A segunda vida de Hippolyte Bontampis
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Sobre este e-book
Hippolyte Bontampis é um homem comum, cuja vida monótona e sem amor acaba uma manhã- Ele é abatido por uma desconhecida, no seu apartamento, com uma bala em cheio no coração. Este não é o fim da história, mas o princípio. Hippolyte acorda e leva-nos com ele para um labirinto surrealista onde se cruzam vários fios de Ariana. Ele reencontrará a paixão, o ciúme e o ódio. E é através da sua morte que ele encontrará um sentido para a sua vida.
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A segunda vida de Hippolyte Bontampis - Isabella Marques
Na manhã da sua morte, Hippolyte Bontampis acordou à seis e cinco, dez minutos antes da sua hora habitual. O elevador do prédio estava avariado há dez dias, e ele tinha que contar com o tempo suplementar para descer a pé os oito andares. Ele tinha enfiado o robe castanho e as pantufas azuis, fez a cama, tirando os lençóis e a coberta, num gesto lento e aplicado, arrumou o travesseiro ao centro, depois foi à retrete onde aliviou as necessidades matinais. Depois de uma curta passagem à casa de banho para lavar as mãos e distribuir metodicamente os seus poucos cabelos sobre o seu crânio desguarnecido, ele dirigiu-se numa passada pesada em direcção à sua cozinha. Ele tinha posto a cafeteira a funcionar, pegado do escorredor a sua chávena e a sua colher, pousado o conjunto na toalha impermeável às flores e instalou o seu aparelho de rádio. Ele tinha também almoçado escutando distraidamente as informações. Ao anúncio da meteorologia do dia, ele aumentou o volume e inclinou-se para o altifalante do aparelho. A voz nasalada do apresentador não tinha predito nada de bom: chuva, vento e temperatura baixa para a generalidade da região parisiense. Hippolyte Bontampis sentiu-se no mesmo assim tranquilo, ele podia escolher a roupa adequada e pensar levar o seu guarda chuva. Uma vez terminado o café, ele voltou a por a chávena e a colher no escorredor, posto o rádio na prateleira posto o filtro de café usado no caixote do lixo, passado uma esponja na toalha impermeável à flores e no mesmo passo pesado voltou ao quarto para se vestir. Quando a campainha da porta tocou, Hippolyte Bontampis estava na sua terceira tentativa de fazer o nó da gravata. Surpreendido e um pouco arreliado pelo incómodo, ele foi espreitar pelo postigo quem o podia estar a incomodar àquela hora. A mulher que estava atrás da porta era uma desconhecida. Ele disse para consigo que talvez se tratasse de uma vizinha, sendo o acesso ao prédio duplamente protegido por um interfone e um código digital. Foi portanto sem vontade mas sem a menor desconfiança que ele abriu a porta. Ele mal teve tempo de entrever a cara da mulher e a pistola que ela tinha na mão direita, voltada para ele. O tiro, silencioso, ela partiu imediatamente. A bala alojou-se em pleno no coração causando-lhe uma queimadura intensa e projectando-o para trás. Ele viu-se estendido no chão de costas, os braços ridiculamente em cruz. Alguns instantes mais tarde, estava morto.
A primeira coisa que viu Hippolyte quando voltou a si foi uma grande superfície branca imaculada. Ele à partida acreditou que estava numa espécie de antecâmara do paraíso. Depois, homem de pouca fé que era, imaginou-se estendido numa cama de hospital. À medida em que a sua visão de tornava mais precisa ele reparou no entanto alguns pormenores familiares. - uma racha nascente de uns vinte centímetros, uma mancha amarelada embelezada por algumas bolhas, e ele percebeu que tinha em cima de si o tecto do seu corredor. Depois que alguns minutos vazios de reflexão, ele esboçou sem vontade um movimento dinâmico que o propulsou em directamente para a porta da entrada deixada aberta. Ele voltou a fechá-la o que exigiu um esforço de concentração imenso, reparou ele. Depois ele virou-se lentamente.
Foi nesse preciso instante que ele se viu, a ele Hippolyte Bontampis, estendido no chão com os braços em cruz, banhado numa grande poça vermelha. Esta descoberta mergulhou-o numa profunda perplexidade e ele decidiu ir sentar-se num sofá para retomar as suas forças. Ele reparou que o relógio da sala marcava sete e dez, significando que ele tinha perdido o autocarro das sete e oito, o que nunca lhe costumava acontecer. Isso contrariou-o por alguns instantes. Uma vez o incidente expulso do seu espírito, pôs-se a reflectir.
Quando Hippolyte olhou de novo para o relógio, eram dez e vinte. Mas era o mesmo dia? Ele não estava certo disso, tendo perdido estranhamente a noção do tempo. O telefone tocou várias vezes, longamente, e o facto irritou-o ao máximo por que não suportava deixar tocar o telefone mais do que duas, três vezes sem atender.
Quando por sua vez a campainha da porta tocou pela primeira vez depois da irrupção da mulher da pistola, os dois Hippolyte Bontampis – o morto e o outro – encontravam-se sempre na mesma posição e os seus olhares eram da mesma forma ainda inexpressivos. No entanto, uma diferença era de notar: o morto exalava nesse momento um odor nauseabundo que tinha invadido o apartamento bem como todo o prédio, alertando a porteira que se inquietava pela ausência do celibatário do oitavo andar.
A Senhora Garcia carregava generosamente os seus oitenta e cinco quilos sobre o seu metro e sessenta, o que lhe dava o ar de um mastodonte de avental, contrastando singularmente com o seu doce nome próprio, Rosalina. Aos sessenta anos ela era viúva há dois, tendo o seu marido, perecido em consequência de um infortunado acidente de trabalho. Subindo a uma escada para pintar um tecto, ele falhou o terceiro degrau e torceu o tornozelo. Chamaram o Samu. No trajecto para o hospital, a ambulância cujo condutor acabava de pedir a reforma, passou sem hesitar um primeiro sinal vermelho, depois um segundo, depois um terceiro, o veículo atingiu com força máxima um quinze toneladas vindo de Granada onde tinha carregado trezentas paletes de laranjas e um Xerez consumido no caminho. O condutor da ambulância teve morte imediata, como dois dos seus colegas e o desafortunado Sr. Garcia. A viúva vestia-se de preto debaixo do seu avental às flores e mandou queimar dez velas à Santa Virgem. Ela recebeu grandes indemnizações com as quais comprou uma pequena Villa na Costa do Sol. Depois do desaparecimento do seu marido, a Srª Rosalina – como alguns lhe chamavam – dedicou-se de corpo e alma a cada um dos ocupantes do prédio. A valente mulher propunha-se a regar as plantas durante as férias, ou ainda alimentar os animais domésticos quaisquer que fossem: gatos cães, canários, tartarugas, coelhos, porquinhos da Índia ou hamsters. A Srª Garcia mantinha a sua capoeira, humanos e animais, e ela punha todo seu o coração na acção.
A Srª Garcia era uma mulher notável, na qual o Sr Hippolyte Bontampis nunca tinha reparado. Não que sentisse por ela qualquer desprezo, mas simplesmente porque ele não a via. Assim que lhe dizia: «Bom dia Srª Garcia, adeus e passe um bom dia – ou boa noite – Srª Garcia», enquanto via a caixa do correio, ele pronunciava esta frase de forma maquinal e com voz monocórdica. Se bem que depois da morte do seu esposo, a porteira tivesse tirado alguns dias de baixa, ele continuou a saudá-la mesmo que ela estivesse ausente. Todas as manhãs, às sete horas, e todas as tardes às