Escritos de si
()
Sobre este e-book
Autores relacionados
Relacionado a Escritos de si
Ebooks relacionados
antes do fim do mundo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDespertador Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSombras Na Floresta Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSem gentileza Nota: 4 de 5 estrelas4/5Infinity Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs frutos da figueira Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPor Ruas Empoeiradas E Solitárias E Outras Histórias Nota: 0 de 5 estrelas0 notasConfissões De Uma Concubina Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAutoestrada Do Horror Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMeus desacontecimentos: A história da minha vida com as palavras Nota: 4 de 5 estrelas4/5Corações feridos Nota: 5 de 5 estrelas5/5Eu era uma e elas eram outras Nota: 0 de 5 estrelas0 notasNo Fundo Falso Da Gaveta Da Velha Cômoda Nota: 0 de 5 estrelas0 notasHendecágono Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMirabilia: Contos de natal Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAlém Do Vale Do Terror E Da Imaginação Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEscola Para Deuses Nota: 0 de 5 estrelas0 notasQuem sou eu, afinal? Nota: 0 de 5 estrelas0 notasQuatro elementos: A traição Nota: 5 de 5 estrelas5/5Julia Jones - Os Anos da Adolescência - Livro 2: O Amor é uma Montanha Russa Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDiário póstumo de Charlotte Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Maldição Da Estrela Nota: 0 de 5 estrelas0 notasNotas de consolo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTentativas De Vida Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO som dos anéis de Saturno Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Que Eu Não Disse Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCinco para meia-noite Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Noite do Fim do Mundo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEstamos todos completamente transtornados Nota: 0 de 5 estrelas0 notasQuando A Porta Se Abrir Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Antologias para você
Contos de Suspense e Terror: Obras primas de grandes mestres do conto Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDicionário de mitologia nórdica: Símbolos, mitos e ritos Nota: 4 de 5 estrelas4/5Os Melhores Contos Portugueses Nota: 0 de 5 estrelas0 notasContos do mar sem fim Nota: 4 de 5 estrelas4/5Os Melhores Contos Russos Nota: 5 de 5 estrelas5/5Os Melhores Contos Brasileiros - I Nota: 0 de 5 estrelas0 notasNarrativas do medo 1 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOS MELHORES CONTOS BRASILEIROS II Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTodas as Mães Merecem o Paraíso Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOS MELHORES CONTOS LATINOS Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs Melhores Contos Estrangeiros Nota: 5 de 5 estrelas5/5Os Melhores Contos Espanhóis Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOS MELHORES CONTOS AMERICANOS Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOS MELHORES CONTOS ITALIANOS Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOS MELHORES CONTOS INDIANOS Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs Melhores Contos Ingleses Nota: 2 de 5 estrelas2/5Carcosa: contos do Rei de Amarelo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAlberto Caeiro: Poemas Completos (Golden Deer Classics) Nota: 5 de 5 estrelas5/5Dissidências de Género e Sexualidade na Literatura Brasileira: uma antologia (1842-1930) - Volume 1. Desejos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOS MELHORES CONTOS ÁRABES Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA magia do Natal: antologia de contos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPequenos textos de grandes autores brasileiros Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO meu lugar Nota: 5 de 5 estrelas5/5Narrativas do medo 4 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA jornada: Os doze contos do heroi Nota: 0 de 5 estrelas0 notasContos hispano-americanos fantásticos, frágeis, fatais Nota: 0 de 5 estrelas0 notasColeção Sobrenatural: Vampiros Nota: 0 de 5 estrelas0 notasContos de Natal: Volume 1 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTeias mortais Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Avaliações de Escritos de si
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
Escritos de si - Angela Cantoni
Olga
Angela Cantoni
— Kapará¹! — Gritava Olga da cozinha quando um copo se espatifava no chão. Ninguém naquela pequena comunidade judaica era mais supersticioso ou respeitava mais as tradições do que Olga. Ela tinha seus setenta e poucos anos, dedos deformados pela artrite, sobrancelhas negras e uma incrível cabeleira branca.
Olga costumava acordar cedo para ler o jornal. Sabia as notícias de trás para frente e seria capaz de narrá-las com riqueza de detalhes, caso alguém quisesse saber. Acontece que os dias se passavam inteiros e ninguém perguntava nada a ela. A comunidade não se importava muito com o que acontecia fora daqueles muros. Nem mesmo o rabi², Oz. Ainda assim, Olga se dedicava à leitura do periódico. Após deixar as palavras cruzadas para a pequena Oliza, a velha senhora preparava o desjejum e, quando a comunidade enfim acordava, o café preto e os ovos cozidos já estavam postos sobre a mesa. Sempre tinha um para reclamar da quantidade de sal que Olga salpicava sobre os ovos, mas ela não se importava.
— Ovo sem sal traz a morte ou a anuncia. — Dizia.
Um ou outro fazia cara de deboche, mas nenhum deles se atrevia a retirar um cristal sequer do sal kosher³ de cima das claras dos ovos. Havia anos que nenhum judeu morria por lá graças à Olga. Esse medo danado que os filhos de Abraão têm do esquecimento.
Após as obrigações matinais, Olga levava as crianças à escola, varria toda a casa, cuidava para que Oz fizesse suas orações em paz e por fim, descansava. Tinha a consciência tranquila, pois fazia tudo o que estava a seu alcance.
Se os adultos tinham sorte em suas vidas profissionais era porque Olga jamais varria um grão de poeira porta afora. Se as sete crianças não tinham verrugas nas pontas de seus narizes era porque levavam tapas na mão quando intentavam apontar para alguma estrela no céu. Da mesma forma, o rabi jamais tivera dificuldades em resolver algum problema, pois Olga desfazia cada nó dado em cada sacola que trazia da feira.
Olga não se importava de fazer todo o trabalho sozinha, muito menos reclamava do peso de carregar toda a sorte da comunidade nas costas, sem que, contudo, jamais tivessem se interessado por sua história pregressa. Por exemplo, ninguém sabia que Olga adorava chocolate, a cor azul e jogos de futebol.
Um dia, Olga morreu.
O rabi foi acordado às pressas por Oliza, que estranhou o fato de encontrar o jornal intacto sobre a mesa, e não dobrado de forma que as palavras cruzadas estivem à mostra. Pressentindo algo de errado, a garota correu até a cozinha e não sentiu o cheiro do café. Os ovos tampouco estavam cozidos.
Oliza deixou de lado as formalidades e acordou o rabi. Oz vestiu um robe preto sobre o pijama e por pouco não saiu do quarto sem seu quipá⁴, tamanho o desespero da criança. Bateu três vezes à porta do quarto onde Olga dormia. Silêncio. A criança ordenou que insistisse e assim ele o fez. Mais três batidas e nada. De repente, toda a casa se juntou à dupla. Pareciam mais incomodados do que preocupados.
— Ora essa! Por que toda essa confusão? — Perguntou um dos adultos.
— Por que estão parados em frente a essa porta? — Questionou outro.
A criança e o rabi se entreolharam.
— Esse é o quarto onde Olga dorme. — Oliza apontava incrédula para a porta.
Os adultos arregalaram os olhos de espanto.
— Olga tem um quarto neste lugar? — Perguntou uma das mulheres após um bocejo.
De repente, todos falavam ao mesmo tempo. Uns