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Larva
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E-book88 páginas23 minutos

Larva

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Sobre este e-book

Larva é, como sugere o título, uma obra embrionária. Um livro que prepara a génese de uma nova forma de expressão poética e de fruição da vida. Nas suas páginas, a paisagem das grandes cidades e das aldeias portuguesas fundem-se para criar imagens vigorosas e inovadoras. Cada verso afigura-se como resultado de uma síntese das experiências mais corriqueiras e imediatas, às quais se imprime uma visão inquieta e singular, suficiente para revolver as camadas mais profundas do quotidiano. É neste ritmo ágil e arrebatador que os poemas desta coletânea se sucedem, transfigurados numa beleza concreta e real, mas sempre imprevista, de tal modo que, ao fim do percurso, o leitor, segundo a etimologia da palavra-título, é levado a compreender que, diante da multiplicidade de um mundo fragmentado e em ruínas, é ele verdadeiramente o único capaz de resgatar aquilo que é oculto, o único capaz de conferir à sua própria existência um sentido.
 
IdiomaPortuguês
Data de lançamento14 de dez. de 2021
ISBN9789899085756
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    Larva - Rodrigo Rosa

    SÂNIE

    Não aceitaremos mais a dourada cadência do outono,

    O moroso fluir das ruas do ocaso.

    A cave silenciosa guarda calendários

    De setembros frescos e claras vindimas.

    Mas nós fenecemos. Imersos no tempo,

    Somos apenas no intervalo entre dois gestos,

    Refugo celeste, dejeto de estrelas.

    MINA

    Crava-se a flor na laje das criptas,

    Testemunha do sono indelével dos solstícios.

    A vida, aqui, por um fio, gota a gota,

    Adestra a dureza do granito.

    NATUREZA MORTA

    No topo do jarro,

    Arabesco de cristal,

    A flor escala o vazio.

    Por trás dos espelhos passeia

    O desejo do pássaro,

    Úmida corola.

    RIACHO

    No hiato das pedras contavam-se saudades,

    O triste anúncio das águas, sempre a deixar o que são.

    Temos de seguir, seguir, enquanto em silêncio

    O musgo cresce à sombra das clepsidras.

    TEMPORA

    Ondas vêm. Ergue-se no porto

    Um coro de ingênuas barcarolas.

    Na madeira dos cascos,

    Desenha o vento o alfabeto dos desastres.

    O mar nos antecede. Entristece-nos o dia.

    Para que palavras? O poeta é o tolo das aldeias;

    Ri-se o sol, farsa dos deuses, chama ausente,

    Companheiro dos corvos nos telhados.

    TRAJETÓRIA

    Condensas o sono

    Na arquitetura dos teus passos.

    Como que feito de nuvens,

    Teu gesto abraça tormentas

    E forja inúteis calendários.

    Sopesas o ralo

    Manto das ervas

    Como a asa do pássaro roçando a cumeeira.

    E de repente, em tua presença.

    Grifas o tempo com a certeza do impossível.

    CAVALEIRO

    Alvoroço de pétalas

    No entremear dos canteiros.

    Dobras um verso

    No alforje do outono

    E forjas o sono em teu galope. 

    EVANGELHO

    Quem se quer imenso,

    Precípuo, soberano,

    Habitante dos cumes mais serenos,

    Não será jamais

    Humano.

    Será menos.

    PRECIPÍCIO

    Do alto dos imensos edifícios

    Mede com teus passos a pureza do abismo;

    A vida é um sonho indolente,

    E é tão mais fácil amar o porvir.

    No istmo dos dias,

    Todas as queixas se perdem,

    As palavras

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