Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Motivação de voluntários
Motivação de voluntários
Motivação de voluntários
E-book265 páginas4 horas

Motivação de voluntários

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Segundo a ONU, existe mais de um bilhão de voluntários no planeta. Essas pessoas realizam uma vasta gama de atividades, em nível individual, local, nacional e até mundial, física ou virtualmente, de modo eventual ou permanente. Essas atividades têm em comum o benefício da sociedade e não têm como motivação principal recompensas financeiras. E esta é a principal inquietação do autor desta obra: entender por que as pessoas dedicam seu tempo e conhecimento a outras. E muitas vezes essa dedicação acontece sem remuneração monetária e frequentemente com custos emocionais, sociais e até financeiros. Tudo isso em uma sociedade altamente individualista. Assim, o objetivo maior deste livro é levar-nos a conhecer mais os motivos que conduzem os indivíduos a essa doação de tempo e conhecimento a trabalhos voluntários, por meio de um questionário que poderá ser utilizado pelos leitores. Uma leitura muito importante a todos os estudiosos da área e gestores de ONGs, pois, conhecendo melhor as motivações desses voluntários, é possível gerenciar um de seus maiores problemas: a rotatividade. Para os voluntários, contribuirá também com o autoconhecimento sobre sua escolha em voluntariar-se.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de jan. de 2016
ISBN9788547300678
Motivação de voluntários

Relacionado a Motivação de voluntários

Ebooks relacionados

Ciências Sociais para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Avaliações de Motivação de voluntários

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Motivação de voluntários - CARLOS EDUARDO CAVALCANTE

    Editora Appris Ltda.

    1ª Edição – Copyright© 2016 dos autores

    Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.

    Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.

    Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.

    Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS - ADMINISTRAÇÃO

    A Carlos, Jocerice, Cláudia e Cecília, pelo exemplo, paciência e sentido de viver.

    À Pastoral da Criança, pelo trabalho inspirador.

    APRESENTAÇÃO

    A motivação do trabalhador voluntário tem sido objeto de pesquisa em diversos estudos na área do Terceiro Setor, especialmente desde os anos 1980. Os trabalhos de Wilson (2000), Clary, Snyder e Ridge (1992), Clary e Snyder (1999), Bussell e Forbes (2002), Cnaan e Amrofell (1994), Cnaan, Handy e Wadsworth (1996), Penner (2002), no exterior, e os de Figueiredo (2005), Souza, Lima e Marques (2008), Sampaio (2006), Souza e Carvalho (2006), Piccoli (2009) e Vervloet (2009), em contexto brasileiro, são exemplos de esforços acadêmicos no sentido de entender os motivos que conduzem indivíduos a investir tempo e empenho nessa atividade.

    Esse período está relacionado ao crescimento de organizações solidárias e sociais. Estudos em diversos países reforçam essa interpretação. Bussel e Forbes (2002) destacam que os últimos 20 anos viram fundamental reavaliação da política social que resulta no surgimento de um novo papel para os grupos voluntários no Reino Unido. Para eles, o Welfare State e o desenvolvimento das comunidades agora dependem do envolvimento do setor associativo e voluntário.

    Salamon (1995; 1999) reforça essa constatação afirmando que a atenção que essas organizações têm recebido é em grande parte devido à crise do Estado em andamento desde o fim dos anos 1970, em praticamente todas as partes do mundo. Esse fenômeno é um sério questionamento às tradicionais políticas de bem-estar em grande parte do Norte desenvolvido, em decepções sobre o progresso de desenvolvimento liderado pelo Estado em partes significativas do Sul em desenvolvimento, no colapso do experimento do socialismo de Estado na América Central e Europa Oriental, e em preocupações sobre a degradação ambiental que continua a ameaçar a saúde e a segurança humana em todos os lugares. O questionamento do papel do Estado chamou a atenção para as organizações da sociedade civil que atuam em todo o mundo.

    Além disso, ou talvez, em consequência disso, motivados em parte por crescentes dúvidas sobre a capacidade do Estado para lidar sozinho com o bem-estar social, desenvolvimento e meio ambiente, problemas que enfrentam as nações atualmente, essas organizações estão crescendo em número e escala. Também têm contribuído com esse crescimento de organizações da sociedade civil a revolução das comunicações e a expansão impressionante da classe média educada que está frustrada com a falta de expressão política e econômica que os confrontou em muitos lugares (SALAMON, 1995; 1999).

    Montaño (2002) e Souza (2008) contribuem com essa percepção de que o crescimento é reflexo dos problemas enfrentados pela sociedade, especialmente, devido à crise de financiamento do Estado e ao simultâneo acirramento de relações de mercado. Em contexto caracterizado por desigualdades, precarização do trabalho, desemprego, dentre outros fenômenos, o desenvolvimento das organizações sociais destina-se à redução de mazelas criadas pelo sistema vigente. O aumento do número dessas organizações poderia ser justificado pelo custo com pessoal e pela estrutura mais flexível por elas apresentadas, o que conduziria a um melhor atendimento às necessidades dos cidadãos.

    Landim (2000) reforça essa hipótese quando diz que as ONGs começaram a proliferar no início dos anos 1990, reunindo o ativismo político à caridade religiosa. Um exemplo, citado por ela, é o caso da Campanha contra a Fome, criada por Herbert de Souza.

    Os dados a seguir demonstram empiricamente esse crescimento. Os últimos números divulgados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) mostram que em sete anos, de 1995 a 2002, o número de entidades que fazem trabalho voluntário apresentou um aumento de 71% passando de 190 mil para 326 mil (ONU, 2009).

    Outro trabalho, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em consórcio com o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife) e a Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong), apresenta 276 mil Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos (Fasfil) cadastradas e que 77% delas não possuem empregados assalariados (IBGE, 2009). Sobre esse estudo Landim (2005) comenta que o Brasil viveria uma espécie de "boom" do Terceiro Setor e que isso demonstraria maior mobilização da sociedade brasileira.

    Uma das peculiaridades dessas novas instituições é o tipo de vínculo que é estabelecido entre indivíduo e atividade. E esse tipo de organização pode ser formado por trabalhadores formais e por voluntários. É nesse momento que o estudo de trabalhadores voluntários começa a fazer sentido, pois há uma série de diferenças entre esses grupos de trabalhadores. Por exemplo, voluntários têm carga horária menor, entre quatro e seis horas semanais, e são menos influenciados pela cultura da organização da qual fazem parte. Voluntários não são motivados, nem sancionados, por mudanças salariais. As motivações são, portanto, as principais diferenças entre trabalhadores pagos e voluntários. Essas diferenças entre expectativas e experiências geram teorias e práticas de gestão específicas para entender a natureza da gestão do voluntariado (BRUDNEY; MEIJS, 2009; CNAAN; CASCIO, 1998; LIAO-TROTH, 2001).

    Nesse contexto, para Wilson (2000; 2008), a motivação tem importante papel nos estudos sobre o voluntariado. Para Musick e Wilson (2008) as motivações de um indivíduo podem ajudar a definir se a atividade que está sendo executada pode, ou não, ser considerada voluntária. Literatura no tema (MCCURLEY; LYNCH, 1998; MOSTYN, 1983; WILSON, 2000; HUNSTINX, 2010) indica que a motivação no trabalho voluntário é explicada por um conjunto particular de valores, dentre os quais, o altruísmo, o interesse individual em contribuir e a sociabilidade, além de razões religiosas e sentimentos de culpa, de obrigação ou de responsabilidade e até de egoísmo.

    Com a leitura dos parágrafos anteriores, você deve ter notado que existem diversos motivos para se filiar ao trabalho voluntário. E com frequência há uma combinação de altruísmo e egoísmo nas razões declaradas pelos voluntários para justificar as suas escolhas para se juntar a essa atividade. Essa mistura, para Martin (1994), Til (1994) e Yeung (2004), é a regra, e não a exceção, quando se concluem estudos acerca da motivação voluntária.

    Além dessa distinção de razões para se juntar a essa atividade, Wilson (2000) também sugere que sejam tomados alguns cuidados com o estudo do tema. Não se deve estudar várias instituições que fazem atividades distintas, mesmo que eminentemente voluntárias, pois podem ter naturezas distintas. Um grupo de bombeiros voluntários ou mesmo da defesa Civil não deve ser estudado sob o mesmo enfoque de uma escola que tenha no seu quadro de funcionários educadores voluntários. O problema é que o termo voluntariado abrange um vasto conjunto de atividades muito diferentes. Provavelmente não é frutífero tentar explicar todas as atividades com a mesma teoria, nem tratar todas as atividades como se fossem a mesma coisa e que teriam as mesmas consequências. 

    Diante desse contexto, a temática da motivação do trabalhador voluntário revela sua importância, mesmo que os estudos no tema ainda sejam considerados incipientes e que algumas lacunas ainda sejam motivo de debates.

    A partir desse pano de fundo, este livro aborda a motivação de voluntários em contexto nacional. Nele são apresentadas as etapas de criação de um instrumento de coleta de dados – um questionário – que possa diagnosticar as motivações de voluntários brasileiros, tomando como referência experiências de voluntários da Pastoral da Criança. Ao final apresenta um guia para a utilização desse instrumento.

    Antes de avançarmos, devemos fazer uma breve apresentação da instituição pesquisada. A Pastoral da Criança é uma instituição de base comunitária que tem seu trabalho baseado na solidariedade e na partilha do saber por meio de trabalho assistencial que se configura como política de interesse público não estatal. Atua em todo território nacional e tem como principal atividade o desenvolvimento da criança desde o nascimento até os 6 anos de idade. Conta com cerca de 267 mil voluntários e atende 1,9 milhão de crianças em 42.020 comunidades de 4.063 municípios. Pela vasta quantidade de voluntários e interesse na área de estudos do trabalho voluntário, a Pastoral da Criança foi escolhida para ser pesquisada.

    Esses números demonstram a relevância da organização na promoção do desenvolvimento infantil no país e no quantitativo de voluntários, ativos e permanentes, e, por isso, é ambiente privilegiado para o estudo de motivos relacionados à atividade voluntária. Landim (2000) reforça a escolha dessa instituição quando afirma que, no Brasil o principal motivador da ação voluntária é a religião, reforçada por laços pessoais. Assim, a Pastoral da Criança é uma organização que se enquadra nessas características e, inclusive, declara em sua missão que suas atividades estão fundamentadas na fé cristã.

    Além disso, as inquietações derivadas das interpretações e observações pessoais acerca do vínculo indivíduo x ONG, principalmente na satisfação dos objetivos de cada um deles, é também uma das motivações deste livro. Também a minha experiência com diversos trabalhos voluntários (alfabetização de adultos, distribuição de alimentos para moradores de rua e para animais, e atividades de apoio emocional) despertou o interesse em entender os motivos que levam as pessoas a doar seu tempo e conhecimento a um trabalho não remunerado financeiramente.

    Com a leitura deste livro espero também auxiliar no aprimoramento da gestão de pessoas em instituições que tenham voluntários em suas fileiras. Principalmente busco chegar a resultados que sejam relevantes para o melhor entendimento do comportamento organizacional em ações voluntárias e possível gerenciamento da rotatividade de seus voluntários. Este último item pode ser considerado um dos principais problemas nas ONGs com seus voluntários. Uma pesquisa reforça essa percepção: Cavalcante (2005), em contexto de pesquisa semelhante, com 13 ONGs da cidade de Natal/RN, concluiu, entre outras coisas, que cerca de 60% dos voluntários permanecem nas ONGs pesquisadas, por até dois anos, o que demonstra elevada rotatividade, conforme Gráfico 1.

    Gráfico 1 – Tempo de atuação na ONG

    Fonte: Cavalcante (2005, p. 56).

    Assim, para tratar de razões que conduzem o indivíduo a fazer parte de uma organização voluntária, este livro está estruturado em três partes. A primeira parte aborda as bases teóricas que deram suporte para a confecção deste livro. Ela traz os autores que tratam do conceito de Terceiro Setor, do trabalho voluntário e da motivação desses indivíduos. Nosso objetivo nessa parte é apresentar o que já existe publicado nessas áreas de estudo. É uma espécie de estado da arte, especialmente no que tange à motivação de voluntários.

    A segunda parte tem um caráter mais acadêmico e apresenta as etapas da criação do modelo teórico que foi testado e validado, seguido das características metodológicas do trabalho. Logo após descreve os resultados alcançados. Vocês poderão achar esta fase meio repetitiva. A questão é que validamos estatisticamente quatro modelos: expectativas, motivações para entrada, para permanência e para saída. Então apresentamos detalhadamente as etapas que garantiram o aceite destes modelos. Os capítulos demonstram, por meio de testes estatísticos, que o questionário que você encontrará no final deste livro tem validade científica e que, portanto, poderá ser usado como referência para tomar decisões relacionadas à motivação de voluntários.

    Já a terceira parte tem um enfoque mais aplicado e é composto pelas discussões dos resultados alcançados, da conclusão do estudo e de um guia para aplicação do questionário em uma instituição composta por voluntários. No final deste livro é apresentado um questionário para ser aplicado com os voluntários de uma organização. Essa parte permitirá ao leitor diagnosticar a motivação de voluntários.

    Prefácio

    Em 2002, dei início a um conjunto de estudos no âmbito do trabalho voluntário. A primeira pesquisa ocorreu por iniciativa de uma aluna do Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPGA/UFRN) interessada em explorar aspectos da racionalidade no trabalho voluntário. Convidado para orientar a pesquisa, após ter ela escolhido como espaço de investigação a Pastoral da Criança, iniciamos entrevistas com oito voluntários utilizando, como base teórica, a discussão weberiana de racionalidade instrumental e racionalidade substantiva. Partimos do pressuposto que os estudos em torno do comportamento organizacional, no âmbito das Ciências Humanas e Sociais, estão concentrados em atividades produtivas formais, ou seja, em atividades laborais que envolvem vínculo empregatício.

    Naquele momento, decidimos entrevistar trabalhadores voluntários da Pastoral da Criança pretendendo

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1