Sonetos de amor e desamor
De Vários e Sergio Faraco
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Sonetos de amor e desamor - Vários
Amor & desamor
Uma grande parte dos sonetos incluídos nesta edição foram garimpados criteriosamente pelo escritor Sergio Faraco, que os editou nos volumes Livro dos sonetos, Livro do corpo, Livro das cortesãs, Livro dos bichos, Livro dos desaforos, além do inédito Cinco séculos de amor. Também foram selecionados poemas de Espumas flutuantes de Castro Alves, Poesia de Florbela Espanca (vol. 1 e 2), Alceu Wamosy – poesia completa (Ed. Instituto Estadual do Livro do RS), Eu e outras poesias de Augusto dos Anjos, O delírio amoroso e outros poemas de Bocage, 200 sonetos de Camões, Antologia poética de Olavo Bilac. Com exceção da obra de Alceu Wamosy, todos os outros livros citados foram publicados pela L&PM Editores em suas várias divisões, como Série Ouro e L&PM POCKET.
Este pequeno volume reúne versos de grandes autores da língua portuguesa, que souberam, como poucos, celebrar o amor e chorar o desamor.
Ivan Pinheiro Machado
Amor é um fogo que arde sem se ver
Luís de Camões
Amor é um fogo que arde sem se ver;
é ferida que dói e não se sente;
é um contentamento descontente;
é dor que desatina sem doer;
é um não querer mais que bem querer;
é solitário andar por entre a gente;
é um não contentar-se de contente;
é cuidar que se ganha em se perder;
é um estar-se preso por vontade;
é servir a quem vence o vencedor;
é um ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode o seu favor
nos mortais corações conformidade,
sendo a si tão contrário o mesmo amor?
Lisboa, Portugal, 1524
Lisboa, Portugal, 1580
Versos íntimos
Augusto dos Anjos
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Pau d’Arco – 1901.
Cruz do Espírito Santo/PB, 1884
Leopoldina/MG, 1914
Amar
Florbela Espanca
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui... além...
mais este e aquele, o outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!
Recordar? Esquecer? Indiferente!
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disse que se pode amar alguém
durante a vida inteira é porque mente.
Há uma primavera em cada vida:
é preciso cantá-la assim florida,
pois se Deus nos deu voz foi pra cantar.
E se um dia hei de ser pó, cinza e nada
que seja a minha noite uma alvorada,
que me saiba perder...