Os Olhos De César
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Os Olhos De César - Michael De Sangô
Michael de SANGÔ
Os olhos de César
Baru MAGISTER/ SagradOriente (Edição do Autor) Brasília – DF
2021 - 2023
SANGÔ, Michael de. Os Olhos de César
. Clube de Autores, São Paulo. Baru Magister/ SagradOriente – Edição do Autor.
Brasília-DF, 2021/2023.
ISBN: 978-65-00-15876-2
[ 2 ]
Dedicatória
Aos meus únicos e sa udosos a vós Ma ria da Glória e Antônio.
Aos tios, La íse e Rui, por me a ceita rem como seu filho ca çula .
À minha esposa MARISSOL, minha a va lista emocional e primeira leitora .
Aos filhos que a vida me proporcionou, Isa dora e Miguel.
Aos meus orixá s: Xa ngô Ba ru, Yá Togun e Omulú.
[ 3 ]
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, armazenamento ou transmissão de partes deste livro, através de quaisquer meios, sem a devida autorização do autor.
A produção não autorizada desta publicação, no todo ou em partes, constitui violação dos direitos autorais (lei nº 9610/98).
OBRA DEVIDAMENTE REGISTRADA PELA CÂMARA
BRASILEIRA DO LIVRO.
[ 4 ]
Comentá rios do Autor
7
O Prelúdio
9
Ato I
114
Ato II
184
O Epílogo
235
Sobre o a utor
252
[ 5 ]
[ 6 ]
Comentários do autor.
omo conta r ta l história que se pa ssou em a lgum luga r do Nordeste, em uma época que pa ra se chega r à s terra s e rincões longíquos deste país C ou era em cima de mulas e jegues, ou em cima das "cobras de ferro"
que resfolega va m cinza s e fa gulha s a o vento.
A vida era ciga na , com tudo era a tempora l. E em uma da s esta ções de Boa Espera nça esta va uma professora com seus três filhos espera ndo a locomotiva que os leva ria m à Coroa tá. Via gem de a lguns dia s em lombo de jegue, a lgumas hora s em cima do trem. Gloria era a ssim, com certa determina çã o. Quando jovem, meio sem juízo, se a venturou nos rincões do sertã o. Iniciou a ca rreira de a lfa betizadora, a pós o curso de Ma gistério que fez na Ca pita l. Lá , se perdeu em sua s a ventura s ludovicenses, e teve seu primeiro filho. Com diploma , foi pa ra o interior, tra ba lha r na a lfa betiza ção de a dultos.
Em homena gem a esta figura mítica , nã o somente na minha a vó materna, mas de toda s a s cora josa s a lfa betizadoras, que desde o período pomba lino, enfrenta ra m a grura s para implementar o nosso idioma fala do, escrito e pensado de hoje. A figura forte da deusa Atena
que dá a coragem a estas mulheres que muda m e tra nsformam a s gera ções de outra s mã es como ela s.
A mítica de Hermes
deixo ao maquinista e aos trabalhadores da ferrovia que a tra vessa va a terra desvirgina da dos sertões e rincões deste pa ís continental.
Não esquecendo dos ‘moços’, os estudantes que iam de trem – ou até montados em mula s ou a pé – pa ra a s escola s vislumbra r um futuro melhor que os seus pa is.
Esta história enreda da em vá rios qua dros e situa ções se junta m como uma a má lga ma possui o objetivo primá rio de homena gea r esta pa rte do meu país que ta nto a mo e de sua gente bra via que sempre ma ta um "RINOCERONTE’
por dia pa ra tra zer o pã o de ca da dia , e tã o despreza dos pelo s inúmeros governos corruptos, que nã o a uxilia m na mobiliza çã o socia l pela Educa çã o, e
[ 7 ]
que no mínimo refunciona liza m a miséria com objetivos ele itoreiros e de ma nutenção do poder.
Neste livro homena geio
Os ma ra nhenses
Os nordestinos
Os a ntigos tra ba lha dores da ‘REFESA’
Os pra cinha s da FEB
E sobretudo... a toda s a s professora s a lfa betiza doras, desde Pomba l.
O autor.
[ 8 ]
O prelúdio...
A segunda e terceira geração.
A alfabetizadora e seus filhos.
O maquinista.
O furto.
Um eslavo em Copacabana.
Das montanhas abissínias à Alliance for
Progress.
O oriente como caminho.
Os "Brasilianos".
Cuco em ninho de Pisco de Peito Ruivo.
O Titanic Nazista e a Der Todesmarsch.
A assistente social e o Hope.
Um judeu perdido no Maragnon.
O cavaleiro andante e sua "Dulcinéia".
[ 9 ]
[ 10 ]
A segunda e terceira geração.
Jean
Michel
va sculha ndo o que pertencia a seus a vós pa ternos. Encontrou vá rios iten s. Um ma pa ferroviá rio feito a mã o pelo seu a vô Ra mon, uma blusa feita de cânhamo tricota da pela sua a vó Glória da Anuncia çã o, a lém de uma coleçã o de moedas a ntiga s, vá rios dobrões em pra ta , réis em moeda s e dua s a lia nça s de ouro grossa s: uma pequena e outra gra nde. "Duas alianças!? " – de forma a esta r surpreso a s exa mina com cuida do e pergunta a sua mã e que esta va fa zendo a mesma procura e seleçã o. Madrecita, que alianças são estas?
A mesma responde pega ndo-a pa ra exa mina r. As alianças que seus avós usaram quando se casaram!
. E em seguida completa: Eles receberam-nas de seu bisavô, como espólio de herança do seu tio -avô morto na segunda grande guerra. E como ele estava sem dinheiro algum para comprar os anéis, aceitou de bom grado, como presente do irmão falecido!
Em seguida , Jea n complementa : "Mas examine com cuidado a parte interna destes anéis.
Parece uma codificação estranha? Veja!" A matriarca vê com cuidado um dos a néis, ma nusea ndo a gora com mais a tençã o, e logo a mesma começa a ficar imóvel devido a uma lembra nça recorrente. A mesma volta em sua s
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lembra nça s qua ndo era menina em Boa Espera nça, interior bra vio da s terra s de Maragnon.
Após um momento de imersã o nos próprios pensa mentos, a ma tria rca começa a remexer outra ca ixa e fa la em seguida com o tivesse encontra do o ma pa de a lgum tesouro: Aqui! Os ditados de minha mãe!
Os dita dos que a velha Glória sã o observa dos com a tenção, remetendo a memória do tempo em que fora m feito s. Enqua nto isso, Jea n acha em uma da s ca ixa s, deixa ndo a s a lia nças codifica das em uma mesa próxima, um diploma . E pergunta : Madrecita! Quem é essa Ludmila Roque Batistele?
"Ora, ora! "– de maneira irônica a matriarca coloca as folhas de dita do, já a ma rela das de velhice, em um ca nto próximo e pega o diploma de sua ma drinha . Olha isso!
– pede a a tençã o do filho – Diploma certificado pela School of Social Service Administration da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos!
Jean complementa: Social worker? Então era assistente social?
– Sim! No começo éramos amigos! Ela e minha mãe eram quase irmãs! Mas com o tempo, e com o meu pai no rol da disputa ... A história não acabou muito bem!
Jea n inda ga a inda : Mas a Dona Glória perdoou o vovô?
– Sua mã e responde : Sim, mas porque, sem querer nos metemos em uma trama, que acabou com a morte do meu irmão Julio César, que mal conheci!
Retorna ndo a sua a tençã o nova mente à s folha s a ma rela das pelo tempo contendo os dita dos, a velha mãe pede o a uxílio do filho. Tinha a cabado de ver o velho diá rio de sua mã e Glória , e começa a folhe á -lo.
A caçula Lucíola reviverá uma história adormecida há décadas!
[ 12 ]
A alfabetizadora e seus filhos.
Glória
da
Anunciação,
era uma a lfa betizadora conclusa no curso de norma lista , e com três filhos: Antônio, Júlio e Ma ria na . Antônio, o ma is velho, puxa a sa ia comprida da mãe, preocupa da em chega r a tempo no povoa do de Boa Espera nça . Seria a ma is nova a lfa betizadora contratada para aquela comunidade, com boa remuneração oriunda de programas vindos dos "States". Uma assistente social paulista, com sota que meio estra nho, a contra tou depois de inúmera s entrevista s individua is e grupa is com outra s ex-norma lista s, a gora a lfa betizadoras. Lembrou -se de como foi a sua vitória e seu processo. Dentro dos corredores do Pa lá cio dos Leões, em meio a uma miscelâ nea de pessoa s onde o portugu ês de ca rioca s, pa ulista s e ludovicenses junto com o inglês dos a merica nos e o ca stelha no de dema is la tinos. As norma lista s, forma das a maioria , se enfileira va m dia nte das porta s dos escritórios onde se fa zia m a s entrevista s pa ra a seleçã o pa ra o emprego. Esta ria m disposta s a irem a os rincões ma is a fa stados de um país continenta l, a lfa betiza r e a uxilia r no desenvolvimento de ta is comunida des e
[ 13 ]
a dequá -la s a norma lida de de uma na çã o comandada por a queles que estã o no sul, dia nte de a mea ças vinda s de outra s na ções na da a mistosas.
Comunistas!
– pensava constantemente sobre isso. Depois da seleçã o pa ssou pelo crivo de um processo elimina tório. Cursos e ma is cursos sob o ca lor consta nte da Capital sob o sol equinocia l fora m esta fantes. O a bafo da s ta rdes fa zia que os ventos produzidos pelos modernos ventila dores de teto do Pa lá cio fica rem ma is quentes que o sopro de mil ca peta s! Capetas
,...
gera lmente os ca rta zes e a s compa ra ções com os comunista s e a gita dores eram recorrentes e semelha ntes.
O trem se a proxima de ré pa ra a esta ção centra l da Ca pita l. Antônio começa a junta r a s ma la s e a s dema is trouxa s de roupa . Glória pede pa ra que os filhos entrem no va gã o, e logo em seguida dá uma última olha da na estação de sua cida de na ta l. Será que volto?
De maneira
introspectiva,
pensa. Em dez
minutos não
exatos, a cobra
de ferro parte
para o sertão.
Boa Esperança
seria o destino.
[ 14 ]
O maquinista.
Ramon
Garcia
gosta va de sentir o vento em seu rosto, ma s toma va cuida do com a s fagulhas e a s cinza s que sa ia m da gra nde má quina de ferro. Ma quinista por a ca so, entrou na rede ferroviá ria por intermédio de seu irmã o ma is velho, Ra miro, que morreu na construçã o de uma ponte na regiã o do Bico do Pa pa ga io. A ma lá ria foi a vilã que levou muita s a lma s... Seu irmã o foi uma dela s!
Filho ca çula de uma família de ciga nos vindos da regiã o da Ga lícia .
Seu pa i, um comercia nte espa nhol, cuidou com responsa bilida de de seus três filhos homens na Ca pita l. Dura nte a segunda gra nde guerra , a muito contra gosto a ceitou a ida do filho do meio, Deoda to, pa ra a Força Expedicioná ria , como forma de demonstra r lea lda de à nova pá tria na queles tempos difíceis. Nunca ma is voltou! Sua fa mília recebeu uma meda lha e um certifica do de honra a o mérito no luga r.
Ra mon há muito nã o vê a fa mília . Na cobra de ferro, buscava a liberda de e tra ça va a sua própria história . Em ca da esta çã o, tinha um a mor, uma a ma nte e uma ra pa riga . Nã o era de bebida , ma s comia bem, e era um cozinheiro na to. Sa bia fa zer um guisa do de bode melhor do que ninguém na s noites de troca de má quina nos interiores na regiã o entre os sertões divididos pelo Pa rna íba . O a no era de 1958 de nosso Senhor!
[ 15 ]
Em uma roda de a migos ferroviá rios – sua fa mília de oca siã o –
prepa ra va no foga reiro improvisa do a ca rvã o o fa moso guisa do. Limpava a ca rne do bode compra do recém-morto na feira da comunidade perto da estação de Timbira s, corta ndo e la va ndo bem os peda ços tenros. A pa nela de ferro fundido esta va em bra sa já com os temperos, toma tes, óleo, colora u, pimentão, coentro, cominho e vina gre. Jogou a ca rne em peda ços e logo a fuma ça sobe exa la ndo o a roma da ca rne tostando com os dema is ingredientes. Refogou bem a té a ca rne fica r doura da , com cor de ca ra melo, e a dicionou á gua a té cobri-la .
Em uma outra pa nela menor está o segredo da fa mília , que a ma cia e sa boriza a ca rne, mesmo a s ma is fibrosa s. Segredo da mã e de seu pa i, o velho ciga no ga lego, que fa zia sucesso no comércio da Rua Gra nde na Ca pita l. O creme de cebola s já esta va na sua terceira hora no fogo, sempre renova ndo a á gua e ma ntendo a textura a dequada. Na primeira fervura , o filho do ga lego joga o conteúdo cremoso no refoga do, quanto os olhos fa mintos dos colega s e a migos a nsia va m pelo guisa do, rega dos com a gua rdentes, tiquira s e ga ra pa s. Depois de uma hora , começou a servir.
O cheiro dos temperos exa la va por toda a esta çã o no meio do sertã o, e a fila de tra ba lha dores pa recia nã o diminuir. Ra mon, com muita a legria esta mpa da no rosto molha do pelo suor sa lga do e tempera do pelo va por do guisa do, servia de forma intermitente. Depois de meia hora , com todos servidos, pode desca nsa r e sa borea r a sua produçã o. Na roda , a conversa com os compa nheiros – a política e o futebol. Seu pa i, o velho espa nhol, com seu rá dio, pega va a s onda s curta s da Rá dio Na ciona l do Distrito Federa l, que tra nsmitia os jogos dos times ca rioca s. O ga lego velho torcia pelo rubro -negro carioca. Mas torcia mesmo era para o time local, "maqueano" desde quando chegou em terra s de Maragnon, e sempre a guenta va a s brinca deira s de um
[ 16 ]
misto de vascaínos e bolivianos
em sua loja, quando um de seus dois times nã o logra va êxito no ca mpo. Ra miro, um de seus irmã os fa lecidos, torcia pelos mesmos times do pa i ga lego. Igua l a Deoda to, torcia p a ra o cruz ma ltino da Gua na bara .
Na terra na ta l, torcia pro time dos ferroviá rios, que esta va bem no torneio esta dua l, fa lta ndo pouco pa ra a conquista do bica m peona to. Na s folga s, qua ndo esta va na Ca pita l, nã o perdia nenhum jogo do Ferrim.
Dificilmente visita va a ca sa do velho ga lego, e isso se intensificou com a morte de seu irmã o solda do. Ma s o a ssunto central futebolístico: A Copa da Suécia . Será que dessa vez o Brasil levaria a Jules Rimet?
pergunta vam.
A política , porém, era o eixo motiva dor dos deba tes. A figura do líder a inda vivia na mente da gra nde ma ssa, mesmo nos rincões longí nquos do pa ís continenta l, tota lmente desigua l. Tudo era decidido a inda na s á guas da Gua na bara , embora um presidente, de mesma origem de sua fa mília , estava a construir uma nova ca pita l federal em pleno Pla na lto Centra l. Muito corajoso ou muito louco!
pensava.
O governo viria com vá rios projetos e a inda perdura va a imagem do pa i da na çã o suicida do e falecido em forma to d e boneco de cera com a faixa presidencia l.
Ele foi um bom presidente!
– falavam os trabalhadores da ferrovia .
Seus inimigos venceram,... mas isso não vai perdurar! Vamos colocar estes comunistas e todo inimigo da nossa nação pra correr!
[ 17 ]
Ra mon, como muitos, era a fa vor do gra nde líder. Tinha seu qua dro. Pensa va :
Foi ele que colocou a nação em seu lugar! Trouxe desenvolvimento, comida e trabalho.
Com o tempo, nos interiores, começou a ter um gra nde fluxo de estra ngeiros, professores e doutores. Muitos fa la ndo uma língua estra nha.
Alguns a companhados por gente do exército e pela gua rda ferroviá ria . Dua s dessa s pessoa s pa ssa ria m pela vida de Ra mon – uma para vida e
outra para a morte!
[ 18 ]
O furto.
Campeões!
Um grito ecoa na avenida em
frete ao Palácio Duque de
Caxias. No terceiro andar do
pavilhão sul que fazia parte do
Ministério da Guerra, havia
uma figura magra com roupas
verde-oliva adentrando a
madrugada.
Entrou no escritório onde encontra va -se documentos em a rquivos e documentos da segunda gra nde guerra . A mesma pessoa de forma surdina pega um a rquivo e sa i sem que os segura nça s perceba m no primeiro momento. Ao sa ir do pa vilhã o sul a ca minho do vã o centra l, um policia l do exército o bloqueia e o inda ga de forma firme o que esta va fa zendo na quele setor à quela hora da noite. A figura ma gra o entrega uma ordem expressa a ssina da pelo a ssessor milita r principa l do Ma recha l Lott. "Ligarei ao oficial de plantão para confirmar este documento. " A figura ma gra : "Tem certeza? Acordá-lo apenas para certificar a autenticação desta autorização para que eu pegasse apenas uma documentação sem valor nos arquivos do Ministério a pedido do próprio marechal? Uma temeridade! Mas, não é no meu colo que vai explodir este esporro! Estou apenas fazendo a minha função e obedecendo a uma ordem.
Fique a vontade!" O policial, temeroso e em dúvida pela firmeza da certeza
[ 19 ]
da da pela aquela figura desconhecida, entrega a autoriza ção e deixa passar pelo vã o, a té o esta ciona mento do Pa lá cio. Era uma noite de festa s! O pa ís com seu escrete na ciona l ha via logra do sucesso nos ca mpos nórdicos. Pa recia que ninguém iria segura r este pa ís e seu povo!
Três dia s a pós a ressa ca futebolística , uma funcioná