Absurdamente
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Sobre este e-book
SOBRE O AUTOR
"Sou formado em Letras pela Universidade Federal de Pernambuco e fui bancário por 41 anos. Recebi menção honrosa da Academia Pernambucana de Letras pelo poema 'O voo final', no I Concurso de Poesia da UFPE. Fui ator no teatro pernambucano por nove anos. Comecei a escrever poesia em 1978, durante minha graduação. Sou de Recife, já morei em Fortaleza e estou em Salvador há 32 anos. A arte para mim é arte e sempre vivi conectado a ela. Toda expressão deve sair livre das amarras que podem não revelar sua verdadeira forma de se expressar. A percepção racional e sensitiva definem a lucidez para poetizar".
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Absurdamente - Ednaldo Araújo
Dedico este livro à minha
mãe, Elisa Maria de Araújo,
que sempre foi para mim
um exemplo de fortaleza,
mesmo diante de tantas
incertezas sofridas na vida.
(in memoriam)
Agradeço a Deus pela minha
vida, completamente vivida de
realizações, experiências alegres
e sofridas, que definiram tudo
que eu quero e posso ser.
Minha gratidão a todos que
acreditaram e me incentivaram
para esse momento acontecer,
em especial a Carlão (Antonio
Carlos do Espírito Santo),
Celeste Correia, Elza Mota,
Rafaela Lima, Raquel Biondi,
Nelson Moreira, Luíza Gouveia,
Wendel Ribeiro, Olívia Castelo
Branco, Raul Neto e Gleide Lima.
Chegado aqui, onde hoje estou, conheço
Que sou diverso no que informe estou.
No meu próprio caminho me atravesso
Não conheço quem fui no que hoje sou.
Fernando Pessoa
Apresentação
O poema não é uma poesia apenas estética. Cessar, parar, mutilar ou mesmo matar toda minha expressão, jamais será possível e existente essa decisão. O que eu escrevo, declaro, descarrego com toda noção e sem noção de qualquer sentimento, sem pretensão, obviamente pleno de toda despretensão, será sempre minha expressão ávida e bem vivida, alegre e sofrida, para determinar toda a linguagem intrigante e extremamente expressiva para o sim e também para o não.
Os termos insistentemente descritos, muitas vezes repetidos, são como uma determinação profunda para que as palavras tenham a verdadeira significância dos adjetivos num verso com rima ou não. Não há nada que possa tentar sublimar, calar ou mesmo silenciar tudo que explicitamente lanço no repente de estrofes disformes, que ao mesmo tempo não são poemas com toda rima possível, mas que traduzem todo o sentido preciso do que a essência de toda escrita pode traduzir na semântica sentida, para qualquer antagônica poesia existir.
- Ednaldo Araújo
A absurda mente é surda absurdamente
A mente é absurda
porque mente absurdamente
sem ser surda.
Tudo que ouve ou houve,
nega e renega
na sua surda absurda verdade,
que quer sempre transformar em mentira,
na sua absurda insensatez de se justificar.
A verdade explicitamente viva
da escuta mansa, rouca,
expressiva ou apreensiva,
que possa despertar todo o fim da surdez
da mente que mente
na sua imensa profunda farsa de ser absurda,
no que se possa explicar.
Palavras, ecos, frases,
todos os sons e dissonantes outros sons
fazem com que o recuo da mente,
que sempre mente, absurda, absurdamente
se esquive da verdade para escutar.
A verdade realmente da mente,
que mente e desmente sua verdade,
é para tranquilamente permanecer
como uma absurda e surda mente,
para a verdade absurdamente não se revelar.
A claridade da cegueira
Hoje acordei com a certeza desse dia claro,
que não tem nenhuma escuridão para mim.
Tudo percebo da noite e do dia,
como a forma perfeita do que acontece
dentro e fora de mim.
Gosto de perfumes que me traduzem presenças,
lembranças e também outros cheiros
que fazem parte de mim.
Amo escutar os barulhos dos trovões
e das bombas de São João,
mesmo sem conhecer o antecipado clarão
antes da explosão.
Adoro meu corpo nu junto com outro corpo nu
que me leva numa sensação de prazer
de estar nas estrelas,
mesmo sem conhecer o brilho delas.
O aroma da comida que eu faço
é tão saboroso, que mantém todos os cheiros
de temperos tão claros no paladar.
O calor e o frio muitas vezes podem traduzir
o que sinto do claro ou do escuro,
que para mim não determinam
nenhuma razão ou emoção de mim.
Sinto, ouço, falo e grito por tantas vezes
o que para mim não representa claridade
ou mesmo uma escura penumbra
de energias pesadas,
que podem por fim escurecer o claro
que na vida não pude ter.
A felicidade em mim existe,
mesmo vivendo num escuro tão claro,
vivendo na claridade da cegueira,
na visão em vida que eu não pude ter.
A fala e a escuta
Depois que se fala
qualquer verdade ou mentira,
já não se tem nenhuma desculpa
para dizer que não se falou
e