Rogações de Eremita
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Rogações de Eremita - Jaime de Magalhães Lima
Jaime de Magalhães Lima
Rogações de Eremita
Publicado pela Editora Good Press, 2022
goodpress@okpublishing.info
EAN 4064066409777
Índice de conteúdo
ROSAS DO MEU CAMINHO
I
II
AS TAÇAS DO BANQUETE
I
II
A DOR E A VIDA
I
II
III
IV
V
MAIS FORTE QUE O MAR
I
II
HUMILHAÇÃO
I
II
BÊNÇÃO DO POENTE
I
II
O SONO DO TRIGAL
I
II
TERRA LACRIMOSA
I
II
III
CULTO DE QUIMERAS
I
II
ANSEIO DA MANHÃ
I
II
A ASA DO REMORSO
I
II
SERVAS DA LUZ
I
II
TROFÉUS DO ESTIO
I
II
LOUCOS DE HUMILDADE
I
II
III
ORAÇÃO DOS LARES
I
II
CANTARES DAS SEBES
I
II
COMPANHEIRO E GUARDA
REINO INFINITO
I
II
PODERES DA TERRA
I
II
PERPETUAS DO ROMEIRO
I
II
PODER DO VERBO
I
II
UNÇÃO DE GLORIA
I
II
SACRO HOLOCAUSTO
I
II
SAGRAÇÃO DO ESCRAVO
I
II
MALDIÇÃO
I
II
III
PROFISSÃO DE FÉ
I
II
DRÍADE ENFERMA
I
II
MONJAS DO OUTONO
I
II
A TERRA ESCRAVA
I
II
MISTÉRIOS DE CERES
I
II
HORAS DO MEU PEITO
I
II
ÁGUAS VIÚVAS
I
II
III
PUREZA AMARGA
I
II
TIRANIA DO FOGO
I
II
{5}
No ermo que eu percorro neste mundo,—ermo de corações cativos dos meus sonhos—ao suplicar dos céus a claridade na qual a alma habite e se engrandeça, deixei na terra gotas do meu sangue, onde a dor o soltou do peito ansiado por abundância de erros e de culpas e por amargura de infinitas mágoas, e onde jorrou seus cantos de alegria em louvor e contemplação da beleza eterna.
E, como assim vulnerável tenha sido, misteriosa comunhão uniu-me àqueles, solitários e crentes, que na cruz da aspiração também sofreram. Muitas vezes me guiou o rasto estranho, se porventura o vi ensanguentado de sangue igual ao meu pela paixão que o derramou em oferenda a altares de amor. São rogações de todos esses passos as que neste livro traduzi e confesso para quem no mesmo error se houver perdido ou se tiver remido em iguais enlevos.{6}{7}
ROSAS DO MEU CAMINHO
Índice de conteúdo
I
Índice de conteúdo
Parei no meu caminho a colher rosas. No doce esplendor da sua gloria, brotavam purpurinas entre o cômoro renovado no viço pelo outono. E o sol brando que vinha do nascente, e a palidez do céu já esmorecido do seu fulgor candente do Estio, e a atmosfera quieta e orvalhada, e o silencio do campo onde desponta o prado que no inverno o cobre e é a sua túnica,—cantavam com as rosas a doçura e em minha alma infundiam subtilmente os salutares enlêvos dos seus sonhos.
Acordou-me de encantos a pobreza. Alguém, passando, me estendeu a mão, mirrada e pálida de fadiga e fome. Ouvi um brando murmurar de suplica; e o coração turvado de piedade transmudou em misericórdia o seu deleite. Um resplendor mais alto escurecera a cintilação da terra em seu fulgor.
Levei comigo as rosas que colhi, para me alentarem de um sorrir ingénuo meu peito ferido na{8} jornada agreste em que dolorosamente se consome sangrando magoado de perversidade, de ódios, de mentira, de quanto avilta os homens desvairando-os nos seus cruéis infernos de cobiças. Mas sempre que senti a rosa bafejar-me, senti perpassar também vozes mendigas. Por singular magia, confundi em uma só aspiração e um só amor as rosas e a pobreza.
II
Índice de conteúdo
Senhor! No meu caminho entretecei as rosas na pobreza, para que, adorando em extasi vosso encanto, eu adore também as vossas dores e o meu peito comungue da miséria! Que todo o meu coração se enleie e prenda nas grinaldas, Senhor, com que coroais de espinhos e de rosas vossos servos; e que, enquanto sentir deleite infindo na doçura que sobre a terra semeastes, eu vos seja fiel inteiramente sentindo ao mesmo tempo e em igual fervor toda a infinita agrura da desgraça.{9}
AS TAÇAS DO BANQUETE
Índice de conteúdo
I
Índice de conteúdo
No banquete da vida em que o destino me deu lugar onde os prazeres abundam e os regalos são o pão quotidiano, provei das suas taças mais queridas e vi meus companheiros de igual sorte ora erguidos na sua embriaguez ora prostrados pelos seus travores.
Riquezas, ambições, paixões, gloria, amor, as taças mais cobiçadas do banquete, a todas eu senti o seu sabor, todas vi disputadas com ardor e todas continham gotas de amargura, os traiçoeiros bens das alegrias cedo mudadas em desengano e dor.
Vi a riqueza inútil perante a morte, assistindo impotente à corrupção do corpo que no seu ser trazia os filtros de fatal caducidade inexorável. Vi ambições gerando em seus triunfos ambições maiores ainda, insaciáveis, de contínuo torturando suas vitimas, de degrau em degrau as elevando até que do mais alto as precipitam no torvo abismo das{10} desilusões. Vi as paixões mirrando-se exauridas, em vergonha, em