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Educação Tecnológica e Mídias Infantis: Interpretações Etnográficas
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Educação Tecnológica e Mídias Infantis: Interpretações Etnográficas
E-book225 páginas2 horas

Educação Tecnológica e Mídias Infantis: Interpretações Etnográficas

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Sobre este e-book

As pesquisas deste livro associam-se pelo questionamento: quais as influências da educação tecnológica na construção da infância brasileira? O objetivo é oferecer análises possíveis sobre o que os filmes de princesas, as animações e os clipes musicais infantis dizem sobre nós enquanto sociedade.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento29 de abr. de 2020
ISBN9788547343392
Educação Tecnológica e Mídias Infantis: Interpretações Etnográficas

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    Educação Tecnológica e Mídias Infantis - Isabella Araujo D. Damaceno

    Bonesso

    Sumário

    INTRODUÇÃO 17

    Isabella Damaceno

    PARTE I

    NATUREZA E CULTURA NAS ANIMAÇÕES MUSICAIS INFANTIS 20

    CAPÍTULO 1

    NATUREZA E CULTURA: MULTICULTURALISMO 21

    Isabella Damaceno, Julia Pires, Márcio Bonesso

    1.1 Antropologia das animações musicais infantis 21

    1.2 Indiozinho 26

    1.3 Viajar pelo safari 36

    1.4 Jacaré 38

    CAPÍTULO 2

    MULTINATURALISMO NAS ANIMAÇÕES MUSICAIS 41

    Isabella Damaceno, Julia Pires, Márcio Bonesso

    2.1 Perspectivismo ameríndio na antropologia da infância 41

    2.2 O Rato 44

    2.3 Insetos 47

    2.4 Festa na lagoa 49

    PARTE II

    AMOR, GÊNERO E SEXUALIDADE NAS MÍDIAS INFANTIS 52

    CAPÍTULO 3

    AMOR DE PRINCESA 53

    Isabella Damaceno, Juliana Lobo, Márcio Bonesso

    3.1 Estudo semiótico sobre os relacionamentos amorosos

    nos filmes infantis 53

    3.2 A Branca de Neve e os Sete Anões de 1937 58

    3.3 Valente 69

    CAPÍTULO 4

    QUESTÕES DE GÊNERO NAS ANIMAÇÕES MUSICAIS INFANTIS 100

    Bruna Lima, Isabella Damaceno, Márcio Bonesso

    4.1 Galinha Pintadinha 100

    4.2 Análises semiótica e poética das animações musicais 103

    CAPÍTULO 5

    CONTROLE DOS CORPOS NAS ANIMAÇÕES MUSICAIS INFANTIS

    NA ERA ANALÓGICA E DIGITAL 111

    Isabella Damaceno, Laura Nicoli, Márcio Bonesso

    5.1 Herança disciplinar e controle dos corpos 111

    5.2 Cuidado na cozinha 113

    5.3 Os macaquinhos 115

    5.4 Um, dois fivela o sapato 116

    5.5 Marcha soldado 118

    5.6 Carimbador maluco (Plunct, plact, zoom) 120

    5.7 O bom menino 121

    5.8 Não se reprima 124

    PARTE III

    INDÚSTRIA CULTURAL À PÓS-MODERNIDADE 126

    CAPÍTULO 6

    AS ANIMAÇÕES MUSICAIS INFANTIS DA INDÚSTRIA CULTURAL

    À PÓS-MODERNIDADE 127

    Isabella Damaceno, Laura Nicoli, Márcio Bonesso

    6.1 Teoria da produção e do consumo artístico 127

    6.2 A baratinha 130

    6.3 Lindo balão azul 132

    6.4 Dança da escovinha 136

    6.5 Aquarela 139

    6.6 Piuí abacaxi, Uni duni tê, É de chocolá 142

    6.7 Bolacha de água e sal 144

    PARTE IV

    VIOLÊNCIA FÍSICA E SIMBÓLICA NAS MÍDIAS INFANTIS:

    UMA PERSPECTIVA 148

    CAPÍTULO 7

    O CAMPO DA MULTIMÍDIA INFANTIL NO BRASIL 149

    Isabella Damaceno, Márcio Bonesso

    7.1 Uma possibilidade de leitura do campo de produção, circulação e consumo das multimídias infantis no Brasil 149

    7.2 A singularidade do advento das mídias digitais móveis 152

    7.3 As percepções dos educadores-cientistas 154

    CONSIDERAÇÕES FINAIS 167

    Isabella Damaceno, Márcio Bonesso

    REFERÊNCIAS 169

    INTRODUÇÃO

    Isabella Damaceno

    O ano é 2016, meados de abril, estou sentada em um horário extraclasse ao lado do meu professor de sociologia do ensino médio que também se tornou meu orientador. O professor abre em seu computador minha primeira entrega como pesquisadora voluntária. A ideia era assistir uma animação musical infantil e descrevê-la por meio da escrita o mais detalhadamente possível e, a partir dos meus conhecimentos até então adquiridos em sala de aula destacar momentos da obra em que eu encontrasse relação com a teoria dos autores estudados. Fazer uma crítica de um produto cultural considerando suas possíveis significações para o público a que se destina. Um passo tímido em direção ao que eu fui compreender, mais tarde, por etnografia a partir de análise semiótica.

    Naquele dia, foram dois parágrafos. Depois uma página, duas, construção de tabelas comparativas e assim por diante. Aqui nos aproximamos da concepção de Clifford Geertz do que é a principal atividade da antropologia. Para o antropólogo, o que define a etnografia é o esforço intelectual que ela representa por considerar que um contexto é passível de descrição densa. Para além de descrever superficialmente a ação ou objeto cultural estudado, a descrição densa procura estabelecer qual a importância do que ele transmite e quais significados ele suscita em diferentes contextos. Pressupõe que a cultura é composta de sistemas entrelaçados de signos interpretáveis. Todavia, tal interpretação não é puramente objetiva, ao contrário, é a construção de uma leitura de um objeto cultural. A qual, por sua vez, também é um texto passível de leituras. Portanto, a análise etnográfica é a observação detalhada e registrada, seguida da escolha de estruturas de significação para o que foi percebido. 

    Assim como eu, as demais autoras, Bruna Biasi, Julia Pires, Juliana Lobo, Laura Nicoli e o orientador e autor Marcio Bonesso se empenharam no esforço intelectual de construir leituras densas, cada uma em seu recorte de pesquisa, acerca das significações produzidas pelas animações infantis na educação tecnológica brasileira no contemporâneo. O presente livro coletivo surge a partir da integração de quatro pesquisas realizadas por essas alunas do ensino médio e uma da pós-graduação, todos desenvolvidos no Instituto Federal do Triângulo Mineiro, Campus Uberlândia Centro. Os estudos se associam pelo questionamento: quais as influências da educação tecnológica na construção da infância brasileira?

    O objetivo principal deste trabalho é oferecer análises possíveis sobre o que as animações e clipes musicais infantis dizem sobre nós enquanto sociedade. Em um primeiro momento, buscamos nos afastar das adjetivações que concebemos subjetivamente acerca dos desenhos animados e clipes musicais e nos colocamos sob o ponto de vista de crianças assistindo-os. Escolhemos nossas ferramentas teóricas de análise e, posteriormente, também chegamos a pesquisar os discursos de cuidadores de crianças uberlandenses e cientistas sobre tais mídias.

    Todavia, o conteúdo aqui reunido não tem como pretensão esgotar a discussão antropológica e sociológica em torno das mídias infantis, ao contrário, deseja despertar tanto em leitores acadêmicos, como cuidadores de crianças, professores e alunos de ensino médio o olhar questionador para os habitus que incorporamos em torno das crianças.

    Nosso livro também é um produto cultural e extremamente inovador: registra a existência da cultura científica uberlandense. Apesar de inúmeros trabalhos e livros a serem publicados no âmbito universitário, principalmente por meio da Universidade Federal de Uberlândia, a iniciação científica ainda é prática muito distante das outras fases educacionais, como ensino médio e ensino fundamental. Ao se constatar que muitos alunos que concluem o ensino médio em Uberlândia não ingressam na universidade não por escolha, mas por dificuldades de acesso, vê-se a necessidade de aproximação entre a produção acadêmica de pesquisa já no Ensino Médio.

    A pesquisa acadêmica tem reflexos para além de sua relevância científica, pois desenvolve a autonomia dos estudantes, a capacidade de escrita, síntese, comunicação e compreensão holística das variadas matrizes curriculares do conhecimento. Dessa forma, o desenvolvimento da pesquisa no ensino médio acresce ao aluno o sentimento de pertencimento à comunidade escolar, sendo inclusive uma possível alternativa de prevenção ao ingresso de jovens na criminalidade.

    Nesse sentido, a concretização de nosso produto cultural constitui incentivo para que práticas semelhantes continuem existindo e resistindo diante do cenário de sucateamento da educação pública brasileira, em especial de nível básico. O plano de divulgação e acesso do livro pretende principalmente atingir professores e alunos do ensino médio, ao alertá-los para a qualidade e relevância de trabalhos que podem ser criados em escolas públicas de ensino médio em Uberlândia, inclusive em parceria com estudantes de graduação e pós-graduação como é o caso do nosso projeto.

    Para além da relevância de uma publicação científica feita por jovens do ensino médio em parceria com estudante de pós-graduação e orientadas por professor do ensino médio e superior, está a relevância social do tema do livro. Apesar de se tratar de resultados da ciência, a temática está intimamente relacionada ao cotidiano das famílias brasileiras, que é a inserção de mídias infantis por meio da tecnologia na educação das crianças. Pretende-se, portanto, suscitar reflexões não só na seara dos profissionais da educação infantil, mas também dos responsáveis por crianças que se veem no conflito de como equilibrar o uso dessas mídias na educação de seus filhos. Ou seja, a concretização do nosso produto cultural se configura como uma iniciativa de aproximação da sociedade e ciência, de forma a promover a cultura científica.

    PARTE I

    NATUREZA E CULTURA NAS ANIMAÇÕES MUSICAIS INFANTIS

    A parte natureza e cultura, nesta pesquisa, é dividida em dois capítulos. O primeiro aborda a dimensão multiculturalista nas animações musicais infantis trabalhadas dentro das vertentes antropológicas evolucionistas, culturalistas e estruturalista. O segundo capítulo trabalha as análises das animações musicais na vertente pós-estruturalista.

    CAPÍTULO 1

    NATUREZA E CULTURA:

    MULTICULTURALISMO

    Isabella Damaceno, Julia Pires, Márcio Bonesso

    1.1 Antropologia das animações musicais infantis

    Trabalhos etnográficos e etnológicos da antropologia nos apontam que, ao longo da história da linhagem hominídea no planeta Terra, pode-se constatar a existência de discursos, representações coletivas e práticas sociais com a capacidade de criar códigos, tanto simbólicos como materiais, que incidiram sobre as condutas humanas por todo o mundo. Desde a época da antropologia evolucionista, obras como O Ramo de Ouro (1982) de Sir James Frazer e La Société Archaique (1971) de Lewis Morgan foram trabalhos comparativos de referência científica para a constituição de aspectos reguladores das relações sociais entre agrupamentos humanos considerados primitivos, próximos ao estado de natureza, ou civilizados, produtores de cultura.

    Vale ressaltar que essas obras, apesar do forte teor evolucionista e racista da época em que foram escritas, iniciaram estudos minuciosos sobre temas importantes para a antropologia e a sociologia moderna, tais como: totemismo, relação natureza e cultura, parentesco, materialidade e tecnologia da cultura, relação magia/religião/ciência; e demonstraram como essas convenções simbólicas constituíram normas capazes de nortear e regular a vida das sociedades, criando modelos distintos de controle social.

    Esses trabalhos tinham como parâmetro científico de distinção uma escala unilinear da história da humanidade, composta por modelos de contínuos sociais entre o que era convencionado pelos antropólogos como simples/natural/primitivo ou como complexo/cultural/civilizado. Cada pesquisa gerou resultados finais cotejados aos modelos de controle social. Interessante notar como essas pesquisas eram autolegitimadoras, revestindo os resultados com uma investidura coletiva de ciência.

    Para Lewis Morgan, os aspectos da materialidade e da produção tecnológica eram os parâmetros mais importantes para a análise antropológica: a partir da produção material¹ o antropólogo classifica o estágio em que a sociedade se encontra e interpreta quais aspectos normativos dos controles sociais são predominantes.

    Morgan imagina a Humanidade evoluindo em uma única linha evolutiva que pode ser dividida em estágios denominados de selvageria, barbárie e civilização, cada um deles dividido em inferior, médio e superior de acordo com características tecnológicas distintas, escolhidas, obviamente por Morgan. No topo do esquema evolutivo, a civilização superior, estava naturalmente a sociedade vitoriana do século XIX, monoteísta, parlamentar, monogâmica, capitalista, contratual e, claro, conhecedora e apreciadora das teorias do autor. Nos estágios mais baixos, estava a selvageria inferior, que era exatamente o oposto disso, caracterizando-se por promiscuidade sexual, comunismo primitivo, anarquia política e jurídica, superstições incoerentes etc. É evidente que nunca nenhuma evidência empírica foi encontrada da existência dessas formas desorganizadas de vida humana em sociedade. (LIMA, 2011, p. 6).

    O Ramo de Ouro, de Sir James Frazer, interpreta as diferentes formas do pensamento humano. Para Frazer, os estágios do pensamento humano são mensurados com base em uma escala de controle social – mágico, religioso e científico – constituidores de discursos, práticas sociais e representações simbólicas homólogas aos estágios – selvagem, bárbaro e civilizado – da escala linear de Morgan. Como resultado dessa convenção, quanto mais mágico, mais próximo ao reino animalesco, promíscuo, violento e fantasioso; e quanto mais racional, mais autocontrolado, ordeiro e pacificador. Dessa forma, tais pesquisas científicas geraram resultados que se combinam nos seguintes pares de tríades: pensamento mágico/nível selvagem; pensamento religioso/nível bárbaro; pensamento racional/nível civilizado. É certo que essas formas de saberes causaram um forte impacto nas primeiras pesquisas das ciências sociais, ganhando ampla adesão no meio acadêmico, sobre a população das cidades cosmopolitas e nas formas de controle social de instituições estatais no século XX.

    Nesse sentido, é possível estabelecer uma associação entre o pensamento evolucionista dos antropólogos pioneiros e a atual interpretação das mensagens dessas animações musicais? Em que medida as mensagens reproduzem ou resistem à lógica dos estereótipos evolucionistas, ao relacionar causalmente a ausência de bens e tecnologias com a noção de civilidade? Como, por exemplo, na música da barata mentirosa que fala para o meio social que possui um Camaro amarelo, mas na realidade possui um Fusca velho. Em quais formas de representação há uma reprodução social quando associa certos animais domésticos (gatos e cachorros) como bons e dotados de elementos culturais/humanos, e animais selvagens ou de rua (baratas, ratos, cobras, jacarés, aranhas, insetos) como perigosos e perversos? Em que medida categorias de humanos, como os dez indiozinhos em uma pequena canoa, reproduzem os estereótipos de imprevidência e animalização que os indígenas brasileiros ganharam ao longo do processo de colonização? Mais do que uma categoria analítica de ciência, as visões evolucionistas ainda estão presentes como categorias êmicas nas mensagens dessas animações musicais?

    Pode-se dizer que, para facilitar as respostas dessas indagações, a segunda fase da discussão entre natureza e cultura, criada nas primeiras décadas do século XX, culminou na consolidação dos modelos² estruturalistas e culturalistas³ das ciências sociais, em especial da antropologia. Nesse período, as teorias evolucionistas foram perdendo o estatuto de ciência, além de perder também um relativo espaço dentro do pensamento teórico e empírico das ciências humanas. Todavia, em governos totalitários e de países considerados democráticos, é importante perceber como essas construções teóricas evolucionistas se capilarizaram nas formas dos usos e das etiquetas, dentro das instituições modernas, operando até hoje na vida cotidiana. Como hipótese, a pesquisa deseja entender o impacto desse modelo de pensamento evolucionista na atualidade, e em que medida ainda permanece no conteúdo das mensagens dessas narrativas poéticas musicais.

    Se as teorias evolucionistas ganharam lastro no mundo atual influenciando até as mensagens poéticas das animações musicais infantis, nas primeiras décadas do século XX as ciências sociais logo emplacaram outros olhares críticos sobre essas abordagens biológicas dos primeiros antropólogos. Trabalhos como O ensaio sobre a dádiva e Uma Categoria do Espírito Humano, a noção de pessoa, a de eu do antropólogo francês Marcel Mauss (2003) demonstraram, em vários locais do mundo, como na Polinésia, Melanésia, Noroeste Americano, Ilhas Trobriand, dentre várias outras sociedades, a existência de formas de classificação social com base na visão relativista. Os Potlatchs, o Kula, o How são descritos como práticas sociais reguladoras de circuitos de trocas sociais entre vários povos. Esses estudos descreveram as convenções de direitos contratuais e de sistemas de prestações econômicas das sociedades indígenas: desconstruíram as concepções hipotéticas dos antropólogos evolucionistas, que presumiam uma ausência ou simplicidade das representações e práticas sociais jurídicas, bem como uma escassez material inerente às sociedades tidas como selvagens e bárbaras.

    Nessa segunda fase antropológica, o estruturalismo de Lévi-Strauss torna-se uma referência bem representativa para se pensar a relação entre natureza e cultura nas produções das animações musicais infantis. Isto porque discute essa relação, de forma mais minuciosa, em sua obra As Estruturas Elementares do Parentesco (2003). Onde acaba a natureza? Onde começa a cultura?

    Para responder a essas perguntas o antropólogo relaciona tudo o que é universal e se concretiza pela espontaneidade,

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