Nothing Do Que Foi Will Be
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Nothing Do Que Foi Will Be - Anthony Koontz
Direitos autorais © 2020 Antonio Kuntz
Todos os direitos reservados
Os personagens e eventos retratados neste livro são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou falecidas, é coincidência e não é intencional por parte do autor.
Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou armazenada em um sistema de recuperação, ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou outro, sem a permissão expressa por escrito da editora.
Design da capa por: Anthony Koontz
Aos leitores do futuro.
PANTA REI
"Nenhum homem jamais entra no mesmo rio duas vezes, e nada
neste mundo é permanente, exceto a mudança e a transformação."
HERÁCLITO
540-470AC
PREVISÕES PARA DAQUI 1,5 BILHÃO DE ANOS.
Antes de virar uma anã branca, o Sol passará pelo estágio de gigante vermelho, em que seu brilho será 5 mil vezes mais intenso do que hoje e seu tamanho cerca de 200 vezes maior.
As previsões estavam erradas
, concluiu o Grão-Mestre do Laboratório de Astrolabiometria da Província Paulista.
2135SE [Segunda Era]
NEXO ÓBVIO DO LIVRE ARBÍTRIO
A Fé escolhe a mentira.
A Razão não tem opção.
HÓRUS CAMPANÁRIO
(O Sábio Individual)
2190SE [Segunda Era]
Índice
Página do título
Direitos autorais
Dedicatória
Epígrafe
Epígrafe
Epígrafe
Dinamarquises
Amanhecimento
Permissão
Sol Invictus
Doce docência
A substância mais
valiosa do mundo
Fibonacci e o número de ouro
Os Trezentos de Wuhan
Ressonância Schumann
Intervenção imperial
Mistério astral
Sopa de Andorinhas
Novus orbis
Novus tempus
Blue Mars
Dia morto
Alternativas
Demografia fecunda
Rebeldes sem causa
Deus ex machina
Resso
À bordo da Civitate Sirius
Filhas da humanidade
Virgo Mrym
Há um eu em mim
Livros deste autor
Dinamarquises
Nos anos 70 da Segunda Era, Hórus Campanário ficou famoso fazendo mapas astrolábicos de celebridades na socialnet. Ainda demorariam dez anos para que ele próprio se tornasse uma celebridade do Devir Universal. Por enquanto, nos anos 70 (vai lendo), seus desconhecidos talentos para a filosofia cívica ainda eram infantis e muito do que ele pensava a respeito tinha a ver com moralidade religiosa, essa idiossincrasia extinta do mundo antigo. Só quando começou a filosofar ele deixou de ser um fedelho. Os fedelhos eram assim chamados por feder a deuses. Um apelido popular dado aos cultistas da década setentista.
E nossa história começa assim, com Hórus Campanário ainda cheirando a incenso, preocupado em conquistar seu lugar panteôntico através do estudo da astrolabiometria, um combo filosófico-científico remasterizado da Primeira Era que havia se tornado a principal e mais conhecida corrente acadêmica no mundo. Graças, em boa parte, a fedelhos como Hórus.
Ele é jovem, magro, não muito alto, e está esfregando as mãos enluvadas para espantar o frio noturno que assombra a plataforma da Estação Santa Cruz. Ao seu lado, Aócio Hípico, um amigo de lua-a-lua, de beber limeira, ressonhar pudendas inalcançáveis e outras farras.
– Qualé, Aócio. Por que enrolar o acetinado agora? Quer perder o trem?
– Santa ingenuidade, Hórus, não vês que me preparo para a viagem? Para de arreganho com a minha cara. Dá meia hora até que cheguemos – disse com seu pesado sotaque do extremo do Brasil do Sul, em seguida passando a ponta da língua úmida sobre a fibra fina e branquinha de celulose sintética acetinada, piscando nervosamente ao mesmo tempo. Parecia arrepiar-se ao fazer.
– Há um mundo girando e não tem base perder o trem da história acendendo isso agora! Não pode fumar no trem! – vociferou Hórus antes de tossir um bafo com cheiro de canela basca, e lascar um tapa no acetinado de Aócio, fazendo-o cair e rolar pelo chão úmido. Os olhos de Aócio vidraram ao seu encalço, catou-o do chão molhado e o sacudiu com cuidado, secando as pontas dos dedos na jaqueta.
O trem da história saiu da estação Santa Cruz exatamente às 23h30 e eles embarcaram pela porta da direita. Era quase hora do almoço. Pela porta da esquerda saiu uma pequena multidão meio sem saber para onde ir, procurando as placas que apontavam em direção às saídas. Eram todos servidores também, indo para suas glebas ou voltando para suas permissões. O vagão quase se esvaziou para quase ficar cheio novamente. Quem entrou também iria ao evento da meia-noite.
Dentro do trem rumo à Praça da Sé, Hórus abriu o voante que trazia enrolado no bolso, sua textura transparente e suas imagens em sépia não atrapalhavam a visão do cenário em volta enquanto ele o lia. Não, sua previsão ainda não havia sido publicada. Era cedo. Talvez dali algumas horas.
Sentado ao seu lado no banco de fibra vídrea, Aócio brincava com seu acetinado, rolando nas pontas dos dedos as pontas do cilindro cheio de chamatti, ainda úmido da poça escura do chão.
– Tem um cheirinho tribom demás! Não dá pra acender agora, vou cheirando – disse Aócio equilibrando o acetinado entre o nariz e o lábio superior, um bigode branco encardido.
– Isso deve ser mijo, idiota! – gritou Hórus. – Não tem mais água sobrando no mundo pra lavar o chão e deixar poça. Se o chão tá molhado
é por que é mijo, cara, mijo! Alguém mijou enquanto esperava o trem... – Hórus fez uma pausa, abaixou o jornal e encarou Aócio.
– Isso tá quente?
– Tá morninho, por quê?
Hórus arrancou o acetinado das mãos de Aócio, segurou-o sobre a palma da mão e deu uma fungada profunda com a mão em concha sobre o nariz.
– Hummmm, ao menos é feminino, humano, não é de cachorro, nem de gato ou de rato. Estava menstruada. Dá pra perceber o sabor férrico.
– Carrrralho, Hórus! Como tu sabes dessas coisas?
– Muitas vidas, Aócio. Meu mapa astrolábico indica que estou na vigésima reencarnação, tenho a memória viva de todas as mulheres que comi em todas as minhas vidas pregressas. Sou um sommelier de pudendas.
– E nesta vida agora, Hórus?
– Nesta vida não comi ninguém ainda, Aócio. Nem sei se comerei. O celibato me lucra. Afinal, estou me preparando para dominar o mundo. Não tenho tempo a perder com pudendas à venda. Por isso nasci feio, não vê? Tudo tem sua razão astral transmigracional e hodierna. Ashmalá-alá-alá!
– Santa sapiência, Hórus.
– Sentei minha bunda por anos, por anos, anos e anos, enfiando cultura rabo adentro não foi à toa. Estava me preparando para um grande futuro. O Sol me disse.
E riram como os jovens riem.
Enquanto o trem lotava mais e mais a cada estação, Hórus se voltava para as janelas, divagando diante das paredes pichadas do velho túnel lutando contra a escuridão... as pichações pareciam sugar, famintas, as luzes internas do velho trem. Não tão velho, não o mesmo de duzentos anos atrás, nem os mesmos trilhos. Em dois séculos, a linha ferroviária subterrânea paulista havia crescido, sendo remodelada e reformada com o passar dos anos, tornando-se a mais segura forma de transporte urbano em uma cidade que fugia do sol cáustico. A vida diurna na superfície se tornara quase impossível desde o fim da Primeira Era. Há setenta e cinco anos.
– Estamos chegando na Sé, Hórus. Levanta-te p’que senão nem conseguimos chegar à porta em tempo de descer.
– Presta atenção, doido, por que o trem está lotado assim? Não percebe? Todo mundo vai descer na Sé. Hoje é a noite do evento anual da guilda dos mercadores, sob a dinamarquise Loyola II. Lembra não? Por isso pegamos o trem! É dever dos bons cidadãos e dos servidores estarem todos lá. Vamos testemunhar os auspícios da safra anual.
– Ah... – escancarou Aócio, olhando em volta e notando que todos no trem se preparavam para sair. E assim aquietou-se no banco, ainda com o acetinado equilibrado entre o nariz e o lábio superior, dando a ele uma expressão coelhística.
Quando o