Dialogando Com Paulo Freire:: Formação Continuada de Coordenadores(as) Pedagógicos(as) na Educação de Jovens e Adultos – EJA
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Sobre este e-book
Assinala-se que, ainda na atualidade, há amplo contingente de docentes que trabalham com os conteúdos apenas na perspectiva da transmissão, aplicando-os sem contextualizá-los e sem questioná-los. Este livro revela a importância da problematização em relação ao fazer pedagógico, incluindo a relação com os conteúdos, de modo que sejam aprofundados e considerados nos diversos contextos culturais e trabalhados na esfera formativa de modo mais abrangente, permitindo a abertura ao diálogo, o redimensionamento da relação espaço-tempo e, sobretudo, a consideração de cada educando como pessoa em sua inteireza, a partir de sua história de vida. Daí porque um programa de formação de professores se configurará mais significativo ao promover a participação efetiva de cada profissional no processo de construção de suas práticas, tomando como ponto de partida a reflexão sobre seu fazer.
O legado do educador Paulo Freire tem como central a dignidade da pessoa humana e, para tanto, incita a que professores, coordenadores pedagógicos, gestores e demais atores do campo educacional, incluindo a esfera das políticas públicas, estabeleçam o movimento reflexivo em relação à prática, a ponto de gerar a conscientização e a assunção desses enquanto agentes transformadores não só para ressignificar o espaço escolar, mas também para reinventar o espaço social, de modo a torná-lo mais justo, democrático e solidário.
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Dialogando Com Paulo Freire: - Tatiana Rocha Cruz
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE
Ao Deus todo poderoso, que realiza grandes coisas ao meu favor.
Aos amores da minha vida:
Meu amado avô e pai, Uimar Rocha (in memoriam).
Minha adorável vozinha, Nair da Gama Rocha.
Minha querida mãe, Naimar da Gama Rocha.
Ao meu parceiro de amor, Artur Vicente, por tudo que ele une e reúne (companheirismo, compreensão, paciência e amorosidade). Grande incentivador das minhas conquistas.
Aos meus afilhados, Samuel, Lucas, Rafael e Maria Luiza, presentes preciosos da dinda.
Aos(as) educandos(as), educadores(as) e coordenadores(as) pedagógicos(as) da EJA que vislumbram a possibilidade de recuperar os direitos negados durante anos.
Ao educador Paulo Freire, grande inspirador da minha práxis comprometida.
Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser condicionado, mas, consciente do inacabamento, sei que posso ir mais além dele.
(Paulo Freire)
APRESENTAÇÃO
Em um encontro realizado em 1994, na cidade de São Luís, Maranhão, sobre a Pedagogia da Esperança, tive a ventura de conhecer o educador Paulo Freire, homenageá-lo e sentir seu afetuoso abraço. Momento que, até hoje, não acredito tê-lo vivido. Uma frase, entre tantas outras sábias, foi impactante: Quem não sonha, dificilmente faz a história
.
Como estudante do curso de Pedagogia, do segundo período, na Universidade Federal do Maranhão, deparei-me com um trabalho desafiador: o de apresentar em um seminário as concepções das pedagogias progressistas e, em particular, a concepção libertadora de educação proposta por Paulo Freire. Aprofundando os estudos sobre sua trajetória, obras, concepções de educação, homem, mundo, sociedade, escola, avaliação, relação educador/educando, confesso que fiquei seduzida, a priori, pela singularidade como pensava a educação, que o fazia único. Depois a maneira como trabalhava a ética e a estética, a teoria e a prática, o rigor com a incompletude, o dizer e o fazer, o ensinar e o aprender, o texto e o contexto, o local e o global, a militância, o político e a amorosidade. Todos esses ingredientes foram compondo o educador que tanto inspira a minha práxis comprometida, possibilitando rever cotidianamente minhas posturas e desafios com atrevimento, ousadia, coragem, esperança e curiosidade.
Mais adiante, no Programa de Pós-Graduação de Educação: Currículo da PUC/SP, no qual concluí o mestrado em Educação, ampliei os estudos freireanos na Cátedra Paulo Freire. Nesse espaço, ao desenvolver pesquisas e estudos sobre o pensamento de Paulo Freire, aprendi que é necessário ir além do dizer, ou seja, sentir e, principalmente, fazer freireanamente.
Se educar é também possibilitar o encontro, encontro de gentes
, de almas, que requer escuta e diálogo permanente, convido-o (a) com entusiasmo, esperança e o sonho de uma educação que humaniza e liberta, a ler este livro ancorado e tecido em uma pedagogia centrada no horizonte de uma cidadania emancipatória.
O lastro freireano, ao expressar o compromisso com a educação democrática, tem como intencionalidade a libertação dos seres humanos e a transformação da sociedade por meio da solidariedade e da justiça social. Daí porque acredito que a educação e a formação docente têm como substrato a condição humana com base no tripé ação-reflexão-ação. Dessa forma, a presente publicação objetiva contribuir para a compreensão da importância da formação numa perspectiva de formação permanente – proposta defendida por Paulo Freire – como processo humanizador, dialógico e transformador, indispensável à reflexão crítica e consubstanciada na dinâmica relacional teoria e prática. Isso porque o ser humano é histórico, inconcluso, curioso e com vocação para sempre ser mais.
Lidar com a temática da formação de professores é urgente, necessária e ao mesmo tempo desafiadora, pois os dilemas e contradições enfrentados na contemporaneidade sobrepõem-se aos problemas pedagógicos, atravessando questões de ordem ética, política, de recursos, entre outras. Assim, exige um olhar relevante e significativo dos contextos global, local e escolar. Exige também repensar o fazer docente, o aprimoramento profissional, as condições do trabalho docente e ação reflexiva permanente sobre teoria e prática.
Sendo assim, esta obra apresenta questionamentos e possíveis encaminhamentos relacionados à formação continuada de coordenadores pedagógicos e professores, em especial a dos que atuam com jovens e adultos, exigindo compreender a Educação de Jovens e Adultos (EJA) sob uma perspectiva de educação como direito e sua efetivação mediante a garantia de políticas públicas e formações específicas, metodologias inovadoras e a construção de tempos e espaços diferenciados.
Considerando a diversidade e as características peculiares da EJA, essa modalidade ganha dimensão mais ampliada quando permite pensar: quem são os educandos da EJA? Que sonhos e histórias carregam? Quais saberes que trazem? Indagações entre tantas outras a possibilitar que professores e coordenadores pedagógicos reflitam sobre suas posturas e práticas cotidianas.
Nesse contexto, a tessitura da formação continuada no interior da escola necessita ser ressignificada, assim como os que com ela lidam. Um dos profissionais é o coordenador pedagógico, que, imperiosamente, demanda assumir o seu papel de gestor da formação dos professores, com o desenvolvimento de práticas mais reflexivas, humanizadoras, inovadoras, críticas e que traduzam as reais necessidades da escola. Diferente daquela formação restrita à realização de encontros aligeirados, sem a análise dos diversos contextos, com propostas de cursos totalmente padronizados, mecânicos e conteudistas, restritos meramente ao discurso das teorias.
Ousadia é a saída, no sentido de contribuir com algumas proposições, as quais, acredito, possam fomentar a construção de práticas formativas inspiradas no pensamento de Paulo Freire.
E assim, eterna aprendiz, curiosa e atenta ao novo, aventuro-me na busca do diálogo com os(as) leitores(as) para juntos(as) atribuirmos novos sentidos do pensar e do fazer em educação, a possibilitar a germinação de novas ideias e práticas fundadas no respeito ao potencial de todo ser humano e no reconhecimento integral e irrestrito como pessoa e cidadão(ã). Somos todos(as) aprendizes. Somos todos(as) responsáveis pela construção de novos espaços, novos tempos e, por decorrência, de novos horizontes.
A autora
PREFÁCIO
O que dizer ao público leitor ao apresentar uma obra que transcende ao mero cumprimento de um ritual acadêmico e traduz um longo percurso de paixão e aprendizado? E, na tentativa de responder a esse questionamento, reporto-me ao ano de 1994, quando fui procurada pela então graduanda do curso de Pedagogia da Universidade Federal do Maranhão, Tatiana Rocha Cruz, para ser a orientadora de seu trabalho monográfico que versava sobre a educação libertadora e a prática docente no referido curso. Momento em que me vi diante de uma inquieta e passional defensora dos ideais educativos de Paulo Freire e conhecedora detalhista de sua obra.
Transcorridos tantos outros momentos desse salutar convívio, o que posso lhes dizer é que, em termos vivenciais, esta obra decorre de anos de seu competente trabalho como educadora nos rincões maranhenses e para além deles, na busca de difundir e concretizar os ideais freireanos, como professora do ensino fundamental e na formação continuada das redes estadual e municipal de ensino, entremeadas com palestras e participações em eventos, culminando com sua aprovação no mestrado em Educação, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, onde participou da Cátedra Paulo Freire.
E, em termos formais, as páginas deste livro resultam da dissertação de mestrado da autora, em cujas bancas examinadoras participei, tendo como orientadora a discípula do patrono da educação brasileira, Prof.ª Dr.ª Ana Maria Saul, a quem agradeço pela gentil indicação de meu nome para fazer este prefácio.
Portanto, com especial satisfação e orgulho, vejo tornar-se público o fruto dessa caminhada da mestra Tatiana, em cuja tessitura ela fez a opção teórica pelas obras de Paulo Freire e de autores que se alinham a seu pensamento, justificando-a por considerar que o lastro freireano expressa o compromisso com a educação democrática que tem como intencionalidade a libertação dos seres humanos e a transformação da sociedade, na busca da solidariedade e da justiça social.
¹
Sua investigação buscou respostas à questão central: quais proposições, inspiradas no pensamento de Paulo Freire, podem contribuir para a melhoria das práticas de formação continuada de coordenadores pedagógicos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) da Rede Municipal de Educação de São Luís?
Assim, ao nos trazer Educação de Jovens e Adultos: alguns aspectos do percurso histórico brasileiro e maranhense
, a autora apresenta marcos históricos e sociais relevantes quanto à EJA no Brasil – e em especial no Maranhão – contribuindo para a historiografia da educação maranhense sobre essa modalidade de ensino.
Na sequência, em EJA e a Formação Continuada: o que registram os documentos da esfera federal e as proposições da Secretaria Municipal de Educação de São Luís
, Tatiana analisa os documentos das esferas federal e municipal ludovicense, no que se refere à EJA e à formação continuada dos docentes, dando visibilidade aos indicativos freireanos presentes nos documentos em estudo, e o faz com a maestria de quem os estuda e vivencia – o que também vai estar presente em Coordenador pedagógico, formação e cotidiano escolar: um olhar a partir dos referenciais freireanos
.
O capítulo seguinte, O Pensamento de Paulo Freire como matriz teórico-conceitual
, traduz a maturidade acadêmica da mestra em seu diálogo com o pensamento freireano, do qual decorrem as categorias de análise norteadoras de sua pesquisa: formação permanente, diálogo, conteúdo significativo, problematização e transformação.
Maturidade que é evidenciada no texto Produção das narrativas: caminhos e revelações
, no qual são destacadas as compreensões e percepções dos coordenadores pedagógicos e dos professores da Rede Municipal de São Luís – sujeitos da pesquisa – sobre o processo formativo, sendo elementos provocadores das proposições para a construção de práticas formativas inspiradas no pensamento de Paulo Freire, elencadas em suas Considerações Finais – o inacabamento como dimensão da inconclusão
.
Considero, pois, que a obra de Tatiana Rocha Cruz entregue às mãos leitoras traz um significativo contributo à compreensão da importância e atualidade dos ideais educativos postulados por Paulo Freire. E a parabenizo pela escolha do tema, por se voltar para uma discussão ainda necessária no âmbito das instâncias formadoras.
Prof.ª Dr.ª Iran de Maria Leitão Nunes²
Programa de Pós-Graduação em Educação – Universidade Federal do Maranhão