O impacto do pluralismo religioso na Igreja brasileira: um estudo de caso
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Sobre este e-book
Marcos Camilo Santana
é Casado com a Professora Gisele e pai de duas flhas. Com sua formação interdisciplinar, começando pela Musicalidade, especialmente com o baixo elétrico, fez graduação em Musicoterapia, depois em Comunicação Social, além de licenciatura em História e Bachareladoem Teologia pela Faculdade de Teologia de São Paulo da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil (FATIPI). É especialista em Gestão Empresarial pela Universidade Anhembi Morumbi (UAM) e tem MBA em Marketing e MBA em Criatividade e Inovação, ambos pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Também é especialista em gênero e diversidade pela Universidade Federal do ABC (UFABC). É mestre em Ciências da Religião pela PUC/SP e doutorando em Comunicação e Cultura Midiática pela Universidade Paulista (UNIP), com segundo doutoramento em Ministério RTS (Reformed Theological Seminary) – CPAJ.
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O impacto do pluralismo religioso na Igreja brasileira - Marcos Camilo Santana
Sumário
AGRADECIMENTOS
PREFÁCIO
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I - A IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL, TRAJETÓRIA E SITUAÇÃO ATUAL
1.1. História da IPIB, seus intelectuais e a formação de sua identidade
1.2 Expansão da IPIB e sua prática dialogal inter-religiosa
CAPÍTULO II - O SENTIDO DO PLURALISMO E SUAS RELAÇÕES COM O EXCLUSIVISMO
2.1 Exclusivismo, Inclusivismo, Pluralismo em Peter Berger e André Biéler sobre João Calvino
2.2. Teorias do Pluralismo em Tillich e John Hick
2.3 Pluralismo Religioso como meta e ideal de práxis religiosa em John Hick
2.4 Richard Shaull: Teólogo da cultura e do pluralismo religioso
CAPÍTULO III - OS IMPACTOS DO PLURALISMO RELIGIOSO NA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL
3.1 Música, prédica, ordenanças litúrgicas e a autopercepção da IPIB sobre o prisma pluralista
3.2. Celebridades
, pastores midiáticos, movimentos sociais, conversões e marketing religioso
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Marcos Camilo Santana
O impacto do pluralismo religioso na Igreja brasileira
Um estudo de caso
São Paulo, 2022.
Copyright © Editora Pluralidades, 2022.
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei nº 9.610, de 19/02/1998.
É expressamente proibida a reprodução total ou parcial deste livro, por quaisquer meios (eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação e outros), sem prévia autorização, por escrito, da editora.
Direção Geral:
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Equipe editorial:
André Yuri Abijaudi
Flávio Santana
Iago Freitas Gonçalves
Revisão e Preparação de Texto:
André Yuri Abijaudi
Flávio Santana
Capa, diagramação e projeto gráfico:
Talita Almeida
Conselho Editorial:
Dr. Alonso Gonçalves (FTSA)
Dr. Claudio Ribeiro (UFJF)
Dr. Ênio José da Costa Brito (PUC/SP)
Dr. Gedeon Alencar (FTP-SP)
Dr. Edin Sued Abumanssur (PUC/SP)
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Beth, Gisele, Palmira, Nilva, Tsara e Maitê – essências da minha pluralidade.
AGRADECIMENTOS
Gratidão ao incondicional Eu Sou — Deus, que se fez e se faz presente todos os dias e me permite vivenciar, agora, esta experiência! Experiência que se concretiza neste trabalho construído com o importantíssimo apoio de algumas pessoas.
Assim sendo, agradeço, primeiramente, ao meu orientador, professor Dr. Wagner Lopes Sanchez, por toda crença, empenho, paciência e insistência; por todos os momentos que pacientemente investiu com seus ensinamentos e direcionamentos.
Agradeço, também, aos professores e colegas do curso de Ciência da Religião, bem como à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela oportunidade de caminhar na amplidão do conhecimento.
Sou imensamente grato à IPIB — Igreja Presbiteriana Independente do Brasil, instituição importante na minha formação pessoal como pastor e como cientista religioso, já que é ela, em sua pluralidade, meu objeto de estudo.
Desejo igualmente agradecer ao colega Dr. Helder Kanashiro e à minha esposa Gisele de Mello Camilo Santana, que me ajudaram revisando, instruindo, incentivando e, muitas vezes, elucidando-me ao longo da caminhada.
Agradeço à família, aos amigos e às ovelhas
pelo incentivo, paciência e compreensão. Por fim, agradeço às doçuras da vida, minhas filhas Tsara e Maitê, que chegaram durante o percurso e, juntamente com a mamãe, suportaram, em amor, a ausência e os meus momentos de estudo
.
Prefácio
Nas últimas décadas, a diversidade religiosa tem sido uma marca registrada da sociedade brasileira e essa característica afeta pessoas, grupos, religiões e instituições. A cada dia, surgem religiões novas, grupos religiosos novos e igrejas novas. Todas reivindicando o direito de existir e de serem respeitadas. As pesquisas sobre religião e uma simples observação nas ruas das cidades revelam essa realidade muito presente no nosso cotidiano. Não há como ficar insensível a essa realidade.
A sociedade brasileira, antes caracterizada pela hegemonia religiosa da Igreja Católica, está ficando cada vez mais plural. A hegemonia religiosa está dando lugar à diversidade religiosa. Os dados do Censo do IBGE comprovam essa mudança: em 1970, 91,8% das pessoas pesquisadas responderam que eram católicas, 5,2% que eram evangélicas e 2,5% que eram de outras religiões. Em 2010, 64,62% se declararam católicas, 22,16% evangélicas e 5,17% que eram de outras religiões. Além, nesses dois momentos aumentou também o número de pessoas sem religião: em 1970 eram 0,80%, em 2010, 8,03%. A simples apresentação desses dados demonstra que as mudanças não são pequenas. De um país predominante católico, aos poucos o Brasil vai deixando de sê-lo. Isso afeta evidentemente não só as religiões, mas também as visões de mundo, os valores e os costumes.
Essa mudança está provocando as religiões a repensarem as suas relações com as demais. Será que ainda é possível que as religiões mantenham posições exclusivistas caracterizadas pela diversidade religiosa? Qual a mensagem que o crescimento da diversidade religiosa está dando para as religiões? Concretamente, muitas religiões estão percebendo que aumentou o número de vizinhos
e que esses vizinhos
podem ser parceiros solidários na construção de uma sociedade mais humana. Elas estão percebendo que é preciso abandonar os seus guetos
e colocar-se em diálogo com as outras religiões e com as demandas presentes na sociedade.
As religiões não podem se furtar ao desafio de contribuírem com a paz e a justiça. O pluralismo religioso, como princípio que nos leva a respeitar toda a diversidade religiosa, convida as religiões e todas as pessoas a reconhecerem a importância da convivência pacífica entre as religiões e de contribuírem com a construção de sociedades mais humanas e mais pacíficas.
A Reforma Protestante, no século XVI, inaugurou a diversidade religiosa no mundo ocidental, o que levou ao desenvolvimento do pluralismo religioso como visão de mundo que reconhece a legitimidade da diversidade; nas diversas realidades onde foram implantadas as igrejas protestantes históricas, levaram o sopro da diversidade e da liberdade religiosa como um direito humano fundamental da pessoa humana.
Poucos são os estudos específicos sobre a forma como igrejas cristãs se comportam diante dos desafios da diversidade religiosa. O livro que nos é oferecido por Marcos Camilo de Santana, O Impacto Do Pluralismo Religioso Na Igreja Brasileira, é um bom exemplo disso.
Ele nos apresenta os resultados de sua pesquisa de mestrado desenvolvida a respeito do impacto do pluralismo religioso na Igreja Presbiteriana Independente. É um esforço para compreender como uma igreja de tradição reformada brasileira respondeu ao desafio do pluralismo religioso. Se, por um lado, o seu objeto é original, porque poucos são os estudos de religião que procuram examinar as relações das igrejas protestantes históricas com o pluralismo religioso, por outro lado, este livro é boa contribuição para a própria Igreja Presbiteriana Independente rever a sua história, a forma como entende o pluralismo religioso e as exigências de um mundo plural.
O livro é um convite para compreender os principais aspectos do pluralismo religioso e seus reflexos na vida de uma igreja herdeira da Reforma, a Igreja Presbiteriana Independente, e como essa igreja recepcionou essa dinâmica na sua liturgia e na forma de se comunicar com o mundo.
Oxalá outros estudos semelhantes possam ser feitos sobre as relações de outras igrejas cristãs com o pluralismo religioso. Isso certamente permitirá que possamos compreender com mais clareza o complexo campo religioso brasileiro.
Wagner Lopes Sanchez¹
1. Wagner Lopes Sanchez é mestre e doutor em ciências sociais. É professor e vice-coordenador do Programa de Estudos Pós-Graduados de Ciência da Religião, da PUCSP, e professor no ITESP (Instituto São Paulo de Estudos Superiores). É presidente do CESEEP (Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular) e membro do Observatório Eclesial Brasil.
INTRODUÇÃO
A motivação deste trabalho é oriunda de uma vivência inteira dentro da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil (IPIB) e tradição reformada, que permeou a história da minha família e a minha, antes como leigo, agora como ministro pastoral. Percebendo sua influência na sociedade brasileira, motivei-me a pesquisar como o pluralismo religioso tem impactado essa denominação protestante reformada.
A IPIB é uma igreja que tem suas raízes na Reforma Protestante do século XVI, com orientação calvinista. Foi fundada em 31 de julho de 1903 por um grupo de sete pastores liderados pelo intelectual e reverendo Eduardo Carlos Pereira (1856-1923), e sua base teológica parte da seguinte premissa: Uma Igreja reformada, sempre se reformando. Assim sendo, o princípio básico deste trabalho é falar sobre o pluralismo religioso que desafia o ser humano a viver de forma respeitosa com o diferente dentro de uma Igreja que possui diversas identidades discursivas na tradição reformada. Ou seja, a existência de linguagem sem posição central, cujos discursos são o que são fundadores da língua², parece ser um aparente fruto de impacto pluralista. Assim, parece que a IPIB ou o aceita com pouca rejeição em suas práticas religiosas e espirituais ou ignora a existência do impacto do pluralismo religioso.
Na metade dos anos 1950, por sua abertura e receptividade, a IPIB recebeu no Brasil, por meio das chamadas tendas de cura divina
, novos grupos de movimentos pentecostais, dando origem à instituição da Cruzada Nacional de Evangelização no país. Anos depois, a partir deste evento, surgem as igrejas do Evangelho Quadrangular, O Brasil para Cristo e a Pentecostal Deus é Amor no Brás e no Cambuci — bairros populosos da cidade de São Paulo, que, por isso, ainda hoje possibilitam o estabelecimento das maiores igrejas pentecostais e neopentecostais da América Latina, no que se refere a poder e imagem.
Este pluralismo continua impactando as questões de gênero, feminismo, decolonização da teologia do século XXI, e essa realidade tem provocado o desejo de estudá-lo no contexto contemporâneo. A sinergia entre pluralismo e contemporaneidade é um desafio fundamental no campo das Ciências da Religião, no sentido de compreender como uma prática consolidada de forma identitária eurocêntrica protestante reformada, que tem como fundamento na cultura racional e intelectual³, se propõe a proclamar o evangelho, ou seja, a praticar a evangelização para as pessoas desvalidas, auxiliando-as em suas necessidades físicas e espirituais, e fazendo-as compreender que progredir nos diversos espectros da vida devem ser feitos para a maior glória de Deus. Não obstante, essa cultura calvinista disputa o espaço com outras
religiões de discursos populares e sincréticos, como é o caso do movimento da teologia da libertação da Igreja Católica, que enfatiza a opção preferencial pelos pobres, e os movimentos carismáticos pentecostais. É, então, a tentativa de verificar como, em pouco mais de cem anos, o reflexo desta investida retornou para sua base com força híbrida de todas as confluências comunitárias, ou seja, a reforma da igreja com a construção do povo.
Dito isto, a importância pesquisar o impacto do pluralismo religioso na IPIB parte de sua própria construção religiosa, uma vez que esta denominação, ao longo de sua trajetória de mais de um século, sempre esteve em constante contato com a pluralidade religiosa no contexto da sociedade brasileira.
Para tal tarefa, devemos partir da confluência entre vários pensamentos teológicos de origem: reformado, luterano, americano, latino-americano e outros contemporâneos, que nos auxiliarão numa leitura frente a uma perspectiva múltipla, plural e híbrida de ideias religiosas. Todo este esforço intelectual será utilizado, articulado e aplicado para tentarmos entender e fundamentalmente demonstrar qual o impacto que essas perspectivas teóricas trouxeram para o pluralismo religioso na IPIB.
Ainda podemos elencar outra justificativa de relevância para esta pesquisa, que gira na esfera da plena efervescência de liberdade religiosa que a atual sociedade vive, com uma pluralidade indistinguível, onde determinadas pressões religiosas sobre o indivíduo perderam influências. Ou seja, as antigas tradições são pressionadas a sugerir, aplicar e produzir novos padrões e dar novas significações religiosas e de fé para alcançar uma demanda insaciável de valores puramente materiais, que em sua maioria, por si só, são efêmeros.
E, também, devido a este cenário, são evidentes as mudanças profundas nas práticas sociais, culturais, políticas, econômicas e na vivência religiosa dos indivíduos. Entendemos, mesmo que este não seja o cerne de nosso trabalho, que vários movimentos filosófico-teológicos, característicos dos Iluminismos⁴ até o século XX, romperam com vários paradigmas que perduraram durante vários séculos. Esse rompimento também atingiu a ideia e a fé cristã que possuía alicerces firmes, uma verdade fundamental e inquestionável, da qual se pensava que não se poderia abrir mão, até então.
Diante das várias perspectivas teóricas do pluralismo religioso, nos embasaremos no pensamento dos seguintes teóricos: Faustino Teixeira, Torres Queiruga, Claude Geffré, Peter Berger e André Biéler. No entanto, nos debruçaremos com mais acurácia nas teorias de Paul Tillich, pastor de confissão luterana, conhecido como um teólogo da cultura; John Hick, presbiteriano de ideias teológicas pluralistas; Richard Shaull, teólogo de confissão reformada, professor no Seminário Presbiteriano do Sul (Campinas) que auxiliara a formar um arcabouço teórico plural teológico dentro da IPB e na América Latina. A escolha destes três pensadores se deu pelas seguintes razões: Tillich foi pastor, conhecedor profundo das ideias luteranas e de suas atualizações, possui uma vasta, importante e plural bibliografia. O segundo, Hick, fora anglicano e se estabeleceu no presbiterianismo. À essência do seu pensamento instalada no corpo de suas obras está a transmutação radical do inclusivismo calvinista para o exclusivismo. E, finalmente, Shaull, professor de teologia, presbiteriano, com escritos importantes em diversas áreas do conhecimento sobre o repensar da dogmática reformada, desembocando num fértil e inovador pensamento político-social-econômico-religioso plural. E, ainda, mesmo sendo natural da América do Norte, conheceu muito bem a realidade da América Latina e fora professor de teologia no Brasil. Portanto, entendemos que Shaull, como pensador reformado plural, escritor de rupturas e muito próximo de nós, será aquele que fará a dialética entre Tillich, Hick e a IPI.
Outro fato de destaque para Shaull balizar nosso conteúdo está em não encontrarmos em nossas pesquisas, um pensador, teórico ou teólogo de tradição reformada nas fileiras próprias da IPIB. Então, diante deste fato, a pretensão que tínhamos de elevar a nossa pesquisa ao estado da arte⁵ quanto aos estudos sobre o impacto direto do pluralismo religioso na IPIB não será totalmente possível. Contudo, tentaremos demonstrar que a IPB – esta sim, ao nosso entender, alcançara o estado da arte – com Shaull irradiara e consolidara de forma importante, para IPIB, uma ideia de pluralismo bastante ousada e convincente.
Dito de outra forma, mesmo tendo essa aparente aporia, nos propusemos a entender e demonstrar como a identidade reformada da IPIB, dentro do pluralismo religioso e das ofertas religiosas das mais variadas, se compreende frente às demandas e qual seu impacto para a futura geração.
Na composição de forças e no desafio entre pensamentos fundadores e movimentos religiosos sociais, deve-se dizer que a IPIB não negociará seus valores litúrgicos. A partir daí, um diagnóstico geral é que, também, devido a isto, várias comunidades tradicionais se esvaziam, enquanto outras mais modernas alcançam pleno sucesso. De certo modo, há um reconhecimento, mesmo que inconsciente, por parte da maioria das pessoas – e, talvez, consciente pelas lideranças –, do avanço e da construção do pluralismo no cenário religioso brasileiro. O pluralismo religioso valida, por seu caráter, toda uma variedade de práticas de misticismos presentes em certas correntes católicas, nas religiões de matrizes africanas, em igrejas pentecostais e neopentecostais, onde todos podem conviver no mesmo ambiente institucional e espiritual. E como um dos resultados deste fenômeno plural, temos