Escola indígena: uma proposta para o ensino de ciências naturais
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Sobre este e-book
Uma forma de concretizar saberes é o Ensino de Ciências, trabalhado com as crianças indígenas e desenvolvido no processo da interculturalidade. Os temas que compõem este livro falam do caminho da escola, sua organização social, econômica e cultural. São ligados diretamente às discussões em torno da educação escolar indígena, inclinando-se para as possibilidades de ações práticas emergenciais do educar do índio.
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Escola indígena - Edmilza Santos Ferreira
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE
Aos meus pais, irmãos, esposo e em especial à minha filha, Claudia,
por todo amor e cuidados a mim dispensados.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Comunidade Indígena Terra Preta do baixo Rio Negro, pelo consentimento em realizar este estudo nesse espaço, pois sem suas contribuições nenhuma destas páginas estaria completa.
Em especial aos professores e alunos indígenas, pela socialização/comunhão dos conhecimentos, pela amizade e pelo respeito construído ao longo da caminhada.
APRESENTAÇÃO
Se educar o corpo é fundamental para dar importância ao seu estar no mundo, a educação da mente é indispensável para dar sentido a esse estar no mundo. Se no corpo o sentido ganha vida, é na educação da mente que o copo o elabora (MUNDURUKU; DANIEL, 2012, p. 70).
Portanto o conjunto de saberes vivenciados pelos povos indígenas ao longo da história, desde seus antepassados e revividos pelas novas gerações, constituem-se em um aprendizado ímpar, envolvendo mitos, crenças, costumes e principalmente são detentores de conhecimentos da flora e fauna do seu habitat.
Ao direcionar nossa atenção para o Ensino de Ciências Naturais, destacam-se as contribuições dos saberes tradicionais dos residentes da Comunidade Indígena de Terra Preta, numa perspectiva de interação de conhecimentos objetivando a melhoria do ensino-aprendizagem dos alunos nos anos iniciais multisseriados. A pesquisa desenvolvida na comunidade supracitada é de natureza qualitativa com abordagem da etnografia e da etnologia, tratando dos aspectos de descrição e análise das manifestações que foram apreendidas durante o percurso de estudo.
É importante destacarmos o processo de mudanças, na atualidade, no alcance de novos métodos e recursos pedagógicos que possibilitem um conhecimento científico abrangente, a qual faz referência ao paradigma emergente que, entre outros desdobramentos, ressalta a natureza e a cultura como fatores de interlocuções entre as diferentes maneiras de conhecer a realidade. Em vista disso, as Ciências Naturais, compreendidas como um conjunto de áreas especificas – como a Biologia, a Física, a Química, a Astronomia e Ciências da Terra – ampliam os conteúdos escolares com os acréscimos dos conhecimentos do cotidiano. Portanto nos remetemos a um novo olhar sobre a ciência, como forma de desenvolver atividades significativas, ou seja, uma ciência que nos fale do universo e dos novos desafios para a educação do futuro.
A autora
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I
ITINERÁRIO METODOLÓGICO
CAPÍTULO II
UM OLHAR SOBRE O ENSINO DAS CIÊNCIAS NATURAIS
CAPÍTULO III
A ETNOFARMACOLOGIA: UMA PRÁTICA NO ESPAÇO TERRA PRETA
CAPÍTULO IV
DA FLORESTA PARA A SALA DE AULA
CAPÍTULO V
CONSTRUINDO O INSTRUMENTO PEDAGÓGICO
CONSIDERAÇÕES
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
Este livro tem como objetivo elucidar os processos do Ensino de Ciências Naturais, no contexto da Educação Escolar Indígena desenvolvido na Escola Municipal Aleixo Bruno (hoje responde pelo nome de Escola Indígena Municipal Yayumbwewa Rendawa Arú Waimi), na Comunidade Indígena de Terra Preta.
O Ensino de Ciências Naturais, área que se ocupa em explicar os fenômenos da natureza, captados pelos nossos sentidos¹, envolve diferentes disciplinas, como Química, Física, Biologia e Matemática, que são trabalhadas de forma interdisciplinar, podendo orientar o trabalho dos professores dessa área, como também propiciar a articulação com outras áreas do conhecimento, consubstanciando assim um trabalho pedagógico, que resulta de uma ação convergente para a formação dos alunos.
É acompanhando essa lógica de argumentação que o Ensino de Ciências Naturais, praticado nas escolas indígenas localizadas da região do Baixo Rio Negro/Manaus/Am, deve atender às especificidades de cada povo que ali se constitui, ou seja, valorizar seus conhecimentos tradicionais, sua cultura, seus mitos e sua história de vida²
A escolha do tema foi realizada diante do universo de possibilidades que nos cerca, tarefa que não foi fácil, pois retratar a problemática da Comunidade Indígena de Terra Preta, um lugar que luta por autonomia em relação à demarcação territorial e políticas públicas que possam atender suas reais necessidades na área educativa, tornou-se uma espécie de convocação para essa ação, a ser enfrentado neste estudo. Nesse local as práticas de ensino de Ciências ainda são baseadas na transmissão de conteúdo, sem ainda uma articulação com outras áreas do conhecimento, tendo os livros didáticos como único recurso metodológico. Essa situação me seduziu ao estudo sobre o Ensino de Ciências, por envolver fenômenos ligados à natureza e à forma como o homem se relaciona com ela.
Ademais, a relevância da prática de interação com o conhecimento se dá pela articulação da área de ciências, somados aos saberes tradicionais pelo processo da interculturalidade, vindo a contribuir para a efetivação e para a definição de outras práticas educativas que possam ser criadas, para consolidar o ensino na educação escolar indígena e não indígena, possibilitando o entrelaçamento entre as diversas culturas que permeiam a nossa sociedade.
O estudo teve como propósito colaborar no cumprimento de práticas escolares indígenas no Baixo Rio Negro, tendo como parâmetro o processo de ensino-aprendizagem de Ciências Naturais na escola da Comunidade Indígena terra Preta e a relação com os conhecimentos da etnia Baré sobre as plantas medicinais.
O ensino de Ciências Naturais em espaços indígenas tornou-se um desafio e uma relevância ímpares a estudar, pela dinamicidade do lugar e a forma diferenciada de os professores desenvolverem suas práticas pedagógicas e, consequentemente, a possibilidade de elaboração de material didático para ser trabalhado na escola. A importância da valorização da cultura do povo Baré é digna de reconhecimento, principalmente pelo acervo de seus conhecimentos tradicionais e sua rica diversidade biológica, se constituindo uma bandeira de luta pelos comunitários em preservar seu território.
Pesquisas desse tipo tornam-se expressivas por abrangerem duas esferas. Primeiro, o pesquisador é levado a entrar nesse universo, que envolve uma diversidade de etnias indígenas, que apresentam modos de vida diferentes, manifestações religiosas e míticas particulares, oriundas de vários lugares da região amazônica e o próprio ambiente natural apresentado de maneira peculiar. Segundo, o pesquisador, ao vivenciar o campo de pesquisa, tem o privilégio de estar em contato com a população estudada, tendo maior possibilidade de conhecer o cotidiano desse povo, e ter acesso às informações coletadas diretamente na fonte, isto é, relatadas por seus agentes sociais.
O livro está organizado em cinco capítulos. No primeiro capítulo descrevo o percurso investigativo, a trajetória no campo de estudo, a natureza da pesquisa e as técnicas utilizadas na coleta de dados.
No segundo capítulo realizo uma análise a respeito do