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O Papo no Caminho: Ciência, Filosofia e Espiritualidade
O Papo no Caminho: Ciência, Filosofia e Espiritualidade
O Papo no Caminho: Ciência, Filosofia e Espiritualidade
E-book222 páginas3 horas

O Papo no Caminho: Ciência, Filosofia e Espiritualidade

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Sobre este e-book

A ciência e seus mistérios, a busca incessante por respostas que sejam capazes de nos esclarecer tantas dúvidas sobre a vida e, mais ainda, sobre a morte, o que veio antes de nós e o que virá após o “fim”.Questionamentos incrivelmente fantásticos marcam a nossa passagem por este plano e, pari passu, nos ajudam a encontrar respostas através das palavras de um pesquisador mais que apaixonado pelo tema, um conhecedor da matéria que, como homem e médico, vai além dos limites, das suas forças, para tentar nos responder a tantas indagações.Depois de ler este livro e caminhar com o autor por entre histórias e estradas do mundo, cada leitor terá, com certeza, uma nova visão de quem realmente é e do seu papel neste plano.O papo no caminho – ciência, filosofia e espiritualidade é, indiscutivelmente, uma conversa franca sobre o tudo e o todo do qual fazemos parte.
IdiomaPortuguês
EditoraLitteris
Data de lançamento31 de mar. de 2022
ISBN9788537404102
O Papo no Caminho: Ciência, Filosofia e Espiritualidade
Autor

Marcelo Carvalho da Fonseca

Com 58 anos, é um incansável questionador de valores e do comportamento humano. Desde muito jovem, começou a buscar respostas para questões existenciais. Formou-se em Medicina e tem mestrado em Clínica Médica. Atualmente, vive com sua mulher no Rio de Janeiro e tem dois filhos. Apaixonado pela ciência e pela física, Marcelo pesquisa, em todas as áreas do conhecimento humano, respostas que lhe mostrem razões para tantos fenômenos desconhecidos pelo homem. Médico experiente, com 33 anos de intensa prática clínica, professor universitário de várias escolas de Medicina, presenciou, durante todos esses anos, numerosas evidências de fenômenos que a atual ciência não explica.Tentando entender a natureza humana e a razão dessa existência, Marcelo estudou seitas, religiões e filosofias, buscando questões que fossem aceitas pelo seu racionalismo científico, progressista e liberal. Assim como alguns pensadores de vanguarda pelo mundo, o autor estabelece uma ligação entre filosofia, ciência e

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    Pré-visualização do livro

    O Papo no Caminho - Marcelo Carvalho da Fonseca

    1.

    CHRISTOFER: O FÍSICO CANADENSE

    A mente avança até o ponto onde pode chegar; mas depois passa para uma dimensão superior, sem saber como lá chegou. Todas as grandes descobertas realizaram esse salto.

    Albert Einstein

    — Sua toalha caiu — advertiu Carlos, saindo da pousada, ainda na França, na cidade de Saint-Jean-Pied-de-Port, para sua primeira etapa de caminhada em direção a Compostela, distante 780 quilômetros da Catedral.

    — Obrigado, estava tentando secá-la por cima da mochila, agora vou ter que lavá-la novamente, caiu na lama — disse Christofer, também saindo da pousada, após carimbar a sua credencial de peregrino, preparando-se para iniciar a caminhada, já com a mochila nas costas.

    — Se quiser, lhe empresto a minha…

    — Obrigado, mas tenho que lavá-la, pois só tenho essa toalha. Sabe como é... durante o Caminho, carregamos tão pouco para não pesar na mochila... Uma toalha é o suficiente para mim, não quero lhe atrasar.

    — De forma alguma. Você está indo para Compostela pelo caminho francês?

    — Sim — disse Christofer. — E você?

    — Se não se importar, caminharemos juntos, também vou para Compostela — afirmou Carlos, prendendo sua concha à mochila.

    A concha ou vieira é dada a todo peregrino no início de sua jornada e significa proteção e busca de conhecimento. Deve ser devolvida ao mar quando finalizada a caminhada.

    Saint-Jean-Pied-de-Port estava cheia de peregrinos de todas as idades e nacionalidades. É uma cidade basca francesa, ao pé dos Pirineus, cercada por muralhas, e conta com boa infraestrutura turística.

    Christofer era canadense, nascido em Montreal. Tinha 48 anos e era físico. Sua rotina caracterizava-se como agitada, dividida entre a família e a vida acadêmica na universidade e no laboratório, onde atuava como professor e pesquisador chefe. O laboratório era ligado à Universidade de Montreal, onde lecionava. Christofer especializara-se em desenvolvimento de materiais de altíssima tecnologia, cada vez mais modernos e ousados para hardwares, semicondutores e nanotecnologia. Pesquisas para Nasa na obtenção de materiais super-resistentes estavam entre as coisas que desenvolvia em seu laboratório.

    Christofer tinha um cotidiano movimentado, organizando seminários, participando de congressos e mantendo uma produção de publicações científicas muito intensa, por meio da qual escrevia artigos e livros para o mundo todo. Trazia sempre à sua volta uma penca de alunos solicitando sua atenção, com dúvidas nas suas teses e nos experimentos de laboratórios.

    Apesar de todas as suas atribuições, recentemente filiou-se ao Institute of Noetic Sciences, fundado por Ed Mitchell, um astronauta, o sexto homem a pisar na Lua como piloto da Apollo 14. Mitchell era consultor do Institute for Cooperation in Space, organização não governamental dedicada a educar governantes sobre o banimento de armas espaciais. O Institute of Noetic Sciences promove o desenvolvimento de temas como espiritualidade, neurociência, parapsicologia, transformação, intuição, meditação e outros mais. Ed Mitchell, enquanto esteve no espaço, sentiu uma enorme força, como uma inteligência natural que envolvia e permeava tudo, desde a matéria inanimada a todo tipo de vida, conectando as pessoas, suas intenções e seus pensamentos. Com essa interligação, dizia ele, tudo o se faz aqui é sentido em alguma parte do planeta, e, portanto, tem sempre uma consequência. De volta à Terra, Mitchell fundou o instituto.

    Christofer encantou-se com o experimento que Mitchell fez no espaço quando já perto de chegar à Lua. Ele havia combinado mandar mensagens telepáticas de fora da Terra para colegas no planeta a fim de confirmar que esse tipo de energia transmitida transcende o espaço e interconecta todos que estão sintonizados. A experiência foi um sucesso. A mensagem enviada do espaço telepaticamente fora captada por seus colegas na Terra.

    Christofer permanecia filiado ao instituto que Michell fundou, colaborando com suas pesquisas; no entanto, ultimamente, vinha se interessando pelo estudo da física quântica ligada à espiritualidade. Explicar a realidade em que vivemos despertava-lhe muito interesse. Decifrar os fenômenos sagrados como milagres, os fenômenos que ocorrem em sessões mediúnicas, no espiritismo e coisas do gênero, aos olhos da ciência e da física, excitava-lhe a mente, algo que o fazia devorar livros sobre o assunto.

    Apesar de ter sido criado nos preceitos do protestantismo, desde há muito não praticante, Christofer vinha se encantando com a doutrina taoista de Lao-Tzu.

    Como bom cientista, o físico era um questionador de tudo, um curioso desassossegado em seus pensamentos, tentando buscar soluções, respostas para questões filosóficas da vida. Sempre foi assim, desde garoto, razão pela qual não se achava uma pessoa muito normal. Via o mundo com porquês, enquanto os outros rapazes se satisfaziam com uma bola no pé e um copo de cerveja na mão.

    Com essa vida tão tumultuada, viajando por vários países para apresentar suas novas descobertas na área da física, Christofer vinha dedicando pouco tempo a Kate, sua esposa, que trabalhava no conselho administrativo da cidade, submetida também a muito estresse, e a seus filhos Daniel e Oliver, de oito e 12 anos. O casal levava uma vida social pobre apesar dos múltiplos apelos de Kate para desfrutar dos inúmeros atrativos culturais de Montreal. Christofer preferia a intelectualidade da leitura. Entretanto, andava preocupado com o estilo de vida que vinha levando. Daniel e Oliver estavam numa idade crítica de aprendizado e fortalecimento de conhecimentos de ética e moral, e precisavam de mais tempo do pai. Kate, por sua vez, reclamava muito a ausência constante do marido, alegando que o via mais em entrevistas na TV, jornais e revistas do que pessoalmente e em sua cama. A situação era crítica porque Christofer mantinha-se ainda apaixonado por Kate.

    Alto, magro, cabelos levemente ruivos, porte atlético, simpático, culto e educado. Christofer era o tipo que fazia amizade fácil. Todos gostavam dele e era muito assediado. Um homem de bom coração, dotado de imensa compaixão. Ultimamente, queria um pouco de ar livre, longe do frio de Montreal, fazer exercícios e pensar afastado de tudo e de todos. Pensar era o seu maior e favorito esporte. Pensar... Foi então que resolveu, em seu período sabático, ir para Santiago, percorrer o Caminho, botar as ideias em ordem e recarregar as baterias.

    — Sem dúvida, já estou pronto, podemos ir. Me chame de Chris.

    — Há quanto tempo está no Caminho de Santiago?

    — Cheguei há dois dias — disse Carlos.

    — E você, já caminha há mais tempo? Parece experiente…

    — Impressão sua, meu caro. Sou apenas organizado apesar de ser físico. Dizem que os físicos são desorganizados porque vivem pensando em estrelas ou coisas imateriais, como energias e questões do tipo. Mas fazer essa caminhada, sem o mínimo de organização, perde-se muito tempo e não se cumpre o objetivo. Lembre-se de que teremos que atravessar as montanhas dos Pirineus, com o tempo normalmente ruim e pedaços bem íngremes.

    — Minha meta é chegar a Compostela em 30 dias, andando mais ou menos 25 quilômetros por dia — ponderou Carlos.

    — Tenho 30 dias de férias. Tirei esses dias para fazer essa caminhada e pensar — comentou Chris. — Esse Caminho se presta muito a isso. Alguns peregrinos andam só para fazer um balanço da vida. Gosto da ideia de caminhar sozinho apesar de encontrar tanta gente diferente com o mesmo objetivo. Mas andar 800 quilômetros sem conversar com ninguém deve ser entediante. Vamos juntos.

    — A propósito, meu nome é Carlos, sou brasileiro e não entendo nada de física.

    2.

    CARLOS: O MÉDICO BRASILEIRO

    Se buscas realmente a verdade, deves ao menos uma vez em tua vida duvidar, tanto quanto possível, de todas as coisas.

    Descartes, in Discurso do método

    Carlos era brasileiro, nascido no Rio de Janeiro há 50 anos. Médico, clínico geral com boa formação técnica, vivia correndo para cá e para lá, de hospital em hospital, além do consultório, para atender a toda sua clientela. Chegava a casa tarde, cansado, querendo dar atenção à mulher e botar a literatura em dia. Aliás, esse sempre foi um problema para Carlos, conseguir dividir seu curto tempo entre leitura científica, atualizando-se nas novidades médicas, ou se entregar à literatura metafísica e espiritualista que tanto o seduzia.

    Apesar de sua boa formação científica, Carlos não se conformava em tratar seus pacientes com pílulas e soluções injetáveis apesar da grande tecnologia envolvida na pesquisa e fabricação do atual acervo terapêutico disponível. Ele acreditava que, juntando o conhecimento médico do Oriente (como a milenar medicina chinesa e a indiana) com a tecnologia ocidental, acrescentando o olhar metafísico de Jung a uma visão holística do paciente como pessoa, inserido na família e na sociedade, seria possível construir um novo tipo de medicina com abordagem bem diferente e com sensível vantagem para todos.

    Carlos não era uma pessoa ambiciosa, com certeza não nasceu para acumular riqueza. Seu foco e seu olhar para a vida nunca esteve no dinheiro, apesar de gostar de uma vida confortável e de viajar. Levava uma vida que atendia aos seus objetivos sem luxos ou excessos. Seu único excesso era uma leve compulsão pelo estudo.

    Com dois filhos já adultos, vivia se martirizando pela falta de tempo para se dedicar aos filhos e à esposa. O trabalho para ele era um deleite, aprendendo sempre com os seus doentes, pois considerava cada paciente um depoimento de vida diferente, muito mais interessante que a própria patologia que carregava. Fazia da relação médico-paciente um imenso prazer.

    Nos últimos 15 anos, passou a lecionar em universidades com o propósito de melhorar a qualidade técnica e humanista dos futuros médicos. Revoltado com a falta de questionamento dos homens e o rumo materialista da humanidade, vinha buscando incessantemente a razão de sua existência e o mecanismo ou código de funcionamento do Universo. Já frequentou e estudou diversas seitas, religiões e filosofias, nunca se prendendo a nenhuma delas. Foi criado no seio da Igreja Católica, cuja veracidade de dogmas, história e ensinamentos sempre questionou. Assim que largou as calças curtas, abandonou a religião. Costumava dizer que a religião era o ópio do povo, parafraseando Karl Marx.

    Carlos sempre questionou valores sociológicos da humanidade, como os atos de julgar e condenar pessoas, por exemplo, frutos de uma construção social corrupta e violenta. O cidadão adquire uma educação sem ética e vive numa cultura amoral, com valorização e exaltação ao materialismo. Nessa mesma linha de pensamento, Carlos refletia sobre qual seria a responsabilidade de uma pessoa que age sob a influência e o comando de seus hormônios, que nem sempre estão em equilíbrio, ou mesmo de uma doença que toma o controle do seu cérebro. Como julgar os atos de um indivíduo que aparenta ser normal diante dos padrões socialmente aceitáveis, mas suas ações são dirigidas por substâncias que influenciam seu humor e seu comportamento, e são induzidas pelos seus genes? Carlos possuía diversos exemplos desse tipo na sua clientela. Sempre fora questionador e curioso, dotado de um espírito científico tão aguçado que o levaria à forca ou à fogueira na época da Inquisição. Nunca se satisfez com o conhecimento vigente. Desconfiado de que vivemos numa ilusão de sabedoria, buscou sempre na metafísica e na magia um saber oculto. Sua relação com a natureza era visceral. Adepto do vegetarianismo, acreditava que os animais possuíam sua própria evolução, que não deveria ser interrompida voluntariamente para atender às necessidades nutricionais humanas.

    — Eu já estava funcionando no automático no Brasil — disse Carlos. — Quando chegava o final de semana, nem me lembrava do que havia se passado no início dela. Não prestava mais atenção à vida. Ultimamente, andei pensando se era isso mesmo o que deveria fazer. Se nasci só para trabalhar, ensinar, cuidar dos doentes, fazer ciência e ganhar dinheiro. Foi daí a decisão de fazer essa caminhada. Meditar, prestando atenção a cada minuto. Aproveitar a paisagem natural, interagir com as pessoas e, principalmente, olhar para dentro de mim mesmo. me ver inserido nesse caldeirão junto com outros bilhões de pessoas e encontrar um sentido nisso tudo.

    — Quem sabe nos próximos 23 quilômetros da nossa caminhada de hoje você não consiga encontrar suas respostas! — brincou Chris.

    Os dois começaram a caminhar e saíram da área urbana de Saint-Jean-Pied-de-Port. Aos poucos, o trajeto ganhou uma paisagem mais rural.

    3.

    A SUBIDA DOS PIRINEUS

    Que os vossos esforços desafiem as impossibilidades. Lembrai-vos de que as grandes coisas do homem foram conquistadas do que parecia impossível.

    Charles Chaplin

    — Já caminhamos cinco quilômetros e nem sentimos o tempo passar — comentou Carlos. — Nem percebi esses oito quilos nas minhas costas. Nossa mochila é a nossa casa. A vantagem dessa peregrinação é que vivemos com o essencial apenas. Supérfluos e excessos não fazem parte da nossa bagagem. Vivemos com o mínimo. Não acumulamos nada. Esses dias servirão para nos mostrar um lado diferente da vida.

    Carlos e Christofer iniciaram com muito entusiasmo a subida dos Pirineus, cordilheira que separa a França da Espanha, saindo de 200 metros acima do nível do mar para até 1,4 mil metros montanha acima. As planícies da cidade deram lugar a uma subida puxada de estrada de terra. Ao longe e acima, podiam avistar os picos das montanhas exibindo suas rochas cobertas por neve.

    Saíram cedo com previsão de bom tempo pela frente. Eles estimaram umas sete horas de travessia para percorrer os 25 quilômetros da montanha. No início da subida, apreciaram uma paisagem linda com vegetação rica em tom verde brilhante. O céu estava claro e o sol brilhava com toda força. O ar frio e límpido invadia as narinas. Cachoeiras do tipo véu de noiva, com enormes quedas d’água, alimentavam lagos nativos de águas espelhadas. Uma paisagem de tirar o fôlego. O silêncio e o ar puro transmitiam uma sensação de leveza. Pararam, sentaram e tentaram interagir com a aquela natureza intocada. Nas áreas planas das montanhas, escutavam os sons das ovelhas nas pastagens. Bom para esquecer-se da vida...

    Entretanto, nos Pirineus, o tempo muda em questão de minutos e, de repente, a visibilidade pode ficar altamente prejudicada, colocando os andarilhos em risco. Costumam ocorrer inúmeros acidentes com peregrinos nesse trecho; às vezes, fatais. Não há cidades, nem vendas, nenhum socorro. Após uns oito quilômetros do início da caminhada, absolutamente despovoada, havia uma construção em ruínas de um antigo hotel para peregrinos. O cálculo da travessia deve ser feito antes, cuidadosamente, objetivando não anoitecer durante o percurso e observando com atenção a meteorologia. O risco de atravessar essas montanhas à noite é quase fatal. Cruzes são vistas em penhascos e em caminhos estreitos com ribanceiras escorregadias, indicando que pessoas desatentas caíram ali e perderam suas vidas.

    Após duas horas de dura escalada, e sem verem ninguém pelo caminho, o tempo mudou. Carlos e Chris tiraram os casacos, gorros e luvas da mochila. A estrada ficou escorregadia e úmida com nevoeiro, atrapalhando a visão. Os dois já estavam exaustos. A mochila parecia pesar cem quilos, o termômetro de Christofer marcava cinco graus e, além disso, estavam molhados de suor. Quando paravam para descansar, o suor congelava no corpo. O ar parecia rarefeito, a respiração não satisfazia, estavam ofegantes, a subida dava a impressão de ser interminável, era preciso muita perseverança. Então, decidiram mais uma vez parar embaixo de uma árvore quase sem folhas.

    Estavam sem preparo físico, cansando com facilidade, o que os obrigou a fazer múltiplas paradas pelo caminho.

    — É melhor comermos algo porque, se chover, não vai dar para abrir a mochila e tirar os sanduíches. Aqui não tem abrigo — disse Carlos extenuado.

    — Olha aquela nuvem negra vindo em nossa direção — observou Chris. — Vou botar minha capa de chuva e cobrir minha mochila com a capa dela.

    Não demorou muito. Após desfrutarem um sanduíche como se um faminto estivesse diante de um banquete, a nuvem negra anunciada por Chris estava sobre a cabeça deles, e começou a chover fino, depois forte e, em seguida, com pedras de gelo – granizo. A sensação térmica de frio aumentou, e eles não tinham como se defender da chuva de pedras. Para piorar, ainda faltavam cerca de 15 quilômetros de caminhada com visibilidade precária por causa da neblina que se densificou com a chegada da chuva. Além disso, as marcas amarelas indicando o caminho e sinalizando os locais perigosos estavam invisíveis pela densidade da nuvem que envolvia a montanha e os dois andarilhos.

    — Quem disse que a meteorologia indicava bom tempo? — gritava Carlos, no meio daquele barulho de chuva.

    Pedras

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