Um Cisne na noite
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Sobre este e-book
Regina Taccola
Carioca, Regina Taccola, médica, psicanalista e escritora publica seu terceiro livro de contos. Em 2016, sai ‘Uma tarde embalada pelo mar’ (ed. Frutos). Vai à Festa Literária de Santa Maria Madalena e emociona a plateia lendo ‘Chapeuzinho Vermelho Surrealista’, último conto do livro. Em 2017 nasce ‘Vida louca’ (ed. Chiado) elogiado pelo escritor Sergio Sant’Anna. Reconhecimentos vieram na web como ‘um estilo que me leva ao êxtase’ (A. S. Martins Catatau) e ‘narrativas breves de alta qualidade’ (Eire Rossi). Assim estimulada, Regina lança ‘Um cisne na noite’ que agora abre as asas para cumprir o seu destino.
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Um Cisne na noite - Regina Taccola
Caça ao tesouro
Um estudante. Duro. Caminha de olhos no chão, à procura. Olha daqui, olha dali. Abaixa. Pega uma coisa, examina, não é nada. Joga fora. Continua a andar.
Lá tem um brilho. Moeda vencida. Jogam fora as desvalorizadas que ficam brilhando até o cobre as colorir de verde azinhavre. Essa o tapeia. Atira longe, ela retine no poste.
Dá de ombros. Sem um puto. É aniversário da namorada.
Caminha, ainda mais atento, mãos nos bolsos. Desce na praia, tira os sapatos, meias, bota tudo sobre uma pedra, dobra as calças. Vai até onde a arrebentação desliza. Lua cheia, altas marés. Recolhida a água, fica um espaço grande. Cutuca a areia dura com o galho trazido pelo vento.
Há outras pessoas garimpando. Ali na frente desencavaram um brinco, talvez valha alguma coisa. O estudante se anima. Precisa de um troco para comprar presente para a namorada. Cuidado com a onda, rapaz, vai molhar a calça, dá um pulo e escapa. No que a lambida se recolhe, um amarelo aparece na superfície da areia molhada. Ele cava, cava, cava e vai surgindo uma corrente grossa.
Será ouro? Ancorada, furando o chão, quê isso? Tem um peso na ponta. Tira areia, alisa, o fundo cede e se abre como um parto. Ele vê a cabeça, o topo de uma cabeça cabeluda coroando. O estudante se assusta.
A turma do garimpo se junta à sua volta, há gente que traz pás, e há os mais sofisticados, com uns aparelhos esquisitos de acusar metal. Debruçam temerosos. Isso aí, o que é? Na fina lâmina de água que sobrou do mar recuado a cabeleira flutua. O estudante resume: bandido muito louco que se afogou. Morto e mal enterrado pelo mar. Caveira. Só osso com cabelo igual peruca. Agora esse colar sai, murmura para si mesmo. Pesado, ouro maciço, grandes argolas como eles gostam de exibir.
A onda vem, apanha e puxa a cabeça, quebra o pescoço. Leva embora aquela bola cabeluda pro fundo do mar. O resto fica enterrado, uma ponta de osso pra fora da areia. O estudante aperta o colar na mão. Enfia a joia dentro do bolso, calça meia, sapato e se afasta devagar, ressabiado. Os homens não tentam impedir, têm medo, traficante é um perigo, mesmo depois de morto.
O estudante conseguiu bom preço pela pescaria. Não conta à namorada. Só faz uma surpresa, leva-a para jantar no topo do Pão de Açúcar de onde se tem a mais bela vista do mundo. Depois vão, pela primeira vez, a um motel.
Safari
Estavam perto da árvore de amarulo, uma frutinha amarela e doce que, com o calor sufocante da África, ao cair dos galhos logo se transforma num fantástico drinque de teor alcoólico altíssimo. A trilha se alarga com a árvore carregada no centro de uma praça, solo pisoteado por muitas patas, despido de vegetação. Provaram, antes de escutar o tropel.
O guia avisa: Elefantes!
Pesado como um trem de carga, o líder abre alas para família e amigos. Tem a pressa do desejo, corre desabalado, não vê nada. O risco de morte por atropelamento é alto.
Quando alcança a árvore de seus sonhos, bate forte no tronco, marradas que lembram trovões. Chuva de frutinhas cai rente às raízes. Pronto: o bar está aberto. Os elefantes chupam os amarulos até cair de porre. Trocam as enormes patas, quase se enrolam nos pernões. Um dobra os joelhos e desaba no chão, desmaiado.
Aí começa o desfile de zebras, veados, emas, macacos, do mico ao prego, dos bugios aos grandes chimpanzés. Até hienas entram na festa em bando, rindo-se a valer antes mesmo de encherem as fuças. Irmanados, todos bebem os frutos e rolam pela terra, embriagados.
Vocês estão na casa de madeira armada na copa de um baobá centenário. Nem tão perto que fosse perigoso, nem tão longe que deixassem de ver os animais. Um grupo unido apenas pela ideia de fazer um safári na África. A gordinha, cheia de anéis, conversa com a alta, talvez anoréxica, que come pouco e fala muito. Cansativa. Só mulheres, o que tem se tornado um pouco opressivo para você.
De dentro da barraca sai um sussurro e um ploc. Vocês ouvem: Depressa! Venham beber estrelas!
O guia abre uma garrafa de champanhe e imita o monge Dom Pérignon: Estrelas!
repete. Carrega a bandeja com as taças a borbulhar para o avarandado.
Você lambe com os olhos aqueles braços negros, brilhantes, tensos com o peso dos copos cheios e pensa no elefante de joelhos antes de deitar de lado e apagar. Você quer esse homem. Borboletas descem junto com o vinho fazendo cócegas em sua garganta e