Denso: Pequenas narrativas hostis

De Francisco Martins Rameiro Júnior

Estranho, profundo, triste, cativante, de uma escrita rebuscada e mórbida o autor nos envolve de tal forma em suas crônicas e poemas, que nos vemos imersos em suas narrativas, tendo a real impressão de estarmos envoltos pela poesia de Augusto dos Anjos, por conta do tal o nível de profundidade e morbidez de sua escrita.
Em cada narrativa expõe as realidades, misturando-se, às vezes, como personagem; outras, como narrador, mostrando-nos, nos relacionamentos interpessoais, com a sociedade e/ou consigo mesmo, a verdadeira face do ser humano e suas diversas características seja na sensualidade de alguns poemas, nos sofrimentos psicológicos e/ou físicos de suas personagens, escancarando-as sem subterfúgios e sem pudor como realmente se comportam no dia a dia.
As paisagens e personagens descritas estão sempre envoltas de dualidades entre suas vontades e as realidades impostas, entre sonhos e possibilidades, entre o que vivem de verdade e os desejos de melhoria material, social, psicológico. O autor usa, muitas vezes, de ocorrências comuns da sociedade (velórios, festas, encontros...), mostrando o que se passa nas mentes de cada personagem, escancarando a forma vil, estabelecendo críticas sarcásticas e a maioria de forma mordaz de nossa sociedade carente de melhores valores e que tenta, a qualquer custo, demonstrar polidez, por falsa que possa parecer, escondendo suas reais intenções.

• Idioma: Português
• Editora: Viseu
• Data de lançamento: 1 de ago. de 2019
• ISBN: 9788530008031

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resto.

Apresentação

Não sou uma poetisa como o amigo que tenho orgulho de prefaciar. Sou leitora, de muitos anos, da poesia cantada, provavelmente o que me habilitou a estar aqui.

O olhar do autor, que vejo desde sempre sagaz e curioso, lhe revelou a alquimia que é lidar com as ideias. Hoje é gratificante ver a materialização do que eram os pensamentos que estavam escondidos atrás daqueles olhos contemplativos.

Essa é uma daquelas obras em que se encontra o diálogo certeiro entre o realismo cru dos personagens e os seus atos frente à insensibilidade das ocorrências inadvertidas que acometem a mim, a você e aos outros. O prazer e a melancolia, concebidos em um humor refinado, apresentam o domínio de quem reconhece suas emoções mais profundas e sabe quais são seus reais desejos e desafios.

Quanto ao livro, dizem alguns que o ser humano só consegue o despertar artístico diante do choque. Discordo. O choque é apenas um chamariz. Ele que atrai a atenção para o que ocorre dentro das linhas de um artista. A primeira impressão é a de que a beleza estaria na poesia dramática; mas águas calmas revelam ao olhar mais cuidadoso um turbilhão de sentimentos profundos.

Daí vem as personagens, tão complexas a ponto de se fazer reconhecer aquele vizinho, o seu melhor amigo, ou até mesmo o homem comum que foi manchete no jornal do meio-dia. A fluidez e o ritmo fecham as narrativas com aquele sentimento que só os mestres alquimistas das palavras podem proporcionar: deixam espaço para que o leitor complemente seus contos.

Mais que prender atenção a presente obra consegue desprender a imaginação do leitor.

O livro nos presenteia com o amor pelos jogos de ideias, com o cruzamento nunca aleatório das palavras, com a construção de uma narrativa curta que se transforma em uma cena pintada com tinta nanquim.

São experiências vividas, ou não; estórias que só se realizariam na mente de um pensador, gestadas por um sonhador e, finalmente, organizadas pelas mãos hábeis de um escritor. Esses são os caminhos percorridos: um pensador, também sonhador, que se fez um organizador de sonhos, como só os bons (escritores e seres humanos) podem ser.

Espero que todos os leitores, como o foi comigo, encontrem a beleza profunda da presente obra. Aproveitem!

Saudações,

Adelina Marla

1 - Amora

Frisar dos olhos e dos