Solar dos cisnes: Contos curtos, uma história, quase um romance
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Sobre este e-book
À companhia de velhas cheias de maquiagem com poodle no colo, velhos falando de gente importante com nome e sobrenome, preferiu conviver com pessoas que pertenciam à classe de onde ele veio. Mais simples, mais naturais.
O Solar dos Cisnes fica no meio de um grande terreno e tem dois alojamentos. Cada alojamento tem 16 compartimentos de 7,5 metros quadrados com cama e pequenos armários.
Aristeu, o narrador, conta suas experiências e convivência com os hóspedes da casa geriátrica. São 32 personagens – homens e mulheres idosos (além de enfermeiras, diretora, auxiliares), que compartilham o jardim, a sala de visitas, o salão para reuniões do grupo e duas salas de TV.
A história começa com um incêndio no meio da noite. Graças a Deus, não houve nenhuma vítima. Terá sido um incêndio criminoso?
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Solar dos cisnes - Roberto de Castro Neves
Copyright © 2020 by Roberto de Castro Neves
Capa e Projeto Gráfico Elisa Janowitzer
Revisão Carolina Medeiros
Coordenação editorial Lucia Koury
DADOS INTERNACIONAIS PARA CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
N518e
Neves, Roberto de Castro, 1938-
Solar dos cisnes : contos curtos, uma história, quase um romance / Roberto de Castro Neves. – Rio de Janeiro : Outras Letras, 2020.
ISBN 978-85-990531-1-5
1. Prosa brasileira. 2. Velhice na literatura. 3. Asilos para idosos. I. Título
CDD – B869.8
DADOS INTERNACIONAIS PARA CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
Todos os direitos desta edição estão reservados à
Outras Letras Editora Ltda.
Tel: 21 22676627
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@outrasletras
facebook.com/outrasletras
Aristeu, 87 anos, viúvo, conta suas experiências e interpretações da vivência em uma casa de idosos, na qual se internou por decisão própria, por não querer incomodar filhos, noras e genros. Ninguém fez objeção a seu desejo.
Aristeu é um idoso de alto astral e assiste a tudo com bom humor e até com certa irreverência. Através das conversas que mantém com os internos e internas, das anotações que faz em seu diário, ele conta as histórias, as lembranças, o cotidiano de seus colegas, dos auxiliares, da diretora, enfim, a vida no Solar dos Cisnes.
A família raramente o visita. Apenas um dos bisnetos vai vê-lo com frequência, e levou sua primeira namorada para conhecê-lo.
Aristeu é um dos mantenedores do Solar, mas isso ninguém sabe.
O incêndio
O incêndio começou no compartimento do Badaró. Já era bem tarde quando ele foi acender um cigarro – que, aliás, era proibido no alojamento – e não apagou o fósforo totalmente. O fogo chegou na cortininha, rapidamente subiu por ela, alcançou a cortina maior, passou para a cortina do compartimento ao lado e aí se alastrou por todo o dormitório. Um caos. Quem estava acordado, logo percebeu que o alojamento estava pegando fogo e tratou de correr pra rua. Eu fui um deles. Quem já estava dormindo, acordou com a gritaria ou com a fumaça que se formou no alojamento. Os bombeiros chegaram e não levaram muito tempo para debelar o fogo. Felizmente, apesar de muita gente ter se intoxicado com a fumaça, o incêndio não produziu nenhuma vítima, mas deixou os trinta e dois residentes do Solar dos Cisnes ao relento.
Estávamos amontoados na calçada, quase todos com roupas de dormir, quando a diretora, que acabara de chegar ao local, usando um megafone, informou que não havia condição dos ocupantes do alojamento AAG voltarem aos seus compartimentos. E que não tinha ideia de quando isso seria possível porque a volta iria depender do tempo necessário para reparação dos danos causados pelo incêndio. Somente os técnicos poderiam estimar esse prazo. Quanto aos do alojamento AFA, esses teriam que aguardar a melhoria do ambiente, muito afetado pela fumaça. Calculava que essa melhoria deveria acontecer nas primeiras horas da manhã. Obviamente, ninguém gostou do que tinha ouvido. Aí, liderados por França, começaram a vaiar e a xingar a direção. O protesto durou uma meia hora, acordando toda a redondeza, até que a diretora anunciou ter conseguido junto à prefeitura um ônibus para levá-los a um local onde poderiam alimentar-se, usar banheiros e dormir. Os ocupantes do alojamento AFA seriam buscados logo pela manhã. Ainda estavam estudando como proceder com os do alojamento AAG, o que foi seriamente danificado com o incêndio. Também, pela manhã, teriam esse assunto resolvido. Pelo celular, alguns tentaram acessar alguém, um parente ou um amigo, que garantisse um abrigo. Somente Dona Esther e Dona Esmeralda conseguiram. Seus filhos logo vieram buscá-las. Outro grupo, que tinha condições financeiras, caminhou até um hotel que ficava a algumas quadras dali e lá se hospedaram. Foram quatro. Eu estava neste grupo.
O ônibus da prefeitura chegou e levou aqueles que ficaram, todos sonolentos. Despertaram quando descobriram que ficariam alojados, pelo menos por uma noite, em um prédio abandonado onde funcionou, muitos anos atrás, uma escola pública. O primeiro problema era não ter luz, o que foi parcialmente resolvido com lanternas e, depois, com velas, ambas lanternas e velas, fornecidas pelos homens da prefeitura. A iluminação, ainda que precária, foi suficiente para perceberem que o local estava cheio de teias de aranha. E de baratas. A alimentação, pão com mortadela e água, foi tudo o que se conseguiu àquelas horas, o que não causou muita insatisfação porque todos tinham jantado antes do incêndio. O complicado ficou principalmente por conta dos banheiros: pias entupidas, privadas sem tampa, descargas que não funcionavam etc. E o dormir: foram distribuídos colchonetes e travesseiros. Felizmente, a noite estava quente, lençóis e cobertores não fizeram falta. No dia seguinte, conforme previsto, o ônibus da prefeitura chegou para buscar os ocupantes do alojamento AFA. A surpresa é que o motorista tinha recebido ordens de trazer de volta todo mundo, independentemente do