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Cadernos de Paris: ensaios sobre a condição negra na cidade luz
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Cadernos de Paris: ensaios sobre a condição negra na cidade luz
E-book240 páginas3 horas

Cadernos de Paris: ensaios sobre a condição negra na cidade luz

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Sobre este e-book

Os nove ensaios que compõem o conjunto proposto para este livro foram antes rascunhados em quatro cadernos de campo, acumulados durante a permanência do autor em Paris. Cada um deles é antecedido por um texto curto que antecipa poeticamente as questões elaboradas em cada um dos ensaios. O livro também contém um ensaio fotográfico do parisiense Bertrand Tall sobre "os negros de Paris". O livro interessa a diferentes públicos curiosos em relação à cidade de Paris, particularmente estudiosos da questão racial e ativistas negros.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento12 de jun. de 2024
ISBN9786585121828
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    Cadernos de Paris - Ari Lima

    Diásporas negras e sobrepostas em Paris

    A publicação deste livro é de grande interesse para os estudos que abordam a interseccionalidade, a racialidade, a sexualidade e a classe social, especialmente em migrações que configuram diásporas sobrepostas em grandes cidades como Paris, constituídas por negros africanos de ex-colônias e das chamadas províncias de ultramar, negros franceses descendentes de africanos e negros das Antilhas descendentes de ex-escravizados africanos. Em relação a essas migrações, destaca-se o problema da formação francesa de alteridades, em que a diferença cultural de origem é (forçada a ser) negada para se tornar francesa, enquanto a diferença fenotípica é reafirmada, gerando um duplo vínculo. Assim, a admiração e o encantamento pelo jazz e pela artista afro-americana Josephine Baker convivem contraditoriamente com o nacionalismo francês de exclusão, branco e gaulês. Como aponta Ari Lima referindo-se ao escritor afro-americano James Baldwin, as relações raciais na França parecem novas e sem autoquestionamento, ao contrário do que ocorre nas Américas, onde a escravidão e o racismo geraram novas relações raciais em um mundo não mais habitado apenas por brancos, e onde o racismo foi e é confrontado. Surpreendentemente, para o leitor que vê o Brasil como país da cordialidade social, o racismo e a homofobia sofridos por Lima contrastam com o sentimento de liberdade e respeito individual que, como Baldwin, ele sentiu em Paris. Com o passar do tempo, no entanto, e durante a sua imersão nesta cidade, os véus dos modos de exclusão franceses começaram a ser revelados.

    É uma honra que Ari Lima tenha me convidado para escrever esta apresentação, e uma responsabilidade que assumo como homem branco, estudioso das relações raciais e das musicalidades negras no Uruguai, meu país de origem. Ari, querido amigo e colega de pós-graduação na Universidade de Brasília, foi o primeiro negro formado no doutorado em antropologia social, que cursamos juntos. Ele foi sujeito de discriminação racial, e a luta contra o racismo promoveu a emergência de uma conscientização sobre o racismo estrutural existente no ensino superior no Brasil que deu origem à luta pelo ingresso de negros e indígenas nas universidades públicas brasileiras.

    No campo da metodologia nas ciências sociais, o livro nos traz importantes novidades, não só pelo olhar etnográfico aguçado de Lima, mas também pela perspectiva situada de sua ontologia como afro-brasileiro negro, gay, não migrante, mas também como pesquisador acadêmico da periferia. Assim como foi o seu visto de pesquisador para entrar na França, muito raramente atribuído a negros brasileiros, como ele aponta, os seus recursos de mobilidade foram escassos em comparação com os colegas acadêmicos do norte. No entanto, a sua condição, origem e identidade racial e sexual tiveram consequências significativas na investigação desses Cadernos.

    Ao contrário da condição usual dos pesquisadores, geralmente brancos (embora nem sempre) de países metropolitanos, ou brancos de países periféricos como o Brasil, a perspectiva de Lima apresenta ao leitor um notável deslocamento. Enquanto os primeiros estudam questões de seus países ou da periferia e os segundos, em geral, de seus próprios países, Lima aborda as questões de raça, sexo/gênero, classe e migração em um país metropolitano e historicamente colonialista, e o faz a partir de sua experiência na própria pele do racismo no seu país de origem e de retorno. Um olhar do Sul sobre o Norte a partir do cruzamento das condições subalternas do próprio pesquisador em termos coloniais, raciais e de sexo/gênero. Ao abordar essas questões a partir de sua condição histórica com a vivência do racismo e da discriminação no Brasil por gerações, o livro impacta ao permitir ao leitor questionar perspectivas, categorias e vozes autorais naturalizadas da escrita etnográfica e historiográfica. Aliás, a etnografia entrelaçada com a autoetnografia constitui, a meu ver, uma exitosa experiência de escrita antropológica, conduzindo o leitor por meio de narrativas detalhadas de situações observadas e vivenciadas, entrevistas reflexivas e a subjetividade do autor, como condição de possibilidade para a produção do conhecimento.

    Esse entrelaçamento capta as três dimensões que Florence Weber, pesquisadora referida por Lima, aponta no trabalho etnográfico e que raramente tenta-se articular na escrita final – o diário de entrevista, o diário de pesquisa e o diário privado. Aqui Lima, apoiado em Weber, potencializa essas dimensões com a sua identidade, que não fica nem velada, nem à mercê de conjecturas do leitor, mas revelada a cada capítulo. A trajetória a que o livro convida, estruturada em capítulos em que são visitadas as diferentes diásporas negras da metrópole francesa, o etnógrafo e intelectual Ari Lima entrelaça a elaboração de seus diários de entrevista e íntimo, com o diário de investigação, debatendo com os grandes escritores e intelectuais da diáspora africana, Baldwin em Paris, Fanon, Césaire e Glissant das Antilhas, Appiah do Gana, Mbembe dos Camarões, entre outros intelectuais afro-europeus, como Ndiaye, europeus como Benjamin, Fassin e latino-americanos como Guimarães. Em voltas em espiral, novas arestas surgem em diferentes capítulos/momentos, com citações a esses autores, pontos de partida para novas reflexões e interpretações. Semelhanças e diferenças estão ligadas à sua etnografia de migrantes negros africanos e migrantes antilhanos descendentes de ex-escravizados africanos, de negros franceses filhos de migrantes africanos, com a autoetnografia de sua experiência racializada e sexualizada de estrangeiro afro-brasileiro na Cidade Luz. O texto nos apresenta afetividades e intimidades envoltas no contexto reflexivo de investigação e autoindagação. Em suma, traz ao leitor o seu atelier de etnografia em que elabora os seus diários, aos quais chama de Cadernos e que dão título ao livro.

    Para a teoria antropológica, este livro, feito a partir da perspectiva etnográfica das sociedades modernas, é de grande interesse para estudos sobre migrações e sobreposições de diásporas, particularmente africanas, nas grandes cidades. Embora localizado na Cidade Luz, o livro é bom para pensar em Nova York, São Paulo, Buenos Aires. A questão étnico-racial e interseccional, nesse sentido, tem importância central, sendo indicada pelo fato de que nas referidas megacidades existem negros residentes descendentes de ex-escravizados africanos em seu próprio país, negros migrantes descendentes de ex-escravizados africanos em outros países, negros descendentes de africanos que migraram com o colonialismo e pós-colonialismo em África durante o século XX, e negros africanos que migraram nas últimas décadas já no século XXI. O texto é bom para pensar as interseções que ocorrem com a condição negra compartilhada dessas diásporas entre si e com a sociedade para a qual migraram, evidenciando aspectos diferenciais e semelhantes. Bom para pensar nas interseções que se estabelecem com os estereótipos raciais/sexuais na peculiaridade nacional desse país; observações e reflexões situadas (embora nem sempre o posicionamento seja mencionado em outros pesquisadores) sobre a sociedade francesa e sua capital narcisicamente autoproclamada centro civilizador único, a Cidade Luz. Ari Lima não poupa generosidade em sua etnografia do mundo gay racializado nesta metrópole, de lugares e situações de encontro que mostram tanto a transgressão de heteronormatividades quanto a reprodução de estereótipos binários nos modos de sedução desse mundo e como ele opera racialmente, outra contribuição aqui para os estudos antropológicos de interseccionalidade raça, classe, sexo/gênero.

    O livro se destaca pela força rítmica cuja leitura prende o leitor, em sua polirritmia, sua narrativa espiralada em que a qualidade da escrita se assemelha à música afro-diaspórica do jazz ou do candomblé – de disciplina e liberdade, individual e coletiva ao mesmo tempo, interativa em entrevistas e em conversas pontuais, no entrelaçamento dos diários e das reflexões teóricas. Não menos importante, há outra dimensão que aparece revelada em epígrafes no início de cada capítulo, compostas por poesia de autoria de Ari e de outros autores selecionados. O livro começa com uma carta-poema dedicada à historiadora e ativista afro-brasileira Beatriz Nascimento, amiga querida do autor falecida em 1994, e termina com uma carta para a mãe do autor, D. Magna, in memoriam. Além de introduzirem o tom de cada capítulo que essas epígrafes abrem, elas conferem às vozes um caráter polifônico e sonoro que lembra as epígrafes musicais de W.E.B. Du Bois em A Alma do Povo Negro, de 1903. Como este autor, apesar do caráter acadêmico do texto, ele não abre mão de sua espiritualidade e da arte da escrita. Finalmente, oferece como um presente a coleção de fotografias assinadas pelo negro parisiense Bertrand Tall, talvez um diário ilustrado, útil promotor de memórias para a escrita etnográfica, como se tem apontado desde o início do século XX. O que emerge dessas confluências é uma antropologia aguçada das relações raciais, da sexualidade, das classes sociais e da condição subalterna negra em uma grande metrópole colonialista do século XXI. É um momento muito bom para a publicação deste livro para diferentes públicos, incluindo acadêmicos, literatos e ativistas.

    Luis Ferreira

    Doutor em Antropologia Social

    Professor Titular da Universidade Nacional San Martin/Argentina

    Carta a Beatriz Nascimento

    Durante muito tempo de minha vida

    Desconfio que vivi submerso num movimento histórico

    Que apagou quase completamente a consciência de minha condição negro-africana nas Américas

    Não reconhecia em meu rosto outro rosto negro

    Não reconhecia em meu corpo outro corpo negro

    Hoje, amiga, ferido, acuado, mas me apossando de uma consciência

    Afrodescendente nas Américas, percebo que o meu corpo negro é o reflexo de

    Todos os outros corpos ancestrais transladados para estas terras, é o reflexo

    Da sujeição, da restrição de liberdade, da contenção de símbolos e de valores,

    Da restrição à palavra, ao pensamento autônomo, da invisibilidade da minha Identidade Negra, da dor, do abandono, da opressão e da desagregação social submetidas à raça negra

    Hoje, como um vento que vem do Mar Atlântico,

    África sopra em meus sonhos noturnos, em minhas angústias diurnas, palavras,

    Imagens, mensagens cujos sentidos não entendo ao certo

    Quero contê-los, busco coerência, mas os sentidos se esvaem

    Que movimento histórico será esse, amiga? Quem fala por mim?

    Quem me oferece nomes, enigmas a decifrar?

    Talvez, em meus sonhos noturnos, em minhas angústias diurnas

    O sopro de África seja o instrumento para completar o processo que não finda,

    Empreender a reversão histórica, política e sociocultural dos limites impostos pela travessia

    Ofereço o meu corpo, meu pensamento e minha memória neste empreendimento

    Mas não devemos agregar muitos outros corpos devassados, submetidos ao silêncio e à invisibilidade?

    Talvez sua loucura tenha sido a consciência da desagregação social

    A qual esteve submetida como mulher afrodescendente nas Américas. Talvez.

    É certo que agora lhe restituo o direito a emblema da consciência afrodescendente que por ora se desenvolve em mim

    Ori.¹ Posse ori. Insurgência que expande em mim a consciência da desumanização

    A que permanecemos submetidos, que exorta, pouco a pouco, outras enunciações

    Devidamente desconcertantes ao poder macho e branco

    Quando muitos já não podiam ou não queriam ouvi-la

    Quando sua enunciação era lucidez intelectual, poesia e desvario

    Vivia já um movimento histórico enfatizado por sua geração

    Ou seja, intensificou-se o atordoo pelo esforço em entender e participar de um

    Fluxo afro-atlântico que recua ora ao mito, ora à alienação política

    Que tem sido marcado pela descontinuidade de ações, pela mesquinhez e hipocrisia daqueles

    Que dissimulam a condição de inimigos

    De posse ori quem somos? Para onde podemos ir?

    Somos atlânticos navegando em lapsos de memória

    Nossa história atlântica dura, porém, ressente ainda o fundo das ondas do mar

    Nosso território ainda é supraterritorial, mítico, virtual

    De posse ori comungamos novas expectativas que vêm chegando devagar

    De posse ori reconstruímos a nossa presença atlântica.

    Campinas (SP), março de 2000


    1 A palavra ori tem origem na língua africana iorubá. Na religião afro-brasileira do candomblé ketu, os fiéis usam a palavra ori para definir a cabeça como centro da condição humana.

    1 Livre em Paris

    Desde criança, ainda vivendo no Recôncavo baiano, eu não sei bem por que, cultivei menos o gosto pela França, por Paris ou pelos parisienses, e mais o gosto pela língua francesa, que parecia traduzir, durante a minha infância, o estranhamento em que me percebia e era colocado na família e no povoado em que nasci e cresci. Naquela ocasião, uma das minhas irmãs mais velhas tinha aulas de francês no ginásio municipal e, muito curioso, comecei espontaneamente a decorar palavras e frases em francês que ela aprendia. Mais tarde, no final da minha graduação em Jornalismo na Universidade Federal da Bahia (UFBA), em 1992, formei um grupo de colegas e descobri uma professora parisiense, Hélène Maron, que em um ano corrido me ensinou a ler, escrever e falar um francês básico. Em breve, eu faria seleção para um curso de mestrado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e teria que responder a provas de inglês e francês. Passaram-se muitos anos e eu esqueci parte do francês aprendido com a professora parisiense até que, em junho de 2014, atendi ao insistente convite de um amigo que vive há cerca de 30 anos na França, Ivo, e permaneci um mês em território francês, hospedado por ele. Nós nos conhecemos durante os anos de formação na extinta Escola Técnica Federal da Bahia (ETFBA), nos anos 1980. Em 2014, Ivo me convidou para participar da comemoração, salvo engano, dos 40 anos de idade de seu companheiro francês e também dos cinco anos de vida em comum, sob o mesmo teto com Monsieur Poullain. Foi a oportunidade de recuperar a memória que ainda tinha da língua, assim como a sensação de deslocamento que ela me provocava na infância.

    Em 2015, eu aceitei o chamado e me iniciei no candomblé angola também com a expectativa de aplacar o estranhamento acima mencionado através da viagem mítica e mística a África que o candomblé me propôs. Tem sido alívio e esperança, porém, meu desconforto permanece. Em 2017, eu estive em África durante 15 dias e pareceu-me já ter conhecido antes os lugares que visitei – Kamina e Lubumbashi – bem ao sul do ex-Congo Belga. Aquela paisagem, aquele céu noturno absurdamente estrelado, aquelas pessoas, os sonhos e desesperos que encontrei por lá invocaram uma antiga sensação e nutriram um antigo desconforto. Eu sabia, porém ainda não me dizia, que era um corpo negro no mundo. Firmei então a decisão de retornar à França, por Paris, pela língua francesa e pela curiosidade em saber mais sobre outra presença afrodiaspórica. Muito otimista, eu pensei que seria possível no pós-doutorado estabelecer um trânsito Bahia/França/República Democrática do Congo. Eu decidi voltar à Paris também porque sempre me senti sufocado no Brasil e na Bahia, sempre tive a sensação de que não sou daqui, e de que os contínuos, dramáticos e perversos boicotes dos quais tenho sido vítima como indivíduo e como grupo social me tornavam livre para desejar ir e vir para qualquer lugar.

    Eu já sabia que intelectuais estrangeiros, brancos, especialmente norte-americanos e franceses, tinham moldado a universidade brasileira e o pensamento sobre o negro e a cultura negra no Brasil. Também sabia que nas últimas décadas os estudos sobre raça, racismo e relações raciais forjados no Brasil foram bastante influenciados por uma perspectiva teórica e epistemológica elaborada nos Estados Unidos por movimentos antirracistas, por agentes de uma estética negra e por intelectuais negros muito vigorosos. Por que não fazer um movimento contrário, observar e pensar sobre a raça e relações raciais a partir de um contexto nacional no qual uma coisa e outra costuma ser negada? Voltei à França sem o amparo de uma bolsa de pós-doutorado, já que tive minha proposta de trabalho rejeitada pela agência nacional de fomento à pesquisa, e sem vínculos acadêmicos antecipados, sólidos e fluidos. Logo, vinculei-me ao Institut des Mondes Africains (IMAF) da École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), através de um ex-professor, antropólogo, estrangeiro vinculado à UFBA.

    Eu havia solicitado um afastamento remunerado das minhas funções como professor, orientador e pesquisador da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e com esse suporte financeiro enfrentei uma vida modesta e digna numa das cidades mais caras do mundo. De um modo geral, no Brasil, negros intelectuais da minha geração não costumam receber herança que pague as contas ou passagens aéreas. Assim como não costumam herdar uma biblioteca atualizada, um gabinete de trabalho e a rede de contatos institucionais dos pais ou parentes próximos. Do mesmo modo, não costumam herdar um passaporte marrom. De fato, nossa herança costuma ser a atualização da esperança, da habilidade de escape, de sobrevivência no inferno da raça e uma paciência diante da vagarosa chegada, posta como tal desde os mais remotos ancestrais africanos. Foi assim que eu cheguei em Paris.

    De modo geral, a perspectiva inicial da minha pesquisa era observar, descrever, compreender e problematizar a condição negra (Ndiaye, 2008) de africanos instalados na região do 18ème arrondissement, particularmente

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