Educação em Prisões e Universidades Públicas no Brasil
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Educação em Prisões e Universidades Públicas no Brasil - Carolina Bessa Ferreira de Oliveira
Sumário
CAPA
1
O DIREITO À EDUCAÇÃO E O PAPEL DO ESTADO
1.1 OS MARCOS LEGAIS COMO MÍNIMA GARANTIA: PANORAMA DO DIREITO À EDUCAÇÃO NAS PRISÕES E IMPLICAÇÃO DO SEU EXERCÍCIO PELA PESSOA PRESA
1.2 A UNIVERSIDADE PÚBLICA COMO INSTITUIÇÃO DO ESTADO E COMO BEM PÚBLICO
2
POPULAÇÃO PRISIONAL E UNIVERSIDADE PÚBLICA: QUE RELAÇÕES?
2.1 O ENCARCERAMENTO E A SELETIVIDADE SOCIAL E RACIAL DO SISTEMA PUNITIVO
2.2 O TRIPÉ CONSTITUINTE DA UNIVERSIDADE E A INTERFACE POSSÍVEL COM A EDUCAÇÃO EM PRISÕES A PARTIR DO TERRITÓRIO COMO BALIZADOR DE POLÍTICAS
2.3 ENSAIANDO POSSIBILIDADES: UNIVERSIDADES PÚBLICAS E UNIDADES PRISIONAIS NO MAPA DO ESTADO DE SÃO PAULO
3
VISLUMBRES E SENTIDOS DA UNIVERSIDADE PÚBLICA NA PRISÃO: ENTRE NORMAS E VOLUNTARISMOS?
3.1 A APOSTA NA POTENCIALIDADE DA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA NAS PRISÕES
REFLEXÕES FINAIS DO LIVRO
REFERÊNCIAS
SOBRE O AUTOR
SOBRE A OBRA
CONTRACAPA
Educação em prisões e universidades públicas no Brasil
Editora Appris Ltda.
1.ª Edição - Copyright© 2023 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98. Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores. Foi realizado o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nos 10.994, de 14/12/2004, e 12.192, de 14/01/2010.
Catalogação na Fonte
Elaborado por: Josefina A. S. Guedes
Bibliotecária CRB 9/870
Livro de acordo com a normalização técnica da ABNT
Editora e Livraria Appris Ltda.
Av. Manoel Ribas, 2265 – Mercês
Curitiba/PR – CEP: 80810-002
Tel. (41) 3156 - 4731
www.editoraappris.com.br
Printed in Brazil
Impresso no Brasil
Carolina Bessa Ferreira de Oliveira
Educação em prisões e universidades públicas no Brasil
À minha mãe, pai, irmã e irmão, por apoiarem minhas escolhas.
Ao meu querido Djalma (in memoriam).
Ao amigo e educador Fábio Aparecido Moreira (in memoriam).
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao professor Roberto da Silva, exemplo de resiliência na vida e na universidade, sobrevivente do cárcere brasileiro. Muito obrigada por tantos ensinamentos antes, durante e depois da pesquisa de doutorado que inspirou este livro e por representar, para mim, força e maestria!
Os detentos não são meus amigos, mas não é necessário ser meu amigo para que eu reconheça a cada um seus direitos. O direito não é dado por compaixão, mas porque é um direito. Ele não necessita de explicação alguma. É porque decidimos viver em sociedade, reconhecendo a cada um os mesmos direitos, que esta exigência moral se torna uma exigência social, jurídica.
(DE MAEYER, 2013, p. 48-49)
Foto de muro da Universidad Nacional de Córdoba, na Argentina, com grafite em vermelho Todo preso é político
(tradução livre; autoria do grafite desconhecida). Fonte: arquivo pessoal da autora, novembro de 2014, quando realizou pesquisa de campo sobre educação em prisões na Argentina em sede de sua investigação de doutorado.
PREFÁCIO
Ao tentar anteceder os caminhos que o(a) leitor(a) encontrará nessa obra de desbravamento, coragem e ousadia, intitulada: Educação em prisões e universidades públicas no Brasil, em que a Professora Carol Bessa se junta às outras vozes do campo da pesquisa sobre Educação em Prisões, não poderia deixar de expor o prazer de prefaciar uma obra que acompanhei a sua construção e que, agora, chega num momento tão simbólico e esperançoso (2023) para a sociedade brasileira, momento este que faz emergir uma crença que nos possibilita sonhar novamente com o papel ordenador e promotor do ESTADO BRASILEIRO
de ações que garanta direitos básicos a maior parte da população do nosso país num continuum lutar.
Celebrando este marco, a autora nos presenteia, ao transitar pelas nuances da sua formação em Direito e sua identidade de educadora (Pedagoga), pesquisadora e professora na área de ciências humanas e sociais, uma interação dos seus diversos ‘EUS’ que ela vem se constituindo numa escrita madura ao defender o acesso a direitos pela ação do Estado por meio de suas políticas públicas, dentre elas a EDUCAÇÃO.
Tenho a consciência que o aceite para prefaciar essa obra também vem carregado de responsabilidades de lançar o primeiro olhar sobre uma obra e tornar-se um indicativo para sua leitura, numa escrita mais metafórica num farol.
Espero que as luzes
que trago não decepcione os leitores, pois como leitor também trago minhas marcas e pontos de vistas em relação à temática da educação em espaços de privação de liberdade, espaço este que neste momento enxergo como um espaço mais livre para minhas reflexões ao enxergá-lo como um território de possibilidades para homens e mulheres privados de liberdade. Assim, nessa caminhada como pesquisador e leitor sobre a temática, reconheço que desde o meu início em medos dos anos 90, muita coisa mudou em relação à produção acadêmica acerca da instituição prisão, educação, prática docente, mais especificamente da presença do professor neste ambiente.
Não seria possível prefaciar uma obra de tamanha magnitude e atualidade, sem me referir aos avanços normativos e aos(as) desbravadores(as) desse campo do conhecimento. No campo legal assistimos à chegada de vários instrumentos que garantem a educação como um direito: a Lei de Execução Penal (BRASIL, 1984), Constituição Federal (BRASIL, 1988), Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990), Lei de Diretrizes e Bases da Educação (BRASIL, 1996), diretrizes nacionais para a oferta de educação para jovens e adultos em situação de privação de liberdade (BRASIL, 2010), remição de pena a partir da nova redação dada pela Lei nº 12.433, de 2011, Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (BRASIL, 2012) dentre outras.
Neste tocante assistimos avanços em relação ao reconhecimento das atividades educacionais dentro do sistema prisional e socioeducativo, mas, por outro lado, isso não materializou em garantia dos direitos básicos à mulher e ao homem aprisionado, esses sujeitos perderam o seu direito de ir e vir, mas mantêm os demais direitos garantidos em lei.
Nesse percurso não foram poucos os desbravadores no campo da produção acadêmica, que iniciaram as lutas e persistiram em produzir reflexões acerca do papel da educação dentro das penitenciárias, cadeias, instituições de internação de adolescentes. Chegamos nesse momento com um grande volume de trabalhos acerca das presenças dos atores do fazer educacional nesse espaço, de suas relações, desafios e principalmente do confronto entre o existir da prisão e as suas relações com a Educação e o papel do Estado como ordenador e organizado da sociedade como esse campo de lutas em relação às políticas de restrição e privação de liberdade.
Neste campo, prefiro não citar nomes para não cometer erro de deixar alguém à margem do esquecimento. Podemos afirmar que em todas as regiões do país, nascem produções acerca da temática – educação em prisões, educação prisional, educação para jovens e adultos em situação de privação de liberdade, educação nas prisões, educação no sistema prisional, educação entre grades – para além das terminologias, pergunto quais seriam as mudanças reais na realidade dessas instituições, do processo educacional, na formação desses educadores, na superação do aprisionamento em massa e do próprio modelo de instituição?
Reconheço que este trabalho encontra-se no cerne das discussões atuais da materialização da implantação da Resolução nº 7, de 2018, que estabelece as Diretrizes para a Extensão na Educação Superior Brasileira e regimenta o disposto na Meta 12.7 da Lei nº 13.005/2014 que aprovou o Plano Nacional de Educação - PNE 2014-2024, ao exigir que pelo menos 10% (dez por cento) do total da carga horária curricular estudantil dos cursos de graduação seja realizada por meio de atividades extensionistas. Questionam-se quais seriam as políticas públicas de educação e os papeis já construídos ou a serem construídos pelas universidades públicas brasileiras em relação aos eixos do ensino, pesquisa e extensão nos espaços prisionais.
Neste sentido, traz experiências do Brasil e Argentina, possibilitando reflexões maduras ao decorrer do texto, tendo a autora uma aposta que o eixo da extensão possui uma maior possibilidade de sucesso a meu ver, por possibilitar diálogos mais interdisciplinares com a Universidade e a Sociedade no campo da troca de saberes plurais em nível social, político e pedagógico.
Neste caminhar, a autora nos apresenta os marcos legais nacionais e internacionais, reconhecendo a educação como um direito e o papel do Estado visando à garantia mínima de ação transformadora. Assim, reconhece a Universidade Pública como a grande mola propulsora desse fazer acontecer, reconhecendo-a como o nosso maior bem público. Nesse sentido, leva-nos a questionar qual tem sido a relação entre as Universidades Públicas e a prisão, principalmente no desenvolvimento das atividades extensionistas, em interface com a pesquisa e o ensino.
Nas entrelinhas, apresenta-nos um cenário realista das unidades e da população prisional e as possíveis interações entre a prisão e a Universidade, pautada em dados e documentos de instituições de renome (IPEA, Institute for Criminal Policy Research, SEMESP) e do próprio Estado (INFOPEN, CNJ, Cniep, DEPEN, IBGE), afirmando que o encarceramento traz no seu âmago uma seletividade social e racial alicerçado no sistema punitivo.
A autora nos coloca inquietações ao nos levar a reflexões sobre se Seria possível relações saudáveis que vislumbrem o desencarceramento?
Nesse contexto nos leva a pensar sobre que relações são possíveis a partir de profissionais, normas e instituições existentes no cenário público para materialização do rompimento da precariedade estrutural, a ausência da garantia de direitos básicos e as mais diversas atrocidades que ocorrem no estar do homem e da mulher que permanecem sob a tutela do Estado.
Nesse interim, a autora defende a possibilidade entre o tripé ensino, pesquisa e extensão a partir da universidade e o território prisional com edificação de políticas públicas para este espaço, reconhecendo a extensão como ação fundante para materialização de troca de saberes e mudanças significativas no espaço com apresentação de um mapa de possibilidades de ações e parcerias entre essas instituições pautadas em processos dialógicos onde reconheça a prisão, a universidade como produtores de saberes.
O capítulo Vislumbres e sentidos da Universidade Pública na prisão: entre normas e voluntariados?
clama a universidade pública em relação à sua presença na prisão, um compromisso perante a sociedade que necessita de um posicionamento político claro no enfrentamento à questão do encarceramento possibilitando a superação dos vieses da seletividade racial e social, possibilitando com sua presença, a oferta de ações de ensino, extensão e pesquisa e vencendo os olhares desse espaço como campo de produção de conhecimento que oportuniza olhares transdisciplinares sobre a prisão.
A autora traz experiências alicerçadas em outras pesquisas em nível latino-americano que revela uma reduzida participação da Universidade neste espaço na Argentina, México, Venezuela e Costa Rica a partir dos estudos de Rangel (2012).
Portanto, o terreno prisional é uma área fértil para as Universidades desenvolverem ações significativas e com comprometimento social de maneira formal, principalmente na versatilidade da dimensão extensionista com programas, projetos, cursos, minicursos, oficinas e prestações de serviços para além da manutenção ou viabilização da prisão.
Porém, a Universidade precisa se ver com uma instância que tem na sua existência a obrigação de problematizar a questão do encarceramento e da violência como lugar de excelência e respeito no campo da produção do conhecimento científico, superando a visão desse território para ações espontaneístas e de voluntarismo. Neste trajeto, a autora nos presenteia os obstáculos que a extensão universitária vem enfrentando na construção da sua identidade, mas também nos apresenta com panoramas promissores o cenário nacional e latino-americano, no seu texto, para pensar uma ação que reconheça o espaço, os sujeitos e os diferentes cenários de atuação na sociedade, superando os grilhões do colonialismo para uma ação emancipadora e consciente do nosso estar no mundo, visando à transformação social através de uma luta constante em prol da equidade e do acesso a direitos.
O livro da Professora Carol Bessa, ao trafegar em caminhos sinuosos já visto na produção científica, enfrentando riscos ao discutir modelos postos de Universidade Pública, sempre passíveis de crítica e aperfeiçoamentos, contribui de maneira substancial para refletirmos sobre o papel e a responsabilidade da Universidade Pública em relação à sua presença ao tratar a educação nas prisões como parte da política de educação e direitos garantidos na Constituição Brasileira por meio da presença do Estado.
Admiro o posicionamento da autora ao reconhecer a prisão como espaço múltiplo de produção de conhecimento para além das pesquisas, sendo necessária uma ousadia da Universidade ao ver a prisão como um terreno fértil para atividades de ensino e principalmente de extensão por meio de parcerias institucionais que deslumbre a gestão e as ações extensionistas, mesmo reconhecendo a dificuldade de adentrar a instituição prisional para realizações de intervenções. Por fim, a autora nos possibilita a sonhar novas perspectivas de atuação e reflexão críticas em espaços de privação de liberdade para a Universidade Pública.
Agradeço o convite de prefaciar