Carta muito pessoal de um recluso "Covid-ativo"
()
Sobre este e-book
Relacionado a Carta muito pessoal de um recluso "Covid-ativo"
Ebooks relacionados
Carta muito pessoal de um recluso Covid-ativo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMemórias de Aldenham House Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Morgadinha de Val-D'Amores/Entre a Flauta e a Viola Theatro Comico de Camillo Castello Branco Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs meninos da Rua do Hipódromo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAmor de Perdição Memorias d'uma familia Nota: 5 de 5 estrelas5/5Amor de perdição Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMeus Bons Amigos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTrazmundo e Pegavento Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Chacrinha Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Persistência do Amor: A Santa Sede Rememora Paulo Mendes Campos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAntônio Sales Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA dança dos cabelos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Regicida Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Morgadinha dos Cannaviaes Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCrónica de África: Manuel S. Fonseca Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Mysterio da Estrada de Cintra Cartas ao Diário de Noticias Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO quintal de Joaquina: Poesias Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Queda d'um Anjo Romance Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Porão Da Casa 380 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA face mais doce do azar Nota: 0 de 5 estrelas0 notasScenas da Foz Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEstrellas Funestas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Trem Da Saudade Sobre Os Trilhos Da Esperança Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Queimada Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO encantador de livros Nota: 4 de 5 estrelas4/5Camões Bem-dotado Nota: 0 de 5 estrelas0 notasQuatro Novelas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO cativo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDeus! As Ovelhas E A Serra! Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLinha De Perdição Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Ficção Geral para você
A Sabedoria dos Estoicos: Escritos Selecionados de Sêneca Epiteto e Marco Aurélio Nota: 3 de 5 estrelas3/5A Arte da Guerra Nota: 4 de 5 estrelas4/5Para todas as pessoas intensas Nota: 4 de 5 estrelas4/5MEMÓRIAS DO SUBSOLO Nota: 5 de 5 estrelas5/5Palavras para desatar nós Nota: 4 de 5 estrelas4/5Pra Você Que Sente Demais Nota: 4 de 5 estrelas4/5Invista como Warren Buffett: Regras de ouro para atingir suas metas financeiras Nota: 5 de 5 estrelas5/5Poesias Nota: 4 de 5 estrelas4/5A Morte de Ivan Ilitch Nota: 4 de 5 estrelas4/5Onde não existir reciprocidade, não se demore Nota: 4 de 5 estrelas4/5Gramática Escolar Da Língua Portuguesa Nota: 5 de 5 estrelas5/5Novos contos eróticos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMata-me De Prazer Nota: 5 de 5 estrelas5/5As Melhores crônicas de Rubem Alves Nota: 5 de 5 estrelas5/5Noites Brancas Nota: 4 de 5 estrelas4/5O corpo desvelado: contos eróticos brasileiros (1922-2022) Nota: 5 de 5 estrelas5/5Para todas as pessoas apaixonantes Nota: 5 de 5 estrelas5/5Pra você que ainda é romântico Nota: 4 de 5 estrelas4/5O Casamento do Céu e do Inferno Nota: 4 de 5 estrelas4/5Prazeres Insanos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTudo que já nadei: Ressaca, quebra-mar e marolinhas Nota: 5 de 5 estrelas5/5SOMBRA E OSSOS: VOLUME 1 DA TRILOGIA SOMBRA E OSSOS Nota: 4 de 5 estrelas4/5100 dias depois do fim: A história de um recomeço Nota: 5 de 5 estrelas5/5Dom Quixote Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Categorias relacionadas
Avaliações de Carta muito pessoal de um recluso "Covid-ativo"
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
Carta muito pessoal de um recluso "Covid-ativo" - João Pedro Duarte
mãe.
Prólogo
Por opção, este livro está divido em três partes. As duas primeiras partes espelham dois pequenos contos que escrevi: Um fim de semana qualquer
e O último heterónimo de Fernando Pessoa
. A terceira parte é a mais extensa, e incide num vasto número de cartas que escrevi nestes tempos de quarentena que, aliás, deram origem ao título do livro.
As personagens dos meus dois contos são inspiradas em pessoas que conheci na minha vida pessoal. Não obstante, o segundo conto é a minha homenagem um tanto ou quanto modesta a Pessoa.
As cartas foram escritas para suportar melhor a vida cá por casa, nesta condição de prisão domiciliária.
Primeira Parte:
Um fim de semana qualquer
Aqui perto, existe o desassossego habitual de quem corre atrás de sonhos e esperanças, mas que se vê confinado a desempenhar as funções que lhe são admoestadas com o tempo. Efetivamente, este desassossego é intrínseco ou jovial, uma vez que o Quinto Império não está à distância de uma corrida desenfreada que podemos dar para apanhar o autocarro já em andamento, ou até quando nos aventuramos a deambular pela passadeira quando o semáforo está vermelho para os peões. Em Lisboa, já lá vai o tempo em que se ouvia como está, vossa mercê?
. No Carmo, o eco da liberdade é abafado à medida que nos deixamos embalar pela maresia de um Tejo, que tende agora a ser vislumbrado pelas redes sociais.
A uns tantos quilómetros de distância, ao pé da terra onde El Rei D. Dinis imperou que se plantasse um sublime pinhal, ainda existe uma insustentável leveza do ser. É naquele local que posso inspirar e suster as recordações de uma infância qualquer que tive, onde idealizava, numa árvore, a estrutura coesa de uma casa que nunca cheguei a conhecer. Lá, descobri que, a par da árvore, o melhor resultado do trabalho árduo a que nos submetemos quando usamos uma enxada reside nos calos que tendem a prevalecer nas nossas mãos pelo resto da vida. Porém, o breve conto que aqui promete ser narrado tem somente lugar na capital lusitana, sendo que, pelo menos, foi o que me fez parecer desde a última vez que o visitei. Não obstante, é de conhecimento popular que quem conta um conto acrescenta sempre um ponto.
Naquela manhã de sábado, escoltado pelo calor radiante que fazia abanar os demais corpos agitados, o rapaz sentia a leve brisa que emanava numa esplanada em Belém. Não tomava uma refeição desde as vinte e uma horas da noite anterior, e, como tal, o estômago fazia questão de emitir a luz amarelada da reserva através de um conhecido efeito sonoro. Posteriormente, a torrada servida era convidativa às gaivotas, que se adiantavam em busca de umas quantas migalhas que dali poderiam sobrar.
Na humildade da sua pessoa, o rapaz esperava a companhia de uma senhora cujo nome não é pertinente ser revelado neste momento. À medida que observava atentamente o horizonte na direção do Padrão dos Descobrimentos, o recibo da conta surgia acompanhado de um mísero rebuçado. A senhora não fazia cerimónia nesta sua demora, como se estivéssemos perante o dia D
onde os amados juram adorar-se pela eternidade. Depois de folhear o jornal que comprou num quiosque ali perto, Armando deixou uma nota de cinco euros em cima da mesa onde tomara a refeição.
Durante horas a fio, o jovem passeou à beira do Tejo enquanto ouvia o burburinho habitual das pessoas que andavam por ali em busca de alegria e boa disposição. No entanto, o entardecer já estava prolongado, e daqui por uma hora ia ter início mais um jogo do Benfica. Ele era um adepto fervoroso de futebol, todavia, não compactuava com as cenas de pancadaria e escárnio que assumem forte protagonismo na relação entre os aficionados dos vários clubes. Após alguns minutos à procura do lugar onde havia deixado o carro, descobriu que tinha sido a largos metros de distância da esplanada onde esteve da parte da manhã.
Na mesma altura em que o rapaz estava atarefado a tentar remover a sua viatura do estacionamento sem embater nos carros que estavam localizadas em seu redor, Luísa descascava uma laranja a alguns quilómetros de distância. Luísa, a mãe do nosso protagonista, tinha somente um metro e meio, porém, esta medida representava uma mulher doce, de beleza irredutível e coragem desmedida. De facto, os múltiplos adjetivos de excelência não chegam para dignificar o estatuto de uma mulher que recebeu a educação do povo descendente da padeira de Aljubarrota. Luísa tomava o gosto ao sumo da laranja enquanto olhava para o relógio da cozinha, cujos ponteiros indicavam que a chegada do filho deveria estar para breve.
Nos dias em que eram transmitidos jogos de futebol, não existiam refeições muito elaboradas lá em casa. O rapaz, que nunca tinha grande apetite quando se confirmava o infortúnio da turma da Luz, optava sempre pela eficaz sanduíche de presunto quando fados mais alegres fixavam o resultado final. O jovem tentava dominar a arte sublime da cozinha, mas não se pode dizer que ostentava feitos propriamente valerosos. Embora nunca tenha sido muito esquisito a avaliar os atributos culinários de outras pessoas, é certo que ainda ia tendo as suas birras de petiz, e, nessas situações, Luísa resolvia a questão com o requinte de uma posta de tamboril confeccionada com uma batata cozida, o único prato
que o filho detestava com quantas forças tinha.
Ao entrar no carro, o rapaz temia a forma como este ficara encurralado naquele local. Tinha tirado a carta de condução há pouco menos de dois meses, e, naquela situação, teria de efetuar um conjunto de manobras apertadas para conseguir sair do parque de estacionamento. Pelo menos, já não confundia o travão com a embraiagem, e encontrava agora o ponto de embraiagem de forma a que o carro começasse a ameaçar o início da marcha. Ao fim daquela demanda, meteu a primeira mudança, depois a segunda, por fim a terceira, e depois ia alternando como que num jogo de xadrez com a caixa de velocidades, ao som de um álbum dos GNR, que o guiou até casa.
Naquela noite, o rapaz tinha degustado a tal sanduíche de presunto em jeito de prenúncio triunfante. O Benfica tinha somado mais três pontos no campeonato nacional, graças a um golo marcado nos minutos finais do jogo. O acontecimento ia dar azo a inúmeros debates acerca da veracidade e legalidade do referido lance, uma vez que este tipo de confronto tribal tendia a ser aposta universal nos canais de televisão generalistas. Mais tarde, como era habitual quando ambos não tinham afazeres ou encontros marcados com os respetivos amigos ou conhecidos, mãe e filho decidiram ir ao cinema. É que o cinema tem essa beleza muito própria de, a par dos livros, assumir a forma de portal que nos dá acesso a uma amálgama de universos alternativos.
No dia seguinte, não se ouviram os dois toques habituais da campainha que, por norma, costumavam ocorrer pelas oito horas da manhã de quase todos os dias lá por casa. O senhor Lemos, carteiro de profissão há mais de quinze anos, não andava na faina habitual. Era domingo. Adicionalmente, o calendário espelhava também que tinha lugar o dia 19 de março, a data em