Minha Guerra Na Itália
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Minha Guerra Na Itália - Emilio Cuppari
Minha guerra na Itália
Minha guerra na Itália
Emilio Cuppari
2014
É possível obter dados mais
precisos sobre a guerra numa consulta ou pesquisa
mais aprofundada online
. A intenção aqui é relatar minhas lembranças
de uma real vivência em família
em tempos de guerra.
PRÓLOGO
Falarei muito pouco da minha mãe.
De fato, meu pai, por seu espírito aventureiro e forçado pela situação política e financeira, foi o motivo de quase todas as minhas descrições.
Ela foi uma mulher exemplar que sorrateiramente soube, mesmo com pouca escolaridade, mas infinita sabedoria, levar nossa família pelo caminho certo através de todas as dificuldades que, mesmo numa vida normal, aconteceriam. Ela foi o esteio da nossa família. Sempre presente tanto na ajuda com os estudos como na vida real. Soube superar momentos difíceis com capacidade e alegria. Possuidora de um gratificante senso de humor conseguiu manter a família unida e em perfeita harmonia, sem nunca vacilar, mesmo com a frequente ausência do homem da casa. Soube ensinar, a saber, dar, sem nunca pedir algo em troca.
Amante de festas, sempre na casa dela, se externou com generosidade, sem medir sacrifício, se realizando com a felicidade de seus filhos e dos amigos.
Minhas filhas, um dia me mandaram um cartão de Natal que, entre outras frases havia os seguintes dizeres:
Obrigado pai, por nos ensinar a viver com dignidade
. Fiquei comovido com essas palavras, mas ela sim que merece esse elogio.
Obrigado, Mãe, por me ensinar a viver com dignidade
.
Ela sempre soube cultivar amizade com generosidade e abnegação, sem julgar, mas sim, sempre desculpar.
Quando morreu, no seu enterro havia um elevado número de pessoas; sem dúvida maior do que nós vamos conseguir somando o de todos.
Capítulo 1
Frio, frio, muito frio.
Tento chegar mais perto do fogão da cozinha.
Sem querer, esbarro na cadeira do meu irmão. Ele me olha irritado. Estou incomodando-o.
Também, ir mais perto do fogão não resolve. Meu irmão maior está bem em frente do aquecedor e a nós somente restam as laterais. Além disso, o fogo está se extinguindo lentamente e não existe possibilidade de colocar mais um pedaço de madeira no fogo. Faltaria para o dia seguinte.
Além do frio, também tenho fome. Ela torce meu estômago. Na verdade, todos nós temos fome. O jantar, pela enésima vez, foi insuficiente.
Cada um comeu seu resto de pão com alguma verdura, de olho nos outros, esperando que alguém deixe algum resto.
Penso em ir para a cama. O que estou fazendo aqui no frio? É quase meia-noite.
Amanhã devo levantar-me às sete, para estar na escola às oito.
Mas a cama não atrai. Está no outro quarto, onde não tem nenhum aquecimento.
É uma cama de ferro que de dia se dobra e parece um bureau. Uma solução ideal para não se ver muitas camas no mesmo local.
Uma compra muito cara, mas que resolve a aparência do quarto e me faz dono, finalmente, de uma cama própria. Após sua abertura, o colchão fica estendido sobre uma malha de ferro.
O conteúdo do colchão é composto de sobras de algodão. Parece agradável nos primeiros dias de uso, mas logo em seguida formam-se uns grumos que se separam e deixam passar o frio do chão de lajotas.
Tenho que empurrar o produto embolado debaixo da anca para não sentir o frio e não sentir dor ao contato com a malha de ferro. Movimento este que sempre desloca a coberta e o paletó colocados estrategicamente por cima do meu corpo, para proteger-me do frio.
Ainda não criei coragem para ir para a cama. Faço força para ler ainda um pouco.
Enfim, não aguento mais. O livro é muito interessante, mas o sono vence.
Pego o meu tijolo do forno, embrulho-o rapidamente e me dispo lá mesmo, na cozinha.
Ajeito muito ordenadamente as minhas roupas. No espaldar da cadeira, o pulôver, a camisa por cima, a calça curta sobre o assento, os sapatos no chão com as meias dentro.
Descalço, e somente de cueca e camiseta, rapidamente alcanço o quarto de dormir e a cama.
Ela já está desdobrada. O lençol de baixo sobre o maldito colchão, depois o outro lençol, um cobertor militar cinza esverdeado, o meu casaco por cima de tudo.
Sem hesitação, enfio-me entre os lençóis e coloco o tijolo entre as pernas.
Ajeito um pouco de algodão debaixo da anca e com muito cuidado aperto a coberta em volta do pescoço tentando cobrir um pouco a orelha e segurar o calor.
Os lençóis estão gelados. Tremo seguidamente por vários minutos. A tremedeira me esquenta um pouco, mas é muito cedo para conseguir pegar no sono.
O queixo me dói, mas não consigo parar de tremer. É necessário algum tempo até que o calor do meu corpo aqueça a cama e somente depois de aquecido sei que consigo adormecer.
Rezo para que não toque o alarme noturno mas é uma esperança vã.
Ultimamente, todas as noites somos visitadas pela aviação inimiga. Muitas vezes os aviões desviam na última hora e se dirigem para outra cidade, somente no intuito de perturbar e cansar a população.
Enfim consigo pegar no sono e nem percebo quando meus irmãos vêm dormir.
Estou no mar aberto, longe da terra. As velas cheias inclinadas pelo vento empurram o veleiro.
O clima é ameno. Ao leme, somente de short e camiseta, dirijo o barco para o horizonte em direção a uma ilha imaginária. Longe de tudo. Da guerra, da fome, do medo.
Alguém me sacode. Vamos, Emilio. Vamos rápido! O alarme está tocando.
Pulo da cama e quase na completa escuridão, vou para a cozinha. Meus irmãos já estão lá. Visto a camisa, a calça e o pulôver. Ponho as meias, o que não é uma operação fácil, e calço os sapatos. O trânsito é congestionado na ampla cozinha. Somos cinco, cada um tentando se vestir o mais depressa possível. Meu pai deve estar fazendo a mesma coisa lá na bateria antiaérea. Minha