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Sempre te amarei
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E-book378 páginas4 horas

Sempre te amarei

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Sobre este e-book

O esposo de Holly morre em um acidente de trânsito no mesmo dia em que celebram seu vigésimo aniversário de casamento.

 

Desconsolada por não ter conseguido dizer adeus a Sam, ela decide preparar um funeral especial para honrar sua vida. Sem imaginar que, graças a força do amor que os une, terão uma nova oportunidade para se verem. Holly sente que a visita do espírito de Sam será o apoio que ela necessita para continuar com sua vida, procurar um emprego e cumprir assim com todas as responsabilidades financeiras pelas quais terá de se responsabilizar a partir deste momento.

 

Deverá fazer isto pelos seus filhos e por ela.

 

Uma série de eventos importantes em sua vida demonstra que com confiança em si mesma e vontade de superação pode conseguir tudo o que quer. Entre estes eventos conhece Steve, a quem deverá ver com mais frequência do que gostaria.

 

Movido pelo ciúme, o espírito de Sam começa a se comportar de uma maneira estranha, fazendo com que Holly comece a se questionar se realmente está fazendo o certo ao manter o espírito do seu marido ao seu lado.

 

Holly será capaz de dizer adeus a Sam definitivamente? Poderá abrir-se novamente ao amor e dar uma oportunidade para Steve?

IdiomaPortuguês
Data de lançamento15 de abr. de 2022
ISBN9798201497804
Sempre te amarei

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    Pré-visualização do livro

    Sempre te amarei - Stefania Gil

    Dedicado a todas essas mulheres que,

    não importa o que lhe coube viver,

    seguem em frente e lutam todos os dias,

    para alcançar seus sonhos.

    Sempre te amarei

    Stefania Gil

    Tradução de Ju Pinheiro

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    Espere, não vá ainda!

    Convido você a ler

    as primeras páginas da história

    de Jen...

    Meu último: Sim, aceito.

    Stefania Gil

    Tradução de Ju Pinheiro

    No momento presente

    Minha vida antes de James

    Querido leitor:

    Outros títulos da autora:

    Stefania Gil

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    — Pronto! — disse quando tinha terminado de arrumar tudo.

    Fui até a cozinha, servi um pouco de vinho em uma taça e depois fui até o banheiro para retocar a maquiagem.

    Sam iria demorar um pouco para chegar. Tinha desencadeado um dilúvio e era a hora de maior tráfego na cidade. Mas eu queria estar perfeita para quando ele chegasse.

    Era nosso aniversário, celebraríamos 20 anos de uma união perfeita. Estávamos no nosso melhor momento, tanto sentimental como financeiro. Tínhamos muitos motivos para celebrar.

    Suspirei, tomei um gole da minha taça e vi a mesa posta.

    Tinha ficado maravilhosa.

    Sorri.

    Tinha uma vida perfeita, não poderia pedir mais ao universo.

    Eu me sentia tão apaixonada pelo meu marido como no primeiro dia.

    E minha mente começou a evocar aquelas lembranças de quando e onde eu tinha conhecido Sam.

    Naquela tarde em que nos conhecemos também estava chovendo, o suficiente para que você ficasse encharcado só de atravessar uma rua. Eu tinha me refugiado, como outros tantos haviam feito, em uma pequena cafeteria. Estava entrando o outono e o vento, como de costume em Chicago, era muito forte. Tinha tentado caminhar um pouco mais, estava atrasada para o trabalho e não queria perder o meu emprego. Mas compreendi que teria de desistir do meu plano por alguns minutos, quando uma rajada de vento quase leva o meu guarda-chuva.

    A cafeteria tinha um ambiente agradável, embora um pouco úmido por causa da quantidade de gente que estava lá dentro. Mas não estava ruim. Eu me preocupava com a hora. Era a quarta vez nesta semana que estava atrasada para o trabalho. Na segunda-feira e na quarta-feira tinha chegado com cinco minutos de atraso; na quinta-feira com dez e hoje já estava atrasada 17 minutos. Meu chefe ia me matar.

    Estava nas provas finais da Universidade, queria ser uma confeiteira chefe e para poder viver sozinha, porque não podia suportar mais a minha mãe, tinha que trabalhar. Tinha conseguido um estágio – remunerado – na confeitaria mais famosa que havia na cidade naquele momento. Então, por motivos de sobra, não podia me dar ao luxo de perder meu emprego.

    Na quarta vez que olhei para o relógio no meu pulso, fui interrompida por uma voz masculina grave.

    — Quer tomar um café? — quando olhei para cima, senti-me invadida por uma sensação que jamais soube descrever. A coisa mais próxima que sempre consegui dizer é que tinha sido como se um milhão de formigas, que fugiam como loucas de um incêndio, tivessem se enfiado debaixo da minha pele.

    E quando o homem que estava na minha frente sorriu para mim, posso jurar – até hoje – que tinha começado a ouvir uma música celestial. Nada como o estrondo dos trovões e a chuva que havia no lado de fora do lugar e que se empenhava em cruzar todos os limites.

    Fiquei sem palavras com a pergunta básica do homem. Que grande bobagem, só devia dizer que sim!... E não tinha conseguido fazer isto.

    O homem sorriu de novo.

    Era bonito. Não como os atores da TV. Não, sua beleza era real. Dessas que você não sabe como definir exatamente o que mais gosta nele, porque seu rosto funciona como um todo. Também não vou dizer que parecia um anjo porque estaria mentindo. Mas era perfeito aos meus olhos.

    Com seu cabelo avermelhado e cacheado, seu nariz imperfeito e seus olhos verdes brilhantes. Até suas sardas me pareceram bonitas apesar de ocuparem grande parte do seu rosto.

    — Tenho que continuar com meu trabalho — ele voltou a dizer — mas se você quiser algo, por favor, basta dizer e irei trazer — ele concluiu com uma piscadela e um meio sorriso que me deixou surda e idiota pelo resto do dia. Tinha ficado tão nervosa pela maneira como este garoto tinha olhado para mim que saí correndo da cafeteria, sem me importar que lá fora o dilúvio universal ameaçasse acabar com a cidade nas próximas horas. Não tive tempo nem de tirar o guarda-chuva antes que meu nervosismo me fizesse sair de maneira histérica do lugar.

    Cheguei ao meu trabalho e para minha sorte, François estava muito ocupado com um bolo de casamento para não-sei-quem que era muito importante. Apenas olhou para mim com olhos de censura e balançou a cabeça.

    O problema veio depois. Quando me mandou fazer um bolo de presente para esse não-sei-quem e o bolo não cresceu. Talvez tivesse esquecido de colocar os ovos. Nunca saberei o que faltou naquele bolo porque não me lembrava. Passei toda aquela tarde em branco. Bom, não exatamente em branco. Na minha mente só havia um pensamento e era: o ruivo bonito que tinha deixado na cafeteria.

    — Vá para casa, Holly — François me disse.

    — Sinto muito, François. Não sei o que aconteceu comigo hoje.

    — Você tem cara de apaixonada. Vá para casa e volte amanhã. Mas, por favor, volte com concentração porque senão irei pedir que não volte mais.

    Saí correndo. Não sabia se pela seriedade com que François tinha falado comigo ou porque tinha me assustado quando disse que eu estava apaixonada. Bah! Que grande bobagem! Como ia me apaixonar em cinco minutos? Era impossível.

    E só havia uma maneira de comprovar.

    Fui de novo até a cafeteria. Minha roupa pingava água, ainda não tinha parado de chover e era a única muda de roupa que eu usava.

    Entrei no banheiro.

    Quando vi minha aparência, me repreendi por ter chegado ao trabalho assim. Foi por isto que François tinha olhado para mim com cara feia, tinha certeza. Não tinha sido por ter chegado atrasada, mas pela minha aparência de chuveiro ambulante e por ter deixado tudo molhado no meu caminho.

    Na segunda vez que me vi no espelho, me repreendi com mais força por ter sido tola o suficiente para voltar à cafeteria, com tal aparência, para ver o homem que tinha tomado conta dos meus pensamentos durante aquela tarde.

    Que vergonha! O mínimo que ela poderia fazer era se desculpar por ter molhado toda a cafeteria ao entrar.

    Sequei um pouco o cabelo com papel para secar as mãos. Depois que tinha encharcado pelo menos uma dúzia de papéis toalha tentando secar uma das mangas da minha camisa e ao ver que levaria toda a vida e toda a reserva de pacotes de papel para banheiro que tivessem no depósito, respirei fundo e saí derrotada.

    Mas pronta para me desculpar.

    Que surpresa eu tive quando abri a porta.

    Lá estava meu príncipe ruivo sorrindo com malícia e com uma camiseta na mão.

    — Sinto muito por esperar aqui fora — ele me disse um pouco me envergonhado. Só um pouco. — Vi você entrar correndo no banheiro e pensei que... talvez gostaria de colocar algo seco. Só tenho esta camiseta. Sinto muito.

    Sorri para ele. Sim! Tinha conseguido sorrir para ele.

    — Obrigada — para minha surpresa, meus braços responderam ao comando de: pega a camiseta e entre no banheiro de novo.

    Fiz isto. Depois saí. Continuava pingando água da minha roupa íntima, calça e sapatos; era um constante splash, splash cada vez que dava um passo.

    Sentei-me em uma das mesas.

    Imediatamente recebi o melhor café americano que eu já tinha tomado na vida.

    O café veio acompanhado de um bilhete.

    Poderia esperar por algumas horas? Adoraria conhecê-la e não quero interrupções. A cafeteria fecha às 20:00.

    Pensei por um instante. Estava encharcada e não era uma ideia muito boa permanecer assim por mais tempo porque o resfriado que pegaria seria enorme. Não, não era uma boa ideia. Por outro lado, já estava há muitas horas naquele estado, tinha me molhado com o aguaceiro duas vezes, já estava sentindo o frio no meu corpo fazia um tempo ... então o que importava mais algumas horas?

    Meu senso de responsabilidade se debatia em um duelo até a morte com a curiosidade que tinha por conhecer o meu príncipe ruivo. Se adoecesse, ia perder alguns dias de aula e depois havia a questão do trabalho e...

    Para o inferno com tudo!

    Minha curiosidade respondeu com um ataque de surpresa ao meu senso de responsabilidade e ...

    Respondi no mesmo papel, um pouco mais abaixo.

    Parece uma boa ideia

    Então esperei o tempo acordado. Quando o local estava vazio, o rapaz se aproximou de mim de novo.

    — Santo céu! Você está tremendo de frio! Sinto muito, não pensei nisto quando pedi que você ficasse. Vamos, levo você para casa.

    Tentei responder, mas os dentes batiam tanto que era incapaz de controlá-los. Também não estava sendo muito boa para controlar os tremores do meu corpo.

    Como pude, indiquei-lhe onde morava. Ele me acompanhou até a porta da casa.

    — Deixe-me ajudá-la com isso — ele disse, enquanto eu procurava na minha bolsa, sem sucesso, as chaves da casa.

    Ele as encontrou e abriu a porta.

    Entrou comigo e me ajudou o máximo possível. Ele me fez tomar um banho quente. Preparou uma sopa instantânea que tinha na despensa e me deu um chá muito quente.

    Quando os espasmos passaram e comecei a ficar com calor, meu cérebro começou a reagir.

    Tinha deixado entrar na casa um completo desconhecido que tinha me ajudado, entre outras coisas, a me despir para entrar no chuveiro. Que diabos estava acontecendo comigo?! Eu não agia assim! Poderia ter acontecido qualquer coisa comigo.

    Ele continuava lá. Ao meu lado, no sofá da sala de estar vendo TV.

    Ele se virou para olhar para mim.

    Ele sorriu.

    Era impossível que ele pudesse me machucar. Impossível. Ninguém que poderia sorrir desta maneira e que tivesse um olhar tão doce, poderia machucar outro ser humano.

    — Você se sente melhor? — ele perguntou, segurando a minha mão.

    — Sim, obrigada.

    — A verdade é que fui um pouco egoísta e impulsivo ao pedir que você ficasse no café estando encharcada pela chuva. Deveria ter pedido seu número de telefone e — encolheu os ombros —, mas é que quando pensei, fiquei com medo que depois você não atendesse o telefone. Você sabe, se tivesse me achado um bobo ou talvez tenha namorado e não possa sair comigo.

    — Você quer que eu saía com você? — tive de fazer uma pausa porque não parava de espirrar.

    Ele estudou meu rosto um pouco. Sempre sorrindo.

    — Sim, quero que você saía comigo. Mas acho que que será em alguns dias porque você vai estar resfriada pelas próximas 48 horas. Eu me chamo Sam, aliás — ele deu uma piscadela. — E aqui deixo anotado o número da minha casa e do meu trabalho. Preciso ir para casa estudar.  Amanhã tenho uma prova importante e não posso ser reprovado, muito menos faltar. Mas quero que saiba que se você precisar de algo, a qualquer hora, ligue para mim, por favor.

    Eu concordei com a cabeça.

    Sentia que estava em um sonho. Espirrei de novo.

    E de novo. E mais cinco vezes.

    Ele suspirou enquanto observava o tempo através da janela.

    — Virei amanhã depois da prova. Eu prometo. Quero que você melhore logo para poder sair comigo — ele piscou de novo.

    — Obrigada, Sam — respondi enquanto ele se aproximava da porta. — Ficarei bem, não se preocupe. Nós nos vemos amanhã.

    Ele ficou parado na porta como se como esperando algo.

    — Sério Sam, obrigada por tudo. Vou ficar bem. Telefonarei se precisar de algo.

    Ele sorriu.

    — Não está se esquecendo de algo?

    Neguei com a cabeça porque estava espirrando de novo.

    — Gostaria de saber: qual é o seu nome?

    Eu me senti como a maior idiota do universo. Como não pensei em dizer o meu nome?

    Dei uma gargalhada.

    —  Sinto muito, Sam. Holly, meu nome é Holly. Apertaria sua mão, mas poderia contaminá-lo com o resfriado.

    — E eu te daria um beijo. Mas aconteceria a mesma coisa e um dos dois tem de estar bem para cuidar do outro.

    As minhas pernas tremeram. E não pelo frio que tinha se acumulado no meu corpo.

    Tenho certeza que ruborizei ao máximo porque ele sorriu com muitíssima malícia.

    E foi embora

    No dia seguinte, ele tinha pedido permissão no trabalho para passar a tarde toda comigo e poder cuidar de mim.

    Meu Sam. Suspirei e voltei à realidade porque meu celular não parava de tocar.

    — Querida, como vai? — era minha amiga Jen.

    — Muito bem e você?

    — Bem, bem. Agora presa em um tráfego terrível na autopista. Parece que houve um acidente com vários carros e bom, aqui estou eu. Desesperada para chegar em casa, tomar um banho, tomar um chocolate quente e depois me enfiar na cama para ver Grey’s Anatomy. Quero ver McDreamy e me concentrar enquanto puder na sua imagem para poder sonhar tranquilamente com ele hoje à noite. Seria maravilhoso sonhar com ele.

    Dei uma gargalhada.

    Jen, minha melhor amiga era um caso perdido. Sempre estava apaixonada pelo ator da moda. Na vida real não existia a possibilidade de um namorado para Jen. Ela tinha se divorciado do seu segundo marido fazia alguns anos e tinha jurado que até ali chegava sua simpatia pelo amor. A partir daquele momento o que ela tinha eram aventuras. E seu amor pelos atores.

    — Queria vê-la com McDreamy na sua frente declarando seu amor. Vejamos se não ia mudar de ideia!

    — Não querida, você sabe. Nem que fosse o próprio Brad Pitt me declarando o seu amor. Pode ser que passe uma noite deliciosa entre seus braços e depois sonhe com ele como uma adolescente, mas o mandaria de volta para a sua vida. Nada de amarras e ainda menos responsabilidades de lavar roupa, limpar e cozinhar. Nada disto.

    — Nem se for o Brad que peça?

    — Nem isso — ela respondeu divertida. — Então diga-me, já tem tudo preparado para a celebração desta noite?

    — Sim. Obrigada pela sua ajuda com as flores, amiga. Você é um amor. Ficaram lindas na sala de estar e na sala de jantar.

    — Fico feliz. Já são oito horas. Sam, deve estar chegando.

    Jen e eu éramos amigas de infância. Tínhamos vivido uma ao lado da outra durante a maior parte da nossa vida. Ela era a coproprietária de uma floricultura. Seu sócio era seu ex-marido número dois. Jen sempre foi amante das flores e após realizar vários cursos, teve vontade de abrir a sua própria floricultura. Carl – o ex-marido número dois – comprou o local e o credenciou para que ela pudesse realizar seus sonhos. A única condição de Carl era que ele seria seu sócio, embora não soubesse nada sobre flores. Carl parecia o marido perfeito. Sério. Mas seu disfarce de marido ideal acabou quando Jen o encontrou em cima da sua secretária, dentro do seu próprio escritório. Ela estava passando para convidá-lo para almoçar porque tinha conseguido um cliente grande que daria um impulso incrível à sua floricultura. E se deparou com aquela imagem. Coitada. Então, durante o divórcio, ela não cedeu a sua parte do negócio e ele, com a esperança de reparar o dano que tinha causado, nunca lhe vendeu a sua porque acreditava que cedo ou tarde acabaria por reconquistá-la. Assim ele pensava.

    — Sim, Sam telefonou faz algumas horas. A verdade é que já deveria estar aqui faz um bom tempo, mas com certeza parou em algum lugar para comprar algo especial para hoje.

    — E as crianças? — sempre achava graça disto. As crianças. Já eram adolescentes e ainda dizíamos crianças.

    — Na casa do meu pai. Ele as levou por todo o final de semana. E você sabe que elas adoram ficar com seu avô Paul.

    — É que seu pai é encantador.

    — Minha mãe também ligou hoje.

    Jen suspirou.

    — Acalme-se — eu disse. — Não permiti que me dissesse nada que pudesse estragar o dia. Até posso dizer que não tive que me esforçar muito. Ela parecia gentil. Inclusive me felicitou pelo aniversário.

    — Ela está tramando algo, tenho certeza. Você sabe que eu te amo muito, mas odeio a sua mãe pelo tanto que ela a faz sofrer. E tenho certeza que esta mulher está tramando algo. Você vai ver.

    Eu dei uma gargalhada.

    — Não me surpreenderia se fosse assim. A verdade é que eu também pensei isto quando desliguei o telefone.

    — Bom, não deixe que nada estrague a sua noite nem o final de semana. Desliga os telefones fixos e nos celulares receba apenas a ligação do seu pai ou dos seus filhos. Entendido?

    — E quanto a você? Se acontece algo com você, para quem você vai ligar?

    — Para o 911, para isto ele existe.

    Ri de novo. E senti que Jen também ria do seu comentário.

    — Tudo bem, então espero que você se divirta muito.

    — Obrigada amiga, espero que você... — a campainha da casa me interrompeu. — Espera um segundo Jen que estão batendo à porta.

    Abri a porta.

    Havia dois oficiais de polícia parados diante de mim.

    — Boa noite. Você é a senhora Morgan?

    Por um momento, as minhas pernas tremeram.

    — Sim, sou eu — respondi, segurando o celular com força. Ele ainda estava colado na minha orelha.

    Os oficiais se entreolharam e depois um deles disse:

    — Sentimos muito senhora Morgan, mas seu marido — abriu uma caderneta onde tinha anotado algo — o senhor Sam Morgan, acaba de sofrer um acidente automobilístico e está sendo levando para o hospital.

    Minhas pernas foram incapazes de suportar o tremor e se não fosse por que um dos oficiais me segurou no momento exato, eu teria caído no chão.

    — Holly? Você está aí? — escutava ao longe a voz de Jen. — Holly, responde por favor. O que está acontecendo?

    Os oficiais estavam dentro de casa comigo.

    — Podemos falar com a pessoa que está ao telefone?

    Eu o entreguei para ele e me levantei com um pulo do sofá. Peguei minha bolsa, as chaves do carro e saí.

    O carro patrulha estava fechando a saída da garagem por onde deveria tirar meu carro. Ia voltar para a casa para pedir que, por favor, retirassem o carro quando vi que os dois oficiais já tinham saído e estavam esperando por mim.  

    — Já dei a notícia para sua amiga Jen — um deles disse, devolvendo-me o celular — e informamos que iremos levá-la para o hospital. O acidente envolveu vários veículos e o engarrafamento na autopista não irá permitir que você chegue no tempo que deseja.

    — Então andando, senhores — eu disse caminhando para a viatura. — Meu Sam precisa de mim.

    Eles ligaram a sirene e pegamos a autopista.

    No caminho me ocorreram dois milhões de motivos pelos quais a única coisa que o meu Sam poderia ter era um arranhão. Ele era um homem bom. E com as pessoas boas, acontecem coisas boas.

    Ele gozava de boa saúde, fazia os exames anuais que deveria fazer pela sua idade e sempre saía perfeito em todos. Tinha um coração nobre. E com pessoas assim: boas, nobres, honestas e responsáveis só aconteciam arranhões. Não poderia acontecer mais nada.

    Está me ouvindo, Deus?  eu pensei, Meu Sam é meu e não se atreva a tocá-lo!

    O caminho parecia eterno, embora fôssemos a uma boa velocidade no meio de uma rodovia que parecia um grande estacionamento.

    Queria perguntar em que estado meu Sam se encontrava, mas as palavras não saiam da minha boca.

    Vai ser apenas um arranhão, pensei de novo.

    Meu celular tocou.

    — Sim? — atendi sem ver.

    Já estávamos perto do hospital, podia ver o letreiro luminoso mais próximo.

    — Mamãe, o que está acontecendo? Onde você está? — era Claire.

    — Estou em uma viatura a caminho do hospital porque seu pai sofreu um acidente.

    — Como? — Claire gritou angustiada e se fez um nó na minha garganta. Lembre-se, eu disse para Deus de novo nos meus pensamentos, apenas um arranhão! — Vovó, papai teve um acidente, temos que ir para o hospital — ouvi o que Claire dizia para o meu pai em um estado de histeria total. — Filha, o que está acontecendo? — meu pai disse quando conseguiu tirar o telefone de Claire. Estávamos estacionando em frente as portas de emergência do hospital. — Ligo mais tarde, papai, acabo de chegar ao hospital. Jen está a caminho. Adeus.

    Entrei e disse para a mulher da recepção:

    — Meu marido, o senhor Sam Morgan, acaba de dar entrada por causa de um acidente de trânsito.

    — Sente-se na sala — ela disse, apontando para uma porta. — Informo imediatamente ao médico que você está aqui.

    Entrei na sala acompanhada pelos dois policiais.

    Isto não estava parecendo bom.

    Apenas um arranhão, Deus. Ouça-me bem, não permito que você faça mais nada. Sam é meu e dos meus filhos! Entendeu?

    Dois segundos depois entrou um homem de cabelo branco, com o uniforme verde escuro e um jaleco branco por cima.

    — Boa noite, senhora Morgan, sou o doutor Smith — ele estendeu a mão e eu respondi a sua saudação. — Seu marido, Sam Morgan, foi levado para o hospital. Viu as notícias?

    Neguei com a cabeça.

    — Estava ocupada com o jantar do nosso aniversário.

    Senti um nó na minha garganta e os joelhos ameaçaram parar de cumprir a sua função quando vi que o médico suspirou, balançou a cabeça, pressionou o septo nasal com o polegar e o indicador e depois pediu que eu me sentasse.

    Meus olhos encheram-se de lágrimas.

    Eu te proíbo, Deus! PROIBIDO! Disse nos meus pensamentos.

    — Holly, posso chamá-la de Holly? — o médico perguntou e eu concordei. — Sinto muito. Seu marido faleceu no local. Recebeu um golpe forte na cabeça que o matou instantaneamente.

    Eu desmaiei.

    2

    Acordei desorientada. As luzes brancas do teto me faziam sentir que estava em uma sala de interrogatório. Fechei os olhos por alguns segundos, tentando lembrar onde estava e o que tinha acontecido.

    Uma série de imagens veio à minha cabeça.

    Eu me vi parada diante do espelho verificando para que minha imagem estivesse perfeita.

    Depois apareceu a imagem da sala de jantar, decorada com elegância para celebrar nosso aniversário. Um instante depois me vi recordando como tinha conhecido Sam.

    Respirei fundo porque senti que o coração começava a bater com mais força.

    Depois meu celular tinha tocado. Ah! Sim! Era Jen que tinha telefonado e enquanto falava com ela a campainha da casa tinha tocado.

    Dois policiais e depois me levaram ao hospital... porque Sam... Sam.

    Abri os olhos de repente e levantei-me da cama com um pulo.

    Meus olhos encheram-se de lágrimas ao ver que meu pai estava sentado diante de mim com os olhos e o nariz vermelhos.

    Ele se levantou e sem dizer uma palavra me embalou em seus braços. Como quando eu era criança e tinha medo de ir ao médico. Ou quando machucava alguma parte do corpo e chorava de dor física.

    Ele me apertou muito forte.

    E não consegui suportar mais.

    Comecei a chorar.

    — Shhh

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