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Minha carne é de carnaval
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Minha carne é de carnaval
E-book257 páginas3 horas

Minha carne é de carnaval

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Sobre este e-book

"Minha carne é de carnaval" é um livro que conta histórias que se passam durante carnaval e mostra como essa festa é vista por diferentes personagens. Através de relatos intensos, o livro fala sobre a celebração do carnaval, suas tradições e como ele afeta a vida das pessoas que o vivem. O livro é uma jornada pelas ruas e pelas emoções do carnaval, mostrando como essa festa pode ser divertida, emocionante e, às vezes, trágica. É uma história sobre amor, perda, alegria e dor, tudo isso ambientado no cenário colorido e vibrante do carnaval.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento21 de jul. de 2020
ISBN9786580275724
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    Minha carne é de carnaval - Janaina Storfe

    coletivo

    A Carneia

    Esdras Petrus de Farias Oliveira

    Dia 26 de Fevereiro de 1257 da segunda era do tempo de Agnor. Era uma noite qualquer quando eles chegaram. Meu nome é Morgan Jones, sou capitão da guarda do reino de Gaoh do país de Mihriam, estava em casa, era minha noite de folga. Deitado ao lado de minha esposa eu olhava despreocupado pela janela, o céu escuro e estrelado se estendia sobre as luzes da cidade, minha mente viajava entre uma preocupação e outra do meu dia a dia. Devagar, eu levantei da cama e fui até o nosso lavador, por alguma razão o sono me fugia naquela noite, lavei meu rosto e segui até a minha sala para ler e pensar um pouco, no caminho, de repente todos os cômodos da casa se acenderam com um brilho laranja ofuscante, que entrava pelas janelas, acompanhado de um barulho ensurdecedor, como uma tempestade de luz.

    A casa inteira tremia, minha esposa acordou assustada gritando meu nome, eu corri desesperado até a janela do meu quarto para ver o que estava acontecendo. Uma enorme bola de fogo atravessou o céu e foi cair pouco depois das árvores na colina leste da cidade. Durante alguns segundos eu permaneci parado, assustado, imaginando o que seria aquilo.

    O que foi aquilo, amor!? perguntou Valerya, minha esposa.

    Eu não sei querida! Fique aqui.

    Mesmo não sabendo do que se tratava, eu sabia que cedo ou tarde teríamos que descobrir, rapidamente comecei a vestir minha armadura, tão rápido quanto eu imaginava soldados estavam batendo à minha porta para entregar ordens, terminei de me aprontar e fui correndo atender.

    Senhor! O Comandante Fowller ordenou que todos os oficiais estejam presentes no centro de infantaria leste em 20 minutos para instrução, sem exceções! disse o jovem soldado.

    Então vamos!

    A instrução foi breve, tudo aconteceu rápido, passamos a noite em claro carregando baldes e apagando as chamas causadas pela enorme bola de fogo. Uma equipe de busca foi montada para encontrar o local da queda e identificar o que havia criado todo aquele tumulto. Terminamos de apagar todo o fogo pouco antes do amanhecer, foi quando os homens da equipe de busca retornaram, eles disseram não terem encontrado nada de incomum, disseram que a bola de fogo se desfez ao colidir com o solo e que não havia nada na cratera. Estávamos todos exaustos e finalmente fomos mandados para casa.

    Nesse dia, nada demais aconteceu, na verdade foi quase como se a maioria das pessoas tivesse esquecido do incidente da noite passada. No dia seguinte, sem nenhum aviso prévio, um festival havia chegado à cidade: a Carneia. O evento estava sendo realizado em várias ruas no centro da cidade, as pessoas se amontoavam para dançar, beber, comer e cantar, os próprios moradores da cidade é quem estavam ajudando a promover o evento, chamando as pessoas e cativando a todos com sorrisos e música, vários menestréis e bardos, que antes ficavam recolhidos somente às tabernas, agora se agitavam e tocavam pelas ruas, todos a mesma música, ao mesmo tempo, perfeitamente sincronizados, no meio de toda essa festa, havia um homem, ele não era um morador local, cobrindo seu rosto havia uma máscara de cerâmica branca com detalhes coloridos, seus olhos eram negros como a noite, seu cabelo curto e ligeiramente bagunçado, usava vestes finas, elegantes e um pouco curiosas, de cor vermelho vinho com detalhes brancos e pretos, parecia muito um bobo da corte rico, seu chapéu era algo nunca antes visto, possuía um formato cilíndrico no meio com a ponta achatada e era contornado por uma aba reta circular perfeita, as pessoas se reuniam próximo a ele sorrindo e dançando.

    Eu fui mandado ao centro daquela festa para descobrir quem havia organizado tudo e entregar a ele uma intimação. Um evento daquele porte precisava ser notificado com, pelo menos, um mês de antecedência ao conselho de administradores da cidade e receber o consentimento da família real.

    Aos poucos, eu e meus soldados fomos abrindo caminho pela multidão até chegar neste homem, que tudo indicava ser o idealizador de todo o festival, ele estava de costas para nós quando eu o abordei.

    Senhor! Eu clamei, tocando-lhe o ombro.

    Ele virou o rosto para mim devagar, com a cabeça um pouco baixa, sem virar totalmente seu corpo, ficou me olhando nos olhos enquanto eu falava.

    Sinto lhe informar, mas terá que encerrar o festival por hora, é preciso enviar um pedido de consentimento ao conselho com antecedência e esperar pela resposta, para só depois iniciar o festival terminei.

    Ele não mostrou reação alguma ou disse sequer uma palavra, apenas continuou olhando para mim por um tempo, através da máscara não era possível ver o branco de seus olhos, somente uma escuridão assustadora que levemente refletia a luz do dia como uma pequena esfera espelhada, ainda assim, era possível sentir que seus olhos estavam fixos em mim. Ele virou novamente para o outro lado e foi andando para o meio da multidão que começou a se acumular rapidamente entre nós dois. Tentei de todas as formas alcançá-lo novamente, mas tive minhas tentativas frustradas inúmeras vezes pela multidão. Retornamos ao QG para relatar o ocorrido, como a festa não estava fazendo mal algum ao povo e todos pareciam gostar, nosso comandante determinou que ele teria até o dia seguinte para encerrar o festival, após isso, deveríamos mobilizar as tropas para encerrar as atividades à força. Estávamos tranquilos quanto a isso, no máximo a Carneia se estenderia somente até o dia seguinte.

    No dia seguinte, notificamos todas as tropas para cercarem o centro da cidade e se prepararem para conter a multidão, a Carneia continuava incessantemente, porém não mais se limitava ao centro da cidade, algumas das ruas adjacentes estavam começando a ficar lotadas de pessoas dançando e cantando, o festival estava se espalhando depressa para mais áreas da cidade. A maior preocupação, entretanto, era com o número de soldados que cumpriram a ordem de estarem prontos para ajudar na contenção, metade das tropas havia se juntado ao festival na noite passada e estavam até aquele momento espalhados pelas ruas misturados ao povo.

    Durante todo o dia, nós tentamos avançar contra a multidão, tentando fazer com que fossem para casa em segurança, tentando acabar com a festa. Não vimos mais o homem de máscara, concluímos que ele continuava no centro da cidade, mas era simplesmente impossível chegar até lá.

    Não demorou e os soldados começaram a perder a paciência com a multidão, a tentativa pacífica de conter a Carneia logo se transformou em agressão, os soldados tentavam a todo custo passar pelas pessoas, elas apanhavam sorrindo e cantando, quando jogadas ao chão, elas rapidamente se levantavam e voltavam a dançar, estavam em transe, banhadas num êxtase sem fim, seus rostos aparentavam estar em completo prazer. Alguns dos soldados simplesmente desistiram de lutar, não fazia sentido agredir aquelas pessoas, tão felizes como estavam. Alguns soldados se recusaram a parar de lutar e continuaram batendo nas pessoas, queriam tirá-las do transe à força, foi quando a situação começou a ficar séria. A multidão começou a agarrar e se amontoar em cima desses soldados, começaram a rasgar suas roupas e a arrancar suas armaduras, rapidamente deixaram os pobres soldados nus para logo em seguida começarem a rasgar suas peles, com as mãos, a multidão começou a estraçalhar os soldados que continuaram lutando, arrancaram um membro após o outro enquanto continuavam rindo e dançando, começaram também a se banhar e a beber do sangue dos soldados mortos.

    Ao presenciar aquilo, ordenei imediatamente que todos recuassem e mantivessem distância da multidão, muitos dos soldados que antes estavam ali cumprindo ordens sucumbiram ao festival e agora faziam parte da multidão enlouquecida, aquilo estava se transformando em um pesadelo.

    Voltei imediatamente ao QG com os homens que estavam sob o meu comando para relatar o que estava acontecendo ao comandante, fui surpreendido por um de seus assistentes com a informação de que o comandante e alguns outros oficiais foram vistos se juntando à multidão pouco antes do amanhecer. Aquela informação me deixou com o sangue gelado, não consegui imaginar a situação ficando pior do que já estava. Reuni todos os soldados e oficiais restantes e lhes disse:

    Vão para suas casas e reúnam suas famílias e entes queridos que ainda não estiverem no meio da multidão, juntem suas coisas e saiam da cidade, a situação saiu completamente do nosso controle. Me encontrem na saída sul da cidade em uma hora, vamos pelas montanhas até a cidade de Zin Law, lá pediremos ajuda.

    Saí correndo para a minha casa que ficava numa área afastada do centro, no sudoeste da cidade, estava passando próximo a uma das áreas tomadas pela festa quando pude ver em meio à multidão o homem da máscara branca, parado, abraçado a uma mulher, ele olhava para mim, ignorando o resto. Ao olhar atentamente percebi que Valerya é quem estava em seus braços, vestida em um traje tão estranho quanto o dele. Por um segundo não acreditei no que estava vendo, ele ergueu sua mão direita lentamente, logo em seguida um som estrondoso encheu todas as ruas e avenidas da cidade, como o badalar singular de um sino colossal. Ao ouvir aquele som, todos que estavam na multidão começaram a se despir e a ter relações sexuais uns com os outros, em questão de segundos toda a cidade estava envolvida numa gigantesca orgia, com exceção dele, o homem de máscara, e da minha esposa, algumas pessoas se agarravam em suas pernas e puxavam suas roupas, mas sem conseguir rasgá-las, nem tirá-lo de sua posição.

    Eu corri na direção da multidão e me joguei entre eles, tentava a todo custo alcançar minha esposa para tirá-la daquela loucura, enquanto abria caminho eles iam removendo minha armadura à força e rasgando minhas roupas, por várias vezes eu fui agarrado e segurado no lugar, mas lutei para conseguir me soltar e continuar avançando. A todo momento ele me observava, nada tirava sua atenção de mim, ele permaneceu parado, abraçado a minha esposa, ela olhava para mim como se não me conhecesse.

    Quando cheguei próximo a eles, o homem de máscara mais uma vez ergueu sua mão direita, novamente um som ensurdecedor, parecido a um enorme sino, encheu as ruas da cidade, as pessoas que antes estavam somente tendo relações sexuais começaram então a se matar durante o ato, sem gritos ou lamentos, sem sentir dor, angústia ou ressentimento, elas estavam sorrindo, cantando e dançando enquanto transavam e matavam uns aos outros.

    Eu estava terrivelmente assustado, aquela loucura precisava acabar. As pessoas a minha volta começaram a me atacar da mesma forma que estavam se atacando, me arranhavam, me batiam e me mordiam enquanto tentavam fazer sexo comigo, alguns deles começaram a atear fogo nas casas e nas pessoas, a cidade estava se transformando em um inferno, eu já não conseguia ver mais uma saída daquela situação.

    Foi quando eu ouvir alguém chamar meu nome:

    Morgan…

    Eu olhei e o homem de máscara estava parado a alguns metros a minha frente, olhando para mim, ele deixou minha esposa deslizar para baixo e ser pega pela multidão, eles a estraçalharam devagar como fizeram com os soldados, ela não demonstrava sentimento algum, era como se estivesse morta dentro de seu corpo, não gritava, nem pedia por ajuda, somente olhava para mim com um olhar vazio.

    Eu caí de joelhos chorando desesperado, não pude fazer nada para salvá-la, e assim como ela, rapidamente a multidão me agarrou e começou a me matar. Eu usei o pouco da força que me restava para rastejar até o que havia sobrado do corpo de minha mulher e o abracei enquanto era atacado pela multidão, olhei para cima e vi o homem de máscara abrindo seus braços para o céu enquanto a cidade inteira queimava a nossa volta, o fogo consumia tudo e todos, menos ao homem de máscara. Com um terceiro badalar, toda a cidade se converteu em uma bola de fogo, se reuniu onde estava o homem de máscara, para finalmente subir como uma coluna de fogo, e desaparecer entre as estrelas.

    Dia 26 de fevereiro de 1457 da segunda era de Agnor. Meu nome é Sara Hettherman, eu passeava pelo parque da cidade onde eu morava, Rivertail, no país de Bhrio. Era final de tarde quando uma bola de fogo imensa cortou o céu com sua ofuscante luz laranja e seu som ensurdecedor, como uma enorme tempestade de luz, a Carneia havia chegado!

    A maldição do Pierrô

    C. B. Kaihatsu

    "E o Pierrô só queria amar

    E dar um basta a esta dor já sem fim

    Mas Colombina trocou seu amor por Arlequim"

    (Marcelo Camelo)

    Jorge era um tímido operário em uma fábrica metalúrgica, seu melhor amigo era Iago, eles eram opostos, Iago era carismático, bonito, extrovertido e sedutor. Ambos nutriam uma paixão pela datilógrafa Amélia.

    No coração de Jorge habitava um amor casto e platônico, devido a sua timidez, ele escrevia cartas de amor apaixonadas, apenas assinando como Pierrô Apaixonado. Amélia, por sua vez, estava enamorada de Iago e acreditava serem deles as cartas, contudo, ela nunca teve coragem de confrontá-lo.

    Todo sábado de carnaval, Jorge ia até a Cinelândia para descer no Cordão da Bola Preta e, naquele ano de 1957, não seria diferente. Como sempre, ele iria vestido de pierrô, rosto pintado de branco, com uma lágrima preta embaixo do olho esquerdo, gola bufante e um macacão branco com alguns detalhes em preto, a expressão natural de melancolia em seu rosto era como um toque final na fantasia.

    Iago também participava todo ano do Cordão da Bola Preta, naquele ano resolveu convidar Amélia para juntar-se a ele e Jorge no bloco, o que ela prontamente aceitou. Os amigos combinaram de ir juntos para a Cinelândia, Amélia estava animada, ela não era dada a pular carnaval, seria seu primeiro ano no Cordão da Bola Preta.

    No carnaval de 1957, Iago decidiu ir de Arlequim e Amélia foi de Colombina. A moça que acreditava em destino, não achou que suas fantasias fossem mero acaso. Confessou a Iago sua paixão pelo autor das cartas, Iago, malandro como só ele, assumiu para si a autoria das cartas. E ainda disse que só usou a alcunha de Pierrô Apaixonado porque achou poético, mas que escolheu a fantasia de Arlequim por essa ser mais alegre e ser o grande amor de Colombina.

    Ao presenciar a vil traição de seu melhor amigo, a ira tomou conta de Jorge, ele ficou cego de ódio quando viu os lábios dos jovens namorados se tocarem.

    ***

    A multidão dividia-se entre gritar assassino e correr de medo. Jorge olhou para suas mãos tingidas de rubro e depois viu dois corpos que jaziam no chão, sem vida. Era como se o mundo todo parasse, ele não sentiu quando foliões o seguraram e agrediram até que a polícia chegasse. O único pensamento em sua cabeça era o de que havia maculado um amor que parecia ser tão puro, ao ceifar a vida de sua amada e seu rival.

    ***

    Ele dispensou advogado e assumiu a culpa, sem protestar a pena de 30 anos que lhe coube. Afinal, era um assassino. Assassino, essa palavra ecoava noite e dia em sua mente.

    Foi definhando aos poucos na prisão, até vir a óbito, seus companheiros de cela afirmavam que o homem havia morrido de tristeza.

    ***

    A alma de Jorge não encontrou paz no pós-morte. Amélia passaria a eternidade no paraíso, Iago no limbo, devido a sua traição, já Jorge, fora condenado a vagar no mundo dos vivos, errante, sem nunca encontrar um lugar para o descanso eterno. Não era morte, nem vida. Uma meia-morte, ou meia-vida.

    A tristeza deu lugar ao ódio no coração de Jorge, um ódio que crescia dia após dia. Ele não suportava ver a felicidade dos casais de seres viventes, felicidade esta que nunca experimentou em vida.

    Sua alma foi corrompida ainda mais pelas trevas, ele

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