Violência Escolar e Formação Ética: Reflexões
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Violência Escolar e Formação Ética - Paulo Roberto de Oliveira Santos
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE
Se a meta principal de um capitão fosse preservar
seu barco, ele o conservaria no porto para sempre.
(São Tomás de Aquino)
PREFÁCIO
O presente livro, que ora vem a público, não poderia ser apresentado em melhor momento. Se há tempos o debate sobre o necessário aperfeiçoamento de nosso sistema educacional vem invocando a integração entre as famílias e os professores como principais agentes responsáveis pelo desenvolvimento do educando, o surgimento da pandemia de Covid-19 e seus impactos no processo educacional fizeram emergir novos desafios e reflexões a respeito da importância de cada um destes espaços pedagógicos: o lar e a escola.
Além de formar profissionais competentes, a educação visa formar cidadãos éticos que possam conviver pacificamente e contribuir com o desenvolvimento da sociedade. Contudo, além dos péssimos resultados apresentados por nosso sistema educacional perante os vários processos de avaliação educacional, que demonstram deficiências de conhecimentos básicos que comprometem o futuro profissional dos estudantes brasileiros, o aumento da violência praticada entre crianças e adolescentes evidencia também o fracasso de todos os agentes educadores na formação ética de seus educandos, uma vez que a violência, em suas diversas formas e manifestações, é sempre um ato contrário à ética.
Conforme exposto no livro, a violência é um fenômeno multicausal que recebe uma forte influência da situação econômica e social, sobretudo em um país de grandes desigualdades como o Brasil, que devem ser revertidas por meio de políticas públicas e vontade política. Contudo, várias formas de violência devem ser corrigidas por meio da formação ética e promoção de uma cultura de paz, obrigação irrenunciável tanto das famílias quanto das escolas.
Atualmente, a banalização da violência na escola, na visão de Hannah Arendt, torna a sociedade submissa e tolerante, desviada de valores e de padrões éticos, onde a violência é um mal feito por muitas pessoas que passam a admitir esses desvios durante seu próprio processo de (de)formação. Nesse contexto, os autores apresentam a perspectiva do pensamento arendtiano em que a autoridade não pode ser dissociada da educação, apresentando-se como um elemento intrínseco, essencial do ato de educar, que não pode ser renunciado ou delegado pelos agentes educacionais.
Além do embasamento teórico, o livro recorre às várias pesquisas desenvolvidas sobre o assunto e o apresenta à luz do contexto real de violências na escola que emerge dos reflexos da sociedade pós-moderna, denominada assim por Zygmunt Bauman, dentre outros, a qual, em vez de arrancar o mal da violência pela raiz, parece ter provocado redistribuição da violência no âmbito da família, da sociedade e da escola. Questiona ainda o papel da autoridade que deve impor nesses respectivos espaços, mas que muitas vezes é questionada e enfraquecida até por não saber oferecer respostas concretas aos desafios desta nova sociedade e seus valores.
Como profissionais da área da Educação, os autores, com maestria e sensibilidade, apresentam as mazelas que afetam o processo educacional e as tarefas da família e da escola enquanto espaços que devem proporcionar formação humana, cidadania, construção de valores para a paz e solidariedade, e, de forma sutil, reportam-nos à lição kantiana que nos ensina que o homem transforma-se naquilo que a educação faz dele.
O tema proposto pelo livro, apresentado com objetividade e rigor, suscita-nos a reflexão sobre desafios com os quais lidamos diuturnamente na educação, tanto na escola quanto em nossos lares. Parabenizo os autores, ao mesmo tempo que agradeço a oportunidade de compartilhar ideias e compor esta singela apresentação.
Prof. Dr. Rodrigo Gabriel Moisés
Diretor-geral da Faculdade Serra da Mesa
APRESENTAÇÃO
Já na década de 1980, Renato Russo canta que a violência é tão fascinante e nossas vidas são tão normais
. Isso é algo que me inquieta há alguns anos. Especialmente quando iniciei a carreira docente e ingressei na rede pública estadual de ensino de Goiás, atuando em diversas escolas públicas, sendo algumas de periferia, tal inquietação tornou-se espanto, atitude que, para Aristóteles, é o início do filosofar. O resultado desse filosofar, desse espanto, dessa inquietação está em suas mãos: o livro Violência escolar e formação ética: reflexões aborda o fenômeno da violência no âmbito escolar, visando compreender as suas causas para eventualmente colaborar em seu combate. Neste caso, o combate se dá pela educação, mais especificamente pela formação ética.
Várias são as abordagens sobre educação, com diferentes pressupostos teóricos, tendo como ponto de partida escolhas ideológicas distintas. Apesar disso, há uma opinião geral convergente no que tange aos deveres dos agentes da educação e quanto ao seu aspecto ético.
A questão dos agentes da educação leva a questionar a quem compete educar, e as respostas a essa pergunta conduzem aos estudos sobre a relação família-escola. Quanto à formação ética enquanto objeto da educação, além de tal aspecto ser apontado como elemento integrante da educação, diversos são os autores que atribuem essa missão como pertinente especialmente à família, com a colaboração preciosa e irrenunciável dos professores, da escola.
Considerando a situação da violência atualmente no Brasil, tanto em geral quanto especificamente envolvendo a escola, e tendo em vista que uma das partes integrantes da educação é a formação ética, convinha investigar se esta relaciona-se com a violência. Por isso, investigamos de que forma estudos recentes sobre relação escola-família no Brasil abordam a formação ética dos estudantes e quais são os eventuais desdobramentos na questão da violência. Evidencia-se a necessidade de fortalecimento dos agentes da educação quanto à formação ética como forma de combate à violência, já que