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Comunicação, Infância e Imaginário
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E-book272 páginas3 horas

Comunicação, Infância e Imaginário

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Sobre este e-book

Este livro tem por intenção compartilhar as primeiras pesquisas do Laboratório de Pesquisas da Comunicação nas Infâncias (LabGim), criado em maio de 2019, com missão de melhorar a comunicação nas infâncias, promovendo impacto social por intermédio de pesquisa-ação. Atuante com os saberes da Comunicação, da Sociologia da Infância (SI) e do Imaginário, LabGim vincula-se ao Programa de Pós-Graduação da Escola de Comunicação, Artes e Design Famecos/ PUCRS em parceria com o Centro Marista de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente e sediado pela Fundação Irmão José Otão (Fijo). A publicação objetiva contribuir com saberes sobre Comunicação nas Infâncias a partir de um olhar original, explorando aspectos das infâncias ainda pouco explorados no campo da Comunicação, bem em outras áreas que se empenham em compreender e aprimorar seu olhar sensível sobre a criança, considerado, aqui, como um ser inteiro, no presente.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento29 de ago. de 2022
ISBN9786556232973
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    Comunicação, Infância e Imaginário - Juliana Tonin

    PREFÁCIO

    A literatura contemporânea tem discutido muito a temática da criança e do adolescente e as suas diversas interfaces com o mundo da ciência. Surgiram novas pesquisas, novas metodologias de ensino e um arcabouço de direitos e garantias decorrentes do marco legal e da própria mudança de cultura, principalmente no século XX, considerado o século das infâncias. Nesse conjunto de iniciativas, surgiu o Laboratório de Pesquisas da Comunicação nas Infâncias (LabGim), de caráter pioneiro, idealizado pela professora doutora Juliana Tonin, com o objetivo de promover saberes, com propostas efetivas de impacto social.

    Nessa perspectiva, apresento esta distinta obra, fruto da dedicação dos membros do grupo de pesquisa, que, com propriedade e trabalho de campo em diferentes realidades, abordam o tema das infâncias sob a ótica da comunicação, da sociologia e do imaginário. É uma perspectiva única, com um olhar ousado e que permitirá uma análise sistêmica do desenvolvimento da criança, agregando uma área pouco explorada e de fundamental relevância para o mundo acadêmico. Essa é a importância de tratar o tema, porque perpassa a natureza humana em todas as suas dimensões.

    Estamos enfrentando hoje um grande problema, que é a neutralização e a eliminação das vozes que compõem, principalmente, os extremos da vida. A par disso, é necessário ouvir as crianças, acolher e dar sentido a sua linguagem, provocação realizada no primeiro capítulo deste livro. A obra também nos convida a olhar a criança no cenário das dificuldades, nas práticas integrativas e complementares em saúde, na interação com o mundo digital. Aporta uma análise sobre a imagem simbólica da maternidade, fazendo um recorte dos vídeos produzidos pelas mães youtubers, e remete-se, de forma comparativa, à dimensão histórica e social, para avaliar possíveis modificações no papel e na compreensão da maternidade.

    Apesar de todos os temas abordados nesta obra serem fruto de um intenso processo de incursão na realidade e nas melhores teorias de comunicação e de sociologia das infâncias, sua leitura é recomendada para outras áreas do conhecimento, na expectativa de gerar análises transversais e um olhar multidisciplinar.

    Por tais razões, este livro poderá ser uma fonte inspiradora em tempos de tantas dificuldades e preocupações com as infâncias. Desperta um olhar para os problemas sensíveis da humanidade e para o protagonismo da criança, que se encontra em estágio especial de desenvolvimento.

    Frise-se, por oportuno, que iniciativas dessa natureza levam a termo o papel da universidade, que é a transformação social, e não apenas a mera formação dos estudantes. Essa é a grandeza de todo o trabalho do LabGim, que mantém parceria com o Centro Marista de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente e com a Fundação Irmão José Otão. É um espaço dinâmico, criativo e inserido, que busca soluções para os problemas atuais, por meio da pesquisa de campo, com rigor científico. Esta excelente obra é um dos resultados dos primeiros passos desse trabalho. Com certeza, teremos em breve outras produções de conteúdo. Desejo uma excelente leitura!

    Sandro André Bobrzyk

    Professor da Escola de Direito/PUCRS

    Coordenador do Centro Marista de Promoção dos

    Direitos da Criança e do Adolescente

    SOBRE OS AUTORES

    Anderson dos Santos Machado

    Doutor em Comunicação (PUCRS). Mestre em Saúde Coletiva (UFRGS). Bacharel em Comunicação Social – Jornalismo (UFSM). Membro do LabGim. Foi bolsista CAPES PROSUC durante a pesquisa. Porto Alegre/RS, Brasil.

    Jerônima Daltro Milton

    Mestre em Comunicação Social (PUCRS). Especialista em Gestão de Negócios Internacionais (FAPA). Bacharel em Comunicação Social – Relações Públicas. Bacharel em Administração de Empresas (FAPA). Especialista em Saúde (Relações Públicas) da Secretaria de Estado da Saúde do Rio Grande do Sul. Integrante do Grupo de Estudos em Promoção da Saúde (GEPS) e egressa do Laboratório de Pesquisas da Comunicação nas Infâncias (LabGim).

    Juliana Tonin

    Comunicóloga. Doutora em Comunicação, com pós-doutorado em Sociologia da Infância pelo CERLIS, Sorbonne, Paris V, França. Atuou como Professora Adjunta do PPGCOM/PUCRS, período no qual foi proponente e coordenadora do Grupo de Pesquisa Comunicação, Imagem e Imaginário, proponente e líder do Grupo de Pesquisa Infâncias, Comunicação e Imaginários (GIM Pesquisa) e proponente e coordenadora do LabGim (Laboratório de Pesquisas da Comunicação na Infância), em parceria com o Centro Marista de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente e da Fijo. Coordenadora e responsável pela pesquisa.

    Patrícia Ruas Dias

    Relações Públicas (PUCRS). Mestra e doutoranda em Comunicação (Escola de Comunicação, Artes e Design, FAMECOS/PUCRS) na linha de pesquisa Cultura e Tecnologias das Imagens e dos Imaginários. Integrante do Grupo Infâncias, Comunicação e Imaginários (CNPq). Integrante do LabGim (Laboratório de Pesquisas da Comunicação nas Infâncias). Bolsista CAPES.

    Raquel Schneider

    Jornalista servidora pública do Estado do Rio Grande do Sul. Mestre em Comunicação Social na PUCRS, na linha de pesquisa de Cultura e Tecnologias das Imagens e dos Imaginários com bolsa Capes; especialista em Marketing Digital pela Uniasselvi/IERGS (2015) e graduada em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2006).

    PAROLE D’ENFANT: NOTAS SOBRE A VOZ DAS CRIANÇAS NO CAMPO DAS ESCOLHAS DOS ADULTOS

    Juliana Tonin

    É muito fácil construir-se abstratamente um modelo teórico ou elaborar um crivo de leitura que se possa aplicar a todos os fenômenos. Ficamos, porém, surpresos ao nos darmos conta de que, invariavelmente, o acontecimento se situa à margem, é sempre de modo transversal que a vida cotidiana se afirma, salta e se ilumina; usa de astúcia e resiste

    (Michel Maffesoli).

    Este capítulo de abertura tem por intenção compartilhar a primeira experiência de campo do Laboratório de Pesquisas da Comunicação nas Infâncias (LabGim)[ 1 ], laboratório de pesquisa científica, criado em maio de 2019, cuja missão é melhorar a comunicação nas infâncias, promovendo impacto social por intermédio de pesquisa-ação. Atuando com os saberes da Comunicação, da Sociologia da Infância (SI) e do Imaginário, LabGim está vinculado ao Programa de Pós-Graduação da Escola de Comunicação, Artes e Design FAMECOS/PUCRS em parceria com o Centro Marista[ 2 ] de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente e sediado pela Fundação Irmão José Otão (FIJO).

    Com essa parceria, iniciamos um planejamento de incursões nos colégios, escolas e centros Marista a fim de conhecer as diversas infâncias que constituem cada ambiente, cada realidade social, cada família tocada pelas iniciativas realizadas pela rede. O primeiro local visitado e com o qual interagimos nessa experiência aqui compartilhada foi o Centro Marista Aparecida das Águas, somando duas incursões dos pesquisadores na Ilha dos Marinheiros e duas incursões das crianças em nossa estrutura de laboratório.

    1 O QUE DESEJÁVAMOS MOBILIZAR?

    Sem dúvida, fomos nos experimentar. Era preciso conhecer o campo dessas várias infâncias e exercitar fundamentos teóricos que, de certa forma, abastecem-nos, instruem, orientam para esse contato com as crianças e para nossas ações. Tínhamos diferentes objetivos naquele momento: o de iniciar o reconhecimento de campo, o de formalizar o início das atividades do LabGim e o de aproximar as crianças do contexto da universidade, criando maneiras de se fazer pesquisas com e não apenas para crianças.

    Assim, definimos que oferecer um piquenique no campus universitário no Dia das Crianças, o qual chamaríamos de Pucnic, com a presença das crianças do Centro Marista Aparecida das Águas, conciliaria 1) dar início formal às atividades do LabGim a partir desse evento festivo; 2) aproximar crianças do campus e da pesquisa; 3) potencializar a data simbólica e de notável repercussão na vida das crianças; 4) promover uma prática experimental de pesquisa centrada na noção de parole d’enfant, buscando no empírico os entendimentos acerca das implicações inseridas na ideia de se ouvir a criança. Prefere-se utilizar aqui a expressão sem tradução, mas se compreende que seu significado se aproximaria do sentido evocado na versão a voz da criança, sendo voz algo que está para além do aspecto exclusivamente linguístico, mas significando, sobretudo, a evocação e reconhecimento de uma presença ativa/participativa. Nesse sentido, a intenção foi a de estabelecer o evento Pucnic como um estímulo (gatilho) para se explorar a parole d’enfant (PE), pois queríamos conhecer e compreender os caminhos de uma construção com e não para crianças, na prática.

    A escolha pela data do Dia das Crianças foi movida pelo curso a Psiquiatria e a Escola (AMRIGS), realizado em 2019, no qual pude conhecer a pesquisa de mestrado da psiquiatra Berenice Rheinheimer, intitulada Estudo da prevalência do autoenvenenamento deliberado em crianças e adolescentes no Estado do Rio Grande do Sul, defendida em 2015. Nessa pesquisa, das muitas informações sobre a questão do suicídio na infância e adolescência no Brasil e no mundo, uma delas se sobressaiu. A análise das variáveis temporais relativas ao período de nove anos de acompanhamento de casos evidenciou duas datas específicas do ano em que o número de suicídios de crianças e adolescentes diminui significativamente no país: Dia das Crianças (no Brasil é celebrado em 12 de outubro, data em que também se comemora a padroeira do país, Nossa Senhora Aparecida), e Natal (25 dezembro). Esse sentido subterrâneo desvelado nessas datas serviu, nessa pesquisa, de estímulo para uma valorização das experiências das crianças nessas datas.

    Praticar um princípio teórico da Sociologia da Infância (SI) diretamente no contato com as crianças exigiu do grupo a consciência de ter de lidar com o desconhecido e a aceitação de que o caminho se faria, sem dúvidas, caminhando. Ademais, para um grupo cuja formação contempla hegemonicamente a atuação com a comunicação midiática, operar com comunicação interpessoal (e ainda por cima com crianças!) despertou os mais diversos tipos de debates internos e externos e motivou ainda mais a sustentação dessa dimensão da comunicação como eixo central para o LabGim, configurando possibilidades de se vislumbrar novos horizontes para o campo e entendimentos da Comunicação.

    Partilha-se essa trajetória percorrida em forma de relato de experiência de pesquisa com intenção de favorecer potenciais trilhas para reflexões sobre a parole d’enfant (PE). O relato está dividido em quatro momentos interdependentes: contextualização das premissas teóricas da Sociologia da Infância (SI), contextualização da parole d’enfant (PE), notas metodológicas e dados do campo empírico.

    2 CONTEXTUALIZANDO A SOCIOLOGIA DA INFÂNCIA

    Philippe Ariès, historiador francês, publicou na década de 60 do século passado uma obra intitulada , traduzida parcialmente no Brasil a partir de uma versão francesa de 1973, sob o título História Social da Criança e da Família (ARIÈS, 1981). Trata-se de um notório estudo que buscou traçar um panorama da infância no Ocidente e identificar, por derivação, os sentimentos e concepções de infância que emanavam de cada contexto. Por duas razões principais, essa obra tornou-se uma referência para o tema: primeiro porque foi a pioneira em trabalhar a questão específica da infância de maneira central em sua investigação nas ciências sociais; segundo porque uma de suas teses causou tensões e divergências, principalmente de que, conforme sua apuração, não havia reconhecimento da infância até a Idade Média.

    Em uma vertente, historiadores interessados em contra-argumentar a tese central de Ariès (1981), produzem estudos que revelam novas perspectivas de entendimento da infância na Idade Média, e mesmo antes disso. Um texto que ilustra essa ideia é o de Nicholas Orme, Childhood in Medieval England (c.500-1500), que defende a existência de sentimento pela infância, de afeto e de vínculo por parte dos pais também na Idade Média. Em virtude dos achados de um sítio arqueológico localizado em Londres, no qual foram encontrados diversos brinquedos, datados de aproximadamente 1300 d.C., o pesquisador revela indícios de que esses brinquedos eram produzidos em série e de que alguns deles sugerem a existência de uma diferenciação de gênero, ou seja, podiam ser identificados tipos de brinquedos específicos vinculados a meninos e a meninas, por exemplo. Além disso, através da exumação de corpos de crianças, foi possível perceber que, junto a eles, havia objetos raros, preciosidades que poderiam indicar homenagens das famílias às crianças. Segundo o autor, os altos índices de mortalidade da época (ao menos 25% das crianças nascidas morriam antes de completar o primeiro ano de vida) podem influenciar na interpretação de que a criança era frágil e, por isso, descartável. E que, por conta dessa precariedade, não havia investimento afetivo por parte dos pais. Porém, os estudos dos vestígios, para ele, são mais do que suficientes para dissociar da instância da mortalidade infantil a percepção sobre o afeto pelas crianças. Fundamento que poderia estar sendo interpretado a partir da obra de Ariès (1981).

    Em outra vertente, a partir de Ariès nasce grande interesse em pesquisar a infância por parte da Sociologia, tornando-a independente dos estudos da Sociologia da Família e da Educação, o que culmina, desde 1980, de forma mais consciente e organizada, em diferentes abordagens da infância concentradas no eixo de pesquisa que veio a ser conhecido como Sociologia da Infância (SI). O texto L’enfance au Regard des Sciences Sociales, de Régine Sirota (2012), auxilia-nos a compreender a evolução e desdobramentos do campo.

    Conforme Sirota (2012, p. 3, tradução da autora), até esse despertar a psicologia era considerada como a ciência da infância, a partir da visão dominante da psicologia do desenvolvimento, que estabelecia os estágios do desenvolvimentos infantil com adoção de modelos normativos de progressão para a condição de adulto. Conforme interpreta, seriam análises de criança de laboratório, sem a substância da socialização diária, tampouco do aqui agora da infância. E, manifesta, é a criança no presente que passa a interessar às ciências sociais.

    O panorama das visões da infância a partir da ideia do desenvolvimento é detalhado por Turmel (2013) em Une sociologie historique de l’enfance: pensée du développement, catégorisation et visualization graphique, obra na qual ele retrata que os campos da pediatria, psicologia e educação, entre o período de 1850 e 1945, fundamentaram o que chamou de paradigma do desenvolvimento. Tratar-se-ia de um modelo histórico, almejando o progresso, no qual se pressupunha que "todas as sociedades seguem uma mesma trajetória de transformações, cada uma passando pelas mesmas etapas do desenvolvimento (TURMEL, 2013, p. 2, tradução da autora). Esse paradigma configurou (e ainda configura hegemonicamente) as formas pelas quais pensamos, compreendemos e sentimos a infância, pois se convencionou um modelo global do desenvolvimento, de categorização e de visualização gráfica do amadurecimento humano, tendo como preocupações de fundo diminuir a mortalidade infantil, promover equilíbrio de fecundidade das mulheres, atentar para trabalho infantil, para a necessidade de ensino obrigatório, evasão escolar, a delinquência, abusos.

    De acordo com Turmel (2013), a partir dessa regulação passamos a identificar a infância como uma categoria precisa, como um período no qual se migra de um estágio primitivo a um desenvolvido, tendo como base o determinismo biológico, a noção da criança como corpo, como matéria. Dessa forma, o conhecimento da criança se daria por meio de dispositivos técnicos, instrumentos de mediação e avaliação com intenção de gerar um coletivo mais estável. Assim, a situação das crianças passa a ser traduzida em dispositivos técnicos, atividades de observação e de registro do seu desenvolvimento, nos quais são coletados dados que são transformados em documentos visualizáveis, levando ao apogeu uma visão do material que passa por tradução pelo material. Esses dispositivos técnicos acabam mediando as relações com as crianças e tornando-se tradutores da infância para o coletivo, pois são considerados eficazes e coordenados. De forma geral, estariam divididos em dois tipos: 1) dispositivo cognitivo coletivo, sobre processos de aprendizagem, esquemas cognitivos, práticas institucionais e 2) dispositivo de coordenação interindividual e intergrupo, baseados em regras e poderes. Para Turmel (2013, p. 11, tradução da autora):

    [...] um gráfico ou um quadro que circula – e se interpõe – entre as crianças, pais e demais acrescenta novos recursos ao coletivo, desempenhando um papel decisivo na estabilização de um mundo comum, afastando incertezas.

    Essa modelização levou ao surgimento da categoria criança normal, a partir de determinados critérios de desenvolvimento que deveriam ser, por fim, seguidos. Para Turmel (2013, p. 207-246, tradução da autora), a noção de normal compreende três ênfases, uma derivativa da outra:

    normal como média: a partir da definição de um valor médio extraído de um quadro de visualização de grandes regularidades dos fenômenos sociais e das características pessoais – tais como físicas, sociais ou mentais –, dando ênfase aos números, à estatística, aos cálculos de probabilidade);

    normal como saudável: como variação da primeira forma, a doença seria vista como alguma falha no desenvolvimento – na perspectiva estandardizada –, estimulando o foco dos médicos e pais nas necessidades de alimentação, nutrição, higiene, sono e exercícios físicos, acima de quaisquer outras necessidades das crianças, por exemplo, espirituais, emocionais);

    normal como aceitável: aparece aqui a noção de patologia para centralizar questões de comportamento, ou seja, é dada ênfase na criança patológica no coletivo: delinquentes, fugitivos, vagabundos, prostituídos, absenteístas (TURMEL, 2013, p. 245). Segundo o autor, seria a "normalidade

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