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Engajamento dos Trabalhadores: Análise das Políticas de Gestão do Trabalho
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E-book293 páginas4 horas

Engajamento dos Trabalhadores: Análise das Políticas de Gestão do Trabalho

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"Captura da subjetividade", a que esse termo lhe remete?[...] o processo de 'captura' da subjetividade do trabalho vivo é um processo intrinsecamente contraditório e densamente complexo, que articula mecanismos de coerção/consentimento e de manipulação não apenas no local de trabalho, por meio da administração pelo olhar, mas nas instâncias sociorreprodutoras, com a pletora de valores-fetiche e emulação pelo medo que mobiliza as instâncias da pré-consciência/inconsciência do psiquismo humano. (ALVES, 2011, p. 114).
IdiomaPortuguês
Data de lançamento20 de jan. de 2021
ISBN9786555232158
Engajamento dos Trabalhadores: Análise das Políticas de Gestão do Trabalho

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    Engajamento dos Trabalhadores - Manuelle Cristine Silva

    1

    INTRODUÇÃO

    O capitalismo é um modo de produção e de organização social que se funda na propriedade privada e na exploração do trabalho, exploração de uma classe que detém os meios de produção sobre outra que detém força de trabalho. Seu processo de acumulação se dá pelo quanto de mercadorias ou serviços uma sociedade produz com o excedente de trabalho coletivo não pago, porque foi apropriado privadamente. Essa lógica, a da fatia da produção coletiva de riqueza que é apropriada privadamente, sofreu mudanças ao longo da história do desenvolvimento do capitalismo, sobretudo nos momentos e regiões onde os conflitos de classe impuseram mais democracia na distribuição da riqueza, mas permanece sendo um princípio estruturante desse modo de produção.

    Outro princípio estruturante desse modo de produção é a competição: entre empresas, por fatias cada vez maiores de mercado, e entre trabalhadores, por empregos escassos. A competição, por sua vez, impulsiona as revoluções tecnológicas e organizacionais que buscam, crescentemente, otimizar e reduzir os custos de produção. Isso significa, centralmente, reduzir os custos do trabalho ou elevar sua produtividade. O taylorismo/fordismo no início do século XX consistiu numa dessas revoluções. O toyotismo ou o modelo de gestão japonês, no final daquele século, consistiu noutra. Ambas, todavia, foram seguidas de crise do sistema, porque tais revoluções racionalizam o processo de trabalho e geram muito desemprego. O desemprego, nesse sistema, atua como grande disciplinador da força de trabalho, pressionando-a a que consinta com a lógica da exploração (ANTUNES, 2006b; BRAVERMAN, 1987; HARVEY, 1992).

    Portanto, nosso estudo buscou estudar essa lógica e sua transformação ideológica, mais especificamente, essa lógica em sua roupagem mais recente, que advém das modernas técnicas de gestão do trabalho, inspiradas no modelo japonês, e que transformam o trabalhador em um algoz de sua própria exploração, um processo a que autores de linhagem marxista como Alves (2000; 2010; 2011) e Linhart (2007) denominam de captura da subjetividade ou de exploração consentida e que caracteriza o atual estágio – neoliberal, pós-fordista de desenvolvimento do capitalismo. Essas teses da nova roupagem da exploração partem do pressuposto da teoria de valor de Marx de que não existe Capital sem Trabalho ou de que Trabalho é a única mercadoria capaz de gerar valor, de gerar excedente para o Capital. Isso implica que o capitalismo depende da cooperação do trabalhador. Ainda que o capitalista possua os meios de produção e os recursos para comprar a força de trabalho, ele não pode comprar a vontade do trabalhador de realizar trabalho com a qualidade e o empenho desejados, consistindo este, justamente, o terreno de trabalho da gerência e das teorias organizacionais, ou seja, de procurar meios para fazer com que os trabalhadores, não detentores dos meios de produção, nem dos frutos de seu trabalho, cooperem com os interesses de produtividade e lucratividade dos patrões.

    Nesse sentido, o taylorismo-fordismo, pensado não apenas como um método de organização/racionalização do processo de trabalho, mas como um regime de regulação, encarregou-se, durante boa parte do século XX, de conciliar os interesses entre capital e trabalho pela via econômica e social (emprego regulado, salários que acompanhavam o crescimento econômico, ao menos nas regiões mais desenvolvidas, e direitos sociais). Esse consenso só foi possível a partir do momento em que a empresa abriu mão de uma parcela de seus lucros, aumentando, assim, os salários dos trabalhadores, e estes se empenharam mais para atender ao aumento da produtividade. No entanto, com a crise econômica que se asseverou no final da década de 1970, as instituições políticas do fordismo foram atacadas, dando vazão ao renascimento da ideologia liberal.

    O processo de reestruturação econômica e produtiva, então experimentado, trouxe consigo transformações intensas para o mundo do trabalho. Em todas as economias capitalistas industrializadas, a necessidade de adaptação das empresas a um contexto de crise e de competição mais acirrada pressionou os processos de enxugamento, de mudanças tecnológicas e organizacionais, de subcontratação que implicaram muito desemprego e novas formas de organizar e gerir o processo de trabalho. Por sua vez, no âmbito institucional, em todas as partes, as políticas neoliberais pressionaram a desregulamentação dos mercados de trabalho, expandindo os empregos ditos precários: instáveis, de baixos salários, de curto prazo, desregulamentados. Essas mudanças atacaram em cheio o movimento sindical, que se fortaleceu no período do fordismo, enfraquecendo o poder político de negociação coletiva da classe trabalhadora e afrouxando as rédeas da intervenção do Estado na regulamentação econômica e nas políticas de seguridade social. A classe patronal passava a ter mais liberdade para contratar e demitir e para impor as regras da regulação social do trabalho.

    Com empresas enxutas, mas dependendo da colaboração dos trabalhadores com os apelos crescentes de produzir muito e com qualidade total, a gestão capitalista passava a demandar um trabalhador mais adaptável e mais comprometido com os interesses da empresa. A típica empresa fordista, pautada na produção em massa, na divisão do trabalho, na especialização do trabalhador, na grande empresa verticalizada e empregando também em massa cedia lugar à empresa pós-fordista, ou toyotista, como preferem alguns: enxuta, mais flexível, porque articulada às oscilações da demanda, que emprega pouco e investe num trabalhador pretensamente mais qualificado, polivalente, capaz de assumir mais responsabilidades e cooperar mais ativamente com a gerência. Surgia, assim, uma nova ideologia na relação capital-trabalho: a do trabalhador participativo, aliado e colaborador da empresa, disposto a repassar todo seu conhecimento e competência e a dispor do máximo de seu empenho e tempo para os interesses de produtividade e lucro da empresa, ainda que ao custo de sacrifícios pessoais, porque a lógica da empresa enxuta é acompanhada de intensificação do trabalho e, muitas vezes, de jornadas extensas, os dois grandes mecanismos de extração de mais valia no capitalismo. A cultura corporativa se encarregaria de construir e consolidar os mecanismos de engajamento necessários à nova ideologia dominante, e estes estariam apoiados em políticas de gestão do trabalho em equipe, porém mais individualistas e fortemente atreladas a desempenho e resultados. Eis a lógica da captura da subjetividade que nós buscamos estudar.

    Essas inovações afetaram não apenas o tradicional setor industrial, mas os diversos ramos no setor de serviços e comercial, sobretudo nas grandes companhias sobreviventes no novo contexto competitivo, sendo responsáveis pela forte concentração econômica, que se seguiu aos processos de crise e reestruturação econômica das décadas de 80 e 90. O setor varejista das grandes cadeias supermercadistas é emblemático desses novos processos, tendo sido afetado por uma competição em nível mundial que permitiu que companhias transnacionais, como é o caso do Wal-Mart e do Carrefour, se expandissem para mercados nacionais, comprando grupos nativos e acirrando a disputa por fatias de mercado de outros já estabelecidos. Essa competição pressionou a reestruturação produtiva nas companhias e esta se deu apropriando novas tecnologias e as modernas técnicas de gestão disseminadas pelo modelo produtivo de inspiração japonesa (COSTA; MACHADO; MARTINS, 2011).

    No Brasil, mais especificamente, o setor supermercadista, dominado por três grandes companhias, duas delas estrangeiras, implementou, nas duas últimas décadas, mudanças tecnológicas e organizacionais significativas que redundaram em amplo enxugamento da força de trabalho. No campo da modernização das políticas de gestão de pessoas, se, por um lado, houve uma relativa valorização das condições de trabalho, das oportunidades de formação e qualificação e, por conseguinte, das perspectivas de carreira, sobretudo para os que se encontram em postos de supervisão ou comando, por outro, essas mudanças representaram mais exigências em termos de ampliação das responsabilidades, da multifuncionalidade do trabalhador, de sua disponibilização incondicional à empresa, da intensificação dos ritmos de trabalho, das jornadas excessivas, relativizando o discurso de valorização que as políticas de engajamento tentam passar (COSTA; MACHADO; MARTINS, 2011).

    É para essa realidade, desse segmento econômico, que nosso estudo se voltou. Ele teve como foco uma multinacional do segmento supermercadista que se instalou no Brasil em meados da década de 90, a partir da compra de um antigo grupo nacional com forte penetração no Nordeste do país. Seu objetivo é analisar as políticas de gestão do trabalho utilizadas para mobilizar o engajamento dos trabalhadores de uma grande rede de supermercados, no sentido de captura da sua subjetividade. Se essas políticas constituem, juntamente com os elementos simbólicos a elas associados, o que a ciência administrativa costuma chamar de uma cultura organizacional, quais as características dessa cultura? Em que ela difere da do grupo anterior? Como ela é capaz de mobilizar o consentimento/engajamento dos trabalhadores, no sentido de captura da sua subjetividade, aos valores e interesses da empresa? Quais as implicações disso, em termos das exigências e sofrimento para os trabalhadores? Essas foram às questões mais centrais que guiaram a nossa pesquisa. Nesta, buscamos conhecer as mudanças organizacionais e estratégicas no campo da gestão do trabalho, adotadas na empresa estudada; descrever as características centrais da cultura organizacional da empresa estudada e em que ela difere da cultura que prevalecia antes da aquisição da antiga rede de supermercados; identificar as políticas de gestão de pessoas encarregadas de capturar a subjetividade dos trabalhadores, como meio de assegurar o seu engajamento aos objetivos e interesses da empresa, além de analisar os impactos causados pelas políticas de gestão do trabalho sobre os trabalhadores.

    No que diz respeito aos percursos percorridos na pesquisa, este foi um estudo de caso, de caráter qualitativo, realizado com o recurso da entrevista semiestruturada com trabalhadores (gerentes e subordinados) de uma grande cadeia de supermercados, localizada no nordeste brasileiro. Essa organização é considerada a maior empresa de varejo do mundo e emprega mais de 1,3 milhões de funcionários. No Brasil, ela chegou em 1995 e está presente em 18 estados das regiões Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul, além do Distrito Federal. A análise das entrevistas realizadas foi feita por meio do recurso da análise do discurso.

    Dentre os principais achados desta pesquisa, podemos afirmar que ela ratifica o cenário de flexibilização das relações de trabalho, que leva à precarização das condições de trabalho. Essa precarização se manifesta, sobretudo, nos baixos salários, na sobrecarga de trabalho, nas longas jornadas, funcionando com quadros operacionais bastante enxutos. A empresa estudada faz uso de políticas de engajamento que buscam o envolvimento e o comprometimento dos trabalhadores. Isso foi percebido nas formas com que ela trabalha a cultura corporativa, na organização do trabalho, que busca incentivar a cooperação entre os trabalhadores, na política de promoção, considerada um mecanismo central de engajamento.

    Dentre as formas centrais de captura da subjetividade, apontadas por Faria e Meneghetti (2001), que acontece quando são adotadas técnicas características do sistema toyotista de gestão, foi possível encontrar na empresa aquelas que remetem: à identificação, em que os trabalhadores assumem para si os valores da organização, acreditando na justiça de suas políticas, a despeito das contradições entre o discurso e a prática dessas políticas; à essencialidade valorizada, em que os trabalhadores e gerentes se empenham ao máximo para atingir o que é determinado pela organização, assumindo para si a responsabilidade pelo sucesso ou fracasso da empresa; à colaboração solidária, em que se incentiva o trabalhar em equipe e a multifuncionalidade, algo fundamental para que a empresa consiga fazer com que os trabalhadores atinjam as metas diárias de trabalho com quadros reduzidos; enfim, ao envolvimento total, um estado que pode ser chamado de encantamento.

    Esse encantamento subjetivo, no entanto, desencanta-se à medida que afloram das falas os sacrifícios a que os trabalhadores são submetidos e à medida que sobressaem os determinantes objetivos da necessidade de preservar o emprego. Os impactos das modernas políticas de gestão adotadas pela empresa estudada são intensos na vida dos trabalhadores e se expressam na sua saúde, nas pressões psicológicas por resultados e pelo ser bem-sucedido, na apropriação do seu tempo livre, nas dificuldades de conciliar trabalho com vida privada. O diferencial dessas políticas, como bem discutido por Linhart (2007), é que elas constroem um domínio ideológico, consentido pelos trabalhadores, inibindo a contestação, tornando mais tênue a separação de interesses entre capital e trabalho. A exploração, que na velha gestão taylorista-fordista era mais explícita e despertava certa consciência e uma identidade de classe capaz de combatê-la, assume, na gestão toyotista, formas mais sutis, mais dissimuladas e, por isso mesmo, mais intensas e menos sujeitas à resistência.

    No que diz respeito às referências utilizadas, tomamos como base alguns autores já consagrados no estudo das implicações das modernas estratégias de acumulação do capital para as condições de trabalho e de vida das classes trabalhadoras, a exemplo de Harvey (1992), Antunes (2001; 2002; 2006), Alves (2000; 2010; 2011), Castel (1998), Linhart (2007), que argumentam sobre o fato de que as novas políticas de gestão do trabalho, mais envolventes e participativas, dissimulam formas de exploração e dominação muito mais sutis, posto que contam com a conivência dos próprios trabalhadores, numa espécie de exploração consentida, conforme denominou Linhart (2007). Desvendar as nuances dessas novas formas de exploração e suas implicações para os trabalhadores, sobretudo, porque elas são causadoras de sofrimento – físico, psíquico e social –, constitui, por si só, tarefa que aponta para a relevância deste estudo. Acreditamos, nesse sentido, conforme discutem Tenório (2002) e Melucci (2005), que os estudos científicos são relevantes não apenas pelo aspecto das possíveis contribuições que venham agregar ao estado da arte de determinado tema, em função das especificidades encontradas em cada novo caso e contexto em análise. Eles são também relevantes, sobretudo no campo das ciências sociais, quando assumem o papel de desvelar as contradições e a lógica de dominação ou de denunciar o que afronta uma concepção de direito e justiça já estabelecida.

    Por outro lado, na academia, os estudos que se voltam a compreender os impactos das modernas práticas de gestão sobre os trabalhadores e, mais especificamente, no campo da captura da sua subjetividade, são mais fortemente focados nas empresas do setor industrial e, com menor tradição, do setor de serviços, destacando-se neste o segmento de bancos. Os estudos voltados para a realidade do setor de varejo se centram mais nas temáticas da inovação tecnológica e estratégica (MARTINS, 1998; 2006; MONTEIRO NETO, 2001; OLIVEIRA, 2004; 2009; OLIVEIRA; MACHADO, 2010; SEGRE; BASTOS, 2000) e da composição e características mais amplas do mercado de trabalho e das relações de trabalho (CARRÉ; TILLY, 2008; CARRÉ et al., 2008; DIEESE, 2005; 2003, KREIN; GONÇALVES, 2005; TILLY, 2006). No entanto, em nosso prévio levantamento bibliográfico, no campo da sociologia do trabalho, da economia e da administração, não foi encontrado nenhum material que remetesse à temática das relações de trabalho, no que se refere ao tema da captura da subjetividade em empresas do setor de varejo, à exceção de trabalho ainda não publicado, produto de relatório de pesquisa desenvolvido por Costa, Machado e Martins (2011), a despeito da importância econômica e do papel de grande empregador desse segmento produtivo¹, ou mesmo o trabalho de França Junior (2010), que trata da precarização do trabalho em uma organização desse setor.

    No Brasil, a vitalidade do comércio varejista pode ser vista na elevação de sua receita bruta total, que praticamente triplicou entre 1998 e 2007, segundo dados do IBGE encontrados em Costa, Machado e Martins (2011). Dentro desse segmento, a atividade supermercadista, tendo participação de peso na receita do setor, ampliou seu número de empresas em 61,5%, e em 73,9% o número de trabalhadores empregados no mesmo período. As três redes de supermercado mais bem colocadas, em termos de faturamento, em 2010, foram: Pão de Açúcar (R$ 36 bilhões), Carrefour (R$ 29 bilhões) e Walmart (R$ 22 bilhões). Juntas, elas representaram, aproximadamente, 67% do total do faturamento das 50 maiores empresas do setor, refletindo a forte concentração econômica no segmento (COSTA; MACHADO; MARTINS, 2011).

    Esses números, brevemente, nos dizem do dinamismo do segmento supermercadista no país e de sua importância no que remete ao emprego de uma força de trabalho tipicamente de baixa qualificação e baixos salários e em que, historicamente, a ação coletiva do trabalho foi fracamente organizada, permitindo que se instalasse uma cultura de gestão mais autoritária e que muito contou com a prática de elevada rotatividade da força de trabalho (COSTA et al., 2006; KREIN; GONÇALVES, 2005; DIEESE, 2000; 2008). Compreender como muda essa cultura de gestão e como as empresas constroem o envolvimento subjetivo do trabalhador, considerando a escassez de pesquisas no tema, também justificou a nossa proposta de pesquisa.

    ESTRUTURA DO LIVRO

    A estrutura do livro é apresentada da seguinte forma: após a introdução, seguem o referencial teórico, os percursos da pesquisa, a apresentação e a discussão dos resultados da pesquisa e, por fim, as considerações finais. O capítulo 2 está dividido em duas partes, a primeira seção se refere ao trabalho no modo de produção capitalista, apresentando os principais sistemas de gestão do trabalho, as mudanças vindas a reboque da reestruturação produtiva, com destaque para a flexibilização das relações de trabalho. A segunda seção diz respeito às novas formas de gestão do trabalho e os mecanismos de captura da subjetividade, a partir da introdução de políticas de gestão de pessoas e da influência da cultura organizacional. No capítulo 3, foram apresentados os percursos da pesquisa, em que se delineia o método utilizado, o local da pesquisa, os sujeitos entrevistados, assim como a forma de tratamento e análise dos dados. No capítulo 4, foram apresentados e analisados os resultados da pesquisa; ele está subdividido em três seções. A primeira seção trata das mudanças estratégicas e organizacionais ocorridas na empresa, apresentando as características do setor e a contextualização da empresa estudada. A segunda seção trata das mudanças ocorridas na cultura organizacional da empresa e a terceira seção trata das políticas de gestão encarregadas de capturar a subjetividade dos trabalhadores. E, por fim, apresentamos as considerações finais, destacando a influência das políticas de gestão do trabalho na captura da subjetividade dos trabalhadores.

    2

    REFERENCIAL TEÓRICO

    O TRABALHO COMO MERCADORIA E SUA IMPORTÂNCIA SOCIAL

    A palavra trabalho ganhou outros significados ao longo do tempo, porém, em sua essência, continua sendo a atividade necessária à própria sobrevivência humana, pois, mesmo que existam algumas pessoas que não trabalhem, seja por incapacidade ou por outros fatores, a grande maioria realiza algum tipo de trabalho para poder ter condições de sobreviver. E a sua importância não se dá apenas como elemento que propicia a sobrevivência humana, mas também como forma de interação social.

    Observando essa importância, notam-se as diversas características, ao longo do tempo, que foram construindo seus significados e contribuindo para a formação histórica do homem. O trabalho em sua ideia original, voltada para religiosidade, era entendido como punição apropriada ao pecado original do homem. Ainda considerando esse aspecto punitivo, o termo trabalho também é atribuído ao vocábulo latino tripaliari, do substantivo tripalium, que, segundo Martins (2009), é um aparelho de tortura formado por três paus, aos quais eram atados os condenados. Nesse sentido, o trabalho era visto como castigo, tido como consequência das iniquidades cometidas.

    É necessário considerar a importância do trabalho como ato, por meio do qual o homem transforma os meios naturais para sua própria subsistência. Segundo Braverman (1987, p. 49-50), o trabalho é uma atividade que altera o estado natural desses materiais para melhoria de sua utilidade e assim atender às necessidades humanas. O que diferencia o trabalho do ser humano do trabalho de qualquer outro animal é que o trabalho daquele é constituído de sua capacidade de planejar, criar e colocar em prática o que foi planejado, sendo um trabalho consciente e proposital.

    E ainda é necessário acrescentar que, para Marx, o ser humano não é um ser que nasce acabado, ele vai se desenvolvendo à medida que desenvolve as potencialidades que possui. Marx, assim como Engels, vê o homem como sendo o produto da sua atividade, daí a ideia de autoprodução do homem pelo trabalho, por meio do qual ele vai se desenvolvendo conforme o desenvolvimento de suas capacidades físicas e intelectuais (LUZ; BAVARESCO, 2010). Nota-se, portanto, a importância da atividade laboral para o desenvolvimento das habilidades físicas e intelectuais dos seres humanos, é por esse motivo que estas precisam ser bem elaboradas e dotadas de significado, porém não é isso que se vê ao longo dos tempos, pelo que apresentam os estudos sobre o mundo do trabalho.

    Ressalta-se, porém, que a noção de trabalho adota características e sentidos diversos em função do modo de produção e do regime de regulação social em dado momento e contexto histórico. Percebe-se, portanto, que no sistema medieval, o trabalho era realizado por meio da relação entre os vassalos e os senhores feudais, baseado em atividades artesanais e do campo, tendo como objetivo a subsistência e o repasse do que ficava de excedente para os donos da terra ou dos recursos, em troca de proteção. Nesse contexto, já é possível se observar um sistema de exploração da classe trabalhadora à medida que esta tem que trabalhar

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