Haiti: Porto Príncipe Como Espaço de Exclusão
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Sobre este e-book
Professor Doutor Everaldo Batista da Costa
Departamento de Geografia da Universidade de Brasília
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Haiti - Ismane Desrosiers
Haiti
Porto Príncipe como espaço de exclusão
Editora Appris Ltda.
1.ª Edição - Copyright© 2022 do autor
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98. Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores. Foi realizado o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nos 10.994, de 14/12/2004, e 12.192, de 14/01/2010.Catalogação na Fonte
Elaborado por: Josefina A. S. Guedes
Bibliotecária CRB 9/870
Livro de acordo com a normalização técnica da ABNT
Editora e Livraria Appris Ltda.
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Curitiba/PR – CEP: 80810-002
Tel. (41) 3156 - 4731
www.editoraappris.com.br
Printed in Brazil
Impresso no Brasil
Ismane Desrosiers
Haiti
Porto Príncipe como espaço de exclusão
Ao povo haitiano, na sua luta cotidiana em busca de melhores condições de vida.
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, agradeço o Prof. Dr. Francisco Capuano Scarlato (USP), pela orientação da pesquisa a qual este livro se originou, pelo incentivo e acompanhamento. Agradecimento à Prof.ª Dr.ª Glória da Anunciação Alves (USP), pela leitura cuidadosa, bem como pelo excelente texto do prefácio deste livro. Além disso, agradeço-lhe pelas sugestões e simpatia que sempre demonstraram.
Ao Prof. Dr. Everaldo Batista da Costa (UnB), pela leitura atenciosa e sua valiosa contribuição com os textos da terceira, bem como na quarta capa do presente livro. Ao Prof. Dr. Vicente Eudes Lemos Alves (Unicamp), por estimular o meu interesse pelo conhecimento e pela carreira acadêmica. Sou muito grato também à Prof.ª Dr.ª Simone Scifoni (USP), à Prof.ª Dr.ª Amélia Luisa Damiani (USP), à Prof.ª Dr.ª Isabel Aparecida Pinto Alvarez (USP) e à Rosângela, da Secretaria do PPGH. Agradecimento ao Prof. Dr. Jailson de Souza e Silva, Diretor Geral do Instituto Maria e João Aleixo (IMJA) e coinvestigador do projeto Desenvolvimento e Igualdade através da Migração (Mideq-Brasil).
Agradeço ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelo apoio financeiro (n.° do processo: 170022/2018-8) à pesquisa que resultou no presente livro. Às pessoas entrevistadas nesta pesquisa durante o trabalho de campo realizado na cidade de Porto Príncipe entre janeiro e fevereiro de 2017, especialmente à Jocelyne, técnica do Serviço de Planejamento Urbano do MTPTC, ao Rwendy, técnico do Escritório Técnico de Edifício do MTPTC, ao Anilus, técnico da EPPLS, ao Arquiteto Odnell, responsável da Divisão habitacional da UCLBP, pelas conversas e informações concedidas.
Agradecimentos aos amigos Iago, Maurício, Dieumettre, Frantz, Fabian, Katiana, Michel, Daniel, Fábio, Roger, Felipe, Julia, Jeferson, Priscila, Larissa, Tuwile, Gineth, Karen, Juliano, Enola, Leo, Andrea, Charlot, Mélanie, Richemond, Evandro, especialmente a Piero, pela discussão teórica no processo de construção deste trabalho. Grato aos amigos pesquisadores do Laboratório de Geografia Política e Planejamento Territorial e Ambiantal (Laboplan) e do Laboratório da Geografia Urbana (Labur) da FFLCH-USP, pelas discussões e debates, em particular Igor, Rodrigo e Mikael.
Agradecimentos à minha mãe Foncina e meus irmãos Philemond, Marlene, Edmond e Emanise (no Haiti) por tudo.
APRESENTAÇÃO
Este livro é fruto da minha pesquisa de mestrado defendida no Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana (PPGH) da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP) em 2020, Brasil. Nele, busco contribuir para o debate sobre o processo de urbanização, bem como os problemas relacionados às condições de vida das pessoas na cidade de Porto Príncipe. O trabalho se insere no campo das Ciências Humanas, principalmente a ciência geográfica, uma vez que se propõe uma discussão e uma análise sobre a desigualdade social no Haiti, com enfoque nas origens da exclusão e desigualdades socioespaciais na cidade de Porto Príncipe a partir de uma visão que parte da historicidade à espacialidade desse fenômeno (mundial na sociedade capitalista) enquanto o país se urbaniza, e mostra claramente que a exclusão e a desigualdade no Haiti são construções não apenas sociais, mas também espaciais, levando em consideração a distribuição da população nas cidades haitianas, em particular na cidade de Porto Príncipe na sua forma (física) e no seu conteúdo (social).
Ao longo desta pesquisa, evidencio os processos e fatores que levam à formação dos bairros precários na cidade, bem como os diversos problemas sociais, tais como: a escassez de moradia de qualidade, de infraestrutura, de saúde, de educação e de mobilidade urbana, que são marcas evidentes das desigualdades estruturantes na metrópole haitiana ao longo das transformações históricas.
Diante desse fato, quais são as raízes da exclusão e desigualdades no Haiti? Em que sentido elas impactam na distribuição espacial da população em bairros de poder aquisitivo alto e baixo junto ao espaço urbano da metrópole? Quais são as implicações do Ocidente dominante, colonialista, escravagista, racista e intervencionista na construção da exclusão e desigualdade social no Haiti que se reflete na cidade de Porto Príncipe na atualidade?
Para buscar elementos de respostas a esses questionamentos, constrói-se na obra um pensamento que reconhece e analisa criticamente as raízes da exclusão e desigualdades sociais no Haiti no sentido diacrônico e sincrônico desse fenômeno social, que são perceptíveis na contemporaneidade na forma e no conteúdo da cidade de Porto Príncipe.
Ademais, o trabalho parte do pressuposto de que a exclusão e desigualdades socioespaciais na cidade são resultantes das contradições do sistema capitalista em sua periferia que se revela em Porto Príncipe por meio de processos históricos, políticos, econômicos, externos e internos, à própria formação socioespacial do Haiti enquanto totalidade em movimento. Considera-se, nesse sentido, as camadas temporais, de modo a reconhecer a relevância desses processos históricos e sua relação com a realidade urbana atual da metrópole no contexto pós-terremoto de 2010 e do país como o todo em termos socioeconômicos que foram severamente agravados a tal ponto uma grande parcela da população haitiana migra para o Brasil em busca de melhores condições de vida.
Ismane Desrosiers
PREFÁCIO
Haiti: Porto Príncipe como espaço de exclusão é atual, e promove, ao longo de seus capítulos, o debate sobre o processo de exclusão e desigualdade social do Haiti e, em especial, da capital Porto Príncipe.
Ismane Desrosiers, um jovem haitiano solidário e sorridente, que cursou seu mestrado no Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana, da FFLCH-USP, analisa o processo de exclusão social no Haiti enfatizando que este decorre do aprofundamento das desigualdades socioespaciais no país; entretanto as desigualdades socioespaciais não são uma exclusividade do Haiti, mas fazem parte dos princípios do modo de reprodução capitalista. Ainda que a desigualdade seja marca fundante do capitalismo, os Estados Nações do chamado capitalismo periférico têm essa característica aprofundada e daí os processos de exclusão.
Ismane faz um caminho dialético interessante neste livro: parte da atualidade e volta quando necessário, para explicar o movimento dos processos, ao passado, não reproduzindo a tradicional estrutura de trabalhos científicos, quando a história aparece quase que como um hábito acadêmico, reproduzindo a chamada história oficial, mas sem destacar quais elementos ajudam a entender a questão central por ele trabalhada. Ismane volta na história para buscar tais elementos e que auxiliam a entender o atual processo de exclusão social.
Porto Príncipe é uma metrópole no Haiti. Ela concentra a maior parte das atividades econômicas do país, bem como um terço de sua população. O terremoto de 2010 foi um marco para todos os haitianos. A cidade de Porto Príncipe praticamente foi destruída, aprofundando os problemas socioeconômicos já existentes.
Como o Haiti fica em uma área do Caribe, muito marcada pela passagem de furacões, bem como se localiza em cima de uma falha tectônica, os eventos naturais atingem periodicamente esse território. A ocorrência desses fenômenos naturais, por um lado, dificulta a emergência/retomada do processo de desenvolvimento social e, por outro, serve de álibi para justificar a situação de pobreza e desigualdades socioespaciais existentes, como se fossem resultado pura e simplesmente dos eventos naturais como terremotos e furacões que impactam a vida cotidiana de boa parcela dos haitianos, ocultando que é o sistema existente que realça as desigualdades de tal modo que seu aprofundamento implica maior exclusão social.
O agravamento da exclusão social faz com que migrações internas e externas aumentem, refletindo uma tentativa de sobrevivência frente à situação de exclusão existente em Porto Príncipe. Deste modo, o Haiti é aqui e não é aqui, dialeticamente como diria Caetano Veloso, já que os processos fundantes da desigualdade estão presentes em todos os países, mas de modo dramático nos países de capitalismo periférico.
Na reconstrução da metrópole Porto Príncipe, Desrosiers analisa quais espaços foram escolhidos para serem recuperados e quais foram mantidos na invisibilidade, não recebendo projetos infraestruturais e os impactos dessas opções políticas. Em geral, esses espaços invisibilizados são os que concentram as populações de mais baixa ou nenhuma renda, como é o caso de Canaan, uma favela localizada a 20 km da capital e que cresce enormemente, principalmente após o terremoto de 2010.
Por outro lado, ele discute como a maior parte dos recursos usados para a requalificação urbana são destinados à reconstrução de áreas centrais em Porto Príncipe, em especial a cidade administrativa. Assim, boa parte dos recursos foram utilizados para a construção de edifícios administrativos (Tribunais, Ministérios, por exemplo), em detrimento das necessidades da maior parte da população que acabou por se concentrar nos municípios da região metropolitana existente.
Como mostra Desrosiers ao fazer, quando necessário, uma recuperação de processos históricos, essas opções não são algo novo. Quando da exposição universal de 1949, também se fez, na época, a escolha pelo remodelamento da área central pela elite do lugar, que se articulou com elites internacionais. Nesse sentido, esses processos de construção e requalificação somente podem ser entendidos a partir da articulação de escalas geográficas (local, regional e mundial).
Ismane Desrosiers trabalha com os processos de constituição da região metropolitana de Porto Príncipe e as implicações na vida cotidiana dos habitantes, com seus impactos nas alternativas feitas de mobilidade urbana, constituição de infraestruturas e como a população tem lutado para sobreviver e resistir.
Este livro é um convite ao desvendamento de processos que são gerais, mas, que têm suas particularidades a partir dos processos de constituição da sociedade, neste caso haitiana, marcada pela colonização
francesa até final do século XVIII (quando de sua independência), e pelo imperialismo americano observado nas atuais políticas neoliberais. Tenham todos uma boa leitura.
Prof.ª Dr.ª Glória da Anunciação Alves
Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo
LISTA DE SIGLAS E ACRÔNIMOS
Sumário
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I
A DINÂMICA SOCIOESPACIAL NA CIDADE DE PORTO PRÍNCIPE APÓS-TERREMOTO DE 2010
1.1 As consequências socioeconômicas e infraestruturais do terremoto de 2010
1.2 Os planos, financiamentos da reconstrução do Haiti e de projetos de requalificação urbana do centro de Porto Príncipe pós-terremoto de 2010
1.3. Avaliação da implementação do projeto de requalificação urbana do centro de Porto Príncipe: Cidade Administrativa de 2012
CAPÍTULO II
A CENTRALIZAÇÃO EM PORTO PRÍNCIPE DURANTE A URBANIZAÇÃO DO HAITI
2.1. O processo da expansão urbana da cidade de Porto Príncipe
2.2. Transporte e mobilidade urbana em Porto Príncipe
2.3. Exclusão e desigualdades socioespaciais na cidade de Porto Príncipe
2.4. Dinâmica da economia urbana em Porto Príncipe desde 1980
CAPÍTULO III
A FORMAÇÃO SOCIOESPACIAL DO HAITI
3.1. Sucessão, coexistência do fenômeno da exclusão e desigualdades sociais da colônia francesa à formação do Estado haitiano
3.2. Origens da exclusão e de desigualdades sociais no Haiti
3.3. Efeitos da corrupção na dinâmica da exclusão e das desigualdades no Haiti
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
O termo exclusão social apareceu em 1974, por René Lenoir, no seu livro intitulado Os excluídos,