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A Mansão da Costa Norte
A Mansão da Costa Norte
A Mansão da Costa Norte
E-book304 páginas4 horas

A Mansão da Costa Norte

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Sobre este e-book

Poderia ser um sinal de bênção herdar uma bela casa; mesmo uma casa localizada à beira da selvagem e desolada Costa Norte. Vivienne Harcourt, junto com seu irmão, se juntam ao amigo Archibald que iria tomar a posse da propriedade, no que parece ser um fim de mundo. Também está presente para celebrar esse momento o misterioso e recluso Lord Routledge, cuja presença misteriosa desperta a inquietação e a curiosidade de Vivienne. Sob o olhar rígido no retrato da proprietária anterior, a azeda Sra. Trubright, o isolamento naquela casa e naquela região parece testar os nervos e a amizade de todos, e o verdadeiro caráter de alguns emergem.

Nível de erotismo: seguro para os mais recatos.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento9 de jul. de 2021
ISBN9781667406527
A Mansão da Costa Norte

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    A Mansão da Costa Norte - Camille Oster

    Capítulo 1

    Durham, Inglaterra, 1840

    - SERÁ QUE ESSA chuva vai parar algum dia? - resmungava Sophie enquanto ajeitava as saias. - Parece impossível algo secar por completo.

    A charrete fez uma curva e Vivienne estendeu o braço para se apoiar na lateral. A estrada era acidentada e a charrete às vezes acabava dando solavancos fortes. Ar condensado corria pela vidraça das janelas e não havia nada além do céu cinzento no lado de fora.

    - É primavera, Sophie - disse Lewis - Só chove e chove.

    - Sim, obrigada, Lewis. Eu precisava muito deste esclarecimento.

    Revirando os olhos, Lewis colocou a mão no bolso de seu casaco, de onde tirou um saco de papel cheio de balas. - Alguém servido? - perguntou enquanto oferecia, mas ninguém aceitou a oferta. Colocou então uma na boca e em seguida colocou o saco de volta no bolso enquanto olhava pela janela.

    Horas haviam se passado e eles já estavam viajando há dias - por toda uma região que Vivienne nunca havia visitado antes. Enquanto tanto Sophie quanto Lewis lamentavam as dificuldades da viagem, Vivienne amava conhecer novos lugares. Viajara muito pouco com sua família durante a infância e desfrutava da liberdade que tinha agora, concedida por seu irmão, John. Se não fosse por ele, nada daquilo seria possível.

    - Posso afirmar que estou cheirando a sal - disse John. Estava ansioso para chegar. Seu pé balançava para cima e para baixo já havia uma hora. - Acho que estamos chegando.

    - Não acredito que Archie nos convenceu a vir até aqui. Bem no meio do nada, juro. Ele não pode estar falando sério quanto a mudar para cá, com certeza que não.

    - Pelo que entendi é uma bela casa - respondeu Lewis.

    A empolgação se acumulava em Vivienne. Apesar de se recusar a admitir, nunca havia ido ao litoral antes. Havia ido a Bath algumas vezes, e até mesmo Cheltenham. Geralmente ficavam apenas na casa em Somerset, principalmente durante o inverno. Sua mãe nunca gostara muito de Londres, logo considerava a sua verdadeira primeira viagem para lá quando pôde explorar devidamente a cidade - tanto quanto as condições a permitiam.

    Agora estava prestes a conhecer o lado selvagem e rochoso do Litoral Norte da Inglaterra e o mar. Tentava sentir o cheiro salgado que John mencionara, mas não conseguia.

    O falatório constante entre Sophie e Lewis era cansativo, mas era apenas como eles sempre foram. Eram parentes distantes, pelo que sabia.

    Inclinando-se para a frente, John baixou a vidraça da janela. O ar fresco e gelado invadiu a cabine, afastando qualquer vestígio de calor que tinha ali, como uma troca constante entre o ar fresco e o calor dos corpos. - Estou certo que ali ao longe está o mar. Devemos estar bem perto.

    A estrada se tornara tão estreita que não conseguiam vê-la pelas janelas do transporte.

    - Acho que a casa é aquela - comentou Lewis, olhando para fora da janela. - Por Deus, ela é sombria... Sophie puxou John de seu caminho para que também conseguisse  vê-la.

    - Porém não é nada irrelevante - comentou ela.

    - Não se você quiser viver longe de civilização - sussurrou Lewis enquanto voltava para dentro. Vivienne não sabia se ele dizia isso por causa do tempo, ou a ideia de viver longe da vida noturna, salões e entretenimento de Londres. Lewis jamais pensaria em viver assim, só cogitaria sair da cidade durante o auge do verão. No entanto, ele parecia sempre encontrar um jeito de estar em qualquer festa que fosse organizada em qualquer lugar que fosse.

    Naquele dia, Archie os havia convidado a acompanhá-lo quando tomasse a posse de uma herança inesperada que recebera de uma tia que mal conhecia. Ou ao menos, era o que ele dizia. Archie tinha uma tendência a exagerar ao comentar suas sortes e disfarçar seus revezes - é o que Vivienne ouvira. O anfitrião estava em uma outra carruagem com Brynnell e Horace, outros dois que Vivienne não conhecia muito bem. Amigos de Archie de Oxford. Bons camaradas, segundo Archie. Aparentemente, John os conhecia também.

    Em algum lugar da estrada havia uma terceira carruagem transportando a companhia de Sophie, Sra. Dartmoor, mas aparentemente estava atrasada. Vivienne não os havia visto desde quando pararam para almoçar.

    - Acho que é aqui - disse John, olhando finalmente depois que Sophie abrira espaço, já que não suportava o frio. - Mas ela parece bem antiga, não acham? Século XVI, talvez?

    - Quem sabe? - respondeu Lewis enquanto calçava as luvas. - Se bem que agora eu entraria alegremente em um celeiro se fosse para ao menos sair desta carruagem.

    - Jamais você suportaria passar uma noite em um celeiro - respondeu Sophie com um muxoxo. - Pensei que você fosse alérgico a cavalos.

    - Bem, isso ilustra bem o nível do meu desespero. Não que a companhia não tenha sido encantadora, pois o que mais poderia esperar da senhorita? Havia um tom sarcástico em sua voz que, a julgar pela expressão de Sophie, não estava sendo apreciada.

    A carruagem passava pela entrada da casa com o cascalho sendo esmagado por suas rodas, fazendo um som crispado. A casa era feita de pedras acinzentadas, e o clima implacável assim como a falta de cuidados haviam deixado marcas escuras de mofo que desciam pelas calhas e por toda parte por onde a água pudesse escorrer.

    - Pode precisar de alguns reparos - comentou Sophie enquanto descia da carruagem, com a ajuda de John. Lewis estendeu a mão e Vivienne a segurou enquanto descia da carruagem, segurando seu guarda-chuva. Ao abri-lo, Sophie se abrigou debaixo dele.

    - Ao menos você tem alguma intenção.

    Atrás deles, puderam ver que a carruagem de Archie se aproximava, a estrada parecia uma cicatriz aberta sobre a grama que cobria a terra. Nenhum sinal de um jardim ou qualquer detalhe em particular na paisagem. Era um lugar totalmente inóspito, concluiu Vivienne.

    Um sopro de vento ondulou sobre eles e ameaçou virar o guarda-chuva.

    - Acho que talvez seja melhor todos nós entrarmos - disse Lewis, cruzando os braços sobre o peito - Está muito pior que apenas frio.

    Lá parecia ser muito mais frio do que na cidade, provavelmente devido ao vento, que agitava os cabelos e a saia de Vivienne.

    O portão de entrada se abriu e ali apareceu um homem. Um homem magro com cabelos grisalhos despenteados, que usava um terno que parecia já ter visto dias melhores alguns anos atrás. - Sejam bem-vindos - disse ele. Vivienne pôde identificar seu sotaque. Era muito parecido com um que já ouvira antes. Lewis parecia ter razão quanto ao fato de as pessoas que viviam ali nunca terem saído daquela região da Inglaterra, nem sequer para a costa mais ao Noroeste. Havia o Mar do Norte além daqueles montes rochosos, conhecidos pelo clima incerto e mudanças repentinas nos ventos.

    A carruagem de Archie chegava, podia-se ver sua cabeça para fora da janela, mal conseguindo evitar abrir a porta antes mesmo que o transporte parasse por completo. - É uma viagem e tanto até aqui, não é? Mas olhe só! Estava claramente empolgado com o que estava vendo.

    - É uma casa incrivelmente bela - diz Lewis, contradizendo o que dissera antes. - E que sorte que ela tenha sido deixada para você. É uma vista e tanto.

    Com as mãos cruzadas atrás das costas, Archie se alongava, enquanto Brynnell descia da carruagem com seus trajes sóbrios e escuros que faziam com que sua pele parecesse mais pálida do que já era. Archie usava trajes mais coloridos, enquanto Horace preferia passar despercebido, em trajes marrons clássicos.

    O homem no topo da escadaria pigarreou e Archie olhou para ele. - Ah, sim. Meu nome é Archibald Percival. Estou certo que tenha sido informado sobre a minha chegada. Creio que meu advogado tenha enviado uma carta avisando.

    - Recebemos sim a carta, meu senhor - respondeu o homem. Mais uma vez Vivienne notava o sotaque. - Mas não fomos informados que traria convidados.

    - Bem, obviamente eu trouxe convidados - respondeu Archie. - Me desculpe, mas, qual é mesmo o seu nome?

    - Jenkins - respondeu o homem.

    - Certo. - Respondeu Archie - bem, talvez seja melhor sairmos desta chuva.

    - Certamente, meu senhor - respondeu o homem, enquanto abria passagem para que eles entrassem.

    O portão era de madeira com placas de ferro. Parecia muito antigo e firme. Talvez tivesse sido feito para prevenir invasores caso fosse necessário.

    Vivienne sorriu para o homem enquanto ele segurava a porta, mas ele não sorriu de volta.

    - Alegre, não acham? - disse Archie enquanto o homem saía para ajudar os condutores das carruagens com as bagagens.

    - Ele não parece feliz com a sua chegada para tomar posse do lugar - comentou Lewis, enquanto acendia finalmente o cachimbo que tanto ansiara. Sophie não o permitira fumar dentro da carruagem e ele não aguentava mais esperar.

    - Aqui parece um salão - comentou Sophie antes de passar quase desaparecendo pela porta. Todos a seguiram até o cômodo revestido com painéis de madeira escura e sedas cor de rosa desbotadas nas paredes. Os carpetes estavam gastos e alguns dos móveis pareciam prestes a se desfazer em pó. - Encantador - murmurou Sophie sem muita intenção de soar sincera.

    Havia fogo crepitando na lareira e Vivienne se aproximou, ansiosa para se aquecer. Dentro da carruagem estivera relativamente calor, mas tanto tempo imóvel e sentada lá dentro fazia-a sentir frio e dolorida agora.  Ainda estava com os braços cobertos pela manta de viagem de veludo verde que absorvia um pouco do calor que vinha da lareira. Pediu então a John que a ajudasse a tirá-la.

    Havia encomendado aquela manta no ano anterior e desde então fizera todos os preparativos para a primeira aparição. Sua apresentação à sociedade havia sido muito tranquila e era enormemente agradecida a John por isso, por aceitá-la em seu pequeno grupo de amigos. Não era o tipo de irmão que rejeitava a ideia de incluir sua irmã nos planos, e não tinha como ser mais grata. Agora os amigos dele eram amigos dela também, apesar de ela já ter conhecido alguns deles previamente, quando eram convidados à residência de sua família em Somerset durante as férias da faculdade.

    Conferiu seu penteado, sentindo que a maioria dos grampos ainda estava no lugar. O dia já avançara demais para que pudesse parar para descansar, mas esperava que pudesse se recompor por uns poucos momentos em um dos quartos antes do jantar. O que podia constatar até aquele momento, era que a criadagem não esperava que visse um grupo, então provavelmente não haviam quartos preparados para todos eles. Mesmo assim, esperava que não fosse este o caso.

    - Bebidas, por favor - Archie ordenou à Jenkins assim que ele apareceu à porta.

    - Temos xerez - respondeu Jenkins e Lewis piscou repetidamente como se não o estivesse entendendo.

    - Só isso? Não tem mais nada?

    - Creio que não. A Sra. Trubright não aprovava bebidas.

    - Bem, isso não será suficiente. Como pode ver, estamos recebendo visitas. Onde fica o fornecedor mais próximo?

    - Creio que em Crimdon.

    - Certo. Então melhor enviarmos alguém para Crimdon para completar a adega na primeira possibilidade. Poderia ser agora?

    - Verei o que posso fazer, meu senhor. - Respondeu o homem com um pequeno gesto de reverência abaixando a cabeça.

    - Afinal, não acho que qualquer um consiga suportar este tempo chuvoso sem algo para aquecer. - Falou Archie - De tudo um pouco. Ao contrário da Sra. Trubright, eu sou um enorme entusiasta de bebidas, principalmente quando tenho convidados, ou quando não tenho, também. Pode ter certeza.

    - O que o senhor disser, meu senhor - respondeu o criado.

    - Parece que a sua tia era uma dama encantadora - comentou Sophie - todos lamentamos pela sua morte.

    - Pelo que sei, ela nunca sequer chegou a saber como seria ser encantadora. Nunca se casou.

    - Bem, se você olhar bem, provavelmente, nunca se case também - respondeu Lewis enquanto ajeitava a sobrecasaca para se sentar em um dos sofás. - Mas a própria sociedade lá fora pode ter profundos encantos.

    - Bem, nunca se sabe - respondeu Archie - O Wynyard Hall não é muito longe daqui.

    - E o Castelo de Lambton - acrescento Sophie - o Duque de Durham também mora próximo de lá. O filho dele, Morton, é muito divertido. Estou certa que encontrará algumas pessoas bem interessantes nos arredores.

    - Bem, obrigado, Sophie. Não deveríamos todos ceder à sua negatividade.

    - Por favor, não seja invejoso, Lewis. É uma pena que não tenha nenhuma tia solteirona com propriedades abandonadas para você herdar, parece que simplesmente não era para ser.

    Capítulo 2

    LENTAMENTE, a lareira acesa no quarto de Vivienne afastava o frio do ambiente. Assim que entrou, pôde notar que haviam arejado. Tudo que tocava tinha um toque frio e também desconfiava que ninguém havia ocupado aquele quarto há muito tempo. Estava impecavelmente limpo e as superfícies ainda estavam úmidas.

    Pareciam estar causando incômodo naquela casa, e Archie deveria ter informado a quantidade de convidados que traria com ele. Homens jovens como ele por vezes podiam ser muito imprudentes com questões práticas como aquela. Muito pouco sabiam do trabalho que havia nos bastidores do conforto que desfrutavam.

    A cama era feita com uma madeira escura com quatro pilares que se espiralavam. O dossel de veludo estava desbotado e ela desconfiava que devia ter sido azul há muito tempo. Era um belo quarto, mas descuidado. As paredes estavam forradas com papel de parede que estava descolando em algumas partes.

    Foi até a janela olhar a vista. Lá estava o mar, escuro e sinistro. O tempo parecia torná-lo escuro, ou talvez fosse sempre assim. Era difícil saber. As ondas se chocavam contra as rochas e a água fazia um som crispado. Havia água além do horizonte, e no horizonte distante já não se conseguia diferenciar o que era mar do céu.

    Sua bagagem estava ao lado da porta, mas ainda não havia começado a desfazê-la. Pelo visto, não haveriam criadas para ajudá-la com a tarefa. Sophie não o faria, mas não era nenhum fim do mundo. Simplesmente teria que desfazer as malas por ela mesma.

    Abriu a mala, tirando cada um de seus vestidos e pendurando-os nos cabides do guarda-roupas. Estavam um pouco amarrotados por conta da viagem, mas o próprio peso dos tecidos ajudaria a desamarrotá-los com o tempo.

    Não pôde resistir voltar à janela e olhar o mar. Além dos penhascos lá fora, viu o misterioso Brynnell caminhando. O vento soprava abrindo seu casaco, fazendo-o se estufar. Vivienne continuou olhando por algum tempo. Era a pessoa que menos sabia a respeito dentre todos que estavam lá. Haviam comentado que era muito rico, herdeiro de um título importante e agora também de uma bela propriedade em Kent.

    Não ficaria surpresa se descobrisse que ele fora convidado a pedido de Sophie. Pelo que vira, ele não era do tipo cordial e espirituoso como Lewis e seu irmão. Mesmo Horace, que verdade seja dita, não costumava participar de brincadeiras. Era um adorável rapaz, sua mãe sempre dizia. E era de fato, apesar de não saber se ele alguma vez a notara quando estavam juntos.

    Uma batida ressoou na porta atrás dela. - Vivienne? - chamou John.

    - Sim, estou aqui. - Ela respondeu esperando que ele abrisse a porta. Ele se limitou a olhar pelo batente - Meu quarto está no outro lado - resmungou enquanto ia em direção à janela. - É uma bela vista, não acha? Quase dá medo que o mar invada o quarto enquanto estiver em sono profundo.

    Ela deu-lhe um tapa no braço. - Por que você diria algo assim? - esbravejou Vivienne. A última coisa que queria pensar era em tolices como aquela.

    - Veja, ali está Brynnell. Pelo visto, mal via a hora de se livrar de nós.

    - Foi uma viagem longa. Com certeza ele só precisava esticar as pernas um pouco.

    - Sempre insistindo em encontrar uma explicação inocente - John resmungou enquanto olhava para a paisagem lá fora. - Você imagina, herdar um lugar como esse? Principalmente agora, durante o crepúsculo, fica mais sombrio ainda, não acha? Não me entenda mal, é uma bela casa, mas não parece o tipo de lugar em que pessoas miseráveis vão para se esconderem do mundo?

    - Não me pareceu ser tão desolado.

    - Quem sequer cogitaria construir uma casa neste lugar? Eles provavelmente detestavam outras pessoas.

    - Ou eles amavam o mar.

    - Ou alguém se apaixonou por um marujo e ficou esperando pelo seu retorno? - pensou ele apontando para o mar com o queixo.

    Ficaram em silêncio por alguns momentos, enquanto a lareira crepitava atrás deles. Aquela viagem era incomum, mas Vivienne estava feliz. O coração de John fora partido recentemente por uma jovem pela qual ele esteve apaixonado, pois ela aceitara o pedido de outro homem.

    Em uma breve perspectiva, ele ainda não recebera seus títulos, como Brynnell. Um cavalheiro com seus títulos e propriedades sempre era um atrativo como partido.

    - Deveríamos ir lá fora? - perguntou John.

    - Não acho que temos muito tempo até o jantar.

    - Tem razão - comentou ele, desapontado. - Acho que tem razão. Teremos que deixar para amanhã. Você viu aquele retrato horrendo da tia de Archie na sala de jantar?

    - Não. - Respondeu Vivienne.

    - Bem beberemos o xerez dela sob seu olhar desdenhoso, pois duvido que quem que tenha sido enviado para buscar bebidas chegará a tempo do jantar. Nem sequer sei qual a distância até onde foi, mas estou considerando que não passamos por nenhuma cidade durante boas horas até chegarmos aqui.

    - Será o xerez, então. - Disse ele enquanto se dirigia à porta. Em silêncio, saiu fechando a porta enquanto Vivienne continuava a contemplar a paisagem lá fora, o Lorde Routledge voltava, fumando um charuto e soltando nuvens de fumaça densas que o vento levava. Não parecia ser incomodado pelo frio, pois parava de frente para o vento, olhando para as ondas que quebravam furiosas lá embaixo. Vivienne se perguntava o que estaria ele pensando. Conhecia-o muito pouco, mas parecia ser um homem atormentado.

    O anoitecer descia rapidamente. Desde quando se encostara ali na janela, já havia escurecido bastante. Virou-se para pegar um castiçal com vela que estava um pouco empoeirado. Mas não encontrou os fósforos, o que deveria ser o mínimo essencial na boa administração de uma casa como aquela.

    Acendeu a vela no fogo da lareira e a colocou sobre seu criado-mudo. Entre a chama e a vela, algumas sombras se projetavam oscilando na parede e no teto. Voltou para a janela, esperando que Brynnell já tivesse voltado em segurança para a casa. Não era um lugar bom para perambular depois que escurecesse. O risco de tropeçar e acabar caindo no mar que se chocava intermitentemente contra o penhasco era enorme. Sentiu um calafrio com o pensamento.

    Estava na hora de se recompor, então sentou-se à penteadeira segurando o castiçal. O espelho tinha manchas típicas do tempo, mas não tantas a ponto de não conseguir se ver enquanto prendia novamente seus cabelos e lavava a poeira da viagem.

    Saiu do quarto para o corredor escuro. Ninguém havia acendido as lamparinas, e só havia uma luz fraca mais distante para que ela pudesse se guiar pelo caminho até o acesso às escadas para a sala. Era um enorme descuido, ou a casa realmente precisava de mais criados para ter as condições necessárias. Com alguma sorte, haveria comida suficiente para todos. Bem, com certeza uma casa como aquela sempre teria uma boa despensa.

    A escadaria principal era linda com suaves curvas e espirais entalhados em madeira escura. Havia uma armadura antiga diante da porta da entrada como se estivesse protegendo a casa.

    - Ah, a amável senhorita Harcourt! - Archie gracejava enquanto ela chegava à sala, que ao menos estava iluminada o suficiente para que conseguissem identificar uns aos outros. Havia fogo crepitando na lareira e ali estava Brynnell, sentado ao lado segurando uma taça. Ao menos tinha chegado seguro em casa e não despencado de algum trecho do penhasco.

    Sophie gargalhava ao lado dele. Pelo visto, ele era a missão à qual ela estava dedicada durante a semana que passaria lá, e ele não aparentava estar interessado em agradá-la. Era um homem difícil de interpretar.

    - Bem, agora que estamos acomodados nesta encantadora casa, - discursava Lewis - posso prever que estarão casados em um ano. Estarão cercados de senhoras.

    - Que Deus me livre! - grunhiu Archie.

    - Ele vai se casar justamente para se livrar das senhoritas. É notável o quanto a popularidade de um homem cai ao mesmo tempo que a tinta sobre a certidão de casamento seca.

    - Como vai você, Horace? - perguntou Vivienne enquanto se aproximava dele, recostando-se na parede. Ele também segurava um copo.

    - Não gosto nem um pouco de xerez. - Resmungou em resposta - não é o meu tipo de bebida. Prefiro

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