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Crítica da Internacional Situacionista
Crítica da Internacional Situacionista
Crítica da Internacional Situacionista
E-book128 páginas1 hora

Crítica da Internacional Situacionista

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Sobre este e-book

Jean Barrot, pseudônimo de Gilles Dauvé, apresenta uma forte crítica à chamada “Internacional Situacionista”, que tem como principais representantes Guy Debord e Raoul Vaneigem. Barrot analisa as deficiências do situacionismo, mostrando seus limites e vínculos com a sociedade burguesa. As noções de “espetáculo” e “subjetividade radical” são questionadas, bem como os laços da Internacional Situacionista com o “conselhismo” e o grupo Socialismo ou Barbárie. Em síntese, Barrot coloca que a Internacional Situacionista não ultrapassa os limites da sociedade capitalista. Em anexo publicamos um breve texto posterior assinado por Dauvé, no qual ele retoma e complementa a crítica do situacionismo.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento2 de fev. de 2021
ISBN9786588258170
Crítica da Internacional Situacionista
Autor

Nildo Viana

Professor da Faculdade de Ciências Sociais e Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Goiás; Doutor em Sociologia pela UnB; Autor de diversos livros, entre os quais: O Capitalismo na era da Acumulação Integral; Quadrinhos e Crítica Social; As Esferas Sociais; Cinema e Mensagem; Manifesto Autogestionário; A Mercantilização das Relações Sociais; A Teoria das Classes Sociais em Karl Marx; Hegemonia Burguesa e Renovações Hegemônicas; O Modo de Pensar Burguês; Universo Psíquico e Reprodução do Capital.

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    Crítica da Internacional Situacionista - Nildo Viana

    A CRÍTICA DE BARROT AO SITUACIONISMO

    Nildo Viana

    Jean Barrot, pseudônimo de Gilles Dauvé, apresenta uma crítica ao situacionismo em dois artigos, um mais extenso e outro posterior bem mais breve. Não vamos realizar uma síntese dessa crítica, que o leitor poderá conferir a seguir, mas sim apontar alguns pontos essenciais da crítica de Barrot ao situacionismo, objetivando, sinteticamente, apresentar os seus acertos e os seus equívocos.

    Os acertos são algumas críticas ao situacionismo e os equívocos se encontram em outras críticas e alguns exageros. Mas antes de tudo é preciso entender as bases da crítica de Barrot à Internacional Situacionista. Jean Barrot iniciou sua produção intelectual como um bordiguista. A sua principal obra, O Movimento Comunista¹, publicada em 1972, é bordiguista. Por outro lado, ao mesmo tempo, ele não era totalmente fiel a Bordiga. Claro que para alguns, ser marxista, leninista, bordiguista, etc., significa repetir tudo o que o autor fundador da tendência (quando existe um) disse, o que é um equívoco e uma ingenuidade intelectual. Barrot foi bordiguista, embora discordasse em alguns pontos de Bordiga, como em relação à questão do partido. Com o passar do tempo, ele foi se afastando do bordiguismo. Nesse texto, de 1979, ele já se afasta um pouco mais, tal como se vê na sua afirmação ambígua sobre a questão do programa comunista (elemento chave para Bordiga e que ele concordava e ainda mostra concordar, mas também aponta problemas no presente texto)². A base da crítica de Barrot à Internacional Situacionista ainda é o bordiguismo. Esse é um dos seus limites, pois em que pese aproveite os aspectos do bordiguismo que ajudam na crítica do situacionismo, também lança mão dos seus elementos problemáticos.

    A crítica do situacionismo em Barrot aproveita um elemento-chave do bordiguismo, que é a análise do modo de produção capitalista, retomada de Marx. Isso se observa em algumas críticas endereçadas ao situacionismo, tais como a desconsideração da análise do capital, do trabalho, da produção. Ele também aproveita o aspecto negativo, que é o economicismo. Ora, Barrot acerta ao colocar que os situacionistas deixam de lado o capital, o trabalho, a produção, etc., e focaliza no espetáculo, nas ideologias e que isso é limitado e significa um abandono da totalidade. Porém, ele também abandona a totalidade ao evitar a reflexão sobre a chamada superestrutura, ou seja, as formas sociais³.

    A sua crítica, inclusive, poderia ter ido mais longe se tivesse avançado pelo terreno da ideologia e das ilusões, inclusive como que a ideia de espetáculo é ela mesma ilusória. E teria evitado equívocos, como, por exemplo, na relação que ele estabelece entre a Internacional Situacionista e as chamadas teorias da comunicação e da linguagem:

    A Internacional Situacionista nasceu ao mesmo tempo que todas as teorias sobre a comunicação e a linguagem, e como uma reação contra elas; mas, acima de tudo, tendia a apresentar o mesmo problema de maneiras distintas. A Internacional Situacionista surgiu como uma crítica da comunicação e nunca avançou além desse ponto de partida: o Conselho, a assembleia, realiza a verdadeira comunicação. Em vez disso, e ao contrário de Barthes e seus semelhantes, a Internacional Situacionista nunca tentou explicar os signos por conta própria. Não demonstrou nenhum interesse em estudar a realidade aparente (o estudo das mitologias ou das superestruturas, tão cara ao espírito gramsciano), preferiu estudar a realidade como aparência (p. 103-104).

    Se Barrot compreendesse as ideologias hegemônicas da época (já que seria difícil para ele perceber a existência do paradigma reprodutivista, por lhe faltar uma teoria da episteme e dos paradigmas hegemônicos)⁴, saberia que o situacionismo se opunha ao estruturalismo e ideologias semelhantes (funcionalismo, teoria dos sistemas, etc.) e assim teria uma percepção mais adequada do fenômeno. E ele coloca, de forma um tanto confusa, é uma reação, mas que não ultrapassou o estudo da realidade como aparência, o que está correto. Porém, a interpretação de Barrot se equivoca ao não entender que a Internacional Situacionista é uma negação do reprodutivismo hegemônico, tal como outras concepções que existiam na época (como o existencialismo, Lefebvre, etc.) e a problemática pode ser semelhante, mas a solução é distinta, oposta. E ao não perceber isso, não percebeu a mutação cultural dos situacionistas após o Maio de 1968 (trataremos disso adiante). Ele, assim, não percebeu que o situacionismo antecedeu as ideologias subjetivistas que tomam o lugar das ideologias reprodutivistas que eram hegemônicas antes do Maio de 1968⁵, sendo apropriado pelo novo paradigma posteriormente.

    Um outro elemento que ajuda a explicar a crítica de Barrot é a crítica bordiguista ao comunismo de conselhos⁶. Aliás, uma das principais críticas de Barrot aos situacionistas é seu vínculo com o grupo Socialismo ou Barbárie e ao que ele denomina conselhismo. O equívoco está na própria aproximação da Internacional Situacionista com o comunismo de conselhos. Embora o autor use conselhismo, não esclarece se está se referindo ao comunismo de conselhos ou suas derivações posteriores e dogmáticas, a ausência de um esclarecimento leva a entender que está tratando do que é mais conhecido e original, ou seja, o comunismo de conselhos, representado por Anton Pannekoek, Otto Rühle, Herman Gorter, Paul Mattick, Karl Korsch, entre outros. Aliás, seria necessário saber se a contradição entre foco no espetáculo e na transformação subjetiva e o foco nos conselhos operários é uma contradição dos situacionistas (e/ou entre os situacionistas, com Debord do lado dos conselhos e Vaneigem do lado da subjetividade) ou da interpretação de Barrot. O mais correto é entender duas coisas que Barrot deixa de lado: a primeira é que ocorrem mudanças na Internacional Situacionista, mas que elas se tornam compreensíveis a partir das mutações sociais e culturais que ocorrem após o Maio de 1968; a segunda é que há uma real diferença entre Debord e Vaneigem, especialmente após 1968. Voltaremos a isso adiante para não nos desviar do problema que tratamos agora, que é o vínculo estabelecido por Barrot entre situacionismo e o conselhismo e "Socialismo ou Barbárie".

    Qual seria o vínculo fundamental entre situacionismo e conselhismo? No fundo, seria apenas uma ideia isolada, a dos conselhos operários. Em que pese essa seja a ideia fundamental do comunismo de conselhos, não é a única e nem pode ser isolada das demais. Por outro lado, os comunistas de conselhos nunca fizeram apologia do que os bordiguistas chamam equivocadamente forma-conselho (e tudo para eles se reduz ao problema das formas e daí falarem também em forma-partido e forma-sindicato), tal como se observa em Pannekoek quando ele afirma que o conselho operário não é uma forma definitiva e acabada e sim um processo de criação organizacional do movimento operário⁷. No bojo da Revolução Alemã, os comunistas conselhistas criticaram e combateram os conselhos operários degenerados.

    Os situacionistas retomam a ideia de conselhos operários, mas não o comunismo de conselhos. É importante esclarecer essa diferença. Sem dúvida, a Internacional Situacionista retoma a ideia de conselhos operários e se inspira em outros elementos existentes no comunismo de conselhos. Porém, ela adapta a reflexão sobre conselhos operários às suas concepções, bem como não retoma vários outros aspectos do comunismo de conselhos. Um dos elementos fundamentais desse processo é a concreticidade da análise dos comunistas de conselhos (que tratam do movimento operário, do bolchevismo e seu burocratismo, da Revolução Russa, da Revolução Alemã, etc.) em contraposição às abstratificações da Internacional Situacionista⁸. Assim, há um vínculo entre situacionismo e conselhismo, mas ele não tem toda a importância atribuída por Barrot.

    Por outro lado, Barrot interpreta esse vínculo focalizando o administrativismo. Ora, isso é um equívoco grave e se vincula a um outro problema interpretativo de Barrot: a identificação entre comunismo de conselhos e Socialismo ou Barbárie. Essa confusão entre duas posições distintas e opostas é problemática. O comunismo de conselhos nunca deixou de lado a questão do mais-valor, as relações de produção, entre outros elementos do modo de produção capitalista,

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