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Uma Ponte Para A Felicidade
Uma Ponte Para A Felicidade
Uma Ponte Para A Felicidade
E-book418 páginas7 horas

Uma Ponte Para A Felicidade

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Sobre este e-book


Situado nas famosas colinas de São Francisco e nas montanhas Sierra sempre cobertas de neve, Uma Ponte Para A Felicidade (Califórnia, Golden State), é a dramática estória da vida de uma mulher, seus momentos idílicos, sua humanidade, seu amor e, finalmente, a estrada difícil que ela deve andar sozinha... a fim de descobrir a mulher forte que ela está destinada a se tornar.


March Randolph amadureceu nos tempos turbulentos do final dos anos 60. Ela vive a vida no cenário do rock de São Francisco quando conhece Mike Cantrell, um jovem com um grande sonho. Ela não tem ideia de como sua vida ia mudar e como o tempo vai mudá-la. Por mais de três décadas, ela e Mike ficam casados e constroem uma família e um negócio juntos, ajudando a tornar o snowboarding um esporte popular de inverno em todo o mundo, além de criarem quatro crianças fortes e independentes, sem nunca temer o futuro e sempre esperando que ele fosse tão dourado quanto o passado deles.

Num piscar de olhos, March sofre uma trágica mudança, que transforma toda sua vida que era perfeita, e testa os laços de amor com sua família muito além de qualquer definição de recuperação. March está presa no passado, incapaz de avançar, até que ela encontra a força e a vontade para seguir em frente, e o destino entra em cena quando ela encontra um estranho em uma montanha coberta de neve.
 

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento20 de jul. de 2019
ISBN9781547599646
Uma Ponte Para A Felicidade

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    Uma Ponte Para A Felicidade - Jill Barnett

    Os Romances de Jill Barnett

    Meu Cavaleiro Muito Especial 

    Maldade

    Selvagem

    Wonderful, Uma Ideia Maravilhosa

    Encantada

    Sonhadora

    Fantasia de Amor

    Arrebatadas Pelo Amor

    Apenas A Um Beijo De Distância

    The Herat’s Haven

    A Knight In Tarnished Armor

    Pelo Amor de Grace

    Daniel e o Anjo

    O Herói de Eleanor

    Minha Moeda da Sorte

    Uma Jornada Sentimental

    The Days of Summer

    Uma Ponte Para A Felicidade (Califórnia, Golden State)

    ––––––––

    www.jillbarnettbooks.com

    Uma Ponte Para A Felicidade

    (Califórnia, Golden State)

    por

    Jill Barnett

    ––––––––

    Jill Barnett Books

    Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes são produtos da imaginação do autor ou são usados ficticiamente. Qualquer semelhança com pessoas reais (vivas ou mortas), estabelecimentos comerciais, eventos ou localidades é total e simplesmente uma coincidência.

    Jill Barnett Books

    ––––––––

    ISBN: 978-1-948053-61-7

    Copyright © 2011 por Jill Barnett

    Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida de qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico ou mecânico, incluindo sistemas de armazenamento e recuperação de informações, sem permissão por escrito do editor, exceto por um revisor, que pode citar passagens breves em uma revisão.

    wwww.JillBarnettBooks.com

    Desenho da Capa: Dar Albert

    March não somos nós, nem as experiências dela são nossas. Esta estória é uma ficção. Mas nós conhecemos o mundo dela, porque nós viajamos pelo mesmo tipo de estradas estranhas e confusas, porque tivemos que superar o nosso passado para encontrar um futuro, por causa disso, e por muito mais, Uma Ponte Para A Felicidade (Califórnia, Golden State) é para Jane, Meryl, Cathy, JJ, Deb, Betina e para mim.

    O que é isso realmente? Não importa as convenções e as decisões que tomamos juntos. Qual é realmente a verdade?

    —Mike Nichols,

    no programa de TV Inside the Actor’s Studio

    PARTE UM

    São Francisco é uma cidade louca — habitada em grande parte por pessoas completamente loucas cujas mulheres são de uma beleza notável.

    Rudyard Kipling

    Capítulo Um

    O MÊS DE MARÇO é uma época de leões e cordeiros, e na Califórnia, alguns dizem que é o tempo das plantas mostardas (1) desabrocharem, mais até do que o trevo de quatro folhas. Certamente elas são mais resistentes. Não importa o tempo ou as aberrações da natureza: neve e gelo, incêndios, secas ou chuvas torrenciais que levam casas a desmoronar nas encostas, apesar de tudo o que a Mãe Natureza pode derrubar dos céus, a cada primavera a planta mostarda sempre cresce.

    March Randolph Cantrell recebeu esse nome por causa da época do ano em que veio ao mundo e viveu toda a sua vida na Califórnia. As pessoas nascidas na Califórnia são seres que podem reconhecer instintivamente a cor e a quietude de um terremoto e nunca estão divididas por essa latitude/atitude invisível que separa o norte do sul; elas entendem a geografia humana, pois são pessoas cujo primeiro sopro de ar foi em uma terra de corridas de ouro, encostas de ouro e pontes de ouro.

    Um nativo pode ficar parado na areia admirando onde o maior e mais azul e profundo oceano do mundo toca a terra, mas ele sabe que tem mais tubarões famintos atrás dele do que na frente.

    Ter nascido na Califórnia era apenas uma das muitas coisas que definia March: mulher, filha, artista, esposa, mãe, amiga, empresária, agora avó, um título que parecia decrépito para um baby boomer (2) que ainda usava calcinhas biquíni e gostava de ouvir rock.

    Crescendo na Costa Oeste nos anos 50 e 60, March e sua irmã May eram conhecidas como as garotas Randolph com nomes estranhos. Mas em Connecticut, onde a família Randolph tinha suas raízes, nomes como March e May eram apenas mais um nome, tão apropriados quanto Birch ou Rebecca, e nada incomum para garotas com uma tia-avó chamada Hester (3), que tinha dito durante umas férias em família, a Califórnia é um ótimo lugar para morar se você for uma laranja.

    Num dia azul brilhante quando March tinha oito anos, alguém denominou as meninas Randolph como nativas da Califórnia. Então, com as penas de pavão de sua mãe fincadas em seu rabo de cavalo, March estava parada em frente ao espelho do armário de remédios pintando o rosto com tinta azul e branca.

    Durante aquelas poucas semanas de um escaldante e soturno agosto, ela corria com um machado Cochise (4) enfiado na cintura de seu short de algodão, falando com todo mundo em um péssimo dialeto de índia, que tinha ouvido em um antigo filme western.

    À noite, sempre quietas e silenciosas, as garotas Randolph ficavam na cama pensando em suas paixões secretas e seus sonhos de vida adulta. Sua irmã May era apaixonada por Tab Hunter (5) e James Dean (6). March sonhava em se apaixonar por alguém como Cochise, um homem nobre com um grande sonho. Era 1958. Dez anos depois, ela conheceu esse homem.

    ––––––––

    UM ANO APÓS o verão do amor, São Francisco em 1968 estava cheia de jovens sonhadores que rapidamente tinham se desiludido. O doce legado de Haight (7) de repente transformou-se em ódio. Todas as noites, as notícias sobre o Vietnã eram ruins demais para serem vistas e importantes demais para serem perdidas. Em um mesmo ano, Martin Luther King Jr. (8) e Bobby Kennedy (9) tinham sido assassinados. A conversa na cafeteria e a imprensa independente ligada à contracultura (10) compararam esses eventos aos períodos anarquistas da história. Os discípulos das esquinas da cidade protestavam contra as instituições, sacudindo os punhos enquanto clamavam pela injustiça dos homens mortos aqui e no exterior.

    Em casa, onde devia ser seguro, alguém estava assassinando os heróis do país. A maioria das pessoas carregava em seus ossos um medo silencioso e sombrio, e a juventude da cidade procurava qualquer coisa disponível para se afastar de um mundo distante de controle, que eles tinham que combater.

    O pai de March estava a apenas uma geração de distância, mas tinha um continente de distância com as suas idéias. Ele ensinava matemática e geografia, era lógico, conservador, um gênio. Sua mãe era uma dona de casa que costurava, jogava bridge, tocava órgão na igreja e sempre servia o jantar às seis horas. March foi criada para ser alguém padronizada e convencional, a cavilha (11) redonda perfeita para caber no buraco perfeitamente redondo.

    Sua irmã cabia precisa e perfeitamente nos moldes de Randolph. Ela usava meias e sapatos brancos. May foi a filha que foi estudar em Smith (12) e escolhida como uma das mais belas universitárias da revista Glamour, usando saia xadrez e suéter de cashmere, com o cabelo cortado em ângulos precisos e o sorriso tão perfeito quanto as teclas de um piano, mesmo sem nunca ter usado aparelho.

    March, no entanto, andava descalça ou com sandálias. Ela regularmente se esquecia de usar o aparelho nos dentes e o perdeu diversas vezes, o suficiente para ter que fazer novos, pelo menos umas três vezes por ano. Logo após a formatura, ela saiu da casa de seus pais e foi morar sozinha perto de Haight em um quarto que ficava no sótão de uma casa em estilo vitoriano. Ela trabalhava meio expediente na cafeteria de uma livraria e frequentava o Instituto de Artes, onde o pensamento era livre, ninguém tinha dinheiro e onde aquelas tradições da Costa Leste, que sua irmã May escrevia para casa, não cabiam em nenhum lugar.

    Os artistas de São Francisco trabalhavam com cores fortes, que explodiam na sua cara, que você não podia ignorar, que definiam o lugar e a hora. No Instituto, entre tantos indivíduos peculiares, March não precisava ser exatamente como sua família.

    Um de seus amigos da aula de arte criou cartazes psicodélicos anunciando apresentações das bandas de rock locais nos salões do Fillmore (13) e do Avalon (14). Outro fazia designs de roupas em veludo, rendas e couro, suéteres com franjas e tops de contas para uma butique badalada frequentada pelos cantores de rock locais. Alguns dos pôsteres chegaram até March por meio de uma amiga e, por causa deles, ela logo se tornou parte da cena musical de São Francisco na maioria dos fins de semana.

    Estava escuro dentro do Fillmore naquela noite em meados de junho, um daqueles momentos entre duas apresentações. O local estava lotado, com três vezes mais pessoas do que a prefeitura permitia, porque Joplin (15) e Santana (16) iam se apresentar. O cheiro enjoativo e doce do haxixe flutuava acima da multidão, e cigarros rudemente enrolados eram passados ​​de mão em mão, brilhando como vaga-lumes vermelhos através de pequenos e compactos grupos.

    Quando uma de suas amigas a arrastou pela multidão, ela avistou um estranho a alguns metros de distância, de pé sozinho, usando jaqueta, jeans desbotados e sandálias. Seu cabelo era escuro e ia quase até seus ombros. Seu perfil era nobre, mesmo com a pouca luz. Sua barba preta bem cortada não escondia sua aparência intensa, o tipo de cara que as garotas notavam, mas apenas as mais corajosas ou mais tolas se aproximavam. Em poucos segundos, a música recomeçou, e ela o perdeu de vista quando ele foi engolido por uma enxurrada de pessoas um pouco drogadas, indo para perto do palco.

    À meia-noite, o show de luzes do Fillmore surgiu por de trás da banda nos tons das cores vibrantes do poster, pulsando com a voz irregular de Janis cantando um spiritual (17) transformado em hard rock pelo Big Brother and the Holding Company (18). Perto da borda do palco, March dançava descalça, com as sandálias escondidas nos bolsos do vestido de veludo, os braços erguidos no ar com diversas e diferentes pulseiras nos braços.

    A liberdade pairava nas notas da música e nas palavras das canções; não se tinha mais nada a perder, algo que parecia cada vez mais verdadeiro ultimamente. Seu cabelo solto e sem cortes pendia livremente, e sob o pesado vestido de veludo ela não usava nada — livre após ter sido mantida em cativeiro por ligas elásticas e pelos Kotex (19). Até mesmo as maçãs expostas em um prato de cobre no palco do Fillmore estavam livres para serem levadas, apesar de muitas vezes estarem misturadas com algo para deixar seu humor ainda mais livre.

    Quando ela olhou para cima, ele estava em pé na frente dela, e a olhava como se eles se conhecessem desde sempre. Mas ela continuou dançando, e cantando a música. O que você quer?

    Você.

    Seus olhos não eram de um drogado, estavam límpidos, seus modos muito confiantes e muito convencido para ela. Ele a pegou desprevenida, e ela não sabia como reagir, então balançou a cabeça e se virou de costas para ele, sentindo-se surpreendentemente calma ao fazê-lo.

    Mais cedo, no salão cheio de pessoas, ela tinha olhado para ele e sentido algo que ela não sabia nomear, seguido por uma estranha sensação de pesar quando ele se misturou à multidão. Ela tinha pensado nisso um pouco mais tarde e dito a si mesma que esse momento tinha sido bobo e tipo Hollywood, o tipo de momento que pedia música de elevador tocando ao fundo.

    Um segundo ou dois se passaram antes que ela sentisse sua respiração perto dela, e o calor de seu corpo quando ele se aproximou. Os rapazes davam em cima das garotas o tempo todo. Três, quatro ou mais vezes por noite alguém vinha atrás dela. Mas desistiam facilmente quando ela sempre hesitava em dizer sim. Você não podia andar dois quarteirões sem ver uma placa dizendo Faça Amor, Não Faça a Guerra. O amor era tão livre quanto pensado, tão livre quanto um discurso e tão livre quanto à maioria das garotas de hoje em dia.

    Mas ele não tinha ido paquerar outra garota que lhe daria o que ele queria. Ele ficou ao lado dela, mas sem tocá-la, uma coisa boa, já que ela achava que seu toque poderia incinerá-la bem ali mesmo.

    A música parou com uma nota final alta. Naquele primeiro instante de silêncio, ele se inclinou e disse em seu ouvido: Você é uma fraude.

    Ela o encarou. O que?

    Eu vejo uma menina descalça, dançando sozinha, vestida de veludo, e com fitas no cabelo. Se eu fico perto o suficiente, quando ela se move, suas jóias soam como pandeiros. Ele tocou o colar que ela usava. Diga-me que são gotas de amor.

    Ela recuou e puxou o colar. Eu te conheço?

    Não. Mas estou tentando consertar esse erro.

    Quem é você? ela perguntou.

    Você não respondeu a minha pergunta.

    Você me chamou de fraude. Vamos continuar estranhos um para o outro por enquanto e tentar resolver isso.

    Ele encolheu os ombros. Você está me desapontando, Sunshine.

    March. Meu nome é March.

    É diferente. Ele parecia surpreso. Eu gosto do nome March.

    Minha mãe vai ficar emocionada.

    Que bom. Você pode me levar para sua casa para conhecê-la. Mães me amam. A minha pode falar sobre mim durante horas.

    Eu não moro na casa dos meus pais.

    Melhor ainda. Onde você mora?

    Eu não vou lhe dizer onde eu moro. Então ela riu. Eu nem sei o seu nome.

    Eu sou Michael Cantrell. Não me decepcione, Sunshine (20).

    Sunshine? A verdade é que gostava que ele a chamasse de Sunshine; parecia que borboletas voavam a sua volta. Mas por autoproteção, ela ignorou isso. Ok, Michael. Olha, você não me conhece, então como posso desapontá-lo?

    Ele não respondeu imediatamente, mas a estudou pensativamente, parecendo que estava tentando encontrar as palavras certas.

    Ela sabia que estava lhe dando um momento difícil, e teve medo de que a palavra que ele diria a seguir seria adeus. Ele podia facilmente se virar e ir embora, quando na verdade essa era a última coisa que ela queria que ele fizesse.

    Você me parece o tipo de garota que escolhe andar na chuva. Que fica parada no quebra-mar, com os braços abertos e rindo, enquanto uma tempestade se aproxima. Uma garota que canta mesmo quando não há música tocando. E recita poesia. Que gosta de comer ostras e beber Ouzo (21). Uma garota rara que pode pular facilmente de um avião ou em meus braços. Alguém que vai me amar tanto e por tanto tempo que eu não vou conseguir me levantar de manhã.

    Demorou um minuto para suas palavras serem absorvidas. Suas palavras? Oh... suas palavras. Tão diferente do que ela esperava. Ela sempre pensava com um sentido visual, a artista dentro dela, acreditando que a vida era mais poderosa se falada através dos olhos. Através da visão, a vida tinha volume e profundidade, cor e impressão. As coisas que você via, você sempre podia se lembrar em cores.

    Mas suas palavras foram ditas com mais sentimento do que qualquer primeira impressão visual que ela pudesse pintar em sua mente. Ela entendeu claramente naquele momento a cor das palavras.

    O que ele disse a ela foi muito diferente de qualquer coisa que alguém já tinha lhe dito. Até aquele momento, parada na frente desse cara, ela nunca teria acreditado que um minuto de conversa pudesse afetá-la tão completamente.

    Ela ouviu a voz dele novamente em sua cabeça dizendo aquelas coisas sobre ela. É quem ela era? Um espírito livre. Ou era quem ela queria ser?

    Esse estranho que estava diante dela, de repente, era algo completamente diferente, e ele a observava como se a reação dela fosse a coisa mais importante de sua vida. Ele estava perfeitamente sério, esperando e um pouco nervoso. A maneira como ele a olhava fazia com que ela se sentisse totalmente exposta; vulnerável, como se ele pudesse ver seu passado e seu futuro; e sexualmente excitada, nua e fora de controle.

    A música começou de novo, alta e vibrante, e a multidão se aproximou. Ela se afastou o máximo que pôde e sentiu a ponta do palco contra seu ombro. Ainda assim, apenas alguns centímetros a separavam dele — eles respiravam o ar um do outro — como um balão de hélio ela sentiu que precisava estar ancorada na terra. A poesia do que ele acabara de dizer a ela, as imagens que ele criara, sua honestidade, tudo merecia mais do que seus habituais comentários irreverentes.

    Com certeza esse era um daqueles momentos inspiradores em sua vida quando uma nova porta se abria. Ela podia escolher passar por ela ou através dela. Ainda tinha o suficiente da boa moça nela para fazê-la parar. Sua irmã May não entenderia e certamente correria na outra direção. Seus amigos iam ver várias possibilidades. Mas alguém mais realmente importava?

    Em uma multidão de quase mil pessoas, naquele momento único, tinha apenas os dois. Michael Cantrell estava parado na frente dela, pedindo-lhe para amá-lo. Então, sem uma palavra, ela pegou a mão dele e saiu.

    (1)Planta Mostarda – plantas cujas sementes são utilizadas como especiaria e que, após moídas e misturadas com água, vinagre ou outros líquidos, se transformam no condimento conhecido como mostarda. 

    (2) Baby Boomer - pessoa nascida entre 1946 e 1964 na Europa, Estados Unidos, Canadá ou Austrália. Depois da Segunda Guerra Mundial estes países experimentaram um súbito aumento de natalidade, que ficou conhecido como baby boom.

    (3) Hester - é um nome que significa estrela. Uma forma latinizada de Ester; uma jovem hebreia que se casou com o rei persa Xerxes e arriscou sua vida para salvar seu povo.

    (4) Cochise - foi um chefe Apache da tribo Chiricahua. Chefiou seus homens na guerra contra os americanos e os mexicanos, iniciada em 1861.

    (5) Tab Hunter – ator e cantor americano, muito famoso entre as adolescentes nos anos 50.

    (6) James Dean – ator americano, lembrado como ícone cultural da desilusão adolescente e do distanciamento social, conforme expresso no título de seu filme mais célebre, Rebel Without a Cause (Rebelde Sem Causa) – que no Brasil recebeu o título de Juventude Transviada – no qual estrelou como o adolescente problemático Jim Stark.

    (7) Haight - é um distrito da cidade de São Francisco, na Califórnia, localizado em torno da esquina das ruas Haight e Ashbury, famoso por seu papel como centro difusor do movimento hippie na década de 1960 nos Estados Unidos.

    (8) Martin Luther King Jr - foi um pastor protestante e ativista político americano que se tornou um dos mais importantes líderes do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, e no mundo, com uma campanha de não violência e de amor ao próximo. Foi assassinado em Memphis, Tennessee, dia 4 de abril de 1968.

    (9) Bobby Kennedy - Robert Francis Kennedy foi procurador-geral dos Estados Unidos de 1961 até 1964 tendo sido um dos primeiros a combater a Máfia. Foi Senador por Nova Iorque de 1965 até seu assassinato no dia 6 de junho de 1968. Ele foi um dos dois irmãos mais novos do 35º presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy.

    (10) Contracultura - é um movimento que teve seu auge na década de 1960, quando teve lugar um estilo de mobilização e contestação social, utilizando novos meios de comunicação em massa, ganhando espaço no sentido de lançar rótulos ou modismos.

    (11) Cavilha - é uma pequena peça cilíndrica, normalmente de madeira, plástico ou metal. É usada em inúmeras aplicações, sobretudo como suporte e elemento que confere resistência mecânica em uniões de peças de madeira ou metal.

    (12) Smith College é uma faculdade privada de artes liberais para mulheres, localizada em Northampton, Massachusetts. Em 2009, a revista Forbes classificou-a como a 31.° em sua lista das melhores faculdades norte-americanas.

    (13) The Fillmore Auditorium é uma histórica casa de shows em São Francisco, Califórnia. Recebeu esse nome por estar localizada nas esquinas da Fillmore Street e Geary Boulevard. 

    (14) O salão de baile de Avalon era uma casa de shows no bairro de Polk Gulch. O espaço existiu de 1966 a 1969, no auge do movimento da contracultura.

    (15) Janis Joplin - foi uma cantora e compositora americana, considerada a "Rainha do Rock and Roll","a maior cantora de rock dos anos 1960 e a maior cantora de blues e soul da sua geração." Faleceu por overdose de heroína em 1970.

    (16) Santana - banda americana, formada por um número variável de músicos que acompanham o guitarrista e compositor mexicano Carlos Santana desde o fim da década de 1960. Como o próprio Santana, a banda é conhecida por ter ajudado a difundir o latin rock por todo o mundo.

    (17) Spiritual - é um gênero musical inicialmente interpretado por escravos negros americanos. Eles faziam uso de movimentos rítmicos do corpo e batiam palmas como acompanhamento da música.

    (18) Big Brother and the Holding Company é uma banda de rock americana formada em São Francisco, em 1965, como parte da cena psicodélica que também originou as bandas Grateful Dead, Quicksilver Messenger Service e Jefferson Airplane.

    (19) Kotex - uma correia elástica usada para prender absorventes no lugar antes da invenção dos absorventes autoadesivos que foram inventados nos anos de 1970.

    (20) Sunshine – luz do sol.

    (21) Ouzo - originário da Grécia, é um licor a base de anis produzido a partir da fermentação da casca de uva e de graduação alcoólica alta. Ervas e especiarias são adicionadas a mistura para melhorar o sabor, e cada fabricante mantém sua receita como um segredo bem guardado.

    Capítulo Dois

    DURANTE OS SEIS MESES que se seguiram àquela noite no Fillmore, Mike Cantrell manteve para March uma parte secreta de si mesmo. Alguns dias mais do que outros, era mais fácil acreditar que era o momento certo para contar a ela, mas esse momento nunca chegou. Ele disse a si mesmo que ela estava preocupada em pagar o aluguel quando foi dispensada da livraria; ou estava preocupada com um projeto difícil para o exame final; ou porque um amigo não conseguia encontrar sua musa sem se drogar. Ela tinha muitas preocupações em sua vida.

    E naqueles momentos em que eles estavam se divertindo — atualmente diversas vezes — ele pensava, por que estragar tudo? Outras vezes, em sua cabeça, ele não conseguia encontrar as palavras certas que pudesse dizer em voz alta. Engraçado era que ele encontrava as palavras para se justificar. E podia encontrar palavras para pedir desculpas.

    Esconder uma paixão enquanto outra o consumia não era uma existência fácil; era como uma vida entre dois mundos. A vida dele era ótima com ela. Tão incrível que ele sentia vontade de ir até uma montanha e gritar. Maravilhoso! Perfeito!

    Mas a verdade era que March estava se tornando rapidamente a melhor parte dele. No entanto, ela não conhecia a maior parte de quem ele era. Ela não conhecia seu sonho. Algumas feridas corriam mais profundamente do que o amor e a confiança que se misturavam em sua cabeça quando ele tentava acreditar nisso. Ele acreditava que as famílias podiam de uma maneira simples e inconsciente, cortar as feridas mais profundas uns dos outros.

    Don Cantrell, seu pai, era um importante executivo da Spreckles, a grande empresa açucareira, um homem de sucesso, mas um homem de poucas palavras e muitas expectativas. Mike e seu irmão mais velho, Brad, tinham crescido em uma mesa de jantar tendo apenas a mãe na maioria das noites. Exceto domingos. A única noite em que seu pai se sentava na cabeceira da mesa cercado pela porcelana fina e dominada por um assado, presunto defumado ou perna de cordeiro, uma faca em uma das mãos enquanto tentava e não conseguia ter algum tipo de relacionamento com seus filhos durante uma refeição estranha e muito formal. Ser pai foi o único ato, na vida de Don Cantrell, onde ele falhou.

    O sucesso de seu pai era uma questão de orgulho impulsionado por um gene inato e faminto que lutava contra as poucas células que seu pai herdara e que eram gentis e compreensivas. Ele era um homem feito por si mesmo, filho de um agricultor, neto de um imigrante suíço que se mudou para a América perto da virada do século para salvar seus filhos de serem recrutados para a guerra.

    No ano anterior, Brad tinha rasgado seu cartão de recrutamento, tinha colado os pedaços rasgados na porta da geladeira e agora estava em algum lugar no Canadá, um assunto tratado em sussurros pela família e amigos e qualquer um que soubesse a verdade sobre seu irmão mais velho. O fato de seus ancestrais terem vindo para os Estados Unidos para escapar do recrutamento era quase tão irônico para Mike quanto à ideia de que seu pai trabalhava para uma empresa que produzia açúcar.

    Desde o dia em que Brad fugiu tudo o que Don Cantrell esperava de ambos os seus filhos caiu nos ombros de Mike. Em um momento de idealismo tolo, Mike cometera o erro de contar a seu pai sobre sua grande ideia e o que ele queria fazer com seu futuro.

    Seu pai riu até perceber que Mike estava falando sério. Don disse que ele era um bobo que precisava crescer e parar de pensar que a vida era apenas diversão, jogos e coisas que não eram importantes. O que Mike precisava era raciocinar, ser homem, encontrar algo que ele pudesse fazer para ganhar uma vida honesta para si mesmo e para uma família, isso... se ele escolhesse se tornar responsável o suficiente para pensar em alguém que não ele mesmo.

    Como o homem mais importante da vida de Mike chamava-o de fracassado, Mike achava que todos os outros também iam acreditar que ele era. Ele foi para a faculdade uma vez que era isso o que o mundo esperava dele, e ele não queria levar seu traseiro para Da Nang (22) tanto quanto qualquer outro jovem.

    Mas um de seus amigos costumava brincar que se tivessem seis metros de neve na selva, Mike teria assinado os papéis de alistamento e feito o juramento. A piada era muito próxima da verdade. Mike era capaz de rastejar pela selva, pelo deserto, para chegar à montanha perfeita, para encontrar as condições perfeitas, para experimentar a neve perfeita.

    Por quase uma semana seguiu nevando nas Sierras (23), um sinal de que era hora de testar March, ou a ele mesmo, ou o porquê eles estavam juntos, então com alguma medida de esperança e falsa coragem ele entrou em seu quarto às cinco e meia da manhã. Era sábado de manhã, ele deitou na cama, deu um tapa na bunda mais bonita que ele já tinha visto e disse: Arrume algumas roupas quentes. Eu vou te levar para as montanhas.

    Eles saíram voando pela estrada, mas chegaram a Tahoe Basin (24) quando a neve já tinha parado e manchas azuis cresciam em uma enorme tigela formada pelo céu da Sierra, o lago brilhando como prata como o minério extraído por todos aqueles barões do século passado. Mike saiu da estrada principal circulando o lago e logo estacionou seu velho carro perto de uma pequena área de esqui em North Shore.

    March se virou. O que está acontecendo? Você me disse para não trazer meus esquis. Ugh Eu odeio alugar.

    Nós não vamos esquiar.

    Eu odeio surpresas tanto quanto odeio alugar equipamentos.

    Não, não é verdade. O que você odeia é não saber qual é a surpresa.

    Eu devo estar fazendo algo errado nesse relacionamento, porque você me entende. Eu devia ser a mulher misteriosa, capaz de te deixar chocado. Ser um enigma. Para mantê-lo constantemente preso a mim. Um verdadeiro paradoxo. Eu quero que você olhe para mim e veja vinho fino, um uísque de cem anos de idade. Suave e inesperado. Ela franziu o cenho para ele. Em vez disso, me tornei chata. Como leite.

    Eu gosto de leite, e você nunca será chata. Vamos lá.

    Ele puxou a engrenagem da parte de trás da carroça, pendurou a bolsa no ombro e carregou o resto. Ela pegou uma mochila de lona dele, então entrelaçou seus dedos frios com os dele e se arrastou ao seu lado.

    No completo silêncio da neve recém caída, o tecido liso de sua roupa de inverno se esfregou na roupa dela e fez um som de arranhão. O ar estava frio e tinha gosto de pureza. Mike estava quieto, um milhão de coisas passando por sua cabeça e todas elas centradas no fato de que agora era tarde demais para voltar.

    Depois de alguns minutos, ela disse: É melhor que seja bom.

    Você está quente o suficiente?

    Depende de para que. Eu não sei se estou quente até ver para onde você está me levando.

    É uma surpresa, era tudo o que ia sair dele. Ele a levou para o prédio de manutenção — uma enorme garagem metálica, onde a neve já tinha revestido as paredes. De trás veio o som de um motor de limpa-neve, e o motor engasgou, tossiu e parou.

    Assim que o motor morreu Rob Cantrell pulou no gelo macio. Ele tirou a máscara de esqui, o que fez seu cabelo preto ir para todas as direções, e caminhou até eles, colete de esqui aberto sobre uma camisa de flanela, bota de couro com um gorro vermelho pendurado em sua cintura. Mike! Ei, primo. Você conseguiu. Ótimo.

    Rob. Esta é March.

    Rob olhou para March rapidamente e disse: Eu acho que estou apaixonado.

    Ela riu e Mike deu-lhe um soco no braço. Sai fora. Eu a vi primeiro.

    Você sempre foi um sortudo. Embora eu te diga uma coisa, March. Ele é a ovelha negra da família.

    Verdade? March enfiou o braço no dele de um jeito que dizia tudo que Mike não precisava dizer. A ovelha negra da família? Fico feliz em ouvir isso. Eu odiaria pensar que arruinei uma boa ovelha.

    Uma coisa sobre March, não era fácil alguém confundi-la. Ela raramente perdia uma batalha de palavras, raramente perdia qualquer batalha.

    Eu gosto dela, Rob disse, se recuperando bem após um primeiro encontro com March Randolph. E eu acho que estava errado. O irmão mais velho dele, Brad, foi quem ganhou a distinção de ovelha negra. Alguma notícia do desertor da família?

    "A última coisa que ouvi sobre ele, é que estava pedindo carona na British Columbia (25). Mas isso foi há alguns meses

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