Percepções sobre o Mal-Estar Docente
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Percepções sobre o Mal-Estar Docente - Cristiane do Nascimento Gonçalves Poltronieri
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO ENSINO DE CIÊNCIAS
Aos meus filhos, Ana Clara e Heitor, e ao meu esposo,
Lidaércio, pelo amor e apoio a mim dispensados.
E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos
por aqueles que não podiam escutar a música.
(Friedrich Nietzsche)
PREFÁCIO
O espaço educativo apresenta diversas lacunas, alvos de reflexão, entre elas as abordagens sobre o trabalho docente, com ênfase nas condições de trabalho que podem contribuir para o mal-estar docente
. O absenteísmo nas escolas é um alerta, em geral, relativizado ou mesmo interpretado como descaso, falta de compromisso do professor com a aprendizagem do aluno. Diversos fatores são associados a essa situação vivenciada no sistema educacional, que tende a se agravar frente às demandas da sociedade moderna, a qual exige do professor uma série de ações, alinhadas com ampliação da organização do trabalho educacional, que sobrecarrega o trabalho docente, refletindo-se na saúde e, por sua vez, na prática educativa e social.
A formação docente (inicial, contínua e/ou continuada) tem foco na formação intelectual do professor, renegando muitas vezes o corpo humano
, as emoções, os sentimentos e o bem-estar necessário para o bom desempenho em qualquer profissão.
A obra de Cristiane do Nascimento Gonçalves Poltronieri traz essa contribuição para reflexão, pertinente e necessária, e foi desenvolvida tendo por objetivo compreender como se estrutura o trabalho docente e como é abordado o mal-estar docente
. A obra é pautada em pesquisa bibliográfica, documental e na vivência e percepções de professores que atuam no ensino médio em escolas públicas do município de Barra do Bugres, Mato Grosso.
A definição de mal-estar utilizada nesta obra é do pesquisador espanhol José Manuel Esteve Zaragoza, pertinente na presente abordagem, pois reflete um fenômeno que ocorre em nível internacional e no Brasil. A pesquisa é descrita em três capítulos que estão alinhados com a temática de forma coesa e contundente.
O primeiro capítulo apresenta o resultado da revisão bibliográfica robusta, pautada em autores alinhados com a temática, perpassando a abordagem histórica, iniciando a trajetória investigativa no século XIX até o século XXI, com foco no trabalho docente, no mal-estar docente
, sofrimento do professor
e na saúde ocupacional docente
, entre outras demandas associadas ao objeto da pesquisa, que fundamentaram, ampliaram a investigação e a discussão sobre a temática.
O segundo capítulo, denominado Documento
, busca subsidiar o cenário da saúde do professor. Os dados apresentados pela autora, extraídos do Relatório Quantitativo de Licenças Médicas Professores da Educação Básica, Período de Referência: 2017
, e outros documentos, apresentam a realidade do estado de Mato Grosso e do município de Barra do Bugres/MT, de forma clara, e desnudam os percalços vivenciados pelo sistema educacional, ao longo do ano letivo, e os impactos sociais, educacionais e na saúde dos professores.
O terceiro capítulo, Entrevista
, oportuniza voz e vez aos participantes da pesquisa, em que esses discorrem sobre suas angústias, esperanças, desesperanças, expectativas, quando estão frente a frente a fatores que são destacados nas abordagens que permeiam o dia a dia da profissão docente: indisciplina; carga horária excessiva; baixa remuneração; uso inadequado da tecnologia; falta de interesse, estrutura inadequada; e inquietações. Esses fatores, associados aos impactos que causam o mal-estar docente, são elencados e discutidos sem a pretensão de concluir, mas sim de informar, alertar e ampliar a visibilidade sobre a temática.
Ao concluir a pesquisa, a autora destaca a fragilidade, ou mesmo ausência, de políticas públicas educacionais específicas. Essa ausência impacta na precarização do trabalho docente como um todo.
Os professores são mediadores na relação ensino-aprendizagem, portanto é fundamental identificar e compreender que esse processo está diretamente associado as relações e vivências que ocorrem dentro e fora do ambiente escolar, que interferem nesse ambiente e, de forma direta, na qualidade da educação.
Assim, esta publicação vem contribuir para ampliar a visibilidade sobre a temática e alertar para a urgência de políticas públicas que tenham foco na saúde do professor: [...] os professores estão pedindo ajuda, necessitam ser ouvidos para que a organização de seu trabalho possa ser repensada [...]
(p. 80).
Cuiabá, março de 2020
Fátima Aparecida da Silva Iocca
Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática
Universidade do Estado de Mato Grosso
ESQUINAS
(Apresentação)
Só eu sei, as esquinas por que passei
Só eu sei, só eu sei...
(Djavan, 1984)
O livro aqui apresentado não teve seu início em 2017, quando comecei o mestrado, e sim há alguns anos, quando iniciei minha carreira profissional como professora da educação básica. Nos anos iniciais, já comecei a perceber o grande número de professores que ficavam doentes. Por ter minha formação em Pedagogia e Biologia, sempre tive um olhar voltado à saúde e à educação, concomitantemente.
Esta pesquisa começou a ser pensada alguns anos atrás, durante minha jornada como professora do ensino fundamental em duas cidades do estado de Mato Grosso. Observamos um grande número de professores que adoeciam, com um número elevado de atestados médicos, o que nos chamou a atenção para essa temática. Ao conversar com os colegas de profissão, percebemos que isso acontecia em outras escolas também e ouvimos muitos casos de professores afastados ou com atestados, e isso nos intrigou cada vez mais. Começamos a pensar então quais poderiam ser as situações percebidas pelos professores que lhe causavam o mal-estar docente. Partindo desse pensamento, elaboramos a ideia de uma pesquisa nesse sentido, para conhecer e tentar compreender as causas desse problema. Considerando a grande relevância de que se tenha uma educação de qualidade, é muito importante pensar na qualidade da saúde docente, perceber o que lhes causa mal-estar, para que se tenha uma educação consistente, pois muito se fala quanto à qualidade de educação no nosso país, que necessita de melhorias, mas existe o lado do profissional docente que precisa ser levado em conta, além de outros fatores que precisam ser detectados. Segundo Nóvoa (2009, p. 27):
A educação vive um tempo de grandes incertezas de muitas perplexidades. Sentimos a necessidade da mudança, mas nem sempre conseguimos definir-lhe o rumo. Há um excesso de discursos, redundantes e repetitivos, que se traduz numa pobreza de práticas.
A partir da leitura de alguns textos e revistas da área educacional, além de livros e de nossa experiência vivenciada, como já