Aventuras em Vila Jardim
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Sobre este e-book
Este livro, escrito por um menino de 10 anos de idade, retrata o mundo de aventuras de um grupo de crianças no Mato Grosso, no início da década de 1950. As suas traquinagens podem inspirar as crianças de hoje a se aventurarem um pouco além dos seus jogos eletrônicos e do Facebook, experimentando a delícia que é subir em uma árvore ou andar a cavalo.
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Aventuras em Vila Jardim - Alexandre Reis Graeml
A CHEGADA
Papai era militar e foi transferido.
Após três intermináveis dias de viagem de trem, chegamos à Aquidauana, não vendo mais a hora de poder correr e brincar. Lá, nosso desespero aumentou. O fordeco da Comissão de Estrada de Rodagem, a quem papai prestaria serviços, já havia chegado e teríamos mais três longas horas de viagem.
Para aumentar ainda mais nossa aflição, na metade do caminho, o carro enguiçou. Papai e o motorista desceram do veículo e foram ver o que houve. Não descobriram nada.
Em Jardim, para onde nos dirigíamos, nossa demora foi logo notada. Por intermédio de um motorista de caminhão, que passara por nós, ficaram sabendo que o carro havia enguiçado. Imediatamente partiu de lá novo veículo da comissão que veio em nosso auxílio. Era um jipe, que nos levaria mais rápido até Jardim.
O motorista do fordeco ficou esperando um mecânico com nossa bagagem que seria depois encaminhada à vila.
Nossa chegada estava prevista para as 11 horas, mas só chegamos às 2 horas da tarde.
Na vila dos militares, todo mundo festejou, principalmente as crianças, pois o tenente que fora transferido não tinha filhos e nós éramos três meninos: eu, Alexandre, e meus dois irmãos, o Felipe e Adalberto.
Chegamos com fome e não demorou muito para que um de nós se manifestasse:
– Mãe, quando é que vamos almoçar?
– Ah! Eu havia me esquecido disso com toda essa euforia! – respondeu dona Rute. Era em sua casa que iríamos almoçar.
Chegando à casa do Coronel Felício, marido de Dona Rute, fomos correndo nos lavar.
Apesar de querermos fazer tudo certinho, parecia que dava tudo errado: primeiro foi meu copo que caiu e eu me molhei todo. Depois, ao querer cortar o bife, joguei toda a comida para fora do prato.
Cada desastre era acompanhado de uma bronca de mamãe e uma desculpa de Dona Rute, a dona da casa.
E o pior é que suas filhas assistiam a tudo e a cada besteira nossa, ouvíamos suas risadinhas.
Olhando para a mesa, dava vontade de avançar naqueles deliciosos petiscos. A galinha, a lasanha, aqueles pastéis faziam-me não resistir à tentação. Pedi então à mamãe, muito educadamente, mais um pedaço de galinha.
Dona Rute, cheia de cerimônia, não deixou que mamãe me servisse. Quis ela mesma fazê-lo e foi então que, ao tentar cortar a galinha, o garfo escapou e a galinha deslizou até o outro lado da mesa, caindo no colo de papai. Ficou todo mundo sem graça!
Logo depois do almoço papai foi com o coronel Felício conhecer o escritório. Mamãe, outras mães e nós fomos ver a casa onde iríamos morar. Enquanto elas entraram, nós ficamos no quintal, que era cheio de árvores frutíferas, fazendo hora enquanto nossas bagagens não chegavam.
Apesar de estarmos loucos de inveja por ver os outros garotos andando a cavalo pela rua, fazíamos um jeito de quem nem está ligando. Eles bisbilhotavam, olhando para nós como se fôssemos uns bichos raros e fazíamos uma cara de gente importante.
Jantamos na casa do capitão Ivã. Lá também fomos muito educados. Ele também tinha filhas e nós não sabíamos bem por que, mas queríamos impressionar.
Após o jantar fomos para casa e ficamos deitados no quintal olhando o céu à procura de meteoritos, que riscavam o escuro da noite de tempos em tempos.
Logo chegou o fordeco com nossas malas. Arrumamos as coisas, mas tivemos que dormir no chão porque a mobília só chegaria no dia seguinte, de caminhão.
Acordamos tarde. Saímos para conhecer a pequena vila enquanto mamãe e papai foram fazer algumas compras no armazém.
A vila era formada por uma praça central onde existia um coreto. De um dos lados da praça estavam localizadas uma construção, uma quadra de voleibol e a enfermaria. No lado oposto existiam cinco casas, sendo que uma delas estava em ruínas devido a uma explosão no depósito de dinamite do escritório da CER 3 (Comissão de Estrada de Rodagem nº 3), alguns meses antes de nossa chegada. No lado onde estava nossa casa, ainda existiam mais duas, que mais tarde soubemos serem a do Dr. Monteiro e a do capitão Almeida, além de um terreno baldio. O outro lado da praça era formado por três casas e um grupo escolar.
Não demoramos muito em nossa excursão, mas voltamos para casa quase na hora do almoço. Enquanto mamãe terminava de arrumar as coisas para comermos, ficamos ajudando papai a desencaixotar a bagagem que já havia chegado.
Passamos a tarde toda ocupados com a arrumação da casa.
Apesar de não gostarmos de trabalhar, estávamos alegres em ver que nossos brinquedos tinham chegado junto com os móveis e todo o resto da mudança.
Nosso serviço foi interrompido com a chegada do capitão Waldemar que nos convidou para uma festa no clube.
– Não podemos ir. Não temos com quem deixar as crianças – disse papai.
– Mas a festa também é delas – insistiu o capitão.
– Está certo! –