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A culpa é do escocês
A culpa é do escocês
A culpa é do escocês
E-book368 páginas7 horas

A culpa é do escocês

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Sobre este e-book

Erin quer ser enfermeira-chefe em algum hospital, mas a vida tem outros planos para ela.
Planos que estão em outro país, longe de seus amigos e de tudo que ela conhece e deseja; cuidando de uma mulher que pouco conhece e tolera.
Ela acredita que toda essa mudança é um castigo injusto por estar desempregada e contrariar a mãe.
Ela logo perceberá que sob o céu cinzento e chuvoso da Escócia, encontrará seu lugar ideal no mundo que a fará repensar seu propósito de vida e lhe injetará o desejo de ficar em uma terra estrangeira onde também encontrará, por acaso, o garoto do Kilt; e este, ao vê-la, suspeita que ela fará parte do seu presente e do seu futuro, por isso ele não pode - nem quer - deixá-la escapar.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento4 de jun. de 2021
ISBN9781667402918
A culpa é do escocês

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    A culpa é do escocês - Stefania Gil

    Os personagens, lugares e eventos descritos neste romance são fictícios. Qualquer semelhança com lugares, situações e/ou pessoas reais, vivas ou mortas, é mera coincidência.

    Ilustração da Capa: Freepik.com/Depositphoto.com

    Design da Capa: ASC Studio Design

    Diagramação: Stefania Gil

    2021,

    é o primeiro ano da nova década.

    Será aquele a abrir os caminhos

    para um futuro melhor.

    1

    — Ah, Meribeth, por favor, não vá ainda, em algumas semanas... — Erin olhou para sua mãe com cara de tédio e sua mãe lhe deu as costas. — Sim, sim, eu entendo, mas...

    — Tia de novo? — ela perguntou ao irmão que estava assistindo televisão na sala de estar, típico de seu dia de folga do trabalho.

    Ele apenas concordou com a cabeça e continuou concentrado no programa de televisão que falava de motos e carros.

    Erin suspirou e foi para o quarto enquanto continuava ouvindo a mãe implorar à enfermeira de Isla que não fosse embora ainda.

    Seria a quarta ou a quinta este ano.

    Nesse ritmo, a senhora teria uma coleção de enfermeiras despedidas.

    E ela precisando de um emprego na mesma área. Ele verificou seu celular em busca da famosa notificação de uma possível entrevista de emprego.

    Como esperado, não havia nada.

    Na última que compareceu, estava desmotivada porque queria trabalhar no hospital, não em casa.

    Não entre muros nem por horas, de manhã ou à tarde.

    Não queria um lar de idosos.

    Ela queria fazer todo seu trabalho no hospital.

    Como sempre, a vida tinha um pouco de drama reservado para ela não lhe dar tudo quando ela queria.

    — Como foi?

    Sua mãe sentou-se ao lado dela na cama enquanto ela virava a cabeça para vê-la.

    —  O mesmo de sempre. Nesse ritmo, terei que preguntar a Martín se ele tem uma vaga para mim.

    Martín era seu amigo de infância, do bairro, com quem brincava junto com Laura, a irmã que sua mãe não lhe deu e que a vida, para variar, lhe deu sem fazer com que sofresse muito.

    Martín dirigia o negócio da família que era o eterno bar do bairro.

    — Bem, é um trabalho.

    — Não foi para isso que estudei, mãe — Como todas as vezes em que conversavam sobre o assunto, as duas torceram a boca e reviraram os olhos em um gesto que deixava claro o parentesco que compartilhavam. — O que está acontecendo com Isla?

    — Com tia Isla, Erin — ela olhou para ela irritada. Erin sabia que ela não estava irritada porque não usara a palavra ‘Tia’ com a velha amargurada; o aborrecimento da sua mãe se devia ao fato de sempre querer ajudar toda a família e estar exausta, ficando sem opções com esta parente que era a única que tinha viva. Ela suspirou. — A enfermeira vai embora.

    — Não esperava outra coisa.

    Houve um silêncio constrangedor.

    —  Você é muito dura com ela.

    Erin preferiu não responder.

    Não estava interessada, a última vez que o fez, teve uma discussão com sua mãe. Isso a deixava muito — muitíssimo — zangada, que sempre estivesse se sacrificando pelos outros e deixando a si mesma de lado.

    — Não poderei sair antes que a enfermeira vá embora. Estava planejando pedir férias...

    — Que deveria passar conosco. Há anos não passamos as férias juntos porque não conseguimos fazer com que nossos horários coincidam.

    — Poderemos fazê-lo — sua mãe respondeu resignada, como sempre. E isso irritou ainda mais Erin que pensou que deveria dizer que, nesse ritmo, sairiam de férias, em um futuro não muito distante, mas enquanto a carregava transformada em cinzas porque o tempo passava e sua mãe cada vez mais se consumia com os outros... e não haveria mais nada a fazer a não ser despedir-se dela para sempre.

    Mas não valia a pena dizer isso em voz alta porque acabariam brigando.

    Ela sentou-se na cama.

    — Tenho que ir ao Martín.

    — E eu vou ver o que consigo fazer em relação ao trabalho e a tia Isla.

    ***

    — Como você está, linda?

    — Puta com a vida.

    — Como sempre, esse é um estado natural para você —Erin fez uma careta de zombaria para Martín que estava atrás do bar preparando café para dois anciões que sempre visitavam o bar na mesma hora. — Espere eu atender esses dois e depois conversamos.

    Erin assentiu e acomodou-se no bar, verificando seu celular ... de novo.

    — O cara da outra noite ligou para você?

    —  Nem que ligue. Não estou disposição para caras idiotas.

    — O que lhe apetece?

    — Não sei, Martín. Isso de não encontrar trabalho é uma merda.

    — Trabalho existe, só que você está sendo muito exigente.

    Martín sempre foi o mais conformista dos três. Desde pequeno sabia que sua missão na vida seria trabalhar no bar da família e nada nem ninguém poderia tirá-lo de lá.

    —  Não estou sendo exigente, cara. Eu morri de tanto estudar. O mínimo que mereço é entrar em um hospital, droga!

    — O que você disser, não vou discutir com você também.

    — Você já discutiu com Laura?

    — E como não discutir? Se a garota passa o tempo todo na merda do celular.

    — É o trabalho dela.

    — Que encontre um emprego de verdade — ele sentenciou indignado e Erin preferiu não dizer mais nada.  

    As brigas entre Martín e Laura podiam ser enormes, mas sempre acabavam resolvendo tudo porque foram feitos um para o outro e mesmo se passassem três semanas sem se falar, o amor superava tudo e os fazia sorrir de novo e se beijar sem parar, o que era incrivelmente embaraçoso para Erin.

    Eles ficaram em silêncio por um tempo.

    — Encontrei sua mãe hoje. Ela estava com pressa para pegar algo da sua tia.

    — O mesmo de sempre. A velha que não para de criticar as pobres enfermeiras.

    — Sua mãe não tem descanso com essa mulher.

    — Não, ela não tem, assim como aconteceu com outras pessoas — ela suspirou. — Cheguei em casa quando ela ainda estava tentando convencer a enfermeira a ficar até que minha mãe pudesse viajar.

    — Você poderia ir. Talvez ela até lhe pague e você viveria na Escócia.

    — Você está louco, cara? Como vou viver com uma mulher que mal aguenta falar comigo ao telefone?

    — Bem, talvez ela só não goste de falar ao telefone.

    O celular de Erin tocou, alertando-a para uma mensagem.

    Você está no bar?

    Sim.

    Quão zangado ele está?

    Muito

    Martin se inclinou para frente olhando para a janela de bate-papo e sorriu de lado com grande ironia.

    — Diga que estou mais zangado do que nunca.

    — Não, você não está.

    Ambos riram e Erin soube que a briga entre eles logo passaria.

    Ele acabou de dar uma gargalhada referindo-se à sua raiva com você

    Dois segundo depois:

    Hoje à noite irie usar aquele conjunto de renda roxa que ele me deu há alguns

    Erin largou o telefone e viu seu amigo começar a cantar enquanto tirava os copos limpos da máquina de lavar louça para a prateleira.

    — Pelo visto terei de ir embora para fazer alguma coisa em casa antes do jantar, para que minha mãe, tão sobrecarregada como está, não descarregue em mim.

    Martín olhou de soslaio para ela.

    — Ainda tenho a vaga de garçonete disponível, Erin.

    —  Ha! Primero vou cuidar da velha bruxa da Isla.

    ***

    Mais tarde, naquele mesmo dia, Erin estava preparando o jantar enquanto sua mãe tomava um banho e seu irmão continuava vendo TV.

    Eles teriam um jantar leve porque sua mãe não estava com fome nem ela. Se Darren estivesse com fome, que se levantasse e fizesse algo melhor para si.

    Eu estava lavando a alface quando Darren entrou na cozinha para beber água.

    —  Isso é o que temos para o jantar?

    — Não, o cardápio está no corredor. Você pode ir ver o prato do dia e tirar o traseiro do sofá para vir aqui ajudar pelo menos uma vez na vida.

    — Seu irmão ajuda em casa — Erin ficou em silêncio porque discutir com sua mãe sobre a questão da desigualdade nas tarefas domésticas era tão inútil quanto discutir sobre Isla. — Se você tivesse um dia de folga por semana, também teria alguns privilégios.

    — Isso é um pouco injusto, mãe.

    — Não, não é — Darren interveio com sinceridade. — Erin, você precisa procurar algo para fazer enquanto aguarda que saia algum trabalho no hospital.

    — Prefiro esperar um pouco mais.

    — Ficaríamos melhor com outra renda, irmãzinha; porque suas viagens de ônibus custam dinheiro; os cartões de metrô custam dinheiro e aquelas saidinhas com seus amigos custam dinheiro.

    O telefone tocou, interrompendo-os.

    Rhonda foi atender.

    —  Sim? — respondeu em espanhol, embora alguns segundos antes ela estivesse falando em inglês com os filhos como sempre faziam quando estavam juntos em casa ou fora dela.

    — Martín me disse que tinha uma vaga disponível e que você não quer aceitar.

    Erin revirou os olhos.

    — Não vou trabalhar como garçonete — ela olhou para o irmão com confiança e ele olhou para ela com decepção. — Darren, não estudei todos esses anos para me tornar uma garçonete.

    — Faça o que quiser, Erin, mas saiba que no dia em que mamãe se cansar, irei apoiá-la para lhe dar uma lição.

    Rhonda desligou o telefone e olhou para eles cansada.

    — Comam que eu perdi a fome. Acabam de me informar que não há possibilidade de adiantar minhas férias e... —ela esfregou o rosto —... estou exausta, talvez amanhã pense melhor sobre tudo isso com tia Isla. Boa noite.

    Ela virou-se, deixando-os atordoados na cozinha porque sua mãe, por pior que fosse a situação pela qual estavam passando, sempre sorria e mantinha uma atitude positiva, incentivando-os a continuar.

    Foi assim quando eles perderam o pai.

    Darren olhou para Erin e sorriu com tristeza.

    — Mamãe espera que você a ajude com isso, Erin.

    Ela soltou um suspiro irônico, cortando a alface irritante com as mãos.

    — E o que eu posso fazer?

    — Você é a única em casa que não tem emprego no momento e poderia ir ficar com a tia e ajudar mamãe.

    Isso foi demais para Erin que se virou para olhar para seu irmão que era trinta centímetros mais alto do que ela e insolente, disse:

    — Primeiro aceito o emprego de Martín.

    ***

    Dois dias se passaram desde que Erin decidiu aceitar o emprego que Martín tinha disponível em seu bar para que nem sua mãe nem seu irmão se tornassem criativos e a mandassem para a Escócia com a ideia de que ela fosse a enfermeira de tia Isla.

    Ah, não.

    Nada disso.

    Antes, garçonete.

    E lá estava, aprendendo a fazer tudo que precisava ser feito no trabalho: desde limpar os banheiros até preparar uma omelete, se necessário.

    Ela não era ruim na cozinha e até certo ponto, gostava disso.

    A questão da limpeza era outra coisa.

    Ela o odiava. Mas isso era melhor do que ter que limpar a baba da velha amargurada da tia de sua mãe, que não fazia nada além de preocupá-la.

    Sabia que sua mãe não dormia há dois dias, culpa dela, é claro, por não deixar as regras do jogo claras com aquela anciã que parecia uma menina malcriada de cinco anos.

    — Já aprendeu a fazer café? — Laura a surpreendeu do outro lado do bar. Ela se sentiu estranha ao ver a amiga com o bar entre elas porque o normal era que as duas compartilhassem o mesmo espaço enquanto Martín as atendia de onde Erin agora se encontrava.

    — Ainda não, garota. É que a merda da máquina não gosta de mim.

    — E você, não gosta do trabalho.

    — Como se você gostasse dele mais do que eu.

    — Não estou te criticando, só estou fazendo você ver que as energias daqui não são adequadas para você.

    — Bem, melhor aqui do que na Escócia com uma mulher que não conheço e que não tolero.

    — Talvez ela não seja tão má quanto você acredita.

    — Porra, garota, vamos ver se você me dirá a mesma coisa no dia em que falar com ela.

    Laura sorriu divertida enquanto Erin franzia a boca com amargura.

    — E Martín?

    Erin deu de ombros, olhando para os lados. A verdade é que ela não sabia onde Martín estava. Ele havia dito já volto e não o viu mais.

    — Talvez ele esteja no escritório — Eles tinham um pequeno escritório nos fundos do bar onde organizavam toda a parte administrativa.

    — Ontem ele me disse que não tinha certeza de ter feito a coisa certa ao contratá-la.

    — E eu não o culpo — Erin derramou o leite frio na jarra de aço inoxidável para que pudesse aquecê-lo na máquina e preparar um café para sua amiga. — Sei que só estou aqui há dois dias, mas já deveria ter feito algo certo e nada, garota, nada. Sequer consigo limpar o vaso sanitário direito.

    — Bem, pense que isso é algo temporário.

    — Como a briga de vocês no outro dia — mencionou Erin enquanto olhava para sua amiga e ao mesmo tempo, começou a aquecer o leite. Ela pressionou o botão que deixa sair o vapor e deu um pulo que fez o leite saltar, derramando boa parte no balcão —: Merda!

    — Você está bem? — Laura olhou para ela preocupada.

    Erin começou a recolher toda a bagunça.

    — Sim, estou. Posso não estar se continuar sem prestar atenção — a jarra de leite não estava no lugar certo porque ela não estava atenta ao que estava fazendo. Felizmente, o vapor não atingiu sua pele diretamente.

    — Melhor, me dê uma Coca-Cola.

    Erin assentiu, tirou a lata da geladeira, entregou a sua amiga e continuou limpando o balcão.

    — O conjunto de renda funcionou com Martín na outra noite. Estamos bem agora. Você sabe como nós somos — ela abriu a lata, tomou um gole e depois ergueu o ombro direito para cima. — Bem, você já sabe como é com o meu trabalho.

    Laura era Community Manager de várias marcas e contas pessoais, incluindo uma própria, dava cursos e estava pensando em abrir uma pequena escola online, mantendo seus clientes que eram os que contribuíam com a maior parte do dinheiro e que a obrigavam a passar mais tempo do que deveria com o celular na mão conectada às redes sociais.

    Amava seu trabalho.

    Ela fazia tudo com paixão e Martín, que não entendia essa paixão pelo trabalho, às vezes não conseguia aceitá-la.

    Ela entendia Laura porque queria o mesmo para si.

    — Não te chamaram de nenhum lugar?

    Erin negou com a cabeça, vendo pelo canto do olho que uma mesa estava sendo ocupada e que deveria atendê-la.

    Ela pegou o bloco de notas e a caneta do bolso do avental e saiu da área em que estava para poder atender à família que se sentava à mesa.

    Dois meninos, uma avó, mãe e pai.

    Os meninos não paravam de pular enquanto Erin anotava os pedidos.

    — Três pães com azeite, dois com tomate, dois chocolates quentes, água e dois cafés. É tudo?

    — Sim, obrigada — eles responderam enquanto os meninos continuavam se movendo ao redor da mesa.

    Ela se virou e não tinha conseguido atravessar o bar quando ouviu um vidro se espatifar no chão. Um menino começou a chorar enquanto ela fechava os olhos e pedia a algum Deus supremo que a tirasse dali e a cuspisse em um hospital, na sala de emergência, que era onde mais gostava de estar.

    Em um segundo, o bar se transformou em um caos completo.

    As crianças choravam, a mãe estava histérica, a avó tentava consolar a criança machucada, a criança machucada chorava de dor por causa do corte com o vidro na mão e a mais nova das crianças chorava por causa da agitação ao seu redor.

    O pai era o único que parecia manter-se são na situação.

    Erin olhou para Laura e ficou desanimada.

    — Pelo menos hoje você consegue pode curar alguém —Laura sorriu para ela, tentando mostrar um lado otimista de tudo isso e sim, de certa maneira, ela estava certa.

    A puta vida, como sempre Erin pensou enquanto corria em direção ao caos para ajudar.

    ***

    — Você está bem?

    Rhonda vi a filha com a camisa manchada de sangue e correu até ela para examiná-la de maneira minuciosa.

    — Sim, mamãe, estou.

    — Um dia difícil no bar? — Darren, como sempre, com suas perguntas estupidamente inoportunas.

    Erin concordou com a cabeça e sentou-se, morta de cansada, em uma das cadeiras da cozinha.

    Ela contou tudo o que aconteceu.

    — Graças a Deus a criança está bem — disse sua mãe.

    — Ainda bem que eu estava ali e pude ajudá-los com o machucado porque era muito feio.

    — Sim. Ainda bem.

    Darren acrescentou sarcástico.

    Erin revirou os olhos. Sua mãe olhou para ela mais uma vez com decepção.

    Desta vez não doeu como alguns dias antes quando ela chegou do trabalho dizendo que seria ela quem iria para a Escócia com Isla, porque era a única em casa que estava desempregada naquele momento e que, do jeito que as coisas estavam, nenhum dos que já tinham um emprego poderia se dar ao luxo de perdê-lo.

    Não, claro que não, por isso era melhor que ela se ferrasse.

    E depois que sua mãe a informou dessa decisão que havia tomado, sem nem consultá-la, naquela noite, depois de muito pensar, decidiu que era melhor ser garçonete do que viver na Escócia com uma velha amargurada fazendo algo que não queria fazer.

    Ela também não queria trabalhar no bar, mas sabia que isso era muito mais temporário do que ficar na casa de um parente em um país desconhecido, sem data de partida definida.

    Ao amanhecer, ela escreveu a Martín dizendo que aceitava o emprego e que iria naquela manhã mesma assim que desse a notícia em casa.

    Foi quando sua mãe lhe deu um olhar cheio de decepção.

    Como seu irmão, que não lhe dirigiu a palavra até dia seguinte quando se encontraram na cozinha da casa.

    Naquele primeiro dia já estava de mau humor no bar por ter que aceitar um trabalho que nunca pensou em aceitar porque ela não queria ser garçonete e porque sua família não a apoiava quando mais precisava.

    Sim, um dia que começou mal e que piorou enquanto estava no bar.

    O segundo dia ficou marcado por uma tragédia.

    Um asco.

    A puta vida.

    Erin sentia que estava no meio de um complô que estava trabalhando contra ela.

    Mas era apenas uma questão de tempo até que alguém a chamasse para lhe dar um emprego e assim todos deixariam de querer mandar em sua vida porque ela era uma preguiçosa.

    O que não era. Ela era uma jovem em busca de uma oportunidade.

    — Você não acha ... — ela não deixou sua mãe terminar porque sabia o que ela ia dizer.

    — Pare com o papo-furado, mamãe — ela respondeu em espanhol. Quando estava chateada, as palavras em espanhol saíam melhor do que em inglês. — Vou dormir.

    Outra vez, os olhares de decepção.

    Ela olhou para o celular enquanto caminhava pelo corredor até seu quarto.

    Nenhuma notificação de possíveis empregos nem esperança dessa mudança em sua vida que tanto desejava.

    Ela bufou desanimada, enroscou-se na cama sem se importar por não ter tomado banho. Sequer trocou a blusa ensanguentada.

    Ela não se importou, estava exausta e triste porque nada estava saindo como havia planejado.

    Ela bufou.

    Na verdade, nada estava dando certo desde a morte de seu pai.

    Ela viu a foto na mesinha de cabeceira.

    Ela sorriu com tristeza, sentiu o ardor nos olhos e a vontade de chorar que sempre sentia quando pensava nele e no quanto sentia saudades dele.

    Faça o que fizer, faça-o sempre sendo a melhor, ela se lembrou das palavras do pai nas quais se refugiou naquela noite, entregando-se à exaustão e pensando que tudo ficaria bem.

    A mudança viria, ela sabia que viria, só não fazia ideia das lições que receberia para conseguir alcançá-la.

    2

    Rhonda Stewart vinha de uma família escocesa de classe média. Como seu marido falecido que, nos primeiros anos de casamento, conseguiu uma excelente oportunidade de trabalho na Espanha e mesmo depois de ter sido despedido pouco depois de se instalar em Madrid, decidiram permanecer no país em que a luz do sol brilhava no céu na maior parte dos dias; encontrando novas oportunidades, aprendendo o idioma e sendo adotados pelos espanhóis com muita alegria.

    Não esperavam, é claro, a mudança repentina que a vida lhes proporcionou alguns anos atrás, quando Edwin morreu de um infarto fulminante. Uma dessas coisas que ninguém consegue explicar porque ele era um homem forte, saudável e que se cuidava.

    O que aconteceu a seguir foi um caos que aos poucos Rhonda foi controlando com muito esforço e sacrifícios. Sempre encontrando a maneira de resolver tudo que era de sua responsabilidade e também o que não era.

    Rhonda era assim e sempre foi alegre, mas ultimamente, estava começando a ficar cansada de muitas coisas.

    Ela precisava descansar. Era isso que ela clamava; e revigorar-se, acalmar-se, ter tempo para si mesma.

    Por isso ela ansiava por essas férias que pediu no trabalho porque tinha decidido ir para sua terra onde há anos não ia.

    O plano era ir sem filhos e sim, iria para a casa de sua tia que não tinha o temperamento de um pote de mel, nada disso, mas era uma mulher com quem gostava de conversar apesar da sua acidez, que tinha bem justificada na vida.

    No entanto, as coisas não estavam saindo como ela queria pois mesmo na data marcada não poderia ir.

    Ela trabalhava em uma empresa privada de entregas e duas poucas, do pouco pessoal que já tinham, decidiram ir embora para sempre, portanto tinham mais trabalho, menos gente e Rhonda não conseguia implorar ao chefe algum espaço para si, quando o pobre homem que sempre se comportava tão bem com ela e seus filhos, atravessava por um momento difícil em sua empresa.

    Ela esperaria, como sempre, pelo momento certo para ir à Escócia e relaxar nas áreas rurais.

    Ela viu a fotos dos seus filhos que tinha sobre a mesa do escritório onde organizava todo o dia do seu chefe.

    — Bom dia, Rhonda.

    — Bom dia, senhor.

    Ela permitiu que ele visse um daqueles sorrisos que seu marido dizia que eram mais falsos do que qualquer outro.

    O senhor Dunn olhou para ela com hesitação.

    — Há algo de errado?

    — Nada importante no escritório, senhor, problemas em casa com a família.

    — Ahhh, os filhos, patifes — o senhor Dunn, também escocês, era alto com uma barriga saliente e o cabelo branco. Um homem exigente, duro com seus funcionários e também bondoso quando deveria ser.  Ele pigarreou, guardando o maço

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