras grades curriculares do CEETEPS, com o objetivo de analisar o modelo de ensino superior adotado pela instituição naquele momento histórico. Identificou, além disso, as experiências de alguns dos principais agentes históricos, com posição de influência na instituição, a partir do contexto sociocultural do período.
Para análise das fontes foram utilizados referenciais teóricos que consideram a atuação dos indivíduos como agentes históricos. Políticas públicas precisam de pessoas que ocupam posições para realizá-las. A partir da categoria experiência de E.P. Thompson, a pesquisa identificou nomes que tinham posição capaz de gerar efeitos históricos. Elencado nesta categoria de análise, Thompson considera que a estrutura é transmutada em processo e o sujeito reinserido na história, deixando de ser passivo ou alguém cuja consciência é determinada pela infraestrutura social.
Na visão thompsoniana a experiência é uma categoria indispensável ao trabalho do historiador, uma vez que compreende uma resposta mental ou emocional de um indivíduo ou grupo social a acontecimentos inter-relacionados. E mais: a experiência pode propor novas questões sobre a consciência, levando o sujeito a desenvolver exercícios intelectuais mais elaborados.
Thompson considera, ainda, a existência de dois tipos de experiência: a vivida e percebida. A primeira resulta de causas independentes da intencionalidade ou da consciência, como, por exemplo, uma catástrofe natural. A segunda