Aprender e Ensinar na Luta pela Educação do Campo: Caminhos da Indignação e da Esperança
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Aprender e Ensinar na Luta pela Educação do Campo - Maria Isabel Antunes-Rocha
Sumário
CAPA
POR QUE ESCREVER UM LIVRO SOBRE MINHA TRAJETÓRIA?
CAPÍTULO 1
TEMPOS DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE
VIVÊNCIAS NA CASA POMAR E NA CASA FAZENDA
TEMPOS DA JUVENTUDE EM BELO HORIZONTE: TRABALHO, UNIVERSIDADE E POLÍTICA
TEMPOS DE SER PROFESSORA/PSICÓLOGA COMUNITÁRIA/MESTRE – DA EDUCAÇÃO POPULAR À EDUCAÇÃO ESCOLAR
CAPÍTULO 2
TEMPOS NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
TEMPOS DE DESCONSTRUIR A EDUCAÇÃO RURAL E CONSTRUIR A EDUCAÇÃO DO CAMPO
TEMPOS DE INSTITUCIONALIZAR A EDUCAÇÃO DO CAMPO NA UNIVERSIDADE, NAS POLÍTICAS PÚBLICAS E NO CAMPO
TEMPOS DE INGRESSO NA PÓS-GRADUAÇÃO
CAPÍTULO 3
A EDUCAÇÃO DO CAMPO COMO REFERÊNCIA PARA ORGANIZAR O ENSINO, A EXTENSÃO E A PESQUISA: CAMINHOS EMPÍRICOS, CONCEITUAIS E METODOLÓGICOSxviii
A LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO DO CAMPO NA UFMG: DESAFIOS NA FORMAÇÃO INICIAL
O LECAMPO COMO EXPERIÊNCIA SEMINAL NO PRONERA
O LECAMPO no PROCAMPO e como oferta regular
O Projeto Escola da Terra: desafios da formação continuada
CAPÍTULO 4
TRADUZINDO PRÁTICAS E PRINCÍPIOS EM CONCEITOS, INDICADORES E METODOLOGIAS PARA O ENSINO, A EXTENSÃO E A PESQUISA NA UNIVERSIDADE
FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DE PROFESSORES NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO
CONSTRUINDO O CONCEITO REPRESENTAÇÕES SOCIAIS EM MOVIMENTO (RSM)
O CONTEXTO DE FORMULAÇÃO DO CONCEITO DE RSM: NA PESQUISA, NO ENSINO E NA EXTENSÃO
PARA CONTINUAR A CAMINHADA
REFERÊNCIAS
ÍNDICE REMISSIVO
NOTAS DE FIM
SOBRE A AUTORA
SOBRE A OBRA
CONTRACAPA
Aprender e ensinar
na luta pela educação do campo
caminhos da indignação e da esperança
Editora Appris Ltda.
1.ª Edição - Copyright© 2023 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98. Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores. Foi realizado o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nos 10.994, de 14/12/2004, e 12.192, de 14/01/2010.
Catalogação na Fonte
Elaborado por: Josefina A. S. Guedes
Bibliotecária CRB 9/870
Livro de acordo com a normalização técnica da ABNT
Editora e Livraria Appris Ltda.
Av. Manoel Ribas, 2265 – Mercês
Curitiba/PR – CEP: 80810-002
Tel. (41) 3156 - 4731
www.editoraappris.com.br
Printed in Brazil
Impresso no Brasil
Maria Isabel Antunes-Rocha
Aprender e ensinar
na luta pela educação do campo
caminhos da indignação e da esperança
Dedico este livro
À minha mãe, que ensinou a cada filha e filho o caminho da escola como referência para trilhar a vida e para quem cada diploma precisava ser comemorado como um direito conquistado;
Aos meus filhos, Iara e Rafael, e à minha neta, Íris Maria. Eles são as pessoas mais próximas que me motivam na luta por uma sociedade mais justa e fraterna e por quem me esforço para transmitir o que aprendi com minha Mãe;
Aos povos campesinos, por me ensinarem a lutar pela produção e reprodução da vida como um direito e ver que a conquista da escola é parte fundamental neste processo;
Às companheiras e aos companheiros do Movimento de Luta pela Educação do Campo, especialmente ao grupo da UFMG;
A meus professores e minhas professoras, aos alunos e alunas, às orientandas e aos orientandos, pelas críticas, pelos elogios e pela confiança no meu trabalho;
Aos meus familiares, com especial ênfase a meus avós, meu pai, irmãs, irmãos, sobrinhas, sobrinhos, cunhadas, cunhados e ao companheiro Adalberto, pela presença e apoio ao longo dessa caminhada;
Dedicatória especial aos meus irmãos, João Antunes de Souza e João Lourenço da Rocha, a minha amiga e colega de trabalho Inês Assunção de Castro Teixeira e a minha professora dos anos inicias do ensino fundamental Dona Lourdes Mota: para sempre presentes como referências na luta por uma sociedade mais justa e fraterna, agora como estrelas que brilham no céu da minha vida.
Às amigas e aos amigos, pelos afetos, partilhas, mãos estendidas e abraços.
PREFÁCIO
Para mim, é uma honra e um prazer prefaciar o livro de minha aluna, orientanda, colega e amiga Isabel Antunes, cuja trajetória tenho acompanhado com interesse e admiração há bastante tempo.
Conheci Isabel como aluna de graduação no curso de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais. Na época, nós, professores da área da Psicologia Social, procurávamos transmitir aos alunos uma visão crítica de nossa área, evidenciando como a importação de modelos de interpretação de dados empíricos coletados em outros contextos sociais e culturais vinham produzindo preconceitos e avaliações equivocadas sobre aspectos psicológicos e psicossociais da população brasileira. Nosso interesse, na época, era precisamente construir uma Psicologia Social com dados de nosso país e região, a América Latina, como propunha nossa colega Elizabeth Bomfim (1987), rompendo com a excessiva dependência dos modelos importados.
Esse interesse em conhecer a construção de identidades brasileiras no contexto de nossa sociedade e cultura tinha me levado a buscar conhecer melhor a evolução da Psicologia no Brasil. Por essa via, descobri a obra da professora Helena Antipoff (1892-1974), responsável por iniciativas relevantes e influentes na elaboração de propostas contra hegemonias na educação pública brasileira desde os anos de 1930. No caso de Antipoff, sua proposta para a chamada educação rural, no final dos anos de 1940, incluía a ideia de que era preciso levar os benefícios da cidade ao campo, visando valorizar e empoderar as pessoas que ali viviam, em um país predominantemente rural, como o Brasil, assim promovendo a expansão da cidadania. No Instituto Superior de Educação Rural (Iser), instalado na cidade de Ibirité, MG, em 1955, com o apoio de Anísio Teixeira e outros educadores progressistas, a educadora propôs inúmeras práticas educativas inovadoras visando atender às demandas educacionais de crianças e adolescentes do meio rural com objetivo de
[...] assegurar o bem-estar físico e moral de todos que necessitem de amparo material, da assistência social, cultural e espiritual e vem procurá-los na certeza de receber o possível, sem receio de rejeição sumária ou sem a inconveniência de segregação improducente e desumana. (ANTIPOFF, 1992, p. 153).
Variados procedimentos foram ali experimentados — o trabalho em equipe, a valorização do conhecimento científico na orientação das práticas pedagógicas em oficinas e nas granjinhas
produtivas, a cogestão da instituição, com participação equitativa de educadores, trabalhadores e estudantes nas decisões coletivas, o uso de diários para melhor desenvolver a reflexão e a consciência do papel de cada um na obra comum, o respeito às diferenças individuais e às opções vocacionais, em processos ativos e motivadores para os estudantes, em um ambiente democrático e cooperativo. Os estudos que fazíamos na época sobre essas experiências, documentadas no riquíssimo acervo do Centro de Documentação e Pesquisa Helena Antipoff (CDPHA), nos motivavam a contribuir para a inclusão educacional e social que percebíamos como urgentes em nosso país.
Como aluna no Programa de Mestrado em Psicologia Social na UFMG, Isabel integrou-se às nossas pesquisas e observou as inovações propostas por Antipoff que, embora em escala reduzida e com pouco investimento governamental, mostravam as possibilidades de contribuir para superar os problemas históricos e culturais que impediam a expansão e o aperfeiçoamento da educação no campo no Brasil (AUGUSTO; ANTUNES-ROCHA, 1994). Em sua dissertação de mestrado (ANTUNES-ROCHA, 1995), mostrou como os processos de desqualificação e exclusão das demandas educacionais dessa população eram mediados pelas Representações Sociais dos professores em relação e esse público. Eram os próprios professores que, vindos de outro ambiente sociocultural, percebiam os alunos como carentes e indisciplinados, e encontravam dificuldades para compreender suas demandas e questionamentos, considerados desadaptados às suas próprias expectativas. Na época Denise Jodelet, parceira de Serge Moscovici no estudo das Representações Sociais, indicava que uma das principais funções das ciências sociais contemporâneas seria exatamente contribuir para a compreensão e análise desses processos psicossociais que sustentam as situações de exclusão e de segregação nas instituições sociais encarregadas de promover as oportunidades de equalizar as relações sociais, em um jogo de contradições difícil de ser rompido.
Continuando o trabalho no doutorado, realizado no Programa de Pós-graduação da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, sob minha orientação (ANTUNES-ROCHA, 2004), Maria Isabel investigou as Representações Sociais de professores sobre os alunos no contexto da educação do campo, buscando verificar em que medida, na interação professor-aluno, as demandas e ações dos alunos e de suas famílias poderiam estar provocando rupturas na forma de pensar, sentir e agir dos professores. O foco da investigação foi identificar os saberes prévios dos docentes, bem como compreender os elementos cognitivos e socioafetivos que podiam provocar rupturas em suas percepções e representações. Verificou-se que as representações relacionadas à percepção da posse e do uso da terra como direitos ensejavam transformações nas percepções dos docentes. O campo empírico foi composto por 40 entrevistas com professores das séries iniciais do ensino fundamental que trabalham em 14 escolas situadas em seis municípios localizados em diferentes regiões do estado de Minas Gerais/Brasil. Os resultados indicaram que, das mais variadas formas, os professores reconhecem que os alunos da luta pela terra constituem um desafio para seus saberes e práticas. Diante desse desafio, um pequeno grupo mantém suas representações anteriores (de idealização ou depreciação da cultura dos alunos), enquanto um expressivo grupo modifica a forma de pensar o